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by STANLEY23KUBRICK | created - 19 May 2014 | updated - 20 Jul 2021 | Public
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1. Walk Don't Run (1966)

Approved | 114 min | Comedy, Romance

During the housing shortage of the Summer Olympic Games in 1964, two men and a woman share a small apartment in Tokyo, and the older man soon starts playing Cupid to the younger pair.

Director: Charles Walters | Stars: Cary Grant, Samantha Eggar, Jim Hutton, John Standing

Votes: 4,510 | Gross: $9.81M

[Mov 07 IMDB 6,6/10] {Video}

DEVAGAR, NÃO CORRA

(Walk Don't Run, 1966)


''Cary Grant, o charmoso mulherengo, consagrado pelo Oscar® Honorário em 1970, transforma-se num carismático casamenteiro na que viria a ser a sua última presença no grande ecrã - Devagar, Não Corra. Quando o industrial inglês, Sir William Rutland (Cary Grant), chega a Tóquio para desenvolver uma série de negócios, a afluência de turistas para os Jogos Olímpicos impossibilitam-no de encontrar alojamento. Rutland propõe-se então dividir um apartamento por uns dias com a bela Christine Easton (Samantha Eggar). Mas não fica por aí, para aumentar a confusão, convida também Steve Davis (Jim Hutton), membro da equipa olímpica, para partilhar o apartamento. Três é definitivamente gente a mais, o que se agrava quando Rutland faz de cupido entre Christine e Steve - para surpresa do noivo dela. Será que Rutland consegue conduzir os noivos ao altar? Só se for capaz de resolver os inúmeros obstáculos hilariantes que se lhe atravessam no caminho! Inteiramente rodado in loco, este é um marco do charme, elegância e boa disposição bem exemplificativos da carreira de Cary Grant.'' (Filmow)

Columbia Pictures Corporation Empresa Granley

Diretor: Charles Walters

2.441 users / 245 face

Check-Ins 51

Date 10/09/2012 Poster - #####

2. Leaving Las Vegas (1995)

R | 111 min | Drama, Romance

82 Metascore

Ben Sanderson, a Hollywood screenwriter who lost everything because of his alcoholism, arrives in Las Vegas to drink himself to death. There, he meets and forms an uneasy friendship and non-interference pact with prostitute Sera.

Director: Mike Figgis | Stars: Nicolas Cage, Elisabeth Shue, Julian Sands, Richard Lewis

Votes: 134,577 | Gross: $32.03M

[Mov 02 IMDB 7,6/10 {Video/@@@} M/82

DESPEDIDA EM LAS VEGAS

(Leaving Las Vegas, 1995)


''O que não falta a "Despedida em Las Vegas" é coragem. Porque não é fácil conduzir um filme cujo protagonista é o alcoólatra Ben Sanderson (no passado roteirista de cinema), que viaja a Las Vegas com a intenção de se atolar na bebida até morrer. É ali, no entanto, que encontra uma prostituta, Sera. Um encontro, de fato. Uma compreensão que nasce entre esses dois outsiders ou, se se quiser, malditos. É a partir daí que Mike Figgis mostra como dominar essas duas artes, a da direção e a do roteiro: com ambas, cria um fio de tensão que reterá o espectador até o fim. Algo que pode se resumir à pergunta: no que vai dar essa história toda? É claro que esta resposta está no filme, não aqui." (* Inácio Araujo *)

"Surpreendente a força dos personagens e a atmosfera que o filme consegue manter. Nicolas Cage em uma grande atuação." (Heitor Romero)

Produção barata de Mike Figgis oferece uma visão pungente e bela de uma condição humana das mais críticas.

''Boa parte das pessoas que assistem ao triste “Despedida em Las Vegas” (Leaving Las Vegas, EUA, 1995) o acha um filme exagerado. É compreensível. Em diversas cenas, o protagonista Ben Sanderson (Nicolas Cage) é tomado por tremores alcoólicos e joga garrafas inteiras de uísque goela abaixo, sem interromper o longo gole nem mesmo para respirar. As pessoas normais, que não conseguem fazer o mesmo com Coca-Cola ou água, acreditam que esse tipo de cena é histérica ou impossível. São sortudos, os que pensam assim. Nunca viram um alcoólatra em estado terminal. Ao longo das décadas, Hollywood já contou diversas vezes histórias de bêbados incorrigíveis, mas nunca como Mike Figgis fez neste longa-metragem barato, filmado com câmeras manuais, nas ruas e quartos verdadeiros de motéis vagabundos em Las Vegas. Não se trata de um filme de estúdio. É uma história tipicamente melodramática, sim, mas violenta e mundana, e retrata uma jornada que muitos cineastas não gostariam de abordar, assim como muitos espectadores não têm vontade de ver. É a jornada de autopunição de um homem que se sente irremediavelmente culpado e não quer mais viver por causa disso. Inteligentemente, Figgis poupa o espectador do passado de Sanderson. Vamos apenas um relance rápido disso, quando ele abandona o lar em Los Angeles. Roteirista promissor na indústria do cinema, ele é demitido (eu não merecia tanto, diz, quando olha a quantia escrita no cheque de demissão) por não conseguir mais trabalhar. Então desconta o cheque, queima todos os móveis e objetos pessoais, e se muda para Las Vegas, com o objetivo nada simpático de beber até morrer. A última coisa que faz antes de ir embora é olhar de relance para uma foto em que se vê uma mulher e uma criança. Não sabemos quem são eles, nem o que Ben fez para se punir de maneira tão drástica. É uma decisão acertada de Mike Figgis, pois mergulhar no passado de Ben seria atolar no lamaçal do melodrama mais banal. Em Las Vegas, Ben conhece Sera (Elisabeth Shue), uma prostituta de luxo espancada constantemente pelo cafetão (Julian Sands). O filme enfoca o relacionamento entre os dois. Mais uma vez, Figgis recusa o melodrama barato: não se trata de amor nascendo entre dois párias sociais, mas apenas de empatia entre dois solitários de carteirinha. Ben não ama Sera, pois isso o faria pelo menos hesitar no seu plano suicida. Sera ama Ben? Ela acha que sim. Eu acredito que não. Ela pensa que ama porque, depois de tantos anos tratada como lixo de segunda categoria, encontrou alguém que olha para ela, a escuta, conforta e abraça com carinho. Seja como for, eles se consolam, enquanto Ben ruma diretamente para a morte regada a litros de álcool. “Despedida em Las Vegas” é o tipo de filme difícil para o espectador, pois não lhe permite alívio na experiência de assistir ao sofrimento alheio. Sentimos empatia pelos dois personagens, e torcemos para que de alguma forma haja salvação para eles, mas sabemos no fundo que isso não é possível – o mundo é implacável para gente como esses dois. Figgis filma tudo isso como um bêbado poema encharcado de álcool, jazz e blues, com muitas cenas noturnas (em que usa abundamente as luzes néon que caracterizam Las Vegas) e uma trilha sonora elegante e delicada, cheia de saxofones. O próprio diretor compôs a trilha sonora, incrementada por clássicos dos alcoólatras (Come Rain or Come Shine, uma típica música que se ouve nas radiolas de fichas dos bares norte-americanos). O filme foi baseado num romance escrito por John O’Brien. Ninguém sabia, mas era um livro estranhamente autobiográfico – logo depois de publicado, com o filme ainda em produção, o autor deu um tiro na cabeça e se matou. O episódio ajudou a obra a ganhar fama de ser sorumbática e triste até a alma. É uma fama merecida, e muitos espectadores não têm vontade de se aproximar de filmes assim, escuros e sombrios, além da redação. Dá para entender. Mesmo assim, trata-se de um visão pungente e bela de uma condição humana das mais críticas. Ou seja, é cinema classe A." (Rodrigo Carrreiro)

''Desde os primeiros minutos de “Despedida em Las Vegas” o espectador é envolvido por sua atmosfera melancólica, que reflete a triste e crítica situação de seu protagonista, interpretado brilhantemente por Nicolas Cage. Tratando o alcoolismo com seriedade, o longa dirigido por Mike Figgis acerta ao não julgar o viciado, ao mesmo tempo em que não alivia ao mostrar as sérias conseqüências de seu vicio. Completado ainda por uma trilha sonora belíssima e pela ótima atuação de Elisabeth Shue, este filme singelo nos deixa um gosto amargo na boca e uma mensagem forte para reflexão. Escrito pelo próprio Mike Figgis, o longa esteve perto de sequer ser realizado, porque John O’Brien, o autor do livro em que é baseado, suicidou-se apenas dois meses após o lançamento de sua obra. Esta informação de bastidores é vital para compreender o clima que permeia toda a projeção. Estamos falando da obra de um homem que sabia estar próximo do fim (ou pelo menos tinha esta sensação) e Figgis é extremamente competente na transposição deste sentimento para a tela grande. O resultado é um longa eficiente, tocante e que nos atinge como um soco ao mostrar o viciado como alguém doente, sem qualquer capacidade de controle sobre seu vicio. Ao virarmos as costas para estas pessoas, estamos apenas empurrando-as um pouco mais pra perto do abismo. Em “Despedida em Las Vegas”, acompanhamos Ben (Nicolas Cage), um roteirista alcoólatra abandonado por esposa e filho que, após ser demitido, decide mudar-se para Las Vegas e beber até morrer. Lá, ele conhece Sera (Elisabeth Shue), uma prostituta que compreende sua situação e lhe abre as portas de sua casa. Juntos, eles viverão momentos marcantes, porém ambos sabem que o processo de deterioração de Ben já é irreversível. Eu não lembro se comecei a beber porque minha mulher me deixou ou se minha mulher me deixou porque comecei a beber, ele diz em certo momento. De fato, o roteiro jamais explica porque sua esposa o abandonou, mas a foto de sua família deixada na fogueira antes de sua partida indica um passado feliz. Só que este passado é deixado para trás, queimando na fogueira ou largado dentro de sacos de lixo, enquanto Ben viaja para Las Vegas. O sucesso do trabalho de Figgis passa por sua direção competente, repleta de closes que realçam as fortes atuações de seus protagonistas. Detalhista, o diretor se preocupou até mesmo em compor a melancólica trilha sonora, repleta de jazz e que traz ainda duas lindas canções interpretadas por Sting, nos mergulhando ainda mais no triste mundo de Ben. O uso constante da câmera lenta e o predomínio de cenas noturnas colaboram na criação desta atmosfera sufocante que, associada ao ritmo corretamente desacelerado da montagem de John Smith, reflete as sensações daquele homem que lentamente se suicida. Além disto, a excelente fotografia de Declan Quinn abusa dos tons de vermelho, refletindo o inferno astral daquelas duas pessoas tristes, aproveitando também as luzes da noite de Las Vegas, que carregam alguma nostalgia e ilustram a melancolia que predomina a narrativa. E novamente Figgis confirma sua competência captando tudo isto com precisão através de sua câmera. Talvez a imagem que mais apareça em “Despedida em Las Vegas” seja a de Ben com uma garrafa na mão, o que, para quem não conhece a trágica conseqüência do vicio, pode soar exagerado. Não é. Figgis retrata com precisão a necessidade constante que o alcoólatra tem de estar bebendo. Só que todo este cuidado do diretor poderia ser prejudicado caso o ator principal não fosse alguém tão talentoso. Em atuação excepcional, Nicolas Cage retrata um alcoólatra com precisão, através do olhar desfocado, das tremedeiras e das crises constantes que o levam a beber sempre mais e mais, acertando em praticamente tudo, desde os momentos que pedem uma atuação mais forte, como a impressionante crise no cassino, seguida pela tremedeira enquanto ele se arrasta até a geladeira, até os momentos minimalistas, como quando Ben, de costas, tropeça levemente na escada rolante, mostrando a falta de reflexos provocada por seu constante estado alcoolizado. Sua mente conturbada é refletida até mesmo na pilha de papéis em sua mesa de trabalho (direção de arte de Barry Kingston) e ele tem consciência disto, tanto que mal reage à sua demissão – em outro momento comovente da atuação de Cage. Esta grande atuação encontra o contraponto ideal no excelente desempenho de Elisabeth Shue, que compõe uma Sera igualmente solitária e triste, que parece compreender mais o drama de Ben do que ele compreende o dela. A atriz também entrega uma atuação caprichada, que se preocupa com pequenos detalhes, como quando Sera evita olhar diretamente para a câmera enquanto fala sobre sua performance sexual ou em sua comovente expressão quando pede para Ben mudar pra casa dela. Cage e Shue ilustram a tristeza dos personagens em seus semblantes carregados, algo que Figgis capta muito bem empregando constantemente o citado close-up. Em certo momento, Ben diz que mais cedo ou mais tarde vamos transar e Sera responde: seja lá o que isto quer dizer. O sexo era o que menos importava naquela relação e isto fica evidente quando Ben pede para Sera parar o sexo oral e apenas conversar, derrubando uma lágrima dos olhos emocionados dela, em outra cena linda, embalada pela excelente trilha. Eles precisavam muito mais de companhia e compreensão do que de prazer. Esta falta de apetite sexual, entretanto, não quer dizer desinteresse, refletindo apenas o devastado estado emocional dele. Repare, por exemplo, como Ben mal consegue segurar o copo em um jantar, mas se antecipa ao pegar o isqueiro para Sera antes que ela perceba, mostrando que presta atenção nela. Eles se importavam muito um com o outro. Mas este cuidado começa a se transformar em preocupação quando Ben passa a se incomodar com a profissão dela. Sera também já não estava totalmente confortável com a situação dele, apesar de ter aceitado jamais pedir que ele parasse de beber. Também fica claro que Sera deseja Ben, por isso, numa tentativa desesperada, ela derrama Vodka em seu corpo e tenta animá-lo, o que funciona, pelo menos até que ele tropece, quebre uma mesa de vidro, se corte e destrua o clima. Ele não consegue transar com ela, vaga pela casa com uma garrafa na mão e mais parece um fantasma. Por isso, quando ela volta pra casa e o encontra com outra prostituta, a dor é forte. Para ela, esta é a pior traição possível, mas no fundo ela também sabe que Ben é incapaz de perceber a gravidade de sua atitude. Triste, ela sai de casa, aceita fazer programa com alguns garotos e acaba violentada, numa cena de forte impacto. O choque é inevitável e ela o expulsa de casa, mas logo o arrependimento vem. Caminhamos então para o anunciado final de “Despedida em Las Vegas”. O reencontro do infeliz casal, num quarto escuro e em silencio, é banhado em melancolia e nos leva à morte dele. Cage e Shue novamente dão um show à parte e encerram suas atuações com perfeição. As palavras finais dela resumem bem a mensagem da narrativa: ambos não esperavam que o outro mudasse, pois eles sabiam que não tinham muito tempo e, por isso, aceitavam o outro pelo que era. E assim como Sera, o espectador se sente incapaz durante toda a projeção, vendo aquele homem caminhar para a morte sem poder fazer nada a respeito. Retratando com fidelidade a vida de um alcoólatra em fase final, “Despedida em Las Vegas” é um filme difícil, triste, mas extremamente competente dentro do que se propõe a fazer. Se você não se sentir tocado e repensar o vício após esta experiência, é melhor procurar um médico, pois talvez não tenha um coração batendo aí dentro. Não devemos tolerar o vício e muito menos subestimá-lo, mas compreender a situação do viciado é o primeiro passo para ajudá-lo." (Roberto Siqueira)

68*1996 Oscar / 53*1996 Globo

Top Inglaterra #43

Lumiere Pictures Lila Cazès Production, A Initial Productions

Diretor: Mike Figgis

79.567 users / 4.141 face

Soundtrack Rock = Sting + Michael McDonald + Don Henley

Check-Ins 87

Date 01/11/2012 Poster - ###

3. Something in the Air (2012)

Not Rated | 122 min | Drama

76 Metascore

In the months after the heady weeks of May '68, a group of young Europeans search for a way to continue the revolution believed to be just beginning.

Director: Olivier Assayas | Stars: Clément Métayer, André Marcon, Lola Créton, Felix Armand

Votes: 4,708 | Gross: $0.07M

[Mov 08 IMDB 6,4/10] {Video/@@@@@} M/76

DEPOIS DE MAIO

(Après mai, 2012)


***** "Enquanto Cannes se dedica a cultivar a morte (verbetes conexos: Palma de Ouro, Haneke, Amor, eutanásia), Olivier Assayas continua a criar uma obra tão sólida quanto vital. Filme após filme, Assayas vai esquadrinhando seu país, sua geração, a Europa, seu passado um tanto sufocante, a decadência. Agora é "Depois de Maio". Falamos do Maio de 68, claro. O mais enigmático acontecimento mundial do pós-guerra. O que terá sido? Pensava-se que era o começo de uma nova era, o nascimento de uma esquerda não autoritária. Mas hoje parece ter sido o canto do cisne do pensamento de esquerda. Talvez tudo isso já não importe tanto, a não ser pelo enigma. Fiquemos, portanto, com o essencial. Logo de cara, o enfrentamento entre um grupo de estudantes parisienses (colegiais, os que o filme acompanha) e o CRS (a temível tropa de choque francesa). Uma filmagem seca, sem espetáculo ou demagogia: exemplar. Uma cena que ninguém esquecerá facilmente. Outras virão. Mas é preciso não perder o foco do assunto. O amor à revolução vem junto com o amor pelo amor. E o primeiro de Gilles chama-se Laure. Com ela, chega o movimento beatnik, o poeta americano Gregory Corso. A Europa troca com a América (recebe o melhor dos EUA, retribui-lhe com as armas para as revoltas já nascentes na sociedade americana). Depois de Laure vem Christine, a engajada. Do anarquismo transita-se à batalha junto aos operários. Enquanto isso, em Paris ou na Itália, a cada vez o movimento político se radicaliza. O grupo inicial de amigos, gente do liceu, precisa crescer. E crescer significa tomar decisões individuais. E por mais coletivistas que sejamos, não há solução, o caminho é sempre pessoal. Para resumir, Olivier Assayas faz a pergunta que vem relançando desde seus primeiros filmes: afinal quem somos nós (Europa, França)? E para onde vamos? A pergunta diz respeito também, certamente, à sua geração, a de Maio e "Depois de Maio" (ele nasceu em 1955). É desse tipo de inquietação que se faz a solidez de Assayas, que vai construindo, filme após filme, talvez a mais viva e também intransigente obra de um cineasta francês desde a nouvelle vague." (* Inácio Araujo *)

***** ''O que fez a geração de Maio de 68 é sabido. Na França, sobretudo, mas não só lá. O que aconteceu com ela depois do refluxo? Eis a questão que se pôs Olivier Assayas, talvez o melhor autor de cinema europeu de sua geração, ao fazer "Depois de Maio". É mais ou menos o que está também na minissérie Carlos, sobre o famoso terrorista. Mas ali tratava-se antes do destino das esquerdas em geral. Aqui, são destinos anônimos e particulares que importam: os que optam pela ultraesquerda, os que imaginam que Maio nunca acabou. E ainda os que passaram às artes, ou às drogas. Ou ainda aqueles que terminaram exilados, impedidos de cruzar fronteiras. Em cada um vive o impasse das esquerdas. Mas, sobretudo, a percepção de que Maio de 68 não foi um começo, mas um crepúsculo." (** Inácio Araujo **)

***** ''Por sorte, não perdi "Depois de Maio", de Olivier Assayas. Nas últimas semanas, eu tinha visto o trailer repetidamente, e imaginava que o filme me aborreceria com um amontoado de chavões ideológicos, ou seja, daquelas frases que, em Maio de 1968, estofavam nossos peitos e, hoje, são inertes, quase desprovidas de sentido. Ora, tanto na nossa vida quanto na história coletiva do século 20 e 21, Maio de 68 e os anos 1970 foram muito mais do que as convicções e as palavras de ordem da luta política. Claro, na época, nada nos parecia mais importante do que o sucesso ou o fracasso daquelas convicções. Mas fazer o quê? Foi assim: saímos à rua para fazer uma revolução e acabamos fazendo outras, que não eram previstas, mas talvez fossem melhores do que a que tínhamos planejado. Não estou falando da revolução nos costumes e na tolerância das diferenças. Falo de outra revolução ainda, que, nos últimos anos, começou a ser contada, indiretamente, nos filmes que tratam de Maio 68. Os melhores, para mim, eram Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, e Amantes Constantes, de Philippe Garrel. Agora há "Depois de Maio", de Olivier Assayas, que não é apenas o filme sobre Maio que mais me tocou até hoje. É também um dos filmes (sobre Maio ou não) que mais me tocaram nos últimos anos. Assayas é mais jovem do que eu. Eu tinha 20 anos em 68; ele tinha 13. Mas ambos fomos jovens nos anos 1970 na França; eu estava, por exemplo, nas manifestações de setembro de 70, durante a greve de fome de Alain Geismar. Há uma pergunta que se colocam quase todos os que viveram de dentro Maio 68 e os 1970: o que eu fiz que, assim como eu sou hoje, eu não faria? E ter me transformado, isso é bom ou ruim? No filme "Depois de Maio", é citado um grande poeta beat dos anos 1950. Em Gasoline, de Gregory Corso, há um poema (Tenho 25 Anos), em que, depois de evocar os poetas que morreram jovens (Shelley, Chatterton, Rimbaud), Corso declara que ele odeia os velhos poetas, especialmente os que se retratam e que contam sua juventude sussurrando: Eu fiz aquilo então, mas isso foi então. Desses velhos poetas, Corso quer arrancar a língua fora, para que parem de se desculpar. Será que sou um desses velhos poetas? Vistos de hoje, aqueles dias me parecem uma comédia de erros? E, se não foram, qual foi seu valor? É que aqueles dias e anos inventaram um novo hedonismo da vida (que talvez já tenha sido perdido, de novo): era um prazer de viver, mas cuidado - levando a vida extremamente a sério. Esse prazer tinha a ver com o quê? Por exemplo, com uma custosa fidelidade ao desejo da gente, que fosse de ser pintor, militante ou perdido nas drogas. Ou ainda, com uma extraordinária densidade cultural, uma raiva de ler e estudar, como se colocar as questões certas fosse a condição para viver a vida intensamente. Em 1970, num seminário de literatura inglesa contemporânea, na Universidade de Genebra, cada estudante foi convidado a apresentar um autor preferido. Escolhi Gregory Corso. No meio da exposição, me empolguei e confesso que atribui a Corso, como se fossem dois versos de um poema dele, as primeiras linhas (memoráveis) de um romance de espionagem de Len Deighton, que eu acabava de ler. Por sorte minha, ninguém parecia conhecer nem Corso nem Deighton, e não fui desmascarado. O começo de "An Expensive Place to Die", de Len Deighton (O Preço da Morte), tinha se tornado meu hino pessoal à vida que se justifica por si só, pela aventura que ela é. Deighton começa assim: The birds flew around for nothing but the hell of it (o sentido é: os pássaros voavam pelo céu pelo puro prazer de voar - mas em inglês é muito melhor). O filme de Assayas fala do prazer da vida levada a sério em duas sequências magníficas e surpreendentemente longas: a abertura, com os estudantes fugindo de um ataque da polícia, e uma pichação noturna, também com fuga dos estudantes perseguidos pelos vigias. Nessas cenas, há o fôlego dos estudantes e dos policiais, que correm, há o fôlego do cineasta que consegue manter a sequência, há o fôlego dos espectadores e há, enfim, mais um fôlego, do qual talvez todos precisemos: é o fôlego de se levar a sério, ou seja, por exemplo, de ousar ir às ruas, pelo prazer de declarar o que a gente pensa, desafiando o medo." (Contardo Calligaris)

{Os pássaros voavam pelo céu pelo puro prazer de voar} (ESKS)

A vida pós-maio de 1968.

''Dentre todos os filmes que tentaram retratar a juventude setentista pós-maio de 1968, talvez o mais poético seja Água Fria (L’eau froide, 1994), de Olivier Assayas. Mas, ao que parece, o cineasta sentiu que faltou dizer muita coisa neste trabalho e desde então vem procurando o momento ideal para voltar a esse tema sem soar repetitivo, complementando o trabalho anterior ao se focar em temas como música, cinema e mesmo o amor. A oportunidade surge agora com seu novo filme, vencedor de melhor roteiro no último Festival de Veneza, Depois de Maio (Après mai, 2012), protagonizado pelo mesmo personagem de Água Fria, Gilles (agora interpretado por Clément Métayer). Talvez não tão poético e um tanto mais frio que seu filme complementar, Depois de Maio segue por um caminho mais específico de debate. Dividi-se na opinião dos jovens politicamente engajados, influenciados pelo movimento estudantil de maio de 1968, hippies, e alguns radicais que questionam a relevância do cinema como arte útil, afirmando se tratar de entretenimento voltado para a burguesia. Entre tantos tipos, Gilles segue uma jornada de inúmeras descobertas, dessas sempre presentes em filmes adolescentes sobre descobertas, como sexo, amor, drogas, e, por fim, a dura realidade que se aproxima com a chegada da vida adulta. O diferencial está no distanciamento que Assayas adquire em relação a esses temas. Como se desenrola em 1971, a trama retrata uma época em que, apesar das influências do movimento estudantil, já despontavam alguns outros influentes que começavam a se confrontar com as ideologias antes estabelecidas. Ainda existem os protestos, as reivindicações e a propagação de ideias de maneira anárquica, mas por alguma razão tudo parece mudado. Com as descobertas de nível pessoal, dessas que fazem alguém amadurecer e se desenvolver como pessoa, Gilles começa a enxergar tudo aquilo de uma maneira mais ampla. Dessa forma, há quase um insight de metalinguagem, onde o cineasta coloca seus personagens se confrontando com temas que antes tanto defendiam, graças à ação do tempo, enquanto nós como espectadores conseguimos analisar tudo isso de uma distância ainda maior, de uma perspectiva histórica que só vem com o passar dos anos. Fugindo das armadilhas que todo santo filme de temática parecida acaba caindo cedo ou tarde em seu desenrolar, Après mai não abusa de uma fotografia multicolorida, de atmosfera psicodélica e música pop. Sua visão desta época é sóbria e expõe a inocência dessa geração quando olhada hoje em dia, já que no fundo, eles acreditavam piamente que poderiam fazer do mundo um lugar melhor. As cores são frias, a atmosfera é melancólica e o objetivo não é simplesmente retratar a geração jovem dos anos 1970, mas sim tentar compreendê-la, expor os conflitos de caráter mais íntimo de seus personagens – uma tentativa de Assayas, que viveu aquilo, contar para nós não somente um pouco de suas experiências, como também apresentar seu olhar atual sobre tudo aquilo que passou. A música e o cinema ganham um enfoque maior, e as discussões em volta dessas duas artes são bastante ternas. E o que há de mais sensível neste trabalho é maneira universal com que Assayas engloba gerações. Apesar de o que estar em tela sejam os jovens intensos de décadas atrás, a visão do cineasta atinge a juventude como um todo, incluindo a de agora, de modo que consegue trazer à tona sentimentos que em tantos outros filmes pareceram ultrapassados para nós, mas que agora parecem tão próximos. Despindo-se de estereótipos, o que sobre é uma belíssima imagem bruta do ser humano enquanto jovem – inseguro, indeciso, curioso, mas sempre movido por uma paixão intensa que ora produz tanta efervescência, ora o obriga a se deparar com a súbita vida que escolheu levar, com ou sem consciência dessa decisão imutável." (Heitor Romero)

2013 Lion Veneza / 2013 César

MK2 Productions France 3 Cinéma Vortex Sutra Canal+ Ciné+ Région Ile-de-France France Télévision Centre National de la Cinématographie (CNC) La Banque Postale Images 5

Diretor: Olivier Assayas

2.721 users / 706 face

Soundtrack Rock = Syd Barrett + Booker T. & the M.G.s + Nick Drake + Captain Beefheart & The Magic Band + The Incredible String Band + Soft Machine + Kevin Ayers + Robin Williamson + Tangerine Dream + Amazing Blondel + Johnny Flynn + Dr. Strangely Strange

Check-Ins 579 22 Metacritic

Date 10/06/2014 Poster - ##########

4. Desire Under the Elms (1958)

Approved | 111 min | Drama, Romance

Desperation and secret passions on a family farm lead to tragedy.

Director: Delbert Mann | Stars: Sophia Loren, Anthony Perkins, Burl Ives, Frank Overton

Votes: 1,447

[Mov 07 IMDB 6,5/10 {Video}

DESEJO

(Desire Under the Elms, 1958)


31*1959 Oscar / 1958 Palma de Cannes

Don Hartman Productions

Diretor: Delbert Mann

729 users / 51 face

Check-Ins 124

Date 02/03/201 Poster - #####

5. Death Wish II (1982)

R | 89 min | Action, Crime, Drama

11 Metascore

Architect Paul Kersey once again becomes a vigilante when he tries to find the five street punks who murdered his daughter and housekeeper, this time on the dark streets of Los Angeles.

Director: Michael Winner | Stars: Charles Bronson, Jill Ireland, Vincent Gardenia, J.D. Cannon

Votes: 18,109 | Gross: $16.10M

[Mov 03 IMDB 5,7/10 {Video}

DESEJO DE MATAR 2

(Death Wish II, 1982)


''Paul Kersey, que teve a esposa assassinada, sai de Nova York, e leva uma vida normal, deixando de lado seu sentimento de vingança, mas quando sua filha é estuprada e morta Kersey, volta a fazer justiça com as próprias mãos." (Filmow)

"Repeteco do filme original, vale mesmo pela trilha de Jimmy Page." (Vlademir Lazo)

"Repeteco do filme original, vale mesmo pela trilha de Jimmy Page." (Vlademir Lazo)

Cannon Group Golan-Globus Productions

Diretor: Michael Winner

8.315 users / 374 face

Check-Ins 141

Trilha Sonora / Rock = Jimmy Page

Date 19/03/2013 Poster -####

6. Different from the Others (1919)

Not Rated | 50 min | Crime, Drama, History

Two male musicians fall in love, but blackmail and scandal makes the affair take a tragic turn.

Director: Richard Oswald | Stars: Conrad Veidt, Leo Connard, Ilse von Tasso-Lind, Alexandra Willegh

Votes: 1,488

[Mov 06 IMDB 6,7/10] {Video}

DIFERENTE DOS OUTROS (unofficial)

(Anders als die Andern, 1919)



Sinopse

"Paul Körner é um violinista de sucesso, que se apaixona por um de seus alunos. Flashbacks nos mostram como Körner tornou-se ciente de sua orientação sexual e tentou inicialmente modificá-la para, em seguida, compreendê-la. Um chantagista desprezível, porém, descobre e ameaça expor o violinista como homossexual."
***** "Pouca gente sabe que o cinema da República de Weimar produziu muitos filmes além dos expressionistas. Comédias de imitação hollywoodiana, caricatiras de personalidades e artistas da época ou adaptações literárias do século XIX também estavam na pauta das produções locais, isso pelo menos até a oficialização do Partido Nazista no poder, em 1933. O filme "Diferente dos Outros", do diretor Richard Oswalld, traz a discussão algo da produção não expresionista na Alemanha, ao mesmo tempo que se coloca como pioneiro na manifestação da homossexualidade no cinema, sendo considerado o primeira longa-metragem gay da história. O filme chegou a nós numa cópia reduzida de sua versão original, tendo sido vítima de uma série de cortes e destruição de suas melhores cópias, proibidas em cinemas de algumas cidades e paises da Europa e Ásia e incendiado pelos nazistas no expurgo inicial que o sistema realizou entre 10 de maio e de 21 de junho de 1933. A história do filme é bastante ousada para a época, mas se a enquadramos na realidade berlinense pós-1918, é perfeitamente compreensível que tenha surgido nesse tempo e espaço, a respeito da imposição jurídica em vigor que o roteiro do filme critica fortemente. A Alemanha da República de Weiner era um caldeirão de tendências, opiniões e comportamentos de todos os tipos e em todos os setores. Haviam conflitos políticos de esquerda e direta, a inflação se comportava como um Cavaleiro do Apocalipse (1kg de pão chegou a custar 80 bilhões de marcos) e as artes floreciam vigorosamente no campo da vanguarda, seja na literatura, no teatro, na arquitetura ou no cinema, cujo principal produto foi o Expressionismo Alemão. É nesse ambiente berlinense de inferninhos, prostituição, artistas das mais diversas tendências e uma notável cena gay que a liberdade/ousadia de falar sobre homossesualismo permitiu que richard Oswald dirigisse "Diferente dos Outros". Como explicamos anteriormente, trata-se de um filme didático, umaforma de tornar conhecido do grande público o comportamento homossexual sob a ótica médica e também de mostrar como discriminação social e jurídica podiam acabar com a vida das pessoas que se sentissem acuadas só por serem, como o título do filme diz, diferente dos outros, uma realidade que infelizmente se perpetuou no tempo, gerando histórias trágicas como a mostrada no filme Orações Para Bobby, apenas para citar um exemplo cinematográfico do século XXI. A base narrativa em "Diferente dos Outros" é a crítica ao Parágrafo 175 do Código Penal alemão, promulgado em maio de 1871 (abolido apenas em março de 1994) e que tomava ilegal a prática homossexual no pais. No filme, temos o verdadeiro Doutor Magnus Hirschfeld interpretando ele mesmo, um sexólogo, que explica para o personagem de Conrad Veidt os detalhes e origem de sua pulsão sexual. O Dr. Hirschfeld acreditava que a homossexualidade a época, que não se sentiam muito avontade com essa definição. A teoria também bate de frente com a versão de Freud sobre o mesmo tema (para saber mais, leia os muitíssimo esclarecedores Três Ensaios Sobre a Teoria da Homossesualidade, publicados por Freud em 1905 e lançados em inúmeras coltâneas aqui no Brasil). Vale ainda dizer que o Dr. Hirschfeld era um ativo defensor da causa homossesual, tendo fundado em 1897 a primeira organização de defesa LGBT da História, o chamado Comité Científico-Humanit´rio, que chegou arealizar encontros contra o Parágrafo 175 e fez petições que chegaram a ter assinaturas de personalidades da época como Albert Einstein, Hermann Hesse, Thomas Mann, Rainer Maria Rilke e Tolstói. "Diferente dos Outros" é um filme marcante. O roteiro ainda guarda ideias que incomodam um espectador do século 21, mas salvo os avanços ideológicos e científicos obtidos com o tempo, podemos ver na obra uma eficiente e bem intencionada forma de lutar contra o preconceito. Também é interessante obsevar que a fita carrega estereótipos do que era a personagem homossexual no cinema daquele início de século e que seria por muito tempo, basta atentarmos para as grandes olheiras pintadas no personagem de Conrad Veidt para perceber isso. No que concerne a qualidade do filme, é difícil avaliar com segurança uma obra que sabemos ter sido picotada e reeditada através dos anos, mas o material que restou é de boa qualidade, padecendo apenas dos vícios e incômodos de edição do Primeiro Cinema, mas isso não interfere de maneira absurda na qualidade geral da obra. Quanto as atuações, destaca-se o ótimo Conrad Veidt no papel do violonista homossexual e seu drama particular entre o mostrar-se para a sociedade e ser o que de fato era. Creio que por toda a importante história que o cerca, "Diferente dos Outros deveria ser um filme mais conhecido e melhor divulgado, especialmente em tempos de popularização massiva do discurso em prol dos direitos humanos e da liberdade sexual, seja ela qual for, principalmente porque mostra o quão atrasada se encontra a cabeça dos que ainda não se deram conta do óbvio: a espécie humana é feita de diversidade, de diferenças. Nós não somos iguais. E nem sempre gostamos ou somos conquistados e impulsionado pelas mesmas coisas. Ainda bem." (Luiz Santiago)

Richard-Oswald-Produktion

Diretor: Richard Oswald

617 users / 139 face

Check-Ins 633

Date 14/07/2014 Poster - #####

7. Cheaper by the Dozen (2003)

PG | 98 min | Comedy, Family

46 Metascore

With his wife on a book tour, Tom Baker finds his life turned upside down when he agrees to care for his twelve children while simultaneously also coaching his new football team.

Director: Shawn Levy | Stars: Steve Martin, Bonnie Hunt, Hilary Duff, Piper Perabo

Votes: 108,906 | Gross: $138.61M

[Mov 03 IMDB 5,7/10 {Video/@@@@} M/46

DOZE É DEMAIS

(Cheaper by the Dozen, 2003)


"Doze É Demais!" é uma comédia de gags precárias, mas de mensagem precisa, incisiva. Seus vilões eleitos são uma mãe moderna, que não gosta de famílias grandes, e um ator narcisista, que não quer ter filhos. Os 12 do título são os Baker, a última-família-grande-e-feliz da América. Eles vivem contentes até o dia em que papai Baker (Steve Martin) vai treinar o time de futebol de uma universidade. Para dificultar a adaptação das crianças à nova cidade, mamãe Baker é obrigada a se ausentar, ocupando-se da turnê de lançamento de seu livro de memórias. A confusão que se segue encerra a seguinte moral: antes fracassar na vida profissional do que no âmbito familiar. Afinal, não dá pra todo mundo querer ser o número um. Problema que, por extensão, aplica-se a toda uma nação. Estamos aqui de volta à romantização do bom homem comum, aquele que leva uma vida anônima e saudável no interior do país. Em seu libelo ao provincianismo, o filme defende valores antiquados que nem mais se aplicam à realidade americana. Para começar, ridicularizar "famílias pequenas" num país em que a média de filhos por família é de 1,87 não parece ser um bom negócio. O período de sátira às patologias do american way, moda do cinema independente que havia contaminado o mainstream hollywoodiano, parece mesmo ter sido sepultado pelo 11 de Setembro. Desenterrar velhos valores é a nova palavra de ordem em Hollywood. Mas estes, de tão anacrônicos e vazios, só parecem encontrar vazão em produções medíocres e alienadas como esta." (Tiago Mata Machado)

Twentieth Century Fox Film Corporation Robert Simonds Productions

Diretor: Shawn Levy

60.601 users / 1.204 face

Soundtrack Rock = 10,000 Maniacs + A Tribe Called Quest + Simple Plan + Fountains of Wayne + Jackson 5 + Brenda Lee

Check-Ins 149

Date 07/05/2013 Poster ###

8. Death Wish 4: The Crackdown (1987)

R | 99 min | Action, Crime, Drama

46 Metascore

Architect/vigilante Paul Kersey takes on the members of a vicious Los Angeles drug cartel to stop the flow of drugs after his girlfriend's daughter dies from an overdose.

Director: J. Lee Thompson | Stars: Charles Bronson, Kay Lenz, John P. Ryan, Perry Lopez

Votes: 11,098 | Gross: $6.88M

[Mov 03 IMDB 4,8/10 {Video/@@@}

DESEJO DE MATAR 4 - OPERAÇÃO CRACKDOWN

(Death Wish 4: The Crackdown, 1987)


"Depois do apocalíptico Desejo de Matar 3, parecia mais do que óbvio que a carreira cinematográfica do vigilante Paul Kersey estava encerrada. Afinal, não havia mais história para contar. A parceria entre a Cannon Films e Charles Bronson continuou com os filmes policiais O Vingador (1986) e Assassinato nos Estados Unidos (1987), e por algum tempo Kersey realmente permaneceu aposentado. O problema é que, à época, a Cannon andava mal das pernas por causa do investimento exagerado - e nunca recuperado nas bilheterias - em filmes como Falcão - O Campeão dos Campeões (em que só o astro Sylvester Stallone embolsou 12 milhões de cachê!) e Superman 4 - Em Busca da Paz. Os produtores Golan e Globus decidiram que a melhor forma de sair do vermelho era lançar continuações de suas franquias mais lucrativas. Sem pensar duas vezes, colocaram em pré-produção Braddock 3, com Chuck Norris, e "Desejo de Matar 4 - Operação CrackdownComo". Bronson e o diretor inglês Michael Winner se estranharam após o lançamento do terceiro filme, a direção da quarta aventura de Kersey passou para outro inglês, o veterano J. Lee Thompson, que já tinha trabalhado com Bronson cinco vezes (incluindo "Dez Minutos Para Morrer"). Era um verdadeiro encontro de dinossauros: o ator estava com 66 anos, e o cineasta com 73. Thompson já trabalhava para a Cannon há algum tempo, dirigindo aventuras como "As Minas do Rei Salomão" e "Os Aventureiros do Fogo", e estava acostumado a fazer filmes para os primos israelenses com orçamentos irrisórios. Definido o diretor, o problema agora era qual direção seguir depois de Desejo de Matar 3: continuar apostando no exagero e no absurdo, ou voltar àquele tom mais sério e realista dos dois primeiros filmes? Nem os próprios Golan e Globus sabiam a resposta. Por isso, vários argumentos para "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" foram analisados por eles, incluindo uma ideia sugerida pelo próprio Brian Garfield (autor do romance Death Wish, que deu origem ao primeiro filme, lembra?). Depois de muitas idas e vindas, Golan e Globus lembraram de Gail Morgan Hickman e das várias ideias não-aproveitadas que ele havia escrito alguns anos antes para a Parte 3. Hickman tinha roteirizado uma outra aventura de Bronson ("O Vingador"), e seu trabalho foi tão satisfatório que resolveram chamá-lo de volta para escrever "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" a partir de um daqueles argumentos descartados em 1984. Inicialmente, Hickman escreveu uma aventura mais séria que era continuação direta de Desejo de Matar 2, fingindo que aquela Terceira Guerra Mundial num bairro pobre de Nova York, mostrada na Parte 3, nunca aconteceu! No argumento inicial, um envelhecido Kersey, ainda vivendo em Los Angeles, aposenta seu passado como vigilante e volta a se relacionar com aquela ex-namorada interpretada por Jill Ireland na Parte 2, prometendo a ela nunca mais fazer justiça com as próprias mãos. Só que namorar com Kersey é zica, e logo a moça seria executada por bandidos durante um assalto. Como o herói tinha feito a promessa de abandonar as armas, ele tenta agir conforme a lei dessa vez, levando os culpados a julgamento. Só que os assassinos são inocentados e voltam às ruas. É quando Kersey também resolve sair da aposentadoria e vingar-se ao seu estilo. Parece até interessante no resumo, mas o roteiro de Hickman não foi bem recebido pela Cannon, que queria uma aventura com mais tiros e explosões e menos drama, questionamentos e conflitos internos do vigilante. Além disso, a atriz Jill Ireland estava se tratando de um grave câncer de mama e não se sentia confortável para interpretar uma personagem que morria. E sem ela, a ideia perdia todo o sentido. Assim, Hickman voltou à estaca zero, e, entre as várias ideias surgidas no processo, bolou uma completamente absurda em que Kersey caçava um perigoso terrorista para vingar um amigo da CIA morto pelo vilão (coincidentemente, argumento parecido já havia aparecido na aventura Exterminador Implacável, com Rutger Hauer, um ano antes)! Finalmente, o roteirista chegou à ideia que acabou se transformando em "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown", baseada tanto no western "Por um Punhado de Dólares" quanto na fonte inspiradora deste, o filme japonês "Yojimbo": o vigilante Kersey agora agiria de maneira mais cerebral, colocando duas quadrilhas de traficantes de drogas uma contra a outra, e matando aqueles que sobrassem no final! Naquela etapa dos anos 80, a Cannon Films estava buscando temas socialmente engajados para suas aventuras. Se Superman 4 - Em Busca da Paz era um libelo anti-corrida armamentista, "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" seria uma aventura anti-drogas. A própria família Bronson sofria com o problema, já que o filho adotivo do astro, Jason McCallum, travava uma dura batalha contra o vício em drogas (mas nunca se soube se isso influenciou ou não no argumento do filme, e se foi Bronson quem sugeriu abordar o tema). Fazendo de conta que Desejo de Matar 3 nunca aconteceu, o filme mostra Kersey trabalhando normalmente como arquiteto em Los Angeles, e com um novo caso amoroso: trata-se de mais uma jornalista, Karen Sheldon (Kay Lenz, de A Casa do Espanto), e novamente com a metade da idade dele (Kay tinha 34 anos, Bronson 66!). Para quem não lembra, na Parte 2 a namorada de Kersey também era jornalista. Embora sofra pesadelos frequentes relacionados a suas incursões anteriores como vigilante, Kersey parece ter aposentado seu passado para levar uma nova vida com Karen e sua enteada adolescente, Erica (Dana Barron, que interpretou a filha de Chevy Chase em Férias Frustradas). Sem que os pais saibam, Erica e seu namorado Randy (Jesse Dabson) são usuário de drogas. E, certa noite, a garota exagera no crack e acaba comendo capim pela raiz, morrendo de overdose. Isso tudo acontece já nos primeiros 10 minutos de filme, pois desenvolvimento de personagens parece não interessar muito nesse quarto filme. Kersey sequer espera o cadáver esfriar: ele segue Randy até o traficante que vendeu a droga, Jojo (Héctor Mercado), testemunha a execução do rapaz (que, burramente, ameaçou entregar o traficante à polícia) e resolve sair da aposentadoria, dando o devido castigo ao assassino da sua enteada. Ok, os culpados pela overdose estão mortos, então parece que é o fim, certo? Errado. As mortes de Randy e Jojo são investigadas por uma dupla de policiais, os detetives Reiner (George Dickerson) e Nozaki (Soon-Tek Oh). E como Nozaki é interpretado pelo mesmo ator que fez o vilão de Braddock 2, é óbvio que mais cedo ou mais tarde ele vai se revelar um policial corrupto. Paralelamente, o vigilante é procurado por um poderoso milionário, dono de um império de veículos de comunicação, chamado Nathan White (John P. Ryan). Ele quer contratar o justiceiro para um trabalhinho: aniquilar as duas quadrilhas de traficantes que comandam o império dos entorpecentes em Los Angeles. Nathan alega que sua única filha também morreu de overdose, e por isso não vai economizar dinheiro ou armas para que Kersey acabe com a raça dos bandidos. Apesar de não ter mais nada a ver com a história, e de não ser nenhum mercenário ou guerrilheiro, o vigilante aceita a proposta - com a desculpa de acabar com aqueles que estão matando as crianças. As duas quadrilhas são chefiadas por Ed Zacharias (Perry Lopez, que depois trabalhou com Bronson no ótimo Kinjite - Desejos Proibidos) e pelos irmãos latinos Jack (Mike Moroff) e Tony Romero (Dan Ferro). Como já acontecia em "Por um Punhado de Dólares" e Yojimbo, um grupo não se bica com o outro, e só precisa riscar um fósforo para explodir o barril de pólvora. Kersey percebe isso e dá uma de Clint Eastwood/Toshiro Mifune, jogando uma quadrilha contra a outra, matando os homens-chave de cada organização e fazendo parecer que foi trabalho do outro grupo. O resultado é uma mini-guerra que quase lembra "Desejo de Matar 3", aquela aventura exagerada que o astro, o roteirista e os produtores estavam tentando esquecer... Uma das minhas principais queixas em relação a "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" é que ele parece não ter nada a ver com o restante da série - tudo bem, o terceiro também não, mas pelo menos era engraçadíssimo e já estava de bom tamanho para fechar a franquia. Não consigo engolir um justiceiro como Paul Kersey fazendo intriguinha nos bastidores, colocando bandidos uns contra os outros ao invés de atacá-los por conta própria e matar todo mundo, ao seu estilo. Soa tão imbecil quanto aquele filme do Justiceiro com o Thomas Jane. O roteirista Hickman merece crédito por ter tentando ligar a história com os dois primeiros filmes, e até faz diversas citações a eles, quando os policiais que investigam o caso citam as tragédias acontecidas na família Kersey em Desejo de Matar e Desejo de Matar 2; além disso, novamente Kersey se identifica com o nome falso "Kimball", como fez na Parte 2 (e também na terceira, mas lembre-se que essa não foi levada em consideração aqui). O problema é que Hickman não percebeu que Kersey não é um soldado, um policial ou um mercenário, mas sim um cara normal com desejo de matar (dã!). Eu consigo engolir o protagonista lutando sujo contra os punks do terceiro filme, mas não sua cruzada patrocinada contra os traficantes de drogas. Aliás, por que diabos o personagem de Ryan contrata Kersey para fazer o serviço ao invés de um mercenário ou assassino profissional? Sem contar que é praticamente impossível acreditar que Kersey consiga esconder de todo mundo (da nova namorada, da polícia...) o seu trabalho atual como vigilante, já que aparece o tempo inteiro com armas de grosso calibre e até explosivos para despachar os traficantes. E a maneira como ele consegue se infiltrar com a maior facilidade em qualquer lugar - como ao entrar disfarçado de garçom numa festa promovida por Zacharias, ou fingindo ser funcionário numa refinaria de cocaína do mesmo traficante - é forçar demais a amizade! Há algumas reminiscências daquele primeiro roteiro que Hickman escreveu e que não foi aprovado pela Cannon - aquele mais sério e tal -, e esses pequenos detalhes são a melhor coisa de "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown", o que me leva a imaginar como este primeiro roteiro poderia ter sido um filmaço antes da mudança para a trama chupada de Por um Punhado de Dólares. Por exemplo, a primeira cena do filme, que Hickman disse ter sido a única coisa que conseguiu manter daquela sua primeira versão do roteiro, é um pesadelo em que Kersey aparece interrompendo uma tentativa de estupro. Quem é você?, pergunta um dos estupradores. A morte, responde o herói antes de passar chumbo no sujeito, mas só para descobrir que acabou de matar um clone de si mesmo. Kersey então acorda suado e gritando na cama, comprovando que ele ainda é assombrado pela culpa de todos os crimes cometidos, numa ideia interessante que infelizmente é abandonada pelo filme no momento em que o vigilante inicia sua cruzada anti-drogas. No livro Bronson's Loose! - The Making of the Death Wish Films, o roteirista explicou ao pesquisador Paul Talbot como foi o processo de destruição da sua história original: Ficou bastante claro para mim que a Cannon queria que o filme fosse apenas entretenimento. Meu primeiro roteiro era muito sério, e acho que só existem duas maneiras de contar a história de um vigilante: uma é abordar seriamente as implicações morais da justiça pelas próprias mãos, e o que isso faz com você; a outra é fazer algum cartunesco, só para diversão. Hickman também comparou a série Desejo de Matar com as franquias de James Bond e Dirty Harry, em que cada sequência vai ficando mais exagerada. Inclusive eu não entendo porque teimaram em passar a borracha na absurda Parte 3 se esta aqui também tem uma contagem de cadáveres altíssima e inverossímil, a segunda maior da série! Para não ser injusto, "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" tem algumas ótimas cenas de ação, especialmente o ataque de Kersey à refinaria e o massacre coletivo das duas quadrilhas. Algumas piadinhas inspiradas aqui e ali também ajudam a espantar a sensação de estarmos vendo algo completamente descartável. Gosto muito da cena em que um capanga flagra Kersey dentro de sua casa e pergunta o que ele faz ali, e o vigilante responde, com a maior cara-de-pau: Estou só fazendo um sanduíche. Outro diálogo inspirado acontece quando Kersey aborda um dos traficantes mostrando a foto da sua finada enteada Erica, e dizendo que fez tudo aquilo por ela. O bandido responde: Mas eu nem a conheço!. Antes de disparar à queima-roupa, o vigilante retruca: Mas eu sim!. O final de "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" envolve uma intereressante reviravolta (pouco convincente, mas, vá lá, inesperada) relacionada ao personagem de John P. Ryan. Mas até chegar nela será preciso resistir a cenas francamente estúpidas, como aquela em que o herói explode um trio de vilões usando uma garrafa de vinho-bomba, à la 007 (qual o problema em simplesmente chegar atirando?). Ou o momento patético de crítica social em que um médico-legista apresenta à personagem de Kay Lenz várias jovens vítimas do consumo de drogas. Por sinal, o roteiro fraquinho desperdiça este novo interesse amoroso de Kersey. A pobre Karen aparece apenas no começo do filme, quando vê a filha morrer de overdose, e então desaparece da trama até o final, quando é sequestrada pelos bandidos e, claro, tem o tradicional final trágico reservado a todas as namoradas ou familiares de Paul Kersey. Ninguém se preocupa em explicar o que a personagem fez durante todo o tempo em que esteve sumida da narrativa, mas sabemos que ela não se encontra mais com Kersey - pois o vovô tem todas as noites livres para sair matando bandidos pela cidade! Não faltam culpados para a inconsistência geral do filme. Um deles é o diretor Thompson, que naqueles tempos lutava contra o alcoolismo. Outros dois são Golan e Globus, que baixaram tanto o orçamento da produção que até reaproveitaram músicas de seus filmes Braddock - O Super Comando e Invasão USA na trilha sonora para economizar uns trocados, além de colocar pôsteres e displays de várias produções da Cannon em algumas cenas para fazer merchandising grátis. Ironicamente, o trailer de cinema do filme anunciava The biggest Death Wish ever!... Porém o maior culpado talvez seja o próprio Bronson. No livro Bronson's Loose!, o roteirista Hickman lembra que o ator estava um verdadeiro pé no saco durante as filmagens, reclamando o tempo inteiro que não queria gravar cena x ou diálogo y, e obrigando-o a fazer incontáveis mudanças no roteiro. Originalmente, por exemplo, o grande vilão do filme morreria asfixiado pelo próprio veneno, quando Kersey o trancava numa sala com o ar impregnado de cocaína; na hora de filmar, optaram pelo velho e direto Vamos explodir o filho da puta, já visto no final de Desejo de Matar 3 e também de Invasão USA. (Traficantes asfixiados com seu próprio veneno apareceriam dois anos depois no obscuro Esquadrão Cobra 2, com Lorenzo Lamas.) Também segundo o roteiro original, a namorada do herói permaneceria viva na conclusão, e até prometendo ajudar o vigilante em ações futuras para compensar a perda da filha. Temendo que isso provocasse polêmica pela velha questão do pró-vigilantismo, diretor e produtores optaram por matar a personagem no final, só para manter a tradição da série de que os interesses românticos de Kersey devem morrer! Por causa dessa soma de fatores, "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" é bem decepcionante. Quando vemos o velhote Bronson correndo com uma metralhadora maior que ele, parecendo prestes a ter um infarto, fica claro que o filme funcionaria muito melhor como veículo para Chuck Norris ou, sei lá, Michael Dudikoff. Enfim, esta Parte 4 só não é a mais fraca da série porque, anos depois, um ainda mais envelhecido Bronson cometeria a imbecilidade de voltar no fraquíssimo e ordinário Desejo de Matar 5, um dos piores (e últimos) filmes de sua carreira. Como já havia acontecido com os outros filmes da série, esta quarta aventura traz pelo menos dois atores que ficariam mais famosos depois em pequenas participações. Um deles é o Machete em pessoa, Danny Trejo, interpretando um dos homens de Zacharias (e uma das vítimas da hilária garrafa de vinho explosiva); o outro é Mitch Pileggi, o Skinner do seriado Arquivo X, como um traficante que toma umas bolachas de Kersey na refinaria de cocaína. Suas participações são no estilo piscou, perdeu, então aproveite para dar uma boa olhada em ambos nas imagens acima. E um detalhe trágico: num daqueles casos em que a vida imita a arte, o filho adotivo drogado do astro, Jason McCallum, morreu dois anos depois de overdose. Pena que, na vida real, Bronson estava muito velho para sair matando traficantes ao estilo Paul Kersey no filme... PS: Michael Winner nunca mais voltou a dirigir uma aventura de Paul Kersey, mas em 1993 revisitou o universo do vigilantismo em Beleza Fatal, que é praticamente uma paródia de humor negro da série Desejo de Matar, mas com Uma vigilante em ação. Para quem gosta do tema, vale a pena procurar!" (Felipe M. Guerra)

Cannon Group

Diretor: J. Lee Thompson

4.954 users / 196 face

Soundtrack Rock = Michael Bishop

Check-Ins 164

Date 30/05/2013 Poster - ###

9. Double Suicide (1969)

Not Rated | 105 min | Drama

A doomed love between a paper merchant and a courtesan.

Director: Masahiro Shinoda | Stars: Kichiemon Nakamura, Shima Iwashita, Shizue Kawarazaki, Tokie Hidari

Votes: 2,602

[Mov 04 IMDB 7,5/10 {Video}

DUPLO SUICÍDIO EM AMIJIMA

(Shinjû: Ten no amijima, 1969)


"A brilhante e radical encenação de Shinoda é o grande atrativo de Duplo Suicídio em Amijima, mas o conflito central parece um pouco aquém da força que poderia ter." (Daniel Dalpizzolo)

Obra-prima da Nouvelle Vague japonesa. Moderno até para os dias atuais.

"Duplo Suicídio em Amijima" foi lançado no Brasil em uma versão meio vagabunda pelo selo Magnus Opus – nada a ver com a versão remasterizada do prestigioso selo norte-americano The Criterion Collection disponível na loja deles na rua Bela Cintra, em São Paulo. De qualquer forma, vale a pena ver esse filme japonês de Masahiro Shinoda, filmado em 1969, no DVD brasileiro, pois é considerado um dos mais importantes feitos da chamada Nouvelle Vague japonesa. A história foi adaptada de uma peça bunraku, o teatro de bonecos japonês. O diretor não esconde a origem como faz questão de salientar a dramaticidade da trama, que poderia ser considerada ingênua, direta e um tanto esquemática, dada as características desse tipo de arte, em tese feita para divertir crianças (nem sempre) ou comunicar-se diretamente com o público. Assim, se no palco os atores que manipulam os bonecos vestem-se completamente de negro e estão o tempo todo do lado das personagens, o diretor providenciou o mesmo para seus atores de carne e osso: todos os afazeres dos atores são ajudados por vultos negros, que todos em cena tem pelo menos um – há ecos do distanciamento de Bertold Brecht. Os cenários também criam o ambiente onírico: formado de telas magníficas, pintadas em papel transparente, com os platôs cobertos de caligrafia, como se estivesse saindo diretamente do livro. Ao mudar de cena, os vultos trocam a mobília e os adornos. É impressionante. Conta a inesquecível história de amor de um comerciante de papel por uma geisha. Ela, visada pelo mais rico comerciante local, precisa do dinheiro dos clientes para sustentar a mãe, que morre de fome no interior. Ele, casado e com dois filhos, não vê outra maneira de consumar seu amor – uma vez que ele não tem como sustentar a geisha só para si – a não ser pela morte. Propõe à amada o duplo suicídio na ponte. Ela concorda. Tentarão durante todo o filme consumar esse pacto mortal. Como era comum na época, o contexto sexual era forte. Antes de darem cabo a suas vidas, os amantes farão amor perto do templo local, ao som das badaladas do sino da Indonésia. É algo belo, desesperado e ousado até hoje, não só pela felação e pelos corpos nus obcecados, mas pela infinita beleza da cena, numa das poucas externas do filme – ela foi discutida, no início do filme, pelo diretor e roteirista ao telefone, que seria feita sob os auspícios do teatro kabuki. Colabora para tanto a extraordinária fotografia em preto-e-branco, a impecável direção de arte, os figurinos brilhantes e a interpretação irrepreensível da atriz Shima Iwashita (mulher de Shinoda), que (me perdoe o leitor que não viu o filme, mas sou obrigado a contar esse detalhe) interpreta de maneira brilhante tanto a cortesã Hoharu com a esposa submissa do comerciante de papel. Além disso, o filme contou com a ajuda do célebre compositor Toru Takemitsu, que se encarregou não apenas da música, mas da orquestração de todos os ruídos e diálogos do filme. Takemitsu foi ainda o responsável pelo roteiro, apenas retocado por Taeko Tomioka, especialista no dialeto de Kansai, onde a história se passa. Preciosismos? Nunca. Apenas apuro de artistas impecáveis. Impossível não se deixar espantar com a cena em que, irado, o personagem principal destrói os cenários, revelando como eles foram construídos. Ex-assistente de Yasujiro Ozu, Masahiro Shinoda é um dos três pilares da Nouvelle Vague japonesa, ao lado de Nagisa Oshima (Tabu) e Yoshishige Yoshida (Purgatório Heróica, já comentado aqui no Cine Players). Aqui levou o cinema japonês ao seu auge de estilização. Shinoda representava o que havia de mais moderno então, utilizando-se, sem ironias, a mais pura tradição ancestral japonesa." (Demetrius Caesar)

Art Theatre Guild Hyogensha

Diretor: Masahiro Shinoda

1.098 users / 104 face

Check-Ins 172

Date 30/05/2013 Poster - ##

10. Brother and Sister (2010)

105 min | Comedy, Drama

They are both alone. They need each other but, at the same time, they despise each other. Siblings Marcos and Susana are unable to heal the old wounds festering within them after the death ... See full summary »

Director: Daniel Burman | Stars: Antonio Gasalla, Graciela Borges, Elena Lucena, Rita Cortese

Votes: 788

[Mov 05 IMDB 6,5/10 {Video/@@@}

DOIS IRMÃOS

(Dos hermanos, 2010)


''Daniel Burman é um cineasta da família. Embora tenha se dedicado com mais frequência às relações familiares (ou de vizinhança) judaicas, são os complexos laços afetivos que formam o centro de sua obra. Em "Dois Irmãos", Susana e Marcos têm suas inevitáveis diferenças. Ela, mais expansiva e forte. Ele, mais frágil. Marcos é quem cuidava da mãe doente. Depois que ela morre, a irmã passa o apartamento nos cobres e o desloca de Buenos Aires a Montevidéu. É perto, mas não é simples como parece. E Burman trabalha como bom observador ao trazer tanto as inadaptações (e adaptações) do irmão à nova situação, como o fazer e desfazer-se de rivalidades, ressentimentos e amores entre irmãos." (* Inácio Araujo *)

**** ''Dois Irmãos" trata com suavidade da saga de irmão e irmã, bem idosos e bem diferentes. Os modos de ser, grandezas e mesquinharias da espécie, são observadas com delicadeza por Daniel Burman. Nem por isso seu olhar deixa de ser implacável e acurado: trata-se de um dos mais regulares realizadores argentinos atuais.'' (** Inácio Araujo **)

''Daniel Burman não conhece outro tema que não seja a família. Palavras dele, não minhas, mas não é preciso ser crítico de cinema para perceber isso. Ninho Vazio, As Leis de Família e O Abraço Partido, seus longas anteriores, refletem sobre os laços indissolúveis entre familiares. Em ''Dois Irmãos'' (Dos Hermanos, 2010) não é diferente. A trama acompanha Susana e Marcos, os dois irmãos do título. Ela, uma espécie de trambiqueira, que ganha a vida com pequenos rolos no mercado imobiliário. Ele, um solteirão sexagenário que perde seu rumo quando a mãe idosa morre. Depois de uma transação mal-executada, não sobra alternativa a Susana se não vender a casa da mãe e mandar seu emasculado irmão ao Uruguai, onde ele vai viver em uma casa antiga em Villa Laura, fruto desse investimento equivocado. Porém, do outro lado do Prata, Marcos acaba fazendo amizades... e subitamente a ideia de felicidade não parece impossível. Pelo menos até que Susana interfira outra vez. Graciela Borges (O Pântano) e Antonio Gasalla, que vivem os protagonistas, fazem a diferença em um roteiro que, em outras mãos (ou em um país obcecado por sua televisão), poderia facilmente transformar-se em um novelão. Conduzido pelo argentino, o roteiro inspirado no livro Villa Laura, de Sergio Dubcovsky, torna-se exemplo de qualidade de atuação, excelente condução de atores e narrativa cinematográfica sem excessos. As emoções em ''Dois Irmãos'', afinal, jamais são exacerbadas e os diálogos sempre carregam realismo dramático. Há sutilezas em cada sequência, com Burman usando - como ótimo diretor que é - o enquadramento para contar mais que os atores em cena estão dizendo (atenção no velório da mãe, sem convidados, foco no rosto de Marcos enquanto a irmã matraqueia). E Susana matraqueia o tempo todo... algo que o argentino usa como contraste entre os dois - tão próximos mas tão estranhos um ao outro. Ele ouve, ela jamais se cala. Ela tenta vencer, ele se dá por vencido. O mundo dela sempre invade o dele primeiro através do som, como na cena em que ele, concentrado em seu trabalho de ourivesaria, começa a escutar o burburinho de mudanças lá fora... é mais uma vez Susana chegando, com direito a papagaio na gaiola. Ou quando ele vê seu trabalho na cozinha ser interrompido por marteladas lá fora. Susana está do outro lado do rio, mas sua presença se faz ouvir. A ideia é empregada várias outras vezes, como no celular silencioso de Marcos (no hay roaming, Susana!), nas conversas dos vizinhos inexistentes e no clímax, quando, enfim, é a vez de Marcos falar - e de Susana ouvir, ainda que não necessariamente da maneira como você possa estar imaginando. Burman não é assim tão previsível. Fica a ressalva, porém, ao uso óbvio de Édipo Rei como a peça a ser encenada na peça dentro da trama. Ainda que não seja criação do cineasta, mas algo presente na obra adaptada, fica a sensação de que a criatividade portenha poderia ter buscado uma saída melhor para essa ideia batida. O sapateante final me pareceu igualmente dispensável, uma maneira de dar ao público algum alento extra para tirar aquela última camada de tristeza. Bobagem... o cinema de Burman já seria alento suficiente." (Erico Borgo)

"Um dos mais festejados cineastas argentinos da nova safra, Daniel Burman (o mesmo de O Abraço Partido, As Leis de Família e Ninho Vazio) novamente volta as suas lentes para o tema que domina com maestria: as relações humanas. Se em seus primeiros trabalhos é marcante sua preocupação em radiografar as relações entre pais e filhos, em ''Dois Irmãos'' ele prefere dissecar uma conturbada relação entre irmãos. Ainda que tudo seja desencadeado pela morte da mãe deles. Marcos (Antonio Gassala) é um delicado e sensível sessentão que passou toda a vida cuidando ou sendo cuidado pela mãe. Seu contraponto é a irmã, Susana (Graciela Borges), mulher despachada e desbocada que passa por cima de tudo e de todos (principalmente do próprio irmão) visando apenas seus próprios interesses. Após a morte da mãe, o desequilíbrio emocional entre o casal de irmãos de instala de forma mais visível e agressivo, a ponto de Susana forçar Marcos a trocar a Argentina pelo Uruguai onde ele – segundo ela – viveria melhor. Novamente o cinema argentino faz mais com menos. A partir do livro Villa Laura, do também argentino Diego Dubcovsky, Burman constroi um belo e dolorido painel sobre as relações de poder, dominação e triste interdependência que nascem e crescem dentro dos ambientes familiares. Se numa primeira leitura a personagem de Susana se apresenta como forte e resolvida, logo a máscara cai por terra, revelando uma pessoa cuja maldição parece ser a da necessidade de ter alguém do lado para poder humilhar. O vírus que não vive sem hospedeiro. Afinal, o que se passa com alguém que tem como hobby comprar apartamentos que sabe que jamais conseguirá pagar? É ela a responsável pelos ótimos momentos de humor ferino do filme. Por outro lado, se Marcos, num primeiro momento, se apresenta como um personagem revestido de total fragilidade, mais tarde se notará que, apesar de tudo, ele sim consegue desenvolver, por si próprio, mecanismos de busca pela satisfação e realização. No caso, o teatro. É o cinema argentino visitando outra vez os temas da solidão, da melancolia e da incomunicabilidade, tão queridos à cultura daquele país. E, para isso, não precisa mais do que um roteiro sólido, uma direção segura e – como sempre – belíssimos atores. Pode parecer pouco, mas não é. Afinal, mais do que qualquer efeito especial, são o roteiro a direção e as atuações o verdadeiro tripé que constroi o bom cinema, e já faz um bom tempo que nuestros hermanos (re)descobriram isso.'' (Celso Sabadin)

''O argentino Daniel Burman mais uma vez surpreende (redundância!) os cinéfilos ao roteirizar e dirigir o tocante drama cômico Dois Irmãos. As envolventes narrativas do diretor, recheadas de personagens reais, mesmo que fictícios, sempre desarmam o espectador, pela proximidade e verossimilhança. Foi assim com O Abraço Partido (2004), Leis de Família (2006), O Ninho Vazio (2008), e não é diferente em Dois Irmãos, baseado no livro Villa Laura, de Diego Dubcovsky, que colaborou no roteiro. Marcos (Antonio Gasalla) e Rosana (Graciela Borges) são irmãos iguais e diferentes nos prazeres e nas dores de uma vida em família. Ele é um ourives e cuida da mãe doente, ela é uma trambiqueira que se arranja em qualquer ramo (imobiliário, gastronômico) onde sentir cheiro de lucro. O embate dos dois, que vem desde a infância, se agrava com a morte da mãe. Marcos é sessentão. Rosana é cinquentona. Ambos solteiros e com perspectivas diferentes de vida. Enquanto ele sonha em retomar o seu trabalho de artesão e finalmente ter um tempo para si, ela se apossa e se desfaz da herança dos dois, obrigando-o a viver em Villa Laura, no Uruguai. A índole tranquila de Marcos contrasta com a possessividade de Rosana. Quando o relacionamento se torna insuportável, percebe-se que as aparências enganam. Enquanto um ergue a sua fortaleza, o outro busca escapar dos seus próprios destroços. Verbo e gesto não mais se casam. É hora do espelho desenhar um outro reflexo. É hora do público rever a sua primeira impressão. ''Dois Irmãos'' (Dos Hermanos, Argentina, Uruguai, França , 2010) é um filme que se vê com prazer e (mesmo) um leve sorriso nos lábios, apesar da melancolia que costura cenas e sequências e arremata tudo com um final pungente. A trama que enreda Marcos e Rosana é a que enreda a parábola do humilde Cedro e o prepotente Carvalho, nascidos lado a lado. Enquanto a maleável planta resiste a uma forte tempestade, a vigorosa árvore, incapaz de se curvar, não tem a mesma sorte. Dois Irmãos tem um roteiro enxuto e um acabamento técnico notável. A sutileza do enquadramento de Marcos e Rosana, no velório da mãe, durante uma discussão, cujo motivo parece irrelevante, é comovente. Aliás, todo o filme é carregado de sutilezas que, entre muitos desacatos, dão um contraponto perfeito. A direção de Burman é precisa e a interpretação dos veteranos Antonio Gasalla (humorista de teatro) e Graciela Borges (dama do cinema) é irretocável. O filme ''Dois Irmãos'' lembra outro belo exemplar sul-americano, o brasileiríssimo É Proibido Fumar (2009), de Anna Muylaert, que também fala de solidão, insegurança e da frágil relação familiar que está sempre por um tênue fio. Na excelente produção brasileira, Glória Pires é Baby, uma solitária professora de violão (fumante compulsiva e à beira da histeria), sempre em pé de guerra com as duas irmãs, por causa de um sofá ou de um namorado. Mantidas as diferenças regionais, na pegada do humor e do drama, ambos têm muito em comum na forma de bem narrar uma história cheia de nuances e que, em mãos bobas seria um verdadeiro desastre." (JobaTrindade)

Top Argentina #27

BD Cine Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA) Televisión Federal (Telefe)

Diretor: Daniel Burman

490 users / 58 face

Check-Ins 224

Date 26/06/2013 Poster -

11. Dredd (2012)

R | 95 min | Action, Crime, Sci-Fi

60 Metascore

In a violent, futuristic city where the police have the authority to act as judge, jury and executioner, a cop teams with a trainee to take down a gang that deals the reality-altering drug, SLO-MO.

Director: Pete Travis | Stars: Karl Urban, Olivia Thirlby, Lena Headey, Rachel Wood

Votes: 294,179 | Gross: $13.41M

[Mov 07 IMDB 7,1/10 {Video/@@@@} M/59

DREDD

(Dredd 3D, 2012)


''Ao ver as primeiras cenas de "Dredd", é impossível não se lembrar de Robocop. Como o policial do longa de 1987, o Juiz Dredd deste filme é um vigilante a serviço da lei, com autonomia para perseguir, julgar e executar suspeitos sumariamente, em um futuro sombrio e decadente. A semelhança é natural, pois os dois personagens bebem da mesma fonte: a HQ inglesa Judge Dredd. O que surpreende é como dois filmes de mesma matriz sejam tão distintos. Enquanto Robocop era um ciborgue atormentado pelo passado humano e que se voltava contra a ordem totalitária, o Juiz Dredd é um carniceiro sem alma a serviço desse mesmo poder.No novo filme, Dredd se vê preso numa enorme favela vertical ao investigar um triplo homicídio. Para sair de lá vivo, terá de passar a régua nos traficantes do pedaço. Dito e feito: segue-se um amontado sem sentido de sequências de tiroteio. O único vislumbre de sanidade na fita está na parceira de Dredd, a médium Anderson, para quem matar não resolve problemas. Mas é muito pouco. Impróprio para humanos, "Dredd" só tende a agradar aos bárbaros que acham que o papel da polícia é atirar primeiro e perguntar depois." (Leonardo Cruz)

''Em 1995, Sylvester Stallone encarnou o anti-herói cult Juiz Dredd, nascido nas revistas britânicas 2000 AD, em um filme que não conseguiu traduzir a dureza, opressão e violência dos quadrinhos. A coisa foi tão feia, que chegou ao ponto de o criador do personagem, John Wagner, se negar a endossar o projeto. Sorte que 17 anos depois, o diretor Pete Travis entendeu a essência do que faz a história tão intensa e poderosa e criou uma obra simples, porém sensacional. Para quem não conhece os quadrinhos, ''Dredd'' é um policial futurista e extremamente brutal que protege as ruas de Mega City One, uma metrópole distópica, superpovoada e fascista, que ocupa uma área gigantesca entre Nova York e Boston. Para piorar, ela é cercada por um deserto radioativo chamado A Terra Maldita, repleto de mutantes. A história é pesada, afinal nasceu em uma época conturbada do Reino Unido, quando a cultura punk rock estava em declínio e a população via a decadência do país e a ascensão de Margareth Thatcher ao poder, eleita primeira ministra apenas três anos após a primeira edição chegar às bancas. Sombrio e incorruptível, Dredd (Karl Urban) é o mais famoso dos juízes, grupo com poder de polícia, juiz, júri e executor. O cara tem uma visão bem clara de seu mundo – ele é a lei. Na trama, o protagonista é designado para treinar uma recruta com poderes psíquicos, a juíza Anderson (Olivia Thirlby). Durante o dia de avaliação, ela escolhe responder a um chamado em uma megaestrutura, praticamente uma favela, de 1 km de altura e lar de 75 mil pessoas. A batida policial resulta numa batalha intensa e na prisão de um dos cabeças da gangue de Ma-Ma, interpretada de forma fria e cruel por Lena Headey. Ao ver em perigo a distribuição de uma nova droga chamada Slo-Mo, ela prende os juízes no complexo e convoca uma caçada brutal aos dois. O filme inteiro se passa dentro desse prédio gigantesco chamado Peach Trees, de forma similar ao que acontece no aclamado longa indonésio Operação Invasão. As referências não acabam por aí, é impossível não se lembrar de Duro de Matar, com o valentão John McClane invadindo um prédio dominado por inimigos, e até mesmo do brasileiro Tropa de Elite, ao mostrar a ação policial em uma favela controlada por gangues hostis e como isso afeta a vida das famílias que ali, infelizmente, convivem diariamente com o crime e a violência. Ao contrário de outros longas de super-heróis, ''Dredd'' tem um estilo visual cru, que o aproxima de Distrito 9, ambos filmados em Johanesburgo. A capital sul-africana serve como cenário perfeito para a imperdoável e decadente Mega City One, que ganha vida e, com isso, também o peso de um personagem capaz de definir as ações de seus moradores, nada a ver com a relativamente limpa e organizada megalópole criada por computação gráfica no filme de 1995. Implacável mesmo é ''Dredd'', interpretado por Karl Urban (o Éomer de Senhor dos Anéis) com frieza e determinação. Mostrado pela perspectiva de sua aprendiz, o anti-herói é um personagem sombrio, tenso e com uma obrigação fanática de seguir a lei. O fato de ele não tirar o capacete em nenhum momento, garante ainda mais credibilidade ao intimidador juiz, pois não importa o homem por trás da máscara e sim o uniforme e tudo que representa naquele mundo caótico. Em contraste, temos a recruta Anderson, a contraparte emocional da narrativa, muito mais humana que seu instrutor e que, vinda de uma das zonas mais pobres da cidade, sonha em fazer a diferença. Curioso é que ela não usa capacete em nenhum momento, com a desculpa de que isso afetaria seus poderes mentais, mas o real motivo é aproveitar a beleza da atriz e, ao exibir suas expressões, facilitar a identificação do público com os mocinhos. A intensidade é marca também da bela mixagem de som, trilha sonora e visual. Tudo ajuda a moldar ótimas cenas de ação, que apesar de constantes, não cansam pela variedade e criatividade – destaque para uma traqueia quebrada sem dó em uma das lutas mais brutais do filme. Além disso, a droga Slo-Mo garante algumas boas e bem dosadas cenas em câmera lenta, como a de Lena Headey tomando banho de banheira sob efeito do entorpecente. A habilidade de usar esse recurso sem exagero valoriza a produção e não incomoda. Sem medo de chocar, ''Dredd'' é um longa de ação cheio de confiança, estilo e violência, que não trata o espectador como criança. Certamente vai agradar tanto aos fãs do personagem quanto a um novo público, interessado em algo mais intenso do que costumamos ver nos cinemas. Mas vá preparado para encarar momentos incômodos, pois a produção não alivia a barra nem por um minuto." (Daniel Reininger)

Reboot britânico aproveita liberdade para ser mais fiel à HQ do que o filme com Sylvester Stallone.

''Com a sala lotada e a presença do protagonista Karl Urban, aconteceu na Comic-Con 2012 a primeira exibição pública nos EUA de ''Dredd'', a nova adaptação ao cinema da HQ do Juiz Dredd. Urban fez aquela média básica antes da sessão e disse que "esse filme é para vocês". É óbvio que ele falaria o que os fãs queriam ouvir, mas o fato é que o longa-metragem realmente é mais fiel ao gibi, com sua visão deformada da sisudez política de direita, do que o filme de 1995 com Sylvester Stallone, que amolece (e tira o capacete) o juiz. No reboot, Joe Dredd (Urban) é um dos mais temidos juízes nas ruas de um futuro distópico de Mega City One, com o poder de impor a lei, sentenciar os criminosos e executá-los no local, quando necessário. Já Cassandra Anderson (Olivia Thirlby) nunca conseguiu passar no teste para tornar-se uma juíza, mas é aceita como recruta da corporação por seu excepcional poder de ler mentes. A trama se passa durante a primeira missão de Anderson ao lado de Dredd, no gigantesco bloco residencial Peach Trees, que o bando de Madeline Madrigal (Lena Headey, cuja falta de expressividade dá à personagem um fatalismo bastante envolvente), conhecida como Ma-Ma, controla do alto do 200º andar. A paisagem lembra Distrito 9 - ambos os filmes foram rodados na África do Sul - mas quem viu o ótimo filme de ação indonésio The Raid (exibido no Festival do Rio ano passado como Batida Policial), de 2011, vai identificar algumas similaridades com ''Dredd'', a começar pela trama localizada no conjunto de corredores e andares, onde os dois juízes são cercados por um exército rival. A estética também é parecida, com a ação crua (mas sem as coreografias de luta de The Raid) contrastando com a fotografia saturada, que acaba deixando os cenários - visivelmente baratos - com uma interessante cara de technicolor. É difícil dizer se Pete Travis (Ponto de Vista) chegou a ver The Raid antes de dirigir Dredd, mas essa aproximação não tira do filme seu valor - na verdade, a ultraviolência que flerta o tempo todo com a caricatura é também uma marca da HQ. O roteiro de Alex Garland (conhecido pelos scripts dos filmes de Danny Boyle A Praia, Extermínio e Sunshine - Alerta Solar), por sua vez, aproveita todos os bordões consagrados do juiz sem soar empolado demais, e dá espaço às muitas gangues de Mega City One (que nos quadrinhos espelhavam a variedade de bandos da juventude britânica nos anos 70 e 80) de uma forma orgânica, sem parecer que essas gangues se fantasiam à la Warriors. O que pode dividir um pouco o público é o efeito estilizado que Travis arrumou para representar a viagem da droga Slo-Mo, central à trama do filme, que faz seus usuários enxergarem a realidade com uma fração da velocidade normal (por isso o nome "câmera lenta"). Parece um bullet time com LSD - que preenche e salta da tela na exibição em 3D (o longa foi rodado no formato) mas é um festival de luzes e cores que não exatamente combina com o tom do resto do filme. O que não dá pra negar é que ''Dredd'', produção britânica de orçamento modesto e execução competente, tem liberdade para fazer esse tipo de escolha. E quando se está livre para escolher é que fica mais fácil ser fiel ao material original." (Marcelo Hessel)

"Uma rara refilmagem que supera o original. A linguagem renovada, os efeitos especiais e o ritmo modernoso couberam como uma luva para a violência inexorável de um futuro descontrolado. Filmão de ação!" (Alexandre Koball)

''Travis utiliza a limitação do espaço para criar urgência, além de algumas belíssimas cenas em câmera lenta - justificadas na trama do filme. Mas o universo da trama e os próprios juízes são tratados de forma rasa, resultando em um filme de ação insosso." (Silvio Pilau)

Production Companies DNA Films IM Global Peach Trees Reliance Big Entertainment Reliance Big Pictures Rena Film

Diretor: Pete Travis

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Date 05/08/2013 Poster - ######

12. White Oleander (2002)

PG-13 | 109 min | Drama

61 Metascore

A teenager journeys through a series of foster homes after her mother goes to prison for committing a crime of passion.

Director: Peter Kosminsky | Stars: Michelle Pfeiffer, Renée Zellweger, Robin Wright, Alison Lohman

Votes: 34,065 | Gross: $16.35M

[Mov 07 IMDB 7,1/10 {Video/@@@} M/61

DEIXE-ME VIVER

(White Oleander, 2002)


''O título original de Deixe-me viver é White oleander, que em português quer dizer oleandro branco. Oleandro é o nome de um arbusto, cuja bela flor possui um veneno tóxico, capaz de matar. "Por que alguém teria algo assim em casa?", pergunta em determinado momento do filme um dos personagens. A resposta se confunde com a trama do filme e tem mais níveis do que a flor tem pétalas, passando pelos questionamentos da maternidade, orgulho e egocentrismo. Baseado no livro As flores brancas de oleandro (Editora Globo), escrito por Janet Fitch, o drama mostra o crescimento conturbado e a adolescência de Astrid Magnussen (Alison Lohman). Os primeiros doze anos da menina são confortáveis e pouco desafiadores, já que a companhia de sua mãe, uma artista plástica de comportamento agressivo, cuidou de afastar todos os elementos externos que poderiam prejudicá-las. Ingrid Magnussen (Michelle Pfeiffer), a mãe, despreza sentimentalismos e pessoas com personalidades mais dóceis, que qualifica como menores. Ciente de sua beleza, capacidade de sedução e domínio sobre o sexo oposto, Ingrid não suporta ser abandonada pelo namorado, e acaba assassinando-o. Com a mãe condenada à prisão perpétua, Astrid passa a viver em lares adotivos, casas cujas famílias recebem subsídio do governo norte-americano para acolherem crianças que vivem nos orfanatos estatais. A vida tranqüila da menina entra em colapso e, longe da mãe, tem que encontrar forças para sobreviver nas casas adotivas por onde passa, enfrentando agressões e situações pelas quais nunca havia imaginado passar. Tais suplícios são enfrentados com inteligência e buscando refúgio em seu talento artístico nato, que se desenvolve conforme ela aprende quem realmente é e qual o verdadeiro significado de sua mãe para ela. Apesar da história envolvente e elenco estrelado, ''Deixe-me Viver'' peca em termos narrativos. Traz uma montagem linear, bastante burocrática, que não deixa espaços para surpresas ou inovações no filme. Talvez uma limitação do diretor Peter Kosminsky, mais acostumado a longas para a televisão. Porém, se não soube explorar a edição, pelo menos Kosminsky contou com a sensível visão do diretor de arte Anthony R. Stabley, que trabalhou com Takeshi Kitano (Dolls) em Brother e ao lado de Rupert Wainwright em Stigmata. Stabley empregou cores para separar as fases da vida de Astrid com grande competência. O filme começa com azuis na casa da mãe, passa para um confuso arco-íris no lar da ex-stripper Starr (Robin Wright Penn), emprega os tons pastéis para a solitária Claire (Renée Zellweger) e abusa do negro com a russa trambiqueira Rena (Svetlana Efremova). Todas as transições entre lares, passadas num orfanato, trazem a cor do ambiente anterior, desbotada. O branco, como nas flores do oleandro, só chega no desfecho, explicando o título do filme (o original, não a equivocada versão brasileira) e dando sentido à natureza da planta e ao relacionamento entre mãe e filha." (Erico Borgo)

{Se Deus existe, não vale a pena rezar para ele} (ESKS)

"Personagens sem qualquer profundidade, que tomam atitudes que não fazem o menor sentido e que em momento algum geram alguma identificação com o público." (Heitor Romero)

Warner Bros. Gaylord Films John Wells Productions Oleandor Productions Pandora Filmproduktion

Diretor: Peter Kosminsky

22.775 users / 1.116 face

Soundtrack Rock = Girls Against Boys + Bucwhead + The Promise Ring + Sheryl Crow + Burning Brides

Check-Ins 243

Date 05/08/2013 Poster - ####

13. From the Life of the Marionettes (1980 TV Movie)

R | 104 min | Drama

An account of the events before and after a murder committed by a disturbed businessman in a strained marriage, and what led him to perform such a shocking act.

Director: Ingmar Bergman | Stars: Robert Atzorn, Christine Buchegger, Martin Benrath, Rita Russek

Votes: 4,750

[Mov 08 IMDB 7,2/10 {Video}

DA VIDA DAS MARIONETES

(Aus dem Leben der Marionetten, 1980)


"Ingmar Bergman é um cineasta conhecido por seus temas densos e complexos, mas apesar da melancolia seus filmes normalmente apresentam lirismo e beleza. Não é o caso de ''Da Vida das Marionetes'', realização sua para a televisão alemã em 1980. O filme começa com Peter Egerman assassinando brutalmente uma prostituta e em seguida fazendo sexo com seu cadáver, evento a que o diretor se refere como a catástrofe. A partir daí o filme investiga os dias anteriores ao crime e acompanha os depoimentos no processo contra Egerman. Peter e Katarina Egerman já haviam aparecido em Cenas de um Casamento, minissérie de 1973, como um casal histérico e em crise que briga violentamente na frente de Johan e Marianne, os protagonistas, e faz com que esses se sintam gratos pela estabilidade e sucesso de seu casamento. Aqui nós somos levados para a intimidade do casal e as coisas se tornam mais sutis e complicadas. Em público Peter e Katarina se detestam, atacam e traem sem pudores, ainda assim ela afirma para um de seus amantes (e psiquiatra de Peter) que ama o marido. A cena em que ambos conversam na cozinha durante a madrugada mostra que existe carinho e cumplicidade ali, talvez mesmo amor, mas ao mesmo tempo se coloca um abismo intrasponível. O filme é todo construído em cima desse paradoxo: o desejo de proximidade e afeto e a vulnerabilidade e dor que isso pode causar. Tim, um amigo homossexual de Catarina, explica em um brilhante monólogo ( filmado, não por acaso, com o personagem se olhando em um espelho, sua imagem duplicada) como se sente quebrado em dois, uma parte ansiando por contato e a outra reprimida frente a possibilidade de horror e violência. Esse sentimento é comum a todos os personagens do diretor, mas aqui isso se expressa claramente. Bergman sempre utilizou muito close-ups de seus atores, se aproximar tanto dos rostos permite que os sentimentos sejam expressos em toda sua sutileza e dimensão, mas em "Da Vida das Marionetes" quase sempre esses rostos estão divididos, metade visível, metade na sombra. A fotografia em preto e branco aliás reforça esses sentimentos contrastantes: o escritório de Peter, lugar da burocracia e do distanciamento, é quase todo preto, enquanto seu sonho com Katarina inteiro branco. Além disso, filmar em preto e branco evoca os primeiros filmes do diretor e coloca Egerman como uma releitura, mais moderna e pessimista, dos personagens anteriores, especialmente Antonius Block, protagonista de O Sétimo Selo. Ambos se perguntam sobre a possiblidade de paz e sentido, mas ao contrário de Block, que afirma várias vezes nunca cansar de perguntar, Egerman desistiu. Ele conta para Katarina que seu desejo é morrer, ou ao menos não sentir mais nada, uma espécie de morte em vida tão criticada por Bergman em seus primeiros filmes. No fim, o diretor reforça o paralelo ao colocar Peter, em uma clínica psquiátrica, jogando xadrez com um computador, um eco de sua cena mais famosa em que Antonius Block joga com a morte. No entanto a enfermeira afirma que o paciente sempre joga no modo mais difícil, Egerman, de novo ao contrário de Block, não faz questão de ganhar. "Da Vida das Marionetes" talvez seja um filme menor de um grande diretor e com certeza é um dos filmes mais atípicos da obra de Ingmar Bergman, mas é citado como influência por cineastas como Lars Von Trier e David Cronenberg. Nele Bergman revisita seus temas e personagens recorrentes e constroe seu filme mais pessimista, mas também o mais claro deles, em que todas as questões que antes se instalavam na narrativa ou em longos diálogos metafóricos aqui são destrinchadas. A presença da figura do psiquiatra e os testemunhos em julgamento ajudam nisso, é um filme quase didático para se entender as questões que norteiam o cinema de Ingmar Bergman." (Isadora Sanai)

"Apesar de já ter dirigido as filmagens de O Ovo da Serpente (Ormens Ägg, 1976) na Alemanha, este filme havia sido concebido na Suécia. Da Vida das Marionetes (Ur Marionetternas Liv, título sueco, 1980), seu "filme alemão", analisado superficialmente, mostra as tentativas de responder por que Peter Egerman matou uma prostituta. Ele é casado com Katerina, entretanto não podem nem viver um com o outro, nem um sem o outro. Sabotam-se mutuamente, numa dança da morte sofisticada, um purgatório diário, um processo de desumanização. O psiquiatra dele é amante de sua mulher, Peter descobre, mas não mata nem o médico, nem sua esposa – e tampouco se separa dela. Estas e outras pistas falsas são lançadas como peças de um quebra-cabeças. A imagem de Peter no quarto de hospital psiquiátrico ao final do filme remete à vida do próprio Bergman. Depois que ele teve problemas com o governo sueco devido a questões de imposto de renda, internou-se numa clínica. Levantava cedo para ser o primeiro a utilizar o banheiro. Cuidava muito da forma física e os dias estavam minuciosamente divididos: dez vezes por dia tomava, a cada vez, dez miligramas de Valium. Na seqüência final, Peter encontra-se mergulhado neste tipo de existência. Dorme agarrado ao velho ursinho de sua infância, joga xadrez com um computador e todas as manhãs alisa a coberta da cama durante meia hora. De acordo com Jacques Aumont, "Da Vida das Marionetes" (Aus Dem Leben Der Marionetten, título alemão) é o último filme de um ciclo que se inicia quinze anos antes com Persona (1966) (3). O ciclo dos filmes de rostos, em plano aproximado. Persona sistematizou um estilo de enquadramento onde a tela se divide entre dois rostos segundo todas as modalidades imagináveis. Longos closes de rostos serão encontrados a seguir, em A Hora do Lobo (Vargtimmen, 1968), O Rito (Riten 1969), A Paixão de Ana (En Passion, 1970) e Gritos e Sussurros (Viskningar Och Rop, 1973). Closes mais curtos temos em Cenas de um Casamento (Scener Ur Ett Äktenskap, 1973) e Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978). Da Vida das Marionetes" oferece rostos de longe e de perto, de frente e de perfil. Rostos gigantes, chegando ao zoom de um olho (havíamos visto um mais radical no prólogo de Persona). Rostos na penumbra e rostos refletidos em grandes espelhos sem bordas aparentes, remetendo nesse último caso à questão do duplo. Reencontramos um dos efeitos de imagem mais impressionantes do cineasta sueco, que em Persona e A Hora do Lobo: o rosto em close e de cabeça para baixo. A cena é longa e temos tempo de ver esse rosto se tornar monstruoso, de perceber a troca de posições entre os olhos e a boca. Os signos da humanidade (olhar, palavra e riso) são destruídos quando Bergman inverte um rosto. O filme começa colorido, até a morte da prostituta. Depois de ser estrangulada por Peter, as cores do preto e branco invadem a tela. Na opinião de Aumont, a passagem do vermelho da cena do assassinato para o branco sugere que não há mais sangue em Peter Egerman. Ele se tornou definitivamente uma marionete. As cores voltam no final do filme, já no hospital psiquiátrico. Peter e Katerina são o desenvolvimento de Johan e Marianne, o casal de Cenas de um Casamento. Mas são também um novo e último avatar dos casais malditos, estéreis, com câncer na alma, da grande trilogia protagonizada por Max Von Sydow e liv Ullmann, A Hora do Lobo, Vergonha (Skammen, 1968) e A Paixão de Ana. Aumont acredita que o trabalho de Bergman nos rostos dos personagens traduz a tese fundamental do filme: devido à alienação, a vida afetiva, sexual e conjugal tornou-se uma vida de marionetes. A vida se tornou mecânica porque não há mais desejo próprio para além do simples êxito social. Mas é do roubo da alma que se trata e não de uma crítica política ou ideológica da alienação. Uma última referência de Aumont: Marionetes: desde sempre – desde o pequeno teatro de bonecos de sua infância – Bergman se pergunta quem puxa os fios desses bonecos que somos. Através da boca de Peter, este filme dá uma resposta: A morte me segue em todo lugar, talvez seja ela que puxa os barbantes, ela que me faz rir." (Roberto Acioli de Oliveira)

“Da Vida das Marionetes” (Aus dem Leben der Marionetten, Suécia/Alemanha, 1980) surgiu durante a mais dura fase da vida de Ingmar Bergman. Na época, o cineasta sueco vinha sendo acusado de sonegar impostos no país, tendo que fugir para não ser preso. Bergman se estabeleceu em Munique, na Alemanha, onde passou a dirigir um teatro. Tomava remédios para depressão e para insônia. Péssimo momento para um ser humano comum trabalhar, mas não para Bergman. Durante a carreira prolífica, ele se tornara especialista no ato de sintetizar fantasmas pessoais em poderosas reflexões sobre os dramas da condição humana. Desta forma, transformou o próprio sofrimento em um impressionante e perturbador pesadelo sobre sexo, morte e máscaras sociais. Por diversas razões, “Da Vida das Marionetes” jamais recebeu a merecida atenção da crítica especializada. Para começar, a própria condição de exilado limitava a participação de Bergman em festivais de lançamento. O filme também repisava temas (o medo da morte, a dor inerente à alma humana, as prisões sociais) e situações dramáticas (um casal em crise) muito comuns à obra do diretor sueco, algo que para muita gente rebaixava a obra. Foi produzido com baixíssimo orçamento, sendo lançado sem badalação. Adotava o formato quadrado de imagem (1.33:1), como o de um aparelho de televisão tradicional, o que reduzia as chances de ser exibido em circuito amplo de cinemas. Por fim, o próprio cineasta já acalentava a idéia de aposentadoria, o que lhe levava a ser visto por cinéfilos de todo o mundo como um diretor ultrapassado, um dinossauro que não tinha mais nada de novo a dizer. Uma pena, porque filmes como “Da Vida das Marionetes” são raros até mesmo na obra de um cineasta prolífico e intenso, como Bergman. Neste longa-metragem radical, o mestre sueco realiza um desejo que já perseguia há décadas: um estudo minucioso sobre um ato de extrema violência, cometido por uma pessoa comum, durante um curto-circuito emocional. O protagonista é Peter (Robert Atzorn), um empresário rico e bem-sucedido, que vive um casamento aparentemente perfeito com a fotógrafa de moda Katarina (Christine Buchegger). Logo no princípio do filme, num extravagante prólogo dominado pela cor vermelha – quem conhece Bergman sabe o quanto esta cor é importante em um filme dele – Peter mata uma prostituta e faz sexo anal com o cadáver. A partir daí, Bergman subtrai a cor e inicia um poderoso estudo deste ato, em uma narrativa não-linear que salta do passado para o futuro, oferecendo vislumbres da investigação do crime e da vida íntima de Peter, além de uma seqüência de sonho. Ouvimos amigos e parentes de Peter. Vemos flagrantes da intimidade do casal. Aos poucos, as máscaras sociais vão caindo, e descobrimos a verdade sobre Peter e Katarina: um casal emocionalmente impotente, acometido pelo tédio e pela insônia, que nutre uma relação destrutiva de dependência mútua. Algum tempo depois, o próprio diretor diria que “Da Vida das Marionetes” era uma tentativa de estudar as emoções primais de um indivíduo, removendo aos poucos cada camada de proteção que ele ergueu, durante toda a vida, entre ele a sociedade. Ocorre que Bergman faz isso não como um médico-legista, mas como um psiquiatra. Ele não mexe em carne morta, mas em tecido vivo, como se fosse um cirurgião cerebral que opera sem anestesia. Cada uma das seqüências deste filme, uma mais incrível do que a outra, provoca uma onda de choque genuíno nos espectadores. Desarmados, somos apresentados a Peter e então submetidos a seguidas provas de empatia para com um personagem que, a princípio, julgávamos alguém cruel e desalmado. Mas Peter não é um assassino de filme de suspense. Ele é alguém como eu e você. Uma pessoa comum: inteligente, espirituoso, bem-educado, tímido, calado. Alguém taciturno e dominado por tensões que, devido a uma rara e complexa conjunção de fatores, acaba dobrado pelos traumas da própria psique. Cada uma das cenas deste filme magnífico ajuda a construir um retrato intrincado do movimento interno de Peter, até o perfeito golpe final do cineasta. No epílogo circular, quando Peter mata a prostituta, não apenas o compreendemos, como entendemos e até justificamos o ato assassino. Apreciar “Da Vida das Marionetes” é contemplar, de mãos amarradas, os horrores da nossa própria humanidade. Entre tantos momentos primorosos do roteiro, um é a chave para desvendar os mistérios do filme. O monólogo proferido pelo amigo Tim (Walter Schmidinger), sobre si mesmo, diz o seguinte: Há forças que me movem e que não consigo controlar. Médicos, amantes, comprimidos, drogas, álcool, trabalho. Nada ajuda. São forças secretas. Têm nome? Não sei. Talvez seja o processo de envelhecimento. Não tenho controle sobre essas forças. Eu me aproximo do espelho e olho para a minha cara, que se tornou tão familiar. E chego à conclusão de que esta combinação de carne, sangue, nervos e ossos reúne duas pessoas incompatíveis. De um lado, o sonho de intimidade, de ternura, interesses comuns. Do outro a violência, a obscenidade, o horror e a morte. Às vezes penso que têm a mesma origem. Não sei. Como poderia saber?. Quantos cineastas na história do cinema seriam capaz de escrever algo com tanta força, verdade e poesia?" (Rodrigo Carreiro)

Top Suécia #24

Bavaria Film Incorporated Television Company (ITC) Personafilm Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF) Österreichischer Rundfunk (ORF)

Diretor: Ingmar Bergman

1.867 users / 133 face

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Date 11/08/2013 Poster - ####

14. After the Rehearsal (1984 TV Movie)

R | 70 min | Drama

As an aging playwright interacts with the young lead in his play after everybody's gone home, he reminisces about her mother, whom he maintained a sexual relationship with before she died.

Director: Ingmar Bergman | Stars: Erland Josephson, Ingrid Thulin, Lena Olin, Nadja Palmstjerna-Weiss

Votes: 2,930

[Mov 08 IMDB 7,1/10 {Video}

DEPOIS DO ENSAIO

(Efter repetitionen, 1984)


''Henrik Voegler, um consagrado diretor de teatro, costuma permanecer no teatro depois dos ensaios, trabalhando ou dormindo. Anna, a promissora atriz principal de sua nova montagem, retorna depois do ensaio em busca de um bracelete esquecido. O que se segue desse encontro casual leva-nos ao limite entre encenação e realidade, entre arte e vida, entre indivíduos, máscaras e papéis - dentro e fora do teatro.'' (Filmow)

{A temperatura do amor é a solidão que o precede} (ESKS)

Cinematograph AB Personafilm

Diretor: Ingmar Bergman

1.024 users / 43 face

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Date 15/08/2013 Poster - #####

15. The Beat That My Heart Skipped (2005)

Not Rated | 108 min | Crime, Drama, Music

75 Metascore

Will Thomas still lead a life of crime and cruelty, just like his thuggish father, or will he pursue his dream of becoming a pianist?

Director: Jacques Audiard | Stars: Romain Duris, Aure Atika, Emmanuelle Devos, Niels Arestrup

Votes: 20,494 | Gross: $1.02M

[Mov 08 IMDB 7,3/10 {Video/@@@@} M/75

DE TANTO BATER MEU CORAÇÃO PAROU

(De Battre Mon Coeur s'est Arrêté, 2005)


"O coração pode não chegar a parar de bater, mas em certos momentos passa perto disso. O diretor Jacques Audiard (roteirista de Instituto de Beleza Vênus, filme que revelou Audrey Tautou) consegue criar um clima tenso, com pouca luz. De Tanto Bater Meu Coração Parou foi baseado no longa Fingers, de 1978, com direção e roteiro do americano James Toback. Realinhado e atualizado, a refilmagem sai de Nova York para Paris e nos mostra como escapar das prisões interiores, mesmo que essas fugas não saiam como planejadas. Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2005, a história de "De Tanto Bater Meu Coração Parou" gira em torno de Thomas Seyr (Romain Duris), um rapaz de 28 anos com um dilema em sua vida: seguir o caminho corrupto do pai, no ramo de imóveis, ou o lado virtuoso da mãe, uma talentosa pianista. O amor que sente pelo pai e o dinheiro que os negócios imobiliários lhe rende são as razões para continuar nesse mundo violento e cheio de trapaças. Porém, com o talento herdado da falecida mãe, ele sonha ser um pianista de sucesso. Esse desejo se torna possível quando ele reencontra um antigo empresário que o convida para uma audição. Há dez anos sem tocar, Tom contrata uma professora chinesa que não fala uma palavra sequer de francês, mas eles conseguem se entender claramente por intermédio da música, em uma grande sintonia. No meio de tanta traição, violência e corrupção, a relação entre Tom e seu pai, Robert Seyr (Niels Arestrup), ganha traços de ternura e devoção. Robert consegue transmitir muito amor ao filho, suprindo de certa forma a falta da mãe, exceto no campo profissional, no qual acaba levando-o à corrupção. O ator Romain Duris atua de maneira fria e calculista, oposta à emoção e impulsividade do personagem. Ele expulsa moradores de seus prédios com tacos de beisebol na mão, ao mesmo tempo em que faz de tudo para não desagradar ou magoar o pai. Em algumas cenas, não há como distinguir o sentimento pelo qual está passando, fator que deveria ser mais contrastante em razão da dualidade vivida pelo personagem. Apesar de "De Tanto Bater Meu Coração Parou" não ser tão introspectivo quanto outros filmes do cinema francês - o que pode decepcionar alguns -, o conjunto da produção tem saldo positivo, principalmente pela ambientação criada pelo diretor Jacques Audiard, por meio de cenas escuras e frias que abrem espaço ao nervosismo quase psicótico do protagonista, cheio de tiques nervosos e um vício incontrolável por cigarro. Um conceito audacioso e escancarado sobre o crime organizado que nos faz pensar em cada escolha feita na vida e, principalmente, nos relacionamentos familiares. "De Tanto Bater Meu Coração Parou" vai segurar o espectador na poltrona até o final, se não pela narrativa pesada - nem todos gostam -, pela curiosidade em descobrir qual caminho Tom seguirá. Tem tudo para agradar a todos, mas sem grandes expectativas." (Livia Brasil)

''De fato, trata-se de um filme taquicárdico. As primeiras cenas do De "Tanto Bater, Meu Coração Parou'' (França, 2005), do co-roteirista e diretor Jacques Audiard (Read my Lips, A Self Made Hero), baseado no filme Fingers, escrito e dirigido por James Toback, já começam em 220V. Planos fechados, cortes rápidos, diálogos ensandecidos e verborrágicos. Tom (Romain Duris, de Exílios, Albergue Espanhol), 28 anos, faz pequenos negócios no ramo de corretagem imobiliária ao seu estilo mafioso e violento: coloca ratos no imóvel pra desvalorizar o negócio, expulsa os sem-teto que invadem o local, trata pessoalmente de dívidas com os devedores de modo nada amigável. Muitas vezes, se vê obrigado a proteger seu pai acertando contas com trambiqueiros dessa maneira truculenta e pouco ortodoxa. Assim o filme constrói seu universo niilista, preenchido por pobres e aproveitadores, fracassados, estrangeiros, desiludidos sem perspectiva em seus vazios existenciais. Mas uma oportunidade inesperada leva Tom a acreditar que pode se tornar, como sua mãe, um grande pianista. Aí o filme muda de ritmo, dá uma acalmada, concentra-se em planos mais abertos e mais demorados. Com muita dedicação, ele começa a se preparar para uma audição com uma virtuose chinesa, que não fala nada de francês. (Repare como há diferentes maneiras de abordar o estrangeirismo na França: em Lila Diz, a personagem chinesa é uma prostituta; aqui, é uma graduada em música erudita). Ambos estabelecem como único elo de relacionamento a música. Cada nota representa uma palavra, cada timbre significa um estado emocional. Se não fosse a competência do diretor, esse dilema ficaria meio esquemático. A opção do protagonista entre ingressar no mundo belo, sério e artístico, ou se perpetuar nos feios e sujos bas fonds dos negócios lucrativos porém escusos. Aqui, há um dinamismo cênico de deixar qualquer marcapasso em parafuso. Sim, o filme funciona à base de calmantes e estimulantes o tempo todo. Mas essa alternância de estados reativos bipolares não indica qualquer tipo de obviedade. Pelo contrário, são maneiras experimentais de se tatear um caminho para o encontro de algo que não sabemos exatamente o que é. Talvez esse seja o grande mérito do filme. Não na mudança rítmica, estética e cromática, pois seria simplista demais. Mas em manter as ambigüidades acima das aparências, sem cair em psicologismos fáceis. De Tanto Bater... não chega exatamente a condenar suas crias com formulações estereotípicas. Tampouco é um filme que prega a redenção salvacionista. O pai de Tom, da maneira fora de forma como está caracterizado, é sim um loser. Mas guarda dentro de si uma vontade rancorosa de mudar o estado das coisas e melhorar de vida, assim como o filho, mesmo que tem a plena consciência de que não irá conseguir. Através dessas caracterizações, o filme não fica sendo nem determinista nem transformista de sua realidade nua, crua e podre. Consegue ser muito mais dialético do que bipartidário e mecanicista, explorando com cuidado as incertezas humanas e extraindo um belo conteúdo de seus impasses. De Tanto Bater... é um raro exemplo de que o por-cima-do-murismo não indica apatia nem falta de opinião própria. Haja pulso firme." (Érico Fuks)

2006 César / 2005 Urso de Ouro

Why Not Productions Sédif Productions France 3 Cinéma Cofimage 15 Canal+ CinéCinéma Région Ile-de-France

Diretor: Jacques Audiard

13.236 users / 1.340 face

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Date 21/08/2013 Poster - #####

16. Damsels in Distress (2011)

PG-13 | 99 min | Comedy, Drama, Romance

67 Metascore

A trio of girls set out to change the male-dominated environment of the Seven Oaks college campus, and to rescue their fellow students from depression, grunge and low standards of every kind.

Director: Whit Stillman | Stars: Greta Gerwig, Adam Brody, Lio Tipton, Megalyn Echikunwoke

Votes: 9,985 | Gross: $1.01M

[Mov 07 IMDB 5,7/10] {Video/@@@@@} M/67

DESCOBRINDO O AMOR

(Damsels in Distress, 2011)


TAG WHIT STILLMAN

{simpático}


Sinopse

''É uma comédia sobre um trio de belas garotas – a dinâmica líder, Violet Wister (Greta Gerwig); a de bons princípios, Rose (Megalyn Echikunwoke) e a sexy Heather (Carrie MacLemore) - e como elas revolucionaram a vida em uma Universidade grungy americana. Elas dão as boas vindas à estudante Lily (Analeigh Tipton) em seu grupo, que procura ajudar alunos deprimidos com um programa de boa higiene e números musicais de dança. As garotas se envolvem romanticamente com uma série de homens – incluindo o tranquilo Charlie (Adam Brody); o atraente Xavier (Hugo Becker); e com os machões Frank (Ryan Metcalf) e Thor (Billy Magnussen) - que ameaçam a amizade e sanidade das garotas.''
''Desde Os Últimos Embalos da Disco sem dirigir um longa-metragem, o cineasta americano Whit Stillman retorna a função com “Descobrindo o Amor” causando a sensação de que parou no tempo. Porém, isto não é considerado uma crítica para quem conhece a breve filmografia desse realizador indicado ao Oscar pelo roteiro de Metropolitan. Tudo é deliciosamente antiquado em “Descobrindo o Amor”. Do perfil de cada personagem até os figurinos, o longa-metragem parece ter sido produzido nos anos 1990. A história é centrada em um grupo de garotas de uma fraternidade da Seven Oaks College. Violet (Greta Gerwig, a nova Parker Posey) é a líder e responsável pelo Centro de Prevenção de Suicídios, iniciativa que visa atender aos alunos desorientados com os relacionamentos frustrados ou a confusa personalidade. Lily (Analeigh Tipton, de Meu Namorado é Um Zumbi) é a aluna mais nova do colégio, rapidamente acolhida por Violet e suas amigas Heather (Carrie MacLemore) e Rose (Megalyn Echikunwoke). Neste quarteto que se forma com a presença de Lily, a fragilidade de Violet é exposta. Almejando ser um modelo de comportamento impecável, Lily vai perdendo a pose quando não consegue esconder os seus sentimentos por Charlie Walker (Adam Brody), rapaz que parece sustentar duas identidades e um relacionamento com Lily. Como o aguardado, Whit Stillman conduz “Descobrindo o Amor” através de interações cínicas e astutas. Porém, assim como aconteceu em Nos Últimos Embalos da Disco, o risco do público diminuir o interesse no desenvolvimento da história é grande porque tudo é mantido em um ritmo excessivamente brando. Somente as intervenções musicais garantem fôlego: como método terapêutico, Violet desenvolve o Sambola, uma dança que rende uma sequência de créditos finais muito divertida.'' (Alex Gonçalves)

Westerly Films

Diretor:Whit Stillman

7.389 users / 1.762 face

Check-Ins 693 Metacritic

Date 14/09/2014 Poster - ####

17. Don't You Forget About Me (I) (2009 Video)

R | 74 min | Documentary, Biography

How did John Hughes capture the growing pains of adolescence so perfectly? Why do his films resonate with those that grew up with them, and those that have just discovered them? Those and many other questions fueled this documentary.

Director: Matt Sadowski | Stars: David Anderle, Mike Bender, Jackie Burch, Scott Coffey

Votes: 884

[Mov 07 IMDB 6,1/10 {Video/@@@@@}

DON'T YOU FORGET ABOUT ME

(Don't You Forget About Me, 2009)


"O filme é um documentário sobre John Hughes, o cineasta norte-americano que praticamente inventou a comédia adolescente dos anos 80. Entre 1984 e 1986, Hughes dirigiu uma série de filmes marcantes: Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco, Mulher Nota Mil e Curtindo a Vida Adoidado, além de ter escrito A Garota de Rosa Shocking, dirigido por seu parceiro, Howard Deutch. Hughes criou um estilo particular de filmar comédias adolescentes, com uso de metalinguagem (os personagens às vezes falavam diretamente para a câmera), ótimas trilhas sonoras, e uma atmosfera que misturava nostalgia e uma certa dose de picardia. Foi um estouro e lançou a carreira de inúmeros atores de sucesso, como Molly Ringwald, Macaulay Culkin, Demi Moore, Rob Lowe, Judd Nelson, Ally Sheedy e Matthew Broderick, entre outros. No início dos anos 90, Hughes sumiu de Hollywood e voltou para os arredores de Chicago, onde havia crescido. Nunca mais dirigiu um filme. Em 1994, depois da morte do amigo John Candy, com quem filmou o ótimo Antes Só Do Que Mal Acompanhado, Hughes tornou-se ainda mais recluso. “Don’t You Forget About Me” usa como ponto de partida justamente o sumiço de John Hughes e mostra o esforço dos cineastas para encontrá-lo. Assim como os filmes de Hughes, o documentário conta uma ótima história de forma simples." (Andre Barsinski)

"O diretor John Hughes (A Garota de Rosa Shocking) estará em breve de volta às telas de cinema. Desta vez, o enfoque da história não será o universo dos adolescentes como o diretor costumava mostrar em seus filmes, mas sim a trajetória de sucesso traçada por ele. De acordo com a Variety, um documentário finalizado pouco tempo antes da morte do Hughes tem como objetivo fazer um tributo ao diretor que se tornou referência para filmes de adolescentes. O documentário traz participações de diversas pessoas que trabalharam com Hughes, entre eles o ator Alan Ruck e a atriz Mia Sara, parceiros no longa de maior sucesso do diretor, "Curtindo a Vida Adoidado", além do diretor Kevin Smith (Duro de Matar 4.0). Por enquanto não há confirmação de quando o documentário chegará ao cinema, sendo que apenas foi informado um trecho que estará no documentário, uma declaração do diretor e amigo de Hughes, Kevin Smith. "Ninguém nunca vai ter aquele tom, aquele tema, aquele despertar da imaginação. Hughes era insanamente abençoado", disse Smith. John Hughes é considerado no meio do cinema e pelos fãs como o mago dos filmes adolescentes, por saber exatamente como abordar as principais preocupações juvenis dos jovens americanos. Com sua morte, fica um legado de obras importantes para o cinema como Curtindo a Vida Adoidado e O Clube dos Cinco.'' (Vitor Quartezani)

Stay The Course Productions

Diretor: Matt Sadowski

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Date 08/09/2013 Poster - #####

18. General Della Rovere (1959)

Not Rated | 129 min | Drama, War

Bardone, a petty con man, is arrested by the Gestapo and coerced into impersonating a partisan leader in order to expose another resistance organizer.

Director: Roberto Rossellini | Stars: Vittorio De Sica, Hannes Messemer, Sandra Milo, Giovanna Ralli

Votes: 3,677

[Mov 08 IMDB 7,7/10 {Video}

DE CRÁPULA A HERÓI

(Il generale della Rovere, 1959)


"Antes de se consagrar como diretor no pós-guerra, autor de clássicos do neo-realismo como "Ladrões de Bicicletas", Vittorio de Sica foi um dos atores mais populares do cinema fascista italiano, sempre no papel do sedutor barato. Daí a auto-ironia de seu personagem, um velho conquistador em apuros, em "De Crápula a Herói" (1959). Quando o filme começa, ele já está atolado em sua arte de simulador. Na Itália da Segunda Guerra, é como se o grande teatro guerreiro tivesse feito esse velho sedutor perder o senso das proporções de seu pequeno teatro cotidiano. Mas essa mesma guerra que o transformou em monstro pode convertê-lo em herói. O filme é mais uma bela história de conversão da obra de Roberto Rossellini, ele próprio um diretor que debutou com o fascismo, dirigindo filmes de propaganda, antes de se converter à Resistência durante a guerra e forjar, com pedaços de películas traficadas, a nova imagem da Itália em Roma, Cidade Aberta. O filme reúne dois gênios do cinema italiano num irônico mea-culpa. De Sica relê seu velho papel de sedutor sob a ótica do colaboracionismo. Impostor, ele se faz passar por um coronel colaboracionista para ludibriar parentes de prisioneiros do regime. A ironia está no fato de que esse falsário só precisará levar até o fim seu senso de teatralidade para se converter em herói -uma conversão pela contradição, ao estilo dos heróis brechtianos. Quando leva seu personagem a julgamento, Rossellini inverte o processo para colocar o fascismo, um regime criminoso especializado em aliciar falsários, no banco dos réus. Coagido pelos alemães a se fazer passar por um líder da Resistência, o protagonista vai encarnando progressivamente seu novo papel. De forma cada vez mais teatral, o crápula vai se convertendo em herói. Eis um personagem que só o cinema do pós-guerra poderia conceber. Eis aqui uma lição sobre a verdadeira natureza do heroísmo que coube a todo o cinema do pós-guerra." (Tiago Mata Machado)

34*1960 Oscar / 1959 Lion Veneza

Zebra Film Société Nouvelle des Établissements Gaumont (SNEG)

Diretor: Roberto Rossellini

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Date 14/09/2013 Poster - ######

19. Diana (2013)

PG-13 | 113 min | Biography, Drama, Romance

35 Metascore

During the last two years of her life, Princess Diana embarks on a final rite of passage: a secret love affair with Pakistani heart surgeon Hasnat Khan.

Director: Oliver Hirschbiegel | Stars: Naomi Watts, Naveen Andrews, Cas Anvar, Charles Edwards

Votes: 20,917 | Gross: $0.33M

[Mov 02 IMDB 5,5/10] {Video/@@} M/35

DIANA

(Diana, 2013)


TAG OLIVIER HIRSCHBIEGEL

{esquecível}


Sinopse

''Prestes a se divorciar de Charles, a princesa Diana (Naomi Watts) divide seu tempo entre a solidão da vida no palácio em que vive e os compromissos que possui com diversas entidades beneficentes. Um dia, ao saber que um amigo foi operado às pressas, ela vai até o hospital em que está internado e lá conhece o doutor Hasnat Khan (Naveen Andrews). Diana logo fica encantada pelo fato dele não a tratar como uma princesa, apesar de saber quem ela é. Não demora muito para que iniciem um relacionamento, mantido às escondidas devido ao desejo de Hasnat em ter uma vida reservada.''
"Independente da precisão (ou falta de) de como Diana foi tratada aqui, temos um conto de fadas moderno e muito bem realizado - Watts está absolutamente adorável." (Alexandre Koball)

"A fotografia, belas paisagens e uma boa caracterização podem enganar, mas Diana é um filme fraco, sem força emocional, de passagens duvidosas e alguns cortes bem, bem feios. Nulo como arte, quase zero como biografia histórica." (Rodrigo Cunha)

"Episódico e superficial nas questões de Estado, juvenil e novelesco na parte romântica (baseada, inclusive, em premissas duvidosas). Naomi Watts se sai bem nos trejeitos e no sotaque, mas de forma geral é engolida pela fragilidade do material. Bola fora!" (Régis Trigo)

O diário (fake) da princesa.

''Seguindo a onda de fazer cinebiografias enlatadas de Oscar para promover atores e supostamente homenagear grandes personalidades, ''Diana'' chega fazendo jus à fama que estas produções ganharam. Comandados por diretores que carregam tudo no piloto automático e jogam toda a responsabilidade nas costas dos atores e da equipe de maquiagem e figurino, filmes como Diana, A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011), Sete Dias com Marilyn (My Week with Marilyn, 2011), e mesmo Hitchcock (idem, 2012) gabam-se e promovem-se por suas virtudes mais tediosas, como a incrível semelhança física dos atores escalados com os homenageados, e a caprichosa reconstrução de época – como se isso fosse o suficiente para garantir uma boa sessão. Na teoria, essas iniciativas deveriam valer pela oportunidade que trazem de se ver com novos olhos figuras de importância histórica, como políticos, celebridades e membros da realeza, mas na prática o que temos na maioria das vezes é uma visão que se limita a contar aquilo que qualquer um já sabe sobre essas pessoas, e não acrescentam nada de substancial (salvas algumas ressalvas, como J. Edgar [idem, 2011], de Clint Eastwood). Pior, quando tentam acrescentar algo de novo, acabam por avacalhar de vez com a ideia e o homenageado acaba tendo sua importância banalizada. E é nesse ponto que Diana comete seus piores deslizes. Empestado por uma linguagem visual cacofônica de televisão, o filme do alemão Oliver Hirschbiegel, que se propõe a relatar os últimos dois anos de vida da princesa Diana – uma das celebridades mortas mais rentáveis e relembradas de sempre –, faz o impensável ao transformar o que deveria ser uma cinebiografia em uma ficcionalização da imagem dela, ao retratá-la como uma princesa de contos de fada da Disney. A Diana de Hirschbiegel é a típica gata borralheira, que se casa com o príncipe, tem bom coração, ajuda os pobres, luta para ganhar na vida e, eventualmente, sofre com o massacre da mídia, que acompanha cada passo seu. A Rainha Elizabeth II é praticamente a madrasta má. A história de amor com o médico paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews) tem ares de novela (até porque se baseia basicamente em boatos, nunca confirmados pelo suposto amante), e o evento da comprometedora entrevista com o repórter da BBC Martin Bashir, no qual revelou seus casos amorosos, é tratado com certo sensacionalismo enrustido, digno do jornalismo marrom. A Diana do filme, sob essa abordagem de Hirschbiegel, é praticamente uma personagem fictícia vivendo uma história de amor trágica, e pouco guarda de semelhanças com a verdadeira. Nem mesmo o evidente esforço de Naomi Watts, uma das melhores atrizes de sua geração, em garantir alguma dignidade ao papel se mostra o suficiente para livrar o filme do ar de produção equivocada, fora de tom e absurda de tão irreal. Se a proposta envolvesse pegar a história de vida de uma personalidade famosa e transformá-la em uma ficção, ainda assim o filme seria ruim, porque nem como cinema mentiroso e inverossímil a receita funciona. O único ponto em comum entre as Dianas, além da semelhança física alcançada por quilos de maquiagem, provavelmente é a antipatia e desgosto que devem provocar em alguns membros da realeza britânica. Mas se for para entender um pouco das birras entre nora e sogra da família monarca mais vigiada do mundo, prefiram o trabalho de Stephen Frears, A Rainha (The Queen, 2006), em que a princesa do povo nem ao menos aparece, mas é infinitamente melhor retratada do que nesta baboseira.'' (Heitor Romero)

Cinebiografia esvazia a princesa para falar da cultura da celebridade.

''Diana começa em Paris, na noite do acidente de carro que matou a princesa britânica, vivida por Naomi Watts no filme. A câmera do diretor alemão Oliver Hirschbiegel (A Queda!) segue a atriz num plano-sequência pelo quarto, mas nunca mostra o rosto dela. Quando Diana se vira para a câmera, como se percebesse que está sendo seguida, Hirschbiegel recua. Ao emular o estilo invasivo dos paparazzi, o diretor já indica, neste começo de filme, o tipo de enfoque que procura. Diante do desafio de compreender uma das personalidades mais mitificadas do século 20, Hirschbiegel escolhe filmar a celebridade Lady Di, a Princesa do Povo - a câmera fica circulando a atriz, fazendo zoom-ins meio bruscos, sempre num jogo de tentativas de aproximação -, na esperança de que isso lhe permita alcançar a mulher Diana Spencer. Isso faz de Diana uma cinebiografia peculiar, porque parte do princípio de que a vida de celebridade não é só uma máscara, mas uma forma legítima de expressão. A imagem famosa de ''Diana'' no iate de Dodi Fayed, solitária no trampolim, vitimizada, ganha outra conotação no filme, quando já temos plena consciência da maneira como Diana usa a exposição na mídia a seu favor. Então a questão que em teoria se coloca é se esse interessante estudo da celebridade consegue, ou não, transformar-se num estudo de personagem. É aí que ''Diana'' joga com nossas expectativas, porque enquanto personagem a Diana do filme não é muito mais do que uma princesa trágica de contos de fada, inclusive com coadjuvantes que suprem os espaços consagrados desse tipo de história: o médico é o príncipe encantado, a acupunturista vira a ama confidente, o milionário e seu iate representam o vilão e o cativeiro. Talvez seja por isso que a mídia inglesa, tão habituada a enxergar suas figuras públicas como celebridades, tenha reagido negativamente ao filme, porque Hirschbiegel de certa forma denuncia esse vício: sua ''Diana'' é uma figura romântica esvaziada (ela põe os olhos no médico e no plano seguinte já está sonhando com a cabeça no travesseiro, roboticamente apaixonada), disposta a se moldar sob o olhar do outro. Nesse sentido, a transformação mais impressionante de Naomi Watts é em cena mesmo, nas muitas Dianas a que ela dá forma quando as câmeras estão ligadas ou desligadas. Então se o filme soa insatisfatório na hora de reconstruir essa personagem de carne e osso (porque Diana Spencer, no fim, parece uma pessoa bastante desinteressante), talvez seja porque Diana na verdade está mais interessado no espectro, na elegia, na princesa Diana inventada por todos que, fatidicamente, terminou substituindo a real. E enquanto estudo da celebridade - e, por extensão, enquanto estudo do olhar - o filme questiona: existe diferença entre o real e o mediado?" (Marcelo Hessel)

''Ícone fashion e de beleza. A mais fotografada. A mais desejada. A mais copiada. A mais falada. A mulher mais famosa do mundo. Chame-a como queira: Princesa de Gales, Princesa do Povo, Lady Di ou simplesmente Diana. Mesmo quem não viveu para ver Diana Frances Spencer, sabe bem de quem se trata. Do início dos anos 80 até bem depois de sua morte, em agosto de 1997, ninguém ganhou tanta atenção dos holofotes da mídia quanto ela. Logo, a produção de uma cinebiografia seria natural acontecer. Mas demorou a ser feita. Mexer com figura pública tão querida assim necessita de coragem. E não é o que demonstra esse dispensável e quase amador “Diana”. Recortando boa parte de sua história e focando-se apenas nos dois últimos anos de vida da princesa (Naomi Watts), a trama exibe basicamente o envolvimento dela com o médico paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews), iniciado ainda antes do divórcio oficial com Charles. Dentre idas a trabalho ou não ao hospital em que o médico atua, Diana acaba se envolvendo com ele, começando um namoro secreto, longe das câmeras fotográficas dos tabloides ingleses. Mas a rotina confusa do relacionamento, possível apenas por meio de disfarces e encontros escondidos, prejudica o grande amor que um sente pelo outro. Amor esse que não passa de juvenil pelas lentes da câmera dirigida por Oliver Hirschbiegel, responsável também pelo desastroso A Invasão. Mesmo diante de dois adultos, quase em seus 40 anos, o que acompanhamos é uma história de conteúdo teen, de encontros e desencontros mais cinematográficos do que realistas. Os papos e discussões, então, não poderiam ser mais repetitivos, sempre circundando o assunto “privacidade”. Entre términos e voltas, é quase impossível deixar-se envolver por uma falta de originalidade e conteúdo tão explícitos. A impressão é que, na verdade, Hirschbiegel e seu roteirista Stephen Jeffreys, que adapta o livro Diana – O Último Amor de uma Princesa, de Kate Snell, estão em busca de reconstituições. Mais preocupados em exibir fatos, principalmente o que tornaram-se públicos, do que em dar densidade aos seus personagens, eles transformam Diana e Hasnat em pessoas desinteressantes, possíveis de serem descritos em uma única frase. A princesa, em especial, vira uma mera mulher gentil, rica e famosa em busca de um amor para o resto da vida. Seus papéis de mãe e de mulher dedicada à filantropia ficam completamente de lado, sendo exibidos com uma timidez que incomoda. Diretor e roteirista parecem com medo de seu objeto principal, de exibir alguma falha na personalidade ou algum defeito sequer de Diana. Perfeitinha demais, ela mantém um distanciamento do público, não emocionando ou convencendo nem quando seu ímpeto de fazer caridade, ou um mero carinho, se sobrepõe ao seu ego (pra lá de minúsculo nessa cinebiografia chapa branca). Até mesmo as cenas de sexo são abrandadas. Para que algum fato minimamente divertido surja, é preciso que ela, Diana, fuja das regras, permitindo-se fotografar, ousar por conta própria, para além do que a falta de imaginação e ousadia de cineastas podem interferir. O filme seria menos dispensável caso Hirschbiegel contasse com alguma destreza técnica. Pois o que vemos é uma produção quase amadora, de cortes secos e desnecessários, que impedem qualquer momento de silêncio e introspecção. Nem em sequências marcantes da trajetória da princesa, quando poderia arriscar-se com sua câmera, o diretor permanece previsível como um documentarista que apenas observa sua personagem principal. Com mais filmagens internas do que externas, o longa traz uma inevitável sensação de estarmos assistindo a um filme realizado diretamente para a tevê. A única razão para “Diana” estar nos cinemas tem nome e sobrenome: Naomi Watts. É ela a única coisa realmente aproveitável da película. É por causa da naturalidade de seu gestual e de sua semelhança física que você vai querer saber mais sobre essa mulher de tanta doçura e de destino trágico, especialmente sobre sua polêmica entrevista à BBC. Pena que uma performance tão dedicada seja em prol de um trabalho pouco esforçado e corajoso que não é digno dessa figura tão emblemática do século passado que ainda insiste em querer invadir o imaginário do povo, seja britânico ou não, no século seguinte." (Darlano Dídimo)

Top 100#66 Cineplayers (Bottom Usuários)

Ecosse Films Le Pacte Film Väst Filmgate Films Scope Pictures MP Film

Diretor: Oliver Hirschbiegel

14.593 users / 7.215 face


Soundtrack Rock

Pet Shop Boys
Check-Ins 712 28 Metacritic 4.607 Up 884

Date 30/09/2014 Poster - ###

20. God's Not Dead (2014)

PG | 113 min | Adventure, Comedy, Drama

16 Metascore

College philosophy professor Mr. Radisson's curriculum is challenged by his new student, Josh, who believes God exists.

Director: Harold Cronk | Stars: Shane Harper, Kevin Sorbo, David A.R. White, Dean Cain

Votes: 44,930 | Gross: $60.76M

[Mov 01 IMDB 4,9/10] {Video/@} M/16

DEUS NÃO ESTÁ MORTO

(God's Not Dead, 2014)


TAG HAROLD CRONCK

{esquecível / lixo}


Sinopse

''Josh Wheaton (Shane Harper) é um estudante que tem sua fé desafiada por seu professor de Filosofia, Mr. Radisson (Kevin Sorbo), que acredita que Deus não existe. Gira em torno da vidas de várias pessoas que também são desafiadas por um mundo que acredita que Deus não existe.''
"A propaganda está ficando cada vez mais sofisticada, mas continua burra." (Alexandre Koball)

Deus Não Está Morto leva discurso evangélico para a sala de aula.

''Se “Deus Não Está Morto” fosse um filme realmente disposto a discutir a existência de Deus, o seu título não seria afirmativo e, sim, uma indagação. Como se trata de um filme evangélico – e lançado no Brasil pela distribuidora do missionário R.R. Soares – já dá para saber que, no fim das contas, todos os personagens “maus” (leia-se ateus, agnósticos e seguidores de outras religiões) irão se redimir de seus pecados e o cristianismo puxará toda a sardinha para o seu lado. “Deus Não Está Morto” acompanha a história de Josh Wheaton (Shane Harper, da série Boa Sorte, Charlie!), um jovem universitário que, em uma aula de Filosofia, é obrigado pelo seu professor Radisson (Kevin Sorbo, o Hércules da série de TV) a concordar com o pensamento filosófico de que Deus está morto. Como um bom cristão, o jovem se recusa a concordar com Radisson e os dois entram em um embate teológico. O professor tirano então lhe propõe um grande desafio: Josh deve convencer toda a sua turma que Deus, de fato, existe. gods not dead image 01 god s not dead summary review 600x397 Deus Não Está Morto leva discurso evangélico para a sala de aula A premissa é bem interessante. Por mais que “Deus Não Está Morto” possua um discurso manipulador, unilateral e maniqueísta, ele também utiliza-se de frases de grandes pensadores da história para defender o seu ponto de vista. E, claro, também faz uso do bom e velho melodrama. Indispensável nesse estilo de filme. A repórter com câncer e a garçonete muçulmana são personagens aleatórios que flutuam na trama sem grandes explicações ou função. Elas só estão ali para ajudarem o filme a levantar a bandeira pró-cristianismo. A repórter, por exemplo, não tem nenhuma ligação direta com a trama central do filme. Totalmente dispensável. GND Press4 600x397 Deus Não Está Morto leva discurso evangélico para a sala de aula Ao contrário de Três Histórias, Um Destino, produção anteriormente lançada pela mesma Graça Filmes, esse “Deus Não Está Morto” é um filme mais provocante e que possui o mérito de, pelo menos, tentar se afastar do sentimentalismo barato que povoa quase 100% das produções religiosas. A fórmula funcionou nos Estados Unidos e o filme fez grande sucesso por lá. Aqui no Brasil, a promessa é de que o filme arraste os fiéis. Mas a distribuição é muito pequena para converter quem duvida que Deus vá ao cinema." (Marçal Vianna)

Pure Flix Productions Greg Jenkins Productions Pure Flix Entertainment Red Entertainment Group Toy Gun Films

Diretor: Harold Cronk

31.841 users / 23368 face

Check-Ins 723 6 Metacritic 1.677 Down 269

Date 10/10/2014 Postr - #

21. After Lucia (2012)

Not Rated | 103 min | Drama

Alejandra and her dad Roberto have just moved to town. She is new at school, he has a new job. Starting over is sometimes complicated when you have left so much behind.

Director: Michel Franco | Stars: Tessa Ia, Hernán Mendoza, Gonzalo Vega Jr., Tamara Yazbek

Votes: 6,999

[Mov 10 Fav IMDB 7,1/10 {Video/@@@@@}

DEPOIS DE LÚCIA

(Después de Lucía, 2012)


Trauma e bullying na obra-prima de Michel Franco.

"Pouco conhecido no cenário cinematográfico mundial, Michel Franco acumula apenas dois longas-metragens em sua carreira, mas já surge como uma promessa de realizador com aspectos bem autorais. Em seu primeiro trabalho, Daniel & Ana (Idem, 2009), o cineasta mexicano apresentou um drama chocante que, como pano de fundo, investigava uma realidade da Américas do Sul e Central (pornografia online sem consentimento) e o comportamento de dois jovens após um transtorno de estresse pós-traumático. Em sua nova obra, Depois de Lúcia (Después de Lucía, 2012), Franco só troca o cenário pela capital mexicana, pois as temáticas retornam com equivalente intensidade, apesar de superior consistência e abrangência. Após uma tragédia familiar, a jovem Alejandra (Tessa Ia) e o pai, Roberto (Hernán Mendoza), mudam-se do litoral do México para a capital do país, onde tentarão superar o passado e iniciar uma nova vida. Enquanto o pai tenta se adaptar ao novo emprego, a filha mostra-se mais bem-sucedida e logo se enturma com os colegas de uma escola classe A – até que um ato impensado de Ale redunda num terrível caso de bullying (termo que aqui tem sua noção e seus parâmetros redefinidos). Ciente do poder de seu roteiro, Michel Franco é soberbo mesmo quando opta pela economia. Exemplo disso é a direção de fotografia: embora adotem os mais variados enquadramentos, Franco e Chuy Chávez mantêm a câmera estática durante todo tempo (a exceção é o flashback de um acidente), tornando ainda mais angustiantes os planos longos e os planos-sequência. Tal desconforto é acentuado pela (ausência de) trilha sonora, restrita a sons diegéticos, assim como um admirável trabalho de preparação de elenco, que confere realismo e naturalidade aos diálogos e às intensas cenas, estreladas por jovens que em nenhum momento parecem atores (e provavelmente não eram), mas adolescentes inconsequentes de uma abastada Cidade do México, resguardados pela ineficiência da lei e pela condescendência de pais tão omissos que em nenhum momento abrem a boca. Porém, a maior sacada e prova da economia de Michel Franco vem desde o título. A personagem-título desencadeia todos os eventos da trama sem jamais aparecer na tela ou ser, ao menos, citada nominalmente. Sua ausência está sempre presente no abatimento dos protagonistas. A traumática morte de Lucía é responsável por uma dedicação recíproca na relação pai e filha que, irônica e paradoxalmente, é responsável pelas fatídicas situações da trama. Se Roberto, por exemplo, mostra-se flexível aos deslizes de Ale, ela por sua vez preocupa-se com a vida pessoal e amorosa do pai, que exala instabilidade emocional. Então a jovem, numa tentativa suicida de não levar seus problemas pessoais ao abalado pai, fica vulnerável a todas as provações às quais é submetida, tornando compreensível e comovente a passividade e a discrição com que administra a brutalidade que sofre na escola. Nesse sentido, vale ressaltar a incrível atuação da dupla de protagonistas. Hernán Mendoza incorpora um homem com a expressão facial e corporal de uma pessoa depressiva, mas, pelo modo contido como se porta diante da filha, é a verdadeira representação de uma bomba-relógio ambulante, que explode sempre que ausente de Ale (comportamento que faz do impactante desfecho a opção mais coerente dentro da trama). Tessa Ia surge confiante, madura, mas através da aparente força de seu semblante inócuo transborda a emoção e a vulnerabilidade de uma jovem que, no fundo, sofre pela morte da mãe e pela tristeza do pai. Uma atuação estupenda. Contudo, a razão da excelência de Depois de Lúcia deve ser mesmo atribuída ao promissor Michel Franco. O diretor e roteirista inicia o terceiro ato com um leitmotiv que o interliga ao início do filme e estabelece, assim, o sentimento de desolação e desapego que conduz Roberto durante toda projeção, justificando assim seu trágico desfecho. Eis a conclusão brilhante que eleva o segundo longa-metragem de um cineasta à condição de obra-prima." (Rodrigo Torres de Sousa)

"Pela lista do funcionário da oficina, o acidente foi grave: tudo ou quase foi substituído no carro que Roberto (Hernán Mendoza) vai buscar -para logo abandonar numa avenida, na primeira das muitas omissões sobre as quais se constrói a trama de "Depois de Lúcia", segundo longa do mexicano Michel Franco. No trajeto, vemos a nuca do motorista, as mãos no volante, o que reflete no retrovisor. Passam-se minutos até que surja na tela um rosto, o perfil de Alejandra (Tessa Ia), a filha adolescente com quem Roberto se muda da costa do Pacífico à Cidade do México. O recorte visual das primeiras cenas e os ruídos urbanos que sublinham o mutismo quase absoluto dos personagens informam que o filme é tenso. Mais que isso: "Depois de Lúcia" é violento. Tudo nele remete a atos de negação. O acidente que separa antes e depois de Lúcia (a mãe e mulher morta, cujo nome, simbolicamente, jamais é dito) só é mencionado quando a burocracia assim exige. A mudança é uma fuga; a casa vazia, uma tentativa de anular as lembranças. Muros espessos de silêncio se erguem em torno da adolescente: entre pai e filha há cumplicidade, não abertura. Após ser inicialmente aceita pelos colegas da nova escola de classe média alta, a tímida menina comete um deslize -e por ele é moralmente julgada e torturada. Ale tudo cala, preocupada com o estado aparentemente mais deprimido do pai. Mais que a preocupação, porém, só a culpa talvez possa explicar o inverossímil estoicismo com que suporta os suplícios que lhe impingem os colegas. O filme de Michel Franco levou o prêmio da mostra Un Certain Regard de Cannes em 2012 -em grande parte pelo tema, central hoje. O já gasto termo bullying se define aqui em sua integralidade, indo do achaque moral à violência física e sexual. A protagonista, qual uma Joana D'Arc, aceita como missão o seu martírio -que atinge o espectador, transido diante dos atos de adolescentes que parecem habitar um mundo ao qual os adultos não têm (ou não querem ter) acesso -num dos exageros do filme. Seria possível tal alheamento quanto ao que fazem alunos e filhos? Quando o espectador já não aguenta, Franco oferece uma resolução abrupta (e violentíssima) que, se por um lado vem resolver um impasse dramatúrgico, por outro sugere a descrença do cineasta nas instituições de seu país. Apesar dos poréns, é um filme importante; talvez seja lícito entender seu tom hiperbólico como bandeira voluntária, a urgir pais a olhar e ouvir mais seus filhos." (Francesca Angiolillo)

"Seria difícil comprar a aceitação masoquista da menina sobre sua condição miserável perante o mundo mesmo se o filme conseguísse justificá-la; como não é o caso, procuramos valor em alguns interessantes aspectos da obra, especialmente a persona do pai." (Daniel Dalpizzolo)

"Acredito que os exageros e a falta de realismo sejam para deixar bem claro que, para a vítima do bullying, os efeitos são muito mais devastadores do que sempre aparentam. Esse exagero, porém, tira um pouco da humanidade e nos distancia dos personagens." (Alexandre Koball)

"Deixou a misoginia de Trier no chinelo. Fetiche sádico, apelativo, repulsivo e - ao contrário do que pregam - anos-luz de distância da realidade." (Heitor Romero)

"É misantropia reunir bullying e senso de impunidade (problemas SOCIAIS) em um contexto propenso? Se Franco é misógino, por que pensa cenas de modo a gerar desconforto? Um filme sobre temas urgentes não pode se permitir concessões. Fazê-lo seria covardia." (Rodrigo Torres de Souza)

''"Um dos melhores filmes da temporada passada, choca ao mesmo tempo em que apresenta um cineasta latino repleto de vigor e autoralidade. Uma das mais bem sucedidas experiências sensoriais do ano passado, provoca encanto e repulsa num só tempo." (Francisco Carbone)

"O problema de Depois de Lúcia nem é ser sádico. O problema é, enquanto cinema, ser ruim mesmo." (Bernardo D.I. Brum)

Drama de luto mexicano associa bullying com autopenitência.

"Tema recorrente nas artes, o luto tem facetas diversas no cinema. Em ''Depois de Lucía'' (Después de Lucía), drama em sintonia com a safra de filmes mexicanos que circulam festivais nos anos 2000, quase sempre secos e agressivos, às vezes beirando o sadismo, o luto assume a forma da autopenitência. Viúvo recente, Roberto e sua filha Alejandra, de 15 anos, deixam o balneário de Puerto Vallarta e se mudam para a Cidade do México, onde recomeçam suas vidas em um novo emprego e uma nova escola, respectivamente. Nenhum dos dois lida bem com a mudança, porém, mas Alejandra sofre mais, quando se torna alvo de bullying no colégio. Quando logo descobrimos que a Lucía do título é a mãe de Alejandra, morta em um acidente de carro, começa a ficar mais claro o sentimento de culpa que toma os dois personagens. Desde o primeiro plano-sequência do filme, quando um veículo é abandonado no meio do tráfego, entendemos que pai e filha têm dificuldade em conviver com más lembranças. O que vem a seguir é uma sucessão violenta de outros abandonos, que despem os dois personagens desse fardo que carregam, desde o cabelo que Alejandra corta sozinha até a decisão do pai de largar-se na incivilidade. O que o diretor Michel Franco procura dizer neste seu segundo longa-metragem é que o mundo - particularmente o da Cidade do México - não consegue amparar pessoas assim. Então quando Alejandra se torna alvo de uma violência (a escola só se mostra preparada para inibir o uso de drogas, não o bullying), que ela entende como um castigo, todos se veem incapazes de ajudá-la. Dá pra discutir, a partir daí, se é válida ou forçada essa aproximação que Franco faz entre o bullying e o luto. Do seu lado, ao invés de tentar separar as duas coisas, o diretor opta pelo impacto, para misturá-las. O barulho do carro que abre o filme é o mesmo barulho da lancha que o encerra; Depois de Lucía tem na cacofonia seus dois marcos definidores. Assim como também é cacofônico esse realismo sem meias palavras feito pelo cinema mexicano atual, que teve em Alejandro González Iñárritu seus esboços e depois levou aos primeiros filmes de Carlos Reygadas, ao Os Bastardos de Amat Escalante (protegido de Reygadas, não por acaso) e deteriorou em Ano Bissexto de Michael Rowe. Talvez seja a influência de outra escola contemporânea de realismo, a romena, que também faz sucesso nos festivais (Depois de Lucía ganhou a mostra Um Certo Olhar em Cannes em 2012), mas enquanto os romenos frequentemente são mais reflexivos, colocando a história do seu país em contexto, esse realismo mexicano parece mais curto, reativo, como se colocasse em prática só a primeira solução encontrada para um problema proposto, e não necessariamente a melhor solução." (Marcelo Hessel)

Pop Films Filmadora Nacional Lemon Films Stromboli Films

Diretor: Michel Franco

2012 Palma de Cannes

3.3326 users / 1.610 face

Check-Ins 361

Date 15/10/2013 Poster - ######

22. Dementia 13 (1963)

Unrated | 75 min | Horror, Thriller

64 Metascore

A scheming widow hatches a bold plan to acquire her late husband's inheritance, unaware that she is being targeted by an ax murderer who lurks in the family's estate.

Director: Francis Ford Coppola | Stars: William Campbell, Luana Anders, Bart Patton, Mary Mitchel

Votes: 8,987

[Mov 06 IMDB 5,7/10 {Video/@@}

DEMENTIA 13

(Dementia 13, 1963)


''Antes de ser adorado por hordas de cinéfilos pela trilogia O Poderoso Chefão, para muitos o melhor filme da história do cinema, e de dirigir Apocalypse Now, um dos filmes essenciais de guerra, quiça o melhor, Francis Ford Coppola sofreu como qualquer outro cineasta novato na indústria. Junto a Roger Corman, conhecido por produções de baixíssimo custo e amadoras, os apelidados Filmes B, Coppola tentou dentro das limitações orçamentárias criar uma versão econômica de Psicose de Alfred Hitchcock, que 3 anos antes havia surpreendido o público com a engenhosidade e coragem da narrativa. O resultado é este ''Demência 13'', um filme pobre na sua execução mas com uma boa ideia na ponta da caneta. Mesmo incapaz de arranhar as solas do sapato de um dos clássicos do mestre do suspense, ''Demência 13'' tem méritos próprios no roteiro também escrito por Coppola. Nele, a interesseira Louise (Luana Anders) inconscientemente favorece a morte do seu marido John, vítima de um infarto fulminante, e temendo perder a polpuda herança resolve esconder o corpo no fundo do lago e escrever uma carta falsa supostamente assinada por ele. Para manter a mentira, Louise viaja à propriedade da sogra (Eithne Dunne) na Irlanda para celebrar o aniversário de falecimento da filha caçula Kathleen, que morreu afogada no lago em frente à casa, e aproveitando a superstição em volta do ocorrido, ela bola um plano para desenterrar certas memórias e, talvez, obter a sua parte no quinhão. Claro que como a igualmente ambiciosa Marion Crane escondia-se com o dinheiro roubado no motel de Norman Bates apenas para ser vítima da sua própria ganância, Louise também encara um destino macabro diante de si por razões idênticas. Mas primeiro, ela tem que superar a desconfiança do primogênito Richard (William Campbell), um homem vivo que não a aceita na família, além de tentar passar desapercebida pelo radar de Billy (Bart Patton), o irmão mais novo de Richard, e do sinistro Simon (Karl Shanzer), o médico da família cujos interesses vão bem mais além do que apenas o zelo pela saúde dos seus membros. A tendência é que o plano descarrilhe e ela seja desmascarada, até que Coppola inteligentemente subverte as expectativas com uma mudança no rumo da narrativa que só não é mais bem-sucedida porque existe nas sombras de Psicose. As semelhanças são nada menos do que assustadoras! O assassinato mais famoso do mundo não ocorre mais no chuveiro e sim no lago, a faca é trocada por um machado e mesmo a essência de cortes secos e golpes com forte uso da trilha sonora também é empregada por Coppola, embora de uma maneira desajeitada. A alteração inesperada do protagonista e aquilo que assola o taciturno vilão têm toques parecidos, e não é difícil enxergar um Norman Bates menor caminhando nos campos despido agora das roupas da mãe. Ora, inclusive o título antevê talvez intencionalmente a correlação inevitável entre os filmes, o que mostra o oportunismo de Coppola de devorar as migalhas deixadas por Hitchcock. Sobra apetite, faltam recursos. Certos cenários parecem feitos de qualquer maneira, sem cuidados rigorosos, como o calabouço onde ocorre uma importante descoberta. Já a imaturidade dos montadores Stuart O’Brien e Morton Tubor combinada com a inexperiência de Coppola sobretudo na decupagem das cenas produz sequências mais involuntariamente constrangedoras do que assustadoras: a presença de uma coruja durante a exploração dos arredores é desencontrada e os ataques do misterioso agressor forçam a barra com cortes mal acabados e nada convincentes (até agora tento entender como exatamente o assassino desferiu machadadas nas mãos de uma pessoa e fez sangrar o seu rosto… deve ter sido a falta dos meus óculos). A única opção é ignorar o baixo orçamento e fazer como sugere o Dr. Simon, ou seja, manter a mente aberta e ser feliz, para quem sabe eximir os defeitos deste bom ''Demência 13''. Parece mais difícil do que é, mesmo porque a inquietante trilha sonora de Ronald Stein, cuja melodia parece saída de uma caixinha de música antiga, ajuda a entrar no clima tenebroso e a duração de pouco mais de 70 minutos torna a homenagem de Coppola a Hitchcock um suspense breve e indolor." (Marcio Sallen)

''Francis Ford Coppola, diretor de obras memoráveis, como por exemplo: a trilogia de O Poderoso Chefão, o caótico Apocalypse Now, e, talvez, o menos comentado de todos, mas ainda assim brilhante, A Conversação, começa a sua filmografia com um gênero que, até então, só tornou a repetir a dose, na adaptação do famoso romance de Bram Stoker. No ano de 1963, o americano dirigiu "Demência 13" - lembrando que o número 13 foi acrescentado, apenas para diferenciar a obra de Coppola, da obra de John Parker, realizada em 1955 - um slasher B de curta duração, em torno de 75 minutos, que conta com o lendário Roger Corman, na produção do seu primeiro filme. De fato, não foi uma estréia que já demonstrava o que estava por vir, mas ainda assim, é interessante notar o comportamento do diretor em sua primeira viagem. É impossível comentar sobre o nascimento desse grande diretor, sem tocar no nome de Roger Corman. Quando Coppola estudou cinema na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ele chegou a dirigir diversos curtas-metragens, mas nada muito chamativo. Anos depois, começou a trabalhar com um dos grandes nomes do Cinema B, que já foi citado anteriormente, escrevendo roteiros e até mesmo operando nas suas produções. Corman abriu as portas para Coppola, tendo um papel de padrinho, no começo da sua jornada no mundo da sétima arte. "Demência 13" chega a resgatar alguns aspectos das produções da época, como por exemplo: pequena duração, elenco desconhecido, e a típica violência gráfica, mas ainda com doses acentuadas. O enredo se baseia numa maldição que assombra o castelo Haloran, palco de acontecimentos inexplicáveis, e moradia de uma nobre família irlandesa. Depois da morte de Kathleen, uma jovem menina que se afogou no lago do castelo, enquanto brincava com o seu irmão, a vida deles nunca mais foi a mesma. Todos os anos, sua mãe e seus irmãos seu reúnem para celebrar essa triste data, entretanto, por já ser mais velha, a matriarca acaba desenvolvendo alguns problemas psicológicos. O que não passava de mais uma celebração rotineira, acaba virando um caos indescritível para a família. Um assassino está à solta, no castelo, mas ninguém sabe o que ele realmente quer. Coppola demonstra que sabe trabalhar com os gêneros suspense/terror, mesmo demorando um bom tempo para engrenar num ritmo compatível, mediante ao fato da lentidão do primeiro ato. O diretor utiliza de uma fotografia escura e uma trilha sonora pesada, para enriquecer a atmosfera lúgubre dos takes. Sem dúvida alguma, um aspecto que veio do aprendizado com Roger Corman. No entanto, podemos notar certo despreparo na montagem. Por vezes, certos takes desnecessários, que antecedem o ápice do suspense, acabam prejudicando extremamente, o efeito desejado. Se por um lado Coppola peca em certas cenas, por outro, ele consegue melhorar o nível da produção de forma incomparável. A oscilação é nítida, e acaba prejudicando o produto final. Alguns momentos positivos estão associados aos trechos em que os diálogos e as atuações têm uma combinação extremamente agradável. Quando Billy - Bart Patton - comenta com Kane - Mary Mitchel - sobre o seu sonho, e começa a descrevê-lo, o espectador chega a sentir um desconforto prazeroso. É uma pena que Coppola dirigiu "Demência 13" tão cedo, afinal de contas, imagino que teríamos uma obra-prima em mãos, caso ele tivesse produzido depois do seu memorável amadurecimento cinematográfico. Outro aspecto extremamente interessante, que demonstra a influência de grandes diretores nas obras de Coppola, é a utilização do MacGuffin, conceito que estava presente em boa parte dos filmes de Alfred Hitchcock. O MacGuffin consiste num objeto que serve de pretexto para dar andamento ao filme, tendo papel coadjuvante, com o passar do tempo. Em "Psicose", o dinheiro roubado é o MacGuffin, que só serve para levar a personagem de Janet Leigh, até o hotel dos Bates. No caso de "Demência 13", o objeto em questão é o testamento da família, que interessa a personagem de Luana Anders. No decorrer do filme, esse assunto é soterrado, frente ao mistério que circunda o castelo de Haloran. Alfred Hitchcock já era extremamente reconhecido, e Coppola foi um dos diversos diretores que se inspiraram em suas obras-primas. Com um roteiro bem mediano, que acaba prejudicado pela duração, Coppola dá inicio à sua filmografia, demonstrando o seu aprendizado, e as influências dentro do seu cinema. Como foi dito anteriormente, o filme oscila e não dá espaço para um desenvolvimento mais detalhado, que, de fato, ajudaria muito no produto final. Uma estréia morna que não demonstrava uma ascensão tão significativa. Coppola acertou no cinema, quando decidiu expor o seu talento, em vez de ficar submisso aos mestres que o rodeavam. Nós agradecemos por isso.'' (Adm DownSux)

Filmgroup Productions

Diretor: Francis Ford Coppola

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Date 30/11/2013 Poster - ######

23. Dawson Isla 10 (2008)

117 min | Drama

The ex-members of Chile's cabinet survive the prison on Dawson Island.

Director: Miguel Littin | Stars: Benjamín Vicuña, Bertrand Duarte, Pablo Krögh, Cristián de la Fuente

Votes: 381

[Mov 06 IMDB 6,1/10] {Video/@@@@}

DAWSON ILHA 10

DAWSON ILHA 10 – A VERDADE SOBGE A ILHA DE PINOCHET (unofficial)

(Dawson Isla 10, 2009)


TAG MIGUEL LITÍN

{informativo}


Sinopse ''Dawson, Ilha 10, aborda o golpe militar que em 1973 derrubou o governo democrático de Salvador Allende e vitimou milhares de chilenos, dando início a uma das mais longas e sangrentas ditaduras da América Latina. O filme mostra o sofrimento de ministros do governo Allende que foram aprisionados em uma ilha gelada, de clima antártico, onde funcionou um campo de concentração projetado pelo criminoso nazista Walter Rauff, então refugiado no Chile. A história é baseada no livro Isla 10, de autoria de Sergio Bitar - então ministro das Minas e Energias do governo Allende e, à época do lançamento do filme, ministro do governo de Michelle Bachelet. O filme utiliza cenas reais e revela os minutos finais do presidente eleito Salvador Allende, entrincheirado e resistindo solitário no Palácio La Moneda, onde foi assassinado pelos militares chilenos.''


**** ''Há filmes que se impõem primeiro pelo valor informativo. É o caso de "Dawson Ilha 10". Deve ser ignorância pessoal, mas nunca soube desta ilha gelada, no Chile. Para lá, o governo Pinochet mandou ministros e assessores diretos de Salvador Allende logo após o golpe de 1973. O que descreve o filme de Miguel Littin, com base no relato de Sergio Bitar (ministro antes e após a era Pinochet) é um campo de concentração. Não um campo como o dos nazistas, de extermínio. Mas um lugar frio, de privações diversas e de humilhações. No meio disso, surge Bertrand Duarte, ótimo ator baiano, como o arquiteto Miguel Lawner. Littin pode ter filmes políticos que, em vista do engajamento, mal se aguentam em pé. "Dawson Ilha 10", seco, descritivo, se sustenta muito bem." (* Inácio Araujo *)

O cinema político espetáculo.

''Um fantasma assombra a América Latina, e assim será por muito tempo: a memória das ditaduras militares num passado mais ou menos recente, e cujas lembranças dolorosas com alguma freqüência retornam aos cinemas para serem expurgadas diante do espectador. ''Dawson Ilha 10'' faz parte desse cinema que coloca em foco tragédias coletivas em que os direitos humanos e constitucionais são suprimidos, em torno de uma denúncia sobre a qual é estruturada uma história para envolver o público, e fazer com que ele saia no final revoltado ou, no mínimo, se sentindo como tendo passado por uma experiência esclarecedora. O filme trata de uma ilha transformada em prisão para onde são levados ex-ministros, médicos, engenheiros e pessoas de diferentes importâncias no governo do presidente deposto Salvador Allende, após o golpe militar no Chile em 1973. Todos prisioneiros políticos, confinados em condições precárias numa gelada ilha no fim do mundo ao sul do continente americano, com parcos alimentos e sem assistência médica necessária (inclusive para os próprios militares, que quando precisavam, recorriam aos presos que conheciam medicina). Cada um dos presos era despojado inclusive de sua própria identidade, obrigados a abrir mão do próprio nome e adotar a demoninação de seus barracões em meio aos alojamentos, e um número correspondente. Ilha 10 é a designação que coube a Sergio Bitar (Benjamín Vicuña), ex-ministro de Minas do governo Allende, e em cujas memórias o longa é baseado. O filme do veterano Miguel Littin expõe uma verdade contundente: a dos campos de concentração na América do Sul, e as mortes e torturas físicas e psicológicas que tanto vitimaram pessoas de diferentes origens, dentro ou fora dos tais campos. Até aí tudo bem, só que estamos diante de mais um exemplo que está longe de um cinema que é político por seu próprio fazer, por um olhar de mundo, no que podemos pensar em filmes como Weekend à Francesa (Weekend, 1967) ou Film Socialisme (Film Socialisme, 2010), ou outros que também filmaram um estado, ideia ou cenário de caos e confusão política ou uma desordem instaurada. ''Dawson Ilha 10'' é sobre temas políticos submetendo o assunto genericamente às normas de um cinema de espetáculo, crescendo num tom de efeitos exploratórios das desgraças de suas vítimas. Trata de temas importantes como opressões e imperialismo, e os acordes da trilha incidental tocam pontual e estrategicamente para emocionar o público, porém é antes de tudo um cinema que mesmo querendo nos transmitir uma mensagem de liberdade, nos leva a um hiperconformismo através de uma consciência historicizante e de um didatismo flagrante: vemos tudo somente como algo que aconteceu há mais de trinta e cinco anos, dentro de um passado definitivamente remoto fazendo parte de uma condição que não nos pertence e a qual podemos enxergar de uma posição privilegiada. O verdadeiro cinema político não é necessariamente o que nos conscientiza mas sobretudo o que nos transforma. Dawson Ilha 10 é mais um exemplo em que não há a problematização de suas figuras em cena, dentro de uma completa não-relativização do ponto de vista que Littin opta: cada um à sua maneira, todos subsistem dentro das condições a que seus papéis foram reservados, e não haverá desvios ou fugas nesse sentido para que possamos enxergar os personagens de outra forma. São as limitações do cinema como aula de História, em que os personagens acabam reduzidos a joguetes dos propósitos e intenções de seus realizadores. Mesmo que Littin por vezes evite um maniqueísmo escancarado (em um momento ou outro alguns militares sentem um certo desconforto com as circunstâncias), o filme raramente foge de um esquematismo redutor. São poucos os momentos de Dawson Ilha 10 em que opressores e cativos não existem de forma alguma a não ser como coletivo, em vez do individual particular de cada um, o que quando surge em cena no filme de Littin é apenas como rascunho. O cinema político é o que questiona (o que gira em volta mais de questionamentos que de questões), não o voluntarista que chega oportunamente depois já trazendo os resultados consigo e apenas querendo nos fazer abraçar seus postulados. O verdadeiro cinema político é o que media um discurso mais num diálogo travado entre filme e espectador do que no discurso em si, o que geralmente ocorre através de escolhas formais e opções estéticas, não num cinema reduzido ao conteúdo. Enfim, é aquele no qual certezas são desmontadas, seguindo com uma desconstrução total de uma realidade política que não encerra, mas abre uma miríade de questões de mundo." (Vlademir Lazo)

''Na década de 70 foi a vez do Chile perder a democracia e outras liberdades. Dois filmes recentes vindos de lá mostram esse cenário sobre dois pontos de vista distintos. Post Mortem acompanha Mario (Alfredo Castro, que já tem experiência com o diretor Pablo Larraín em Tony Manero), um trabalhado do necrotério. Como esses golpes só podem ser executados a custa de muito sangue, o protagonista é uma testemunha dos bastidores da tomada do poder. A cada dia, mais e mais corpos chegam para serem autopsiados e Mario tem uma noção da real dimensão dos acontecimentos. Fora do trabalho, seu contato com o panorama político se dá por sua vizinha, com quem tem um relacionamento amoroso. A casa dela é invadida e Nancy (Antonia Zegers) precisa se manter escondida para sobreviver. Provavelmente a melhor cena de Post Mortem é a da autopsia do ex-presidente chileno Salvador Allende. Enquanto o médico analisa os ferimentos no cadáver e Mario faz anotações, um grande grupo de militares assiste. Oficialmente Salvador se matou, mas não há como ter certeza do que aconteceu de verdade em casos como esse. O filme Dawson Ilha 10 (Dawson Isla 10) afirma com mais veemência que a versão oficial é duvidosa. O longa conta a saga de um grupo de prisioneiros políticos na Ilha Dawson, usada como campo de concentração depois do golpe militar. Como quase todos ali eram membros ativos do governo deposto, Allende é retratado como um herói e um mártir. Cada prisioneiro, ao chegar no local, perde sua identidade. Eles recebem o nome da cabana onde dormem e um número. Por essa razão, o preso Ilha 10 deveria ser o personagem principal, mas não é exatamente isso o que acontece. Muitos outros presos têm peso igual ao de Ilha 10 na história. Com isso, o filme perde o foco narrativo, o que pode dispersar o espectador. No entanto, em tempos em que uma parcela estúpida da sociedade elogia regimes totalitários e defende o fim das liberdades individuais, é importante termos uma produção constante de filmes que mostram a dura realidade dessas épocas tristes.'' (Edu Fernandes)

''Para o mundo inteiro o 11 de Setembro ficará para sempre marcado como a data em que ataques terroristas derrubaram as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Para os chilenos, a data já era relevante há 28 anos. Foi também em um 11 de setembro que os militares, liderados pelo General Pinochet, deram um golpe de estado no governo Salvador Allende e instauraram uma ditadura que durou 17 anos e "sumiu" com mais de 3 mil pessoas. ''Dawson Ilha 10", conta a história do campo de concentração para onde foram levados alguns dos prisioneiros políticos que eram mais próximos a Allende. Ex-ministros, médicos, engenheiros, pessoas com alto grau de instrução e importância para o antigo governo passaram a dividir barracões de madeira em condições precárias na gelada ilha ao sul do nosso continente. O grande número de personagens pode confundir o espectador num rápido quem é quem, mas a verdade é que ali eles não eram mais eles mesmos. Além de condições sub-humanas de moradia e alimentação, os prisioneiros sofriam também torturas psicológicas, como o fato de passarem a ser chamados pelo nome e número da barraca onde dormiriam. Daí vem o Ilha 10 do título, o novo "nome" de Sergio Bitar, ex-ministro de Minas do governo Allende, que escreveu o livro em que Littin se baseou para criar o longa. Com sua fotografia fria como local onde tudo isso aconteceu, o diretor Miguel Littin vai dando um ar documental ao seu filme e distribuindo de carona a sua versão da história - oficialmente declara-se que Allende se suicidou, mas o cineasta mostra que ele foi suicidado. Littin fala também do envolvimento dos Estados Unidos no golpe militar e mostra o cenário daquela época, com a Guerra Fria em seu ápice. De forma até leve, ele mostra também o duro tratamento reservado aos prisioneiros políticos e as consequências das torturas empregadas no local, mas também guarda espaço para mostrar o lado humano de alguns militares, fugindo assim da visão maniqueísta que normalmente seria usada neste tipo de produção. O filme, co-produção Chile/Brasil/Venezuela, foi o indicado do Chile para tentar a vaga no Oscar 2010. Nada mais "oscarizável", afinal, do que um drama que mostra campos de concentração. Não conseguiu a vaga, mas vale uma visita ao cinema." (Marcelo Forlani)

Azul Films Efetres VPC Cinema Video

Diretor: Miguel Littin

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Date 31/10/2014 Poster - ###

24. The Way West (1967)

Approved | 122 min | Adventure, Drama, Western

42 Metascore

In 1843, a former U.S. Senator leads a wagon train of settlers to Oregon, but his megalomania leads to growing dissatisfaction with his leadership.

Director: Andrew V. McLaglen | Stars: Kirk Douglas, Robert Mitchum, Richard Widmark, Lola Albright

Votes: 3,564

[Mov 03 IMDB 6,2/10 {Video}

DESBRAVANDO O OESTE

(The Way West, 1967)


''O Senador William Tadlock recruta a ajuda do veterano Dick Summers e lidera uma caravana com colonizadores do Missouri ao Oregon através de território Sioux. Tadlock é um capataz de altos princípios e tão exigente e duro consigo mesmo quanto é com os que se juntaram a ele na aventura. Ele se choca com um dos novos colonos, Lije Evans, que não aprecia bem os modos de Tadlock. Quando um de seus homens atira acidentalmente num garoto índio, a situação se complica e põe em risco todos os homens envolvidos na missão. Aqui veremos também uma jovem Sally Field no papel da levada Mercy McBee." (Filmow)

''Cada gênero cinematográfico teve, ao longo da história do cinema, seus clássicos, alguns deles reconhecidas obras-primas do cinema. Cada gênero teve seus principais diretores que praticamente contam-se nos dedos de uma mão. É assim com os musicais, com os filmes policiais (noir incluídos), comédias, melodramas e até os épicos. No gênero western enquadram-se entre os grandes diretores, identificados pelos clássicos que filmaram, Anthony Mann, John Sturges, Sam Peckinpah, Budd Boetticher e Howard Hawks. Acima de todos paira John Ford. Se a intenção for polemizar poderiam entrar nessa relação Sérgio Leone, Raoul Walsh e Henry Hathaway. E fecha-se a lista. Assim é o cinema, as artes em geral, os esportes e a própria vida. Nem todos podem ter o mesmo talento e a mesma inspiração. Quando muito, pode-se ter as mesmas condições de trabalho, no caso do cinema, atores e técnicos. Por que então exigirmos que todos os diretores de westerns os façam com a mesma qualidade? Todo esse intróito foi escrito lembrando o que os críticos, entre eles Rubens Ewald Filho, pensavam a respeito de Andrew V. McLaglen: um diretor de western sem talento e que perseverou no gênero fazendo filmes quase todos eles medíocres. De fato, Andrew V. McLaglen dirigiu uma dúzia de westerns sem que nenhum deles se tornasse um clássico. Chegou perto disso com Shenandoah, mas quando os mestres do gênero já estavam se aposentando, McLaglen dirigiu westerns apreciáveis como Os Renegados (Something Big) e O Preço de um Covarde (Bandolero) e as comédias Quando um Homem é Homem (McLintock!), Raça Brava e A Indomável. Andrew V. Mclaglen sempre foi acusado de imitar o estilo de John Ford e provavelmente o melhor exemplo dessa tentativa foi com “Desbravando o Oeste”, de 1967. A partir do livro The Way West, de autoria de A.B. Guthrie Jr. (roteirista de Shane), premiado com o Pulitzer e participação também de Ben Maddow (roteirista de Johnny Guitar) no script, “Desbravando o Oeste” conta a saga de famílias que partem em direção ao Oregon. No caminho enfrentam toda sorte de perigos, desde Sioux atrás de água de fogo (whiskey), deserto interminável, rios e montanhas difíceis de transpor. Além disso há o convívio prolongado das centenas de pessoas da caravana originando não só amizade mas também cobiça, paixões e ódio. E fica-se a imaginar o que Ford faria com esses temas, ainda mais contando com a magnífica cinematografia de William Clothier. Pois McLaglen não decepcionou e conta a história de maneira envolvente, ainda que sem aquele toque poético que Ford melhor que ninguém era capaz de dar a cada situação que surge durante a longa caminhada da caravana. Do excelente elenco reunido destaca-se Robert Mitchum como o indolente guia da caravana que só abandona sua habitual apatia quando se trata de salvar vidas. Kirk Douglas é um ex-senador visionário que lidera com sadismo a empreitada. Richard Widmark um fazendeiro que se deixa contaminar pelo espírito de aventura da conquista da terra prometida. Ambos bastante bem mas Bob Mitchum é quem vence a luta surda entre os três grandes atores. Jack Elam rouba todas as cenas em que participa como um irreverente pregador. O elenco feminino tem Lola Albright e Sally Fields em seu primeiro filme, cada qual despertando a líbido masculina na longa jornada. Um envelhecido Harry Carey Jr. é uma lembrança inequívoca de Caravana de Bravos (Wagonmaster), de John Ford, enquanto Roy Barcroft e Peggy Stewart são carinhosas lembranças da Republic Pictures. Stubby Kaye, Patric Knowles e Nick Cravat também têm participações em meio a um numeroso elenco. Nick Cravat, por sinal, tem uma única fala no filme, muito mais que quando acompanhava Burt Lancaster. É mais que hora de fazermos justiça a Andrew V. McLaglen, um cineasta que se não foi tão bom quanto queríamos que ele fosse, pelo menos nos contemplou com inúmeros westerns quando estes começavam a escassear, até chegarmos à seca que são os tempos atuais." (Darci Fonseca)

Harold Hecht Productions

Diretor: Andrew V. McLaglen

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Date 30/11/2013 Poster - ###

25. A Good Day to Die Hard (2013)

R | 98 min | Action, Thriller

28 Metascore

John McClane travels to Russia to help out his seemingly wayward son, Jack, only to discover that Jack is a CIA operative working undercover, causing the father and son to team up against underworld forces.

Director: John Moore | Stars: Bruce Willis, Jai Courtney, Sebastian Koch, Mary Elizabeth Winstead

Votes: 215,016 | Gross: $67.35M

[Mov 05 IMDB 5,3/10 {Video/@} M/28

DURO DE MATAR - UM BOM DIA PARA MORRER

(Good Day To Die Hard, A, 2013)


''Já que ninguém dentro dos Estados Unidos conseguiu matar o policial John McClane nos primeiros quatro filmes da franquia, os roteiristas resolveram jogar o herói, interpretado novamente por Bruce Willis, no submundo criminoso de Moscou. Mirabolante, o roteiro faz McClane encarar mafiosos russos com ajuda de Jack, seu filho também policial e também durão como o pai. O que mais tem no filme? Explosões, tiros, socos e o sorriso cínico de Willis.'' (Thales De Menezes)

"Homer Simpson visita a Rússia." (Alexandre Koball)

"Em meio a essa onda de heróis mais "sensíveis" do cinema americano moderno, é interessante ver que John McClane continua aquele tipo de mocinho inabalável e unidimensional do cinemão pipoca de outras épocas. Pena que as cenas de ação sejam tão recicladas." (Heitor Romero)

"Desnecessário. Já vimos quase tudo antes, o que sobra é um personagem central descentrado. E Yuliya Snigir que é capaz de melhorar o filme com sua, digamos, performance. Pena que fica pouquíssimo tempo em cena. Ahhhhhhhh." (Marcelo Leme)

Duro de aguentar.

''Nos primeiros trinta minutos de ''Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer'', o protagonista John McClane é atropelado e capota seu carro duas vezes, saindo de todos os incidentes sem um único arranhão. É o típico super-herói dos filmes de ação norte-americanos, invulnerável e invencível, capaz de pular de prédios de dezenas de metros de altura e sair caminhando como se nada houvesse acontecido. Ou seja, é o oposto do John McClane original visto em Duro de Matar (Die Hard, 1988), um personagem que caiu no gosto do público e se tornou icônico exatamente por ir na contramão do cinema do gênero da época ao apresentar um lado humano, de carne e osso, ao seu herói. Ao contrário dos exércitos-de-um-homem-só de Stallone e Schwarzenegger, o protagonista interpretado por Bruce Willis se machucava de verdade, sofria e até tinha medo de morrer. Foi o segredo do sucesso e o grande diferencial que fez daquele filme uma referência até hoje para o cinema de ação. A essência do John McClane criado por Willis e pelo diretor John McTiernan, no entanto, começou a ser desvirtuada pouco a pouco nas sequências. Ainda que o personagem mantivesse o espírito sempre irônico e a sensação de que adoraria estar em qualquer outro lugar, as continuações da obra original reduziram, a cada novo filme, a fragilidade do herói, chegando até o indestrutível McClane visto neste Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer, que em nada deve a um John Rambo ou a um John Matrix. Não seria exagero algum afirmar que, se fosse protagonizada pelo John McClane deste último filme, a obra original seria um curta-metragem, com o mocinho eliminando Hans Gruber e todo o seu séquito em dez minutos, dando tempo ainda de curtir a festa de Natal no Nakatomi Plaza ao lado de sua ex-mulher. Evitando novamente a limitação de espaço que também caracterizou os dois primeiros exemplares, Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer leva McClane à Rússia, onde parte em busca do filho com quem não fala há anos. E os problemas já começam aí. O roteiro de Skip Woods – responsável também por coisas como Hitman – Assassino 47 (Hitman, 2007) e X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, 2009) – mostra toda a sua preguiça logo nesse primeiro ato, criando uma noção de tempo que somente ele parece entender. Vejamos: Jack é preso em Moscou e se torna testemunha-chave de um julgamento que para o país. Enquanto isso, McClane, que procurava saber sobre o filho há anos, recebe informações sobre a prisão de Jack e decide ir para a Rússia encontrar e tentar ajudá-lo. Essa sequência de ações, que, em uma passagem de tempo lógica, levaria no mínimo algumas semanas para ocorrer, acontece de um dia para o outro! É como se, desde o início, o roteirista deixasse claro para o espectador que nada fará sentido na produção. Dirigido por John Moore – os motivos para alguém colocar o homem por trás de Max Payne (idem, 2007) no comando de uma série tão querida pelo público fogem a qualquer explicação racional –, Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer também erra ao estabelecer em suas primeiras cenas um clima mais pesado que o habitual para a franquia, parecendo se levar a sério demais. Nos minutos iniciais, é praticamente impossível adivinhar que se trata de um exemplar de Duro de Matar, tamanha é a ausência do clima de descontração que predominava nas produções anteriores. Na verdade, mesmo quando o filme finalmente tenta apresentar o McClane que o espectador conhece, o tiro acaba saindo pela culatra, uma vez que o humor presente em ''Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer'' erra o alvo na maioria das vezes. E a culpa sobre isso recai tanto sobre Moore quanto sobre seu roteirista. Sim, as piadas são fracas e repetitivas – sem exageros, a frase Eu estou de férias deve ter sido repetida pelo protagonista no mínimo cinco vezes –, porém o cineasta demonstra não possuir qualquer senso de timing cômico, estendendo-as até o limite do insuportável. É o caso, por exemplo, da graça envolvendo um taxista cantor: mesmo se a piada inicial fosse boa (não é, só pra ficar claro), o grande erro é Moore insistir de maneira inexplicável na gag, talvez com a certeza de que o material é brilhante. E o que dizer da ridícula cena na qual Jack, um agente treinado da CIA, mostra o dedo a um dos vilões? Esses erros de julgamento, aliás, podem ser percebidos em diversos outros momentos, como ao inventarem um material químico milagroso que neutraliza radiação ou na cena que mais representa um filme preguiçoso e tomado de lugares-comuns: aquela na qual o vilão prefere ficar conversando com o mocinho ao invés de eliminá-lo de uma vez. Os problemas do roteiro, no entanto, não param por aí. Como se não bastasse o enredo em si não fazer muito sentido – e a revelação do verdadeiro vilão da trama jogar qualquer resquício de lógica por água abaixo –, o texto de Wood apresenta alguns dos piores diálogos do ano (Eu poderia ser um dançarino, mas ninguém me incentivou), jamais chegando perto das tiradas espirituosas que McClane largava em outros filmes. Da mesma forma, Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer aposta em situações que se revelam claras muletas de roteiro, destacando-se pela artificialidade extrema, como a cena em que McClane fala sobre o seu passado com um cientista, mesmo que estejam correndo contra o tempo, ou a no mínimo vergonhosa ideia de tentar destacar um de seus vilões ao apresentá-lo comendo uma cenoura(!), como se essa fosse uma grande característica do personagem. E, já que o assunto é vilão, vale ressaltar que a falta de um antagonista é outro elemento que prejudica o filme. Um personagem do calibre de John McClane precisa de um oponente à sua altura, o que não ocorre em Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer. Na verdade, a nova produção não consegue nem ao menos se decidir sobre quem é o verdadeiro antagonista, apresentando no mínimo três vilões que enfrentam os heróis. Essa diluição não funciona bem em um filme como esse, que clama por um Hans Gruber, por um Simon ou até mesmo pelo oponente vivido por Timothy Olyphant na obra anterior. Mas o grande erro de ''Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer'' não está exposto nas linhas acima. A escolha mais inexplicável de John Moore e Skip Wood, aquela que não faz o menor sentido e chega a ser até revoltante para os fãs da série, é transformar John McClane em nada mais do que um coadjuvante de luxo. Sim, acreditem: o protagonista do filme é Jack, e não McClane. Ao personagem de Bruce Willis, cabe o papel de parceiro de seu filho, aquele que apenas segue as ordens do outro e – ainda mais revoltante – serve como alívio cômico da produção, soltando uma piadinha vez ou outra. Muito mais do que tirar de McClane o seu lado humano para transformá-lo em um desenho animado, é essa escolha (intencional ou não) dos realizadores que realmente se torna inaceitável, fazendo do filme algo ofensivo aos fãs. Para piorar, a própria relação entre McClane e Jack é explorada de forma rasa e superficial. Não apenas não há qualquer desenvolvimento ou lastro emocional para esse que é o verdadeiro núcleo dramático da narrativa como tudo também se desenvolve em cima de clichês. Existe, por acaso, algo mais batido do que o filho chamar o pai pelo nome de modo a demonstrar sua insatisfação? E quem ainda duvida que, ao final, esse mesmo filho o chamará de “pai” pela primeira vez, simbolizando que está tudo bem entre os dois? É um recurso narrativo velho, explorado milhões de outras vezes pelo cinema. Na verdade, o relacionamento entre McClane e Jack é tão desleixado que até mesmo a química entre Bruce Willis e o personagem de Justin Long, no último filme, foi melhor – e se ver McClane e seus dois filhos juntos ao final rende um sentimento bacana, isso se dá mais pelo apelo do personagem junto à plateia do que pelo que foi feito nessa produção. Se o roteiro é vazio e repleto de furos, nada muito diferente pode ser dito em relação ao trabalho de John Moore na direção, mais um adepto da câmera tremida e dos cortes excessivos que estragam grande parte dos filmes do gênero. Na realidade, parece até que o cineasta aprendeu algumas coisas durante a própria produção de ''Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer''. Isso porque a primeira sequência de ação envolvendo uma perseguição de carros em Moscou é absurdamente caótica, mal dirigida e montada, sendo impossível ter a menor ideia do que está ocorrendo. No entanto, Moore ainda consegue, em momentos posteriores, criar algumas cenas interessantes, pelo menos do ponto de vista estético, como aquela que acompanha a dupla de heróis em câmera lenta pulando de um prédio. E, verdade seja dita, há ao menos duas homenagens ao filme original que são capazes de colocar um sorriso no rosto da plateia: o momento no qual McClane e Jack atiram nos vidros em meio a um tiroteio e, principalmente, a forma como o cineasta filma a queda de um vilão no terceiro ato. Porém, por mais que aqui ou ali haja alguma ideia interessante ou que ocasionalmente consiga capturar o espírito sardônico de John McClane, a verdade é que em Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer o personagem mais parece uma cópia de si mesmo, com piadinhas fracas e uma invencibilidade que o deixa apenas com um herói genérico, sem a personalidade e a identificação que o destacaram. E, quando até mesmo sua clássica fala Yippee-ki-yay é utilizada de forma aleatória, é inevitável pensar que talvez esteja na hora de John McClane ser aposentado de vez. Por mais duro que seja." (Silvio Pilau)

Quinto filme refaz as graças consagradas mas não entende o espírito da franquia.

''John McClane sempre foi um anacronismo, o policial à moda antiga (workaholic e marido ausente) que sabota planos modernos de vilões sofisticados porque recusa-se a aceitar que ficou obsoleto. Se, como McClane, a franquia Duro de Matar tende à longevidade mesmo depois de três ótimos filmes, é porque sua graça está justamente nessa teimosia. Lançado em 2007, Duro de Matar 4.0 é um filme que funciona. Embora fizesse concessões à geração 2000, como o ajudante geek vivido por Justin Long, era o estilo analógico de McClane, em contraste com essas modernidades, que continuava valendo. Já o quinto filme, ''Duro de Matar - Um Bom Dia para Morrer'' (A Good Day to Die Hard), não tem essa percepção. É uma continuação que reproduz as piadas internas consagradas (os bordões, o herói preso no trânsito) mas não entende o espírito da franquia. Na trama, McClane (Bruce Willis, cada vez mais com cara de quem acabou de voltar das férias) viaja para a Rússia para tentar ajudar seu filho, Jack (Jai Courtney), que está preso sob acusação de homicídio. Em Moscou, McClane descobre que o rapaz trabalha para a CIA numa operação de tráfico de armas nucleares. E Jack é bom no que faz. Se o quarto filme tentava dialogar com a geração web, Duro de Matar 5 joga para o público pós-Bourne, pós-Black Ops. E não há nada menos familiar a John McClane do que esse mundo dos agentes supertreinados e superarmados. Ao invés de desenvolver um contraponto entre o pai cabeça dura (cujo maior talento sempre foi a resistência à dor) e o filho eficiente (tão eficiente quanto os vilões sofisticados que McClane combatia), o filme nivela os dois. Esse nivelamento fica claro quando McClane assume as rédeas da ação e resolve fazer as coisas do seu jeito, no improviso (é risível como Jack simplesmente deixa de telefonar para seus superior da CIA depois do meio do filme). Antigamente, esse jeitinho envolvia isqueiros, silver tape e, com sorte, a metralhadora subautomática que McClane tomava do bandido. Agora o improviso se limita a gastar toda a infinita munição que sobrou na mão do herói. Transformaram o cara numa máquina de atirar, enfim. O fato de Duro de Matar 5 adotar efeitos visuais estilizados à moda Zack Snyder no clímax - em estranha dissonância com a destruição em estilo documental do começo do filme - é o derradeiro malentendido. Ver e acreditar em John McClane machucado era um dos principais apelos da franquia, um fator de catarse. Aqui, isso se perde em meio à computação gráfica, ao exibicionismo*. Nem fingir dor o elenco sabe direito. Se o cinema de ação virou um porta-malas cheio de granadas e fuzis, que sequer é preciso arrombar, então talvez esteja mesmo na hora de John McClane se aposentar. *Há informações de que trechos mais gráficos, que mostram sangue em tiros e socos, foram suprimidos fora dos EUA (onde o filme pegou classificação 17 anos) para permitir censura 12 anos em alguns países. No Reino Unido o órgão que classifica os lançamentos reconhece essas mudanças. Procurada, a 20th Century Fox do Brasil - onde a classificação também é 12 anos - diz que não foi informada pela matriz americana de quaisquer alterações." (Marcelo Hessel)

''Os astros reúnem-se para um épico filme em grupo e depois retornam para suas aventuras solo: Os Mercenários são Os Vingadores do cinema de ação old school. Depois de Schwarzenegger em O Último Desafio (e, pelo menos no Brasil, antes de Stallone em Alvo Duplo), é a vez do inoxidável Bruce Willis ser o centro das atenções. Ele encarna mais um vez seu personagem mais famoso, o policial John McClane, no recente lançamento Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer. Mesmo desconsiderando a pra variar “genial” tradução brasileira de A Good Day To Die Hard (era díficil chamar simplesmente de Duro de Matar 5?!), é triste comentar sobre este que acabou se revelando o pior capítulo da franquia. Naquilo que se passa por história, McClane fica sabendo que seu filho Jack, com o qual não falava há anos, foi preso na Rússia e está sendo acusado de assassinato. Como canais legais e diplomáticos são para os fracos, ele resolve embarcar por conta para a terra do grande Zangief pra resolver a parada. Chegando lá, mas que vergonha, descobre que seu pimpolho trabalha para a CIA e está numa missão ultrasecreta visando a recuperação de (sim, isso mesmo) armas nucleares. A partir disso, pai e filho vão rapidamente se entender, sobreviver e derrotar os vilões. E só. Na linha do que aconteceu recentemente com Skyfall, grande parte das críticas negativas de Um Bom Dia Para Morrer vem se concentrando na alegação de que este não é o verdadeiro John McClane. Besteira. Os mais radicais (e chatos) falam isso desde Duro de Matar 3, e apesar disso os filmes foram empolgantes e divertidos (com o 4.0 sendo o ápice do massa véio bem executado). O problema agora é que o 5º filme é ruim, simplesmente. O roteiro é fraco até para os padrões do gênero, a ação nao consegue compensar isso por ser muito genérica, e nem o carisma do protagonista aparece. Bruce Willis costuma mandar bem mesmo no automático, mas aqui ele está em algum ponto abaixo disso. Ele parece se apagar em vários momentos, como se McClane quisesse deixar o filho brilhar. O que nunca passa nem perto de acontecer, naturalmente. E a culpa é mais do roteiro do que do esforçado Jay Courtney (visto em Spartacus e Jack Reacher). A história tenta trabalhar uma relação conflituosa entre pai e filho, mas de maneira rasa e extremamente indecisa. A mágoa que Jack sente pelo pai ausente acaba num passe de mágica quando John diz que o ama. A dinâmica do veterano acostumado ao improviso em contraste com o jovem metódico e certinho espião style, que poderia render algo interessante, fica apenas na sugestão. Isso porque tudo na trama acontece muito fácil e rápido, não há senso de perigo ou urgência em momento nenhum, então não faz diferença o modo como eles resolvem as coisas. A velha ironia de McClane, resmungando sobre a roubada em que se meteu, também sai prejudicada no meio disso. Como não demonstra estar passando por dificuldades, ele perde sua humanidade e torna-se chato repetitivo. Por exemplo, ao repetir umas doze vezes que estava de férias. As cenas de ação, que poderiam contar pontos a favor do filme (afinal, é um blockbuster), não chegam a impressionar. Com a breve exceção da perseguição de carros inicial, que começa burocrática mas diverte quando se torna galhofa e absurda. Depois, tudo se resume a tiroteios e correrias Comuns da Silva. Quando surge um lampejo de inspiração visual na cena do yippee-ki-yay, *beep* ou até na referência ao final do primeiro filme, já é tarde demais pra salvar qualquer coisa. Com uma recepção amplamente negativa, e uma bilheteria mediana, difícil exergar um futuro para a franquia Duro de Matar. O que não deixa de ser uma pena, pois John McClane merecia um encerramento melhor. Mas pelo menos continuaremos a ver Bruce Willis chutando bundas por aí, certamente." (Jackson Good)

Twentieth Century Fox Film Corporation TSG Entertainment Giant Pictures Dune Entertainment Ingenious Media Big Screen Productions Origo Film Group

Diretor: John Moore

136.480 users / 66.875 face

Soundtrack Rock = The Rolling Stones

Check-Ins 395

Date 05/12/2013 Poster - #

26. Death Wish 3 (1985)

R | 90 min | Action, Crime, Drama

18 Metascore

Architect/vigilante Paul Kersey arrives back in New York City and is forcibly recruited by a crooked police chief to fight street crime caused by a large gang terrorizing the neighborhoods.

Director: Michael Winner | Stars: Charles Bronson, Deborah Raffin, Ed Lauter, Martin Balsam

Votes: 17,364 | Gross: $16.12M

[Mov 03 IMDB 5,6/10 {Video/@@@}

DESEJO DE MATAR 3

(Death Wish 3, 1985)


"Uma das bobagens mais divertidas dos anos 80 (é o Comando Para Matar do Charles Bronson), não faço idéia como seria revê-lo hoje em dia." (Vlademir Lazo)

"Desejo de Matar 2 foi a primeira produção da Cannon Films com um grande astro (Charles Bronson) e também um sucesso de bilheteria, enchendo os produtores israelenses Golan e Globus de dinheiro e reputação para tocar outros projetos. Ao mesmo tempo em que produziam filmes de ação baratos estrelados por Chuck Norris, Lou Ferrigno, Robert Ginty e Michael Dudikoff, os dois primos tentavam ganhar Oscars contratando diretores consagrados, como Jean-Luc Godard, John Frankenheimer e John Huston, para tocar projetos mais artísticos. Esses sempre naufragaram nas bilheterias, enquanto os filmes de ação continuavam dando retorno financeiro. E como em time que está ganhando não se mexe, a Cannon decidiu iniciar uma duradoura parceria com Charles Bronson, que inevitavelmente levou a um ''Desejo De Matar 3''. Até hoje, toda vez que eu revejo Desejo De Matar 3, fico imaginando a cara dos espectadores que tinham curtido as Partes 1 e 2 ao sair de uma sessão do terceiro filme na época do seu lançamento, lá em 1985. Porque se o original de 1974 era uma história policial séria sobre um homem que liberta sua fúria exterminando marginais na rua, e a segunda parte, de 1982, mostrava o mesmo homem comum vingando-se dos responsáveis pela morte da filha, ''Desjeso De Matar 3'' não tem a menor vergonha na cara e parte direto para a avacalhação: o vigilante Paul Kersey agora é representado como uma máquina de matar incansável e indestrutível estilo O Exterminador do Futuro, que sai às ruas baleando, metralhando e explodindo delinquentes como se estivesse jogando videogame! Algumas fontes alegam que a terceira aventura cinematográfica de Kersey foi diretamente influenciada por dois exagerados e barulhentos filmes de ação lançados no mesmo ano de 1985: Rambo 2 - A Missão, onde Sylvester Stallone massacra 70 inimigos viecongues e russos, e Comando para Matar, onde Arnold Schwarzenegger bateu todos os recordes de violência cinematográfica e exterminou 96 pessoas (!!!) on-screen. Mas a verdade é que ''Desejo De Matar 3'' começou a ser filmado em abril de 1985, antes do lançamento destes dois filmes, e portanto já trazia uma avantajada contagem de cadáveres sem ser influenciado por Stallone e Schwarzenegger, provavelmente motivada por outras produções baratas da Cannon lançadas no ano anterior, como Braddock - O Super Comando (1984), em que Chuck Norris mata 63 soldados vietcongues, ou A Vingança do Ninja (1983) e seus mais de 50 cadáveres. Consta, também, que a Cannon Films queria aproveitar a publicidade gratuita gerada por um vigilante da vida real: em dezembro de 1984, como Charles Bronson tinha feito dez anos antes em Desejo de Matar, Bernhard Hugo Goetz atirou em quatro supostos assaltantes dentro de um trem do metrô de Nova York. Goetz foi chamado de Subway Vigilante pela mídia, e a imprensa e a população da cidade ficaram divididas entre glorificar ou condenar sua ação, já que o homem foi imortalizado como um exemplo de reação extrema do cidadão diante da violência urbana de Nova York na época. O vigilante da vida real entregou-se à polícia e foi a julgamento, ficou preso durante oito meses e até hoje é figura popular nos Estados Unidos." (Felipe M. Guerra)

Cannon Group Golan-Globus Productions

Diretor: Michael Winner

8.579 users / 495 face

Check-Ins 407

Date 11/12/2013 Poster - #####

27. Two Days, One Night (2014)

PG-13 | 95 min | Drama

89 Metascore

Liège, Belgium. Sandra is a factory worker who discovers that her workmates have opted for a EUR1,000 bonus in exchange for her dismissal. She has only a weekend to convince her colleagues to give up their bonuses in order to keep her job.

Directors: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne | Stars: Marion Cotillard, Fabrizio Rongione, Catherine Salée, Baptiste Sornin

Votes: 50,529 | Gross: $1.44M

{Video/@@@@@} M/92

DOIS DIAS, UMA NOITE

(Deux Jours, Une Nuit, 2014)


"Curioso vê-lo logo após A Lenda da Flauta Mágica de Demy, filmes historicamente distantes com uma Europa engolida por crises avassaladoras (de saúde pública ou econômicas). Dois filmes em que os poucos sorrisos são embalados pelo contato com a música." (Daniel Dalpizzolo)

"Existem filmes que servem como veículos para grande ator ou uma grande atriz. Podem ser bons ou não, mas o nome no cartaz já tem o poder de atrair o público. Marion Cotillard já chegou a essa condição na França. Depois da consagração nacinebiografia da cantora e símbolo nacional Edith Piaf, que deu a ela um Oscar, e incursões em Hollywood, virou uma estrela inconstetável. A ponto de conseguir transformar um filme pequeno, de produção modesta, em repercusão mundial e passaporte para sua segunda indicação ao Oscar. "Dois dias, Uma noite" fala direto a muita gente numa época de crise mundial. Marion interpreta uma mulher que deve ser escolhida em votação por seus colegas para ser demetida da empresa onde trabalha. Desesperada, ela passa um fim de semana tentando convencer, um a um, a não votarem nela. Filme denso, bom." (Thales de Menezes)

"Em "Dois Dias, Uma Noite", Sandra (Marion Cotillard) perde o emprego depois de um período de licença por doença. No local onde trabalha, seus colegas optam por cortar seu posto em troca de um bônus de mil euros (R$ 3.000). Resta uma oportunidade de reaver o emprego: conseguir, em um fim de semana, convencer a maioria de seus colegas (são 16) a renunciar ao bônus e aceitá-la de volta. Em princípio, é o desemprego de Sandra o centro do novo filme dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, tanto mais que ela e o marido precisam do dinheiro para pagar as prestações da casa. Ao longo da extenuante maratona a que se dedica Sandra - explicando aos colegas seu problema e recebendo todo tipo de resposta, da solidariedade completa à rejeição integral - é lícito pensar em uma perda de foco dos Dardenne. Cada vez ela explicará toda a questão: que o contramestre fez pressão e ameaças etc. O problema é que cada um dos demais terá motivações pessoais quase sempre justas para estar ao seu lado ou não renunciar ao bônus. Nesse impasse, parece secundária a questão do desemprego na Europa atual ou mesmo a problemática indústria europeia, forçada a concorrer com países que oferecem preços muito inferiores. O que permanece na surdina, mas é afinal aquilo de que o filme melhor dá conta, é a decorrência do desemprego e da situação de concorrência: o crescente individualismo, que corre paralelo à degeneração das relações (claro, existem manifestações de solidariedade intensas, mas elas correspondem àquilo que se criou ao longo do século passado, antes que o neoliberalismo se impusesse). Acrescente-se a isso o comportamento do marido de Sandra: Manu (Fabrizio Rongione) não sofre por forçar a mulher a fazer um papel que ela julga humilhante. Há um inequívoco sadismo em seu modo de ser, apesar da simpatia que afeta: talvez seja outra maneira de nos lembrar de como as relações se degradam na crise do capitalismo. Mais do que tudo, porém, Dois Dias nos lembra que o cinema dos Dardenne parece sofrer hoje de certa fadiga: já soube ser mais agudo e memorável. Aqui, o essencial é jogado nas costas e, sobretudo, no rosto de Cotillard. Menos mal, ela segura o rojão." (* Inácio Araujo *)

*** ''Dois dias, Uma Noite" é uma estranha fábula contemporânea. Ali, uma operária é escolhida pelos seus próprios colegas para ser demitida. Estamos em plenacrise, como se sabe, e impõe-se economia. Mas do que em crise: em vez de ser o patão a demitir são ospróprios colegas, como se tudo se esforçasse para esgarçar as relações de trabalho até mais não poder. O título do filme dos irmãos Dardenne diz respeito ao tempo que a moça tem para convencer os colegas de que pode existir outra solução além daquela. O mais interessante do filme talvez seja, justamente, o fato de que agora aquela decisão impessoal torna-se um difícil cara a cara.'' (** Inácio Araujo **)

*** ''Em"Dois Dias, Uma Noite", os funcionários de uma fabrica optam por receber um bônus por produtividade, em troca de perder o emprego. Sandra, é demitida, tem um fim de semana para coaptar a maioria dos colegas, de modo que a decisão seja revertida. O aspecto mais interessante disso tudo é que o patrão não tem nada a ver com isso. Fora dos clichês habituais. Os dardenne levam o drama com a frieza habitual. Interessa-lhes mais demonstrar a deterioração de relações pessoais na crise econômica europeia atual do que se ater ao drama da moça. Não é apaixonante, é didático.'' (*** Inácio Araujo ***)

''Os filmes dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne sempre tiveram um certo caráter religioso. Não se trata, evidentemente, de uma abordagem direta da religião, mas de um modo de ver o mundo que inclui, no arco dramático do filme, a busca pela graça e pela compaixão - uma influência evidente do cinema feito pelo italiano Roberto Rossellini e de certos filmes neorrealistas. Nunca esse caráter religioso esteve tão explícito quanto em "Dois Dias, Uma Noite", em que a protagonista Sandra, vivida por Marion Cotillard, precisa fazer uma peregrinação entre seus colegas de trabalho para tentar manter seu emprego. A permanência de Sandra no trabalho será decidida em uma votação, na qual seus colegas são submetidos a uma espécie de "escolha de Sofia" imposta pelo próprio sistema: se eles quiserem manter um pequeno, mas significativo, bônus salarial, precisam votar pela demissão da colega, que estava afastada do serviço. Com a ajuda do marido, Manu (Fabrizio Rigone), Sandra bate de porta em porta, suplicando por votos a seu favor. Em cada parada, seu pedido coloca à prova o espírito cristão de seus colegas. As reações variam, das mais violentas às mais solidárias. "Dois Dias, Uma Noite" demonstra sinais de esgotamento de uma fórmula adotada pelos irmãos Dardenne, ao tratar agora a personagem com condescendência e excesso de vitimização. Ainda assim, eles não brincam em serviço, alcançando alguns momentos de fato comoventes ao longo da peregrinação de Sandra. Em todos eles, a graça se deve mais aos atores que fazem seus colegas de trabalho (pequenas participações, portanto) e menos a Marion Cotillard, que apesar de aparecer despida de qualquer glamour e de se esforçar bastante para abraçar o papel, acaba carregando demais no tom choroso de sua personagem." (Pedro Butcher)

2014 Palma de Cannes

Top Bélgica #9

Date 19/11/2014 Poster - ##########

28. Two Days in New York (2012)

R | 96 min | Comedy, Drama, Romance

61 Metascore

Manhattan couple Marion and Mingus, who each have children from prior relationships, find their comfortable family dynamic jostled by a visit from Marion's relatives.

Directors: Julie Delpy, Marie Pillet | Stars: Julie Delpy, Chris Rock, Albert Delpy, Alexia Landeau

Votes: 15,013 | Gross: $0.63M

[Mov 06 IMDB 6,1/10 {Video/@@@} M/62

DOIS DIAS EM NOVA YORK

(2 Days in New York, 2012)


A eficiência do humor baseado nos diálogos.

''Tendo a palavra como força motriz dos acontecimentos, Julie Delpy concebeu e dirigiu ''2 Dias em Nova York'', continuação indireta do simpático e não menos verborrágico 2 Dias em Paris. A premissa deste novo filme é bastante semelhante à do anterior: a grande diferença está no ponto de vista adotado pela diretora, também autora do roteiro. Se, no primeiro filme, Marion (Delpy) passava rapidamente pela Cidade Luz com o namorado estadunidense Jack (Adam Goldberg), que ela apresentou à família e não sabia falar nada além de Bonjour e Merci em francês, nesta continuação o referencial se inverte: é a família de Marion que se desloca e vai visitá-la em seu apartamento nova-iorquino, que ela divide com o namorado Mingus (Chris Rock). As divergências de hábitos, olhares e atitudes entre as culturas americana e europeia se impõem como a fonte de uma série de incidentes, quase sempre desenvolvidos em tom jocoso pelo roteiro também a cargo de Delpy. O fato de Mingus ter apenas um conhecimento mínimo de francês é outra deixa bastante utilizada pela diretora para espalhar piadas ao longo da narrativa. Afinal, a barreira linguística é sempre um prato cheio para enganos de toda sorte, que provocam risadas em quem os vê de fora ou muito depois por quem os viveu. E as confusões mais engraçadas acontecem justamente quando Marion está longe do namorado e não pode servir de ponte tradutora, como na sequência em que ele acompanha Jeannot (Albert Delpy) – pai da personagem de Delpy e também da atriz - em uma sessão de massagem tailandesa e tenta ajudá-lo a escolher um massagista, assim como nos minutos que eles passam juntos na sauna, quando um não faz a menor ideia do que o outro está falando em sua respectiva língua materna. Essas passagens abrem espaço até mesmo para trocadilhos acidentais de cunho sexual, típicos causadores de risadas na plateia. E, como se torna esperado nos primeiros minutos do longa, a presença da família de Marion – pai, irmã e cunhado – vai desestabilizando a rotina e o relacionamento do casal, por toda a desordem que eles instauram no apartamento que, até então, era aconchegante e suficiente para os dois e os filhos que trouxeram de namoros anteriores. Nessa fórmula simples e despretensiosa, 2 Dias em Nova York demonstra a eficiência do humor calcado na palavra, e evoca o modo alleniano de filmar e concatenar piadas, às vezes sutis, como nas suas típicas comédias ambientadas na cidade. A química entre Delpy e Rock é outro ponto positivo do filme. Extremamente carismático, ele tem momentos em que brilha sozinho e reafirma o seu timing cômico para sustentar sequências inteiras de riso frouxo. Além da já comentada passagem da sauna, há o momento em que ele descobre porque a cunhada sempre sorri maliciosamente ao pronunciar seu nome. Sua reação é simplesmente hilária, sobretudo pelo fato de ela ser uma psicanalista infantil. Também a exemplo do que havia feito em 2 Dias em Paris, Delpy oferece alguns insights de reflexão sobre as relações familiares e amorosas. Longe de apresentar qualquer novidade nesse sentido, ela reafirma a importância de manter perto as pessoas de quem se gosta e não deixar passar as ocasiões em que se deve explicitar para o parceiro o quanto o ama e o considera importante. Seus comentários vêm sob a forma de narração em off, servindo de parênteses mais sérios em meio às doses generosas de comicidade. Já seu apego ao discurso não vem apenas de sua experiência antecedente como realizadora, mas também de sua porção roteirista, mais antiga e maravilhosamente exercitada na escrita de alguns diálogos travados por ela mesma e Ethan Hawke nos memoráveis Antes do Amanhecer e Antes do Pôr do Sol. Por sinal, o passar dos anos só tem acentuado sua beleza loura. A câmera sempre inquieta é outro aliado de que Delpy se utiliza bem. Potencializando as sequências de matriz cômica, ela oferece ângulos deslumbrantes de uma Nova York sempre frenética e cosmopolita, que acolhe as mais diferentes maneiras de se ler o mundo. O contraste étnico entre os protagonistas também vale algumas piadas interessantes, livres de qualquer melindre exigido pela correção política – o tema em si ainda é uma questão muito delicada nos EUA e, portanto, ainda se pode chamar corajosa a opção da cineasta por abordá-lo sem meias palavras. Por outro lado, em seus minutos finais, 2 Dias em Nova York salienta sua escolha de uma estrutura narrativa convencional, o que não se revela um demérito, mas uma opção legítima e ainda bastante eficiente." (Patrick Corrêa)

Mais conhecida por seu papel nos romances Antes do amanhecer e Antes do pôr-do-sol, que acabam de ganhar a continuação Antes da meia-noite, a atriz e diretora francesa Julie Delpy mostra seu lado mais cômico e menos romântico em "2 dias em Nova York". Em seu quinto trabalho na direção, ela retoma a personagem de seu filme "2 Dias em Paris", Marion, em uma situação nova. Agora, morando em Nova York, esperando a visita do pai e da irmã. A situação está bem diferente e não apenas porque Marion mora em outro continente. Fotógrafa, sua grande exposição acontecerá dentro de dois dias. Vivendo com um radialista, Mingus (Chris Rock), ela cuida de seu filho do relacionamento anterior e também da filha do namorado. Mas a personagem continua a mesma neurótica, atrapalhada e insegura. Woody Allen - como não se lembrar dele em Nova York? - ainda é inspiração, mas Julie tem munição suficiente para sair da sombra de qualquer mestre, especialmente com seu timing para comédia verbal. Choques culturais, novamente, dão a tônica ao filme. A chegada do pai, Jeannot (Albert Delpy, pai da diretora na vida real), da irmã, Rose (Alexia Landeau), e do cunhado e ex-namorado de Marion, Manu (Alexandre Nahon), serve como pretexto para escancarar ideias estereotipadas que os norte-americanos fazem dos franceses e vice-versa. Desconfiando da comida dos Estados Unidos, Jeannot tenta trazer, debaixo da roupa, linguiças e queijos franceses e é flagrado no aeroporto. Além disso, não demonstra muita simpatia pelo banho. Já Rose anda nua pela casa e forma com seu namorado um casal indiscreto em todos os sentidos. O próprio Manu parece ter ido aos Estados Unidos apenas para comprar maconha e fazer comentários racistas, sem perceber. O humor de Julie surge exatamente da falta de pudor em mexer com estereótipos das duas nações. A personagem dela, por exemplo, é uma artista plástica conceitual, e uma de suas últimas obras é vender a sua alma, literalmente, com contrato e recibo, dando espaço a um comentário cínico sobre a arte contemporânea. O resultado é uma das melhores cenas e participações especiais do filme, do ator Vincent Gallo, como o comprador da alma. Já Mingus tem em Barack Obama o seu mentor, mantendo em seu escritório uma figura de papelão em tamanho natural do presidente dos Estados Unidos, com quem ele costuma desabafar." (Alysson Oliveira)

''Em dado momento desta comédia dirigida, roteirizada e protagonizada pela atriz francesa Julie Delpy (Antes do Amanhecer), um crítico de arte comenta ao avaliar uma exposição de fotos: Eu gosto do tema mais do que da execução. É provável que muitos espectadores sintam o mesmo ao assistir ''2 Dias em Nova York''. O filme está mais para um piloto de sitcom do que para uma comédia sobre choque de costumes. Talvez se Delpy não acumulasse tantas funções – ela também é produtora – o longa tivesse encontrado um rumo. O filme é um derivado de ''2 Dias em Paris'', que a atriz dirigiu em 2007. Marion (Delpy) agora mora em Nova York, é mãe e trocou Jack (Adam Goldberg) pelo radialista Mingus (Chris Rock, estranhamente contido aqui). A vida da família vira do avesso com a visita do excêntrico pai de Marion (Albert, pai de Delpy na vida real), de sua atirada irmã Rose (Alexia Landeau) e de seu namorado maconheiro Manu (Alexandre Nahon). Não se preocupe se não viu o primeiro filme, bem mais palatável do que este por sinal. A proposta aqui é acompanharmos a supostamente divertida situação de tensão estabelecidada assim que os familiares franceses de Marion pousam em solo americano e são detidos na alfândega pelo contrabando de algo insólito. E seguem tentativas tacanhas de se extrair humor desta e outras situações. Tudo pouco ou nada engraçado. Paralelamente, Marion se prepara para uma mostra de suas fotos em que o ponto alto será o leilão conceitual de sua alma. O estresse com a família deixa a artista atordoada, o que a faz tomar atitudes idiotas e contar mentiras sem cabimento. A situação tira seu marido do sério e este chora suas mágoas para um display de Barack Obama que tem no escritório. Difícil dizer o que é menos risível nisso tudo. O filme é carregado de artificialismo fruto de situações improváveis, piadas insossas e personagens caricatos. Delpy parece extremamente insegura no comando do longa que, em momento algum, convence o espectador da realidade apresentada. Se não bastasse, a parte final nos brinda com constrangedora participação do ator Vincent Gallo (Tetro) como uma espécie de Mefistófeles. Aqui o que era apenas sem graça torna-se ridículo." (Roberto Guerra)

"As confusões da vida em família já alimentaram muitos filmes ao longo dos anos. Seja em comédia ou em drama, o tema não deixa de ser atual por sua humanidade: todos reconhecem parentes em alguns dos personagens. Seja um tio irreverente ou um primo cheio de manias, na maior parte das vezes o tema cativa por ser universal. E é justamente nesse embalo dramático em que se apoia a nova comédia de Julie Delpy, ''2 Dias em Nova York''. No mesmo clima de seu antecessor (2 Dias em Paris, da mesma diretora) o filme traz o choque cultural e de costumes como principal ferramenta cômica. Vê-se na tela a história de Mingus, um típico cara americano que casa com uma francesa, Marion, e está animado para a chegada de sua família para uma breve temporada de visita. Toda essa animação, no entanto, se esvai quando ele percebe que seus parentes são extravagantes o suficiente para testar sua paciência. Nessa visita ele tentará contornar as loucuras dos familiares de sua mulher para não enlouquecer ele próprio. O primeiro gostinho diferente que o filme proporciona é a junção equilibrada entre o tempo de comédia típico Europeu e a atmosfera descontraída das sitcom americanas, criando um primeiro contraste inesperado, e muito positivo. O lado cômico do filme também surge desse contraste França/EUA, ao colocar para conviver diferentes costumes, línguas e personalidades geniosas. A graça do filme vem justamente da busca desse casal por vencer o grande abalo na rotina e se adaptar da maneira que é possível. Em atuações excelentes, os atores se orquestram muito bem em cenas familiares bastante típicas e, justamente por isso, bastante confusas, onde um simples jantar é pretexto para implicância e alfinetadas: nada mais é necessário para se instaurar o caos. Nesse âmbito, a direção de Julie Delpy consegue encontrar um lugar muito saudável entre a bagunça necessária para retratar essa realidade e a clareza necessária para que o público entenda o que se passa. Aliás, equilíbrio é algo que a diretora parece saber mesmo buscar, uma vez que é dela também o papel da protagonista Marion. Como atriz e diretora, ela consegue cumprir bem as duas funções. ''2 Dias em Nova York'' é uma comédia despretensiosamente gostosa, seja pelo trabalho da atriz, seja pelo da diretora." (Bernardo Schlegel)

Top Bélgica #36

Polaris Films Tempête Sous un Crâne Senator Film Produktion Saga Film (I) Alvy Productions In Production TDY Filmproduktion BNP Paribas Fortis Film Fund Protozoa Pictures Senator Film

Diretor: Julie Delpy

10.270 users / 3.237 face

Check-Ins 408

Date 12/12/2013 Poster - ###

29. It Should Happen to You (1954)

Approved | 86 min | Comedy, Drama, Romance

When a young woman with dreams of fame rents a billboard to advertise herself, her life changes overnight.

Director: George Cukor | Stars: Judy Holliday, Jack Lemmon, Peter Lawford, Michael O'Shea

Votes: 4,524 | Gross: $1.40M

[Mov 04 IMDB 7,1/10 {Video}

DEMÔNIO DE MULHER

(It Should Happen to You, 1954)


''Em Nova York, Gladys Glover (Judy Holliday) acaba de perder seu emprego como modelo. Ela conhece Pete Sheppard (Jack Lemmon), um cineasta que fazia no Central Park tomadas para um documentário. Para ele foi amor à primeira vista, mas Gladys tem outras coisas na cabeça, como ter seu nome conhecido. Esta chance surge quando ela vê um espaço ideal para um grande outdoor e, usando suas economias, aluga o espaço por três meses, só para ver seu nome escrito ali. Porém Evan Adams III (Peter Lawford), um empresário, queria aquele espaço. Após negociar arduamente com Gladys, ela cede o espaço em troca de seis outdoors em pontos estratégicos da cidade. Enquanto Adams tenta seduzi-la, o nome Gladys Glover vai ficando conhecido por toda a cidade e isto logo acaba atraindo a atenção da mídia." (Filmow)

27*1955 Oscar

Columbia Pictures Corporation

Diretor: George Cukor

1.934 users / 176 face

Check-Ins 410

Date 12/12/2013 Poster - #####

30. Headwinds (2011)

91 min | Drama, Mystery

Sarah tells Paul that she wants out of their marriage; the next day she disappears. A year later and Paul along with their children return to his childhood town to start anew after the loss of his wife and their mother.

Director: Jalil Lespert | Stars: Benoît Magimel, Isabelle Carré, Antoine Duléry, Ramzy Bedia

Votes: 1,587

{Video/@@@@}

DES VENTS CONTRAIRES

(Des Vents Contraires, 2011)


''A vida de Paul muda completamente quando de repente sua esposa Sarah desaparece. Após um ano de buscas, Paul é um homem quebrado, consumido pela dúvida e culpa. Sua última chance pode ser de começar do zero: mudando com seus dois filhos para a cidade onde ele cresceu. Mas encontros inesperados irão dar a este novo começo uma volta que ele não imaginava." (Filmow)

{Para o homem da mudança, que me ensinou que buracos negros só existem dentro de nós} (ESKS)

Date 24/11/2014 Poster -

31. Extraordinary Measures (2010)

PG | 106 min | Drama

45 Metascore

A drama centered on the efforts of John and Aileen Crowley to find a researcher who might have a cure for their two children's rare genetic disorder.

Director: Tom Vaughan | Stars: Brendan Fraser, Keri Russell, Harrison Ford, Meredith Droeger

Votes: 17,804 | Gross: $11.85M

[Mov 05 IMDB 6,4/10 {Video/@@@} M/45

DECISÕES EXTREMAS

(Extraordinary Measures, 2010)


"O cúmulo do didatismo." (Alexandre Koball)

"Decisões Extremas é baseado em fatos verídicos e inspirado no livro The Cure de Geeta Anand, que para quem não sabe é a jornalista vencedora do prêmio Pullitzer (premiação para algum trabalho de nível de excelência no âmbito do jornalismo). A produção é mais uma daquelas que não passaram pelas salas de cinema e indo diretamente para Dvd. Um dos motivos mais evidentes para esta decisão, por parte das distribuidoras, é a baixa procura por filmes de superação deste tipo e os clichês que os envolvem. A trama envolve a família Crowley, que é composta por três filhos e que dois deles possuem uma doença rara que afeta os músculos e o sistema nervoso, chamada de Pompe. De todas as formas eles tentam levar uma vida normal e feliz, mas o tempo é curto para aqueles que possuem esse problema e uma pesquisa feita por John Crowley, patriarca da casa, aponta que com nove anos as crianças começam a falecer. Nesta situação o tempo é realmente muito curto, pois o começo da produção é marcado pela comemoração do oitavo aniversário de sua filha Megan. Desesperado por uma solução ou um possível milagre, John toma conhecimento de uma pesquisa avançada e vai correr ao encontro do responsável por elas. Após um primeiro contato, foi necessário largar o emprego e correr para buscar fundos que financiem a continuidade da pesquisa e ainda aprender a conviver com o Dr. Robert Stonehill, que é brilhante, mas nem um pouco fácil de lidar. Esse é o tipo do filme que achamos que vamos ficar com aquelas lágrimas nos olhos durante a grande maioria da produção. De certa forma até ficamos emotivos no começo e no final, mas passamos muito tempo dentro de um universo frio e calculista, que almeja lucro e é meramente administrativo. Os grandes conflitos e até mesmo as “Decisões Extremas” são tomadas no âmbito empresarial e até esquecemos, por um tempinho, que estamos falando de uma doença que envolve milhões de crianças e que elas precisam de apoio para produção de um medicamento. As atuações não estão ruins, mas também não estão extraordinárias. Harrison Ford (Cowboys & Aliens, Uma Manhã Gloriosa) está fazendo mais uma vez o mesmo papel e por isso está em seu ambiente de tranquilidade. Muito fácil para ele interpretar este personagem. Brendan Fraser está completamente fora do que estamos acostumados a ver e até que se sai bem, Sua grande dificuldade é fazer valer o que ele está tentando transparecer, já que ficou marcado na história do cinema com personagens bobões do estilo de George – O Rei da Floresta. Em suma, até que estamos falando de um filme acima da média, porém muito abaixo de outros do gênero, que encantam mais, são mais emotivos e mais completos. Um exemplo clássico seria o Óleo de Lourenço e um exemplo mais recente é o filme Uma Prova de Amor. A visão administrativa do filme serve, porém, como um fator motivador para aqueles que desejam que um dia algo mude para uma determinada situação. É possível perceber que existe alguma forma de arregaçar as mangas e para de esperar apenas um milagre. Não deixa de ser um bom entretenimento para a família." (Tiago Brito)

''Seguindo dica, assisti ''Decisões Extremas'': baseado no livro A Cura, de Geeta Anand, que se baseou em fatos reais, o filme mostra a história comovente do casal Crowley, John Crowley (Brendan Fraser) e Aileen Crowley (Keri Russell), que tentam levar uma vida normal, apesar de dois de seus filhos terem a doença de Pompe, uma doença rara que atinge os músculos e o sistema nervoso. O diagnóstico da doença indica que a expectativa de vida é de aproximadamente 9 anos. A cada dia, John sofre cada vez mais tentando buscar uma cura para eles. Ele tenta entrar em contato com o pesquisador Robert Stonehill (Harrison Ford), que é um dos mais conceituados no assunto, mas não tem resposta para suas ligações. Depois de uma crise de sua filha Megan, John decide ir atrás de Stonehill. Lá ele o conhece e percebe que ele é um tanto grosso com as pessoas. No entanto, ele conta sua história e o convence de que ele faz parte de uma associação que arrecadará fundos para que ele possa fazer suas pesquisas e desenvolver o medicamento. Como John trabalha na indústria farmacêutica, ele busca patrocínio para a pesquisa com investidores, mas o temperamento de Stonehill pode colocar tudo a perder. Entre muitos desafios, eles tentarão criar o novo medicamento que pode salvar não só a vida de seus filhos, mas a de outras crianças também. ''Decisões Extremas'' nos mostra quão cruel pode ser cruel o capitalismo: o remédio que pode salvar vidas é lucrativo? Trará de volta o investimento e ainda assim trará lucros? Até que ponto os investidores se preocupam com o motivo pelo qual colocam seu dinheiro em uma pesquisa? A vontade de tentar amenizar o sofrimento de muitos ou gerar lucros para poucos? E do ponto de vista de Jonh, até que ponto ele consegue separar o homem de negócios lançando um novo produto e o pai desesperado cada dia mais pela piora do estado de saúde de seus filhos? Até que ponto o conflito de interesses pode seguir? Antes de tudo, o filme é um tapa na cara de quem pensa que as coisas são fáceis ou sem interesse. E aqui o interesse é de todos, embora diferentes. Como li no jornal, há uma frase do falecido Otavio Frias (dono da Folha) que dizia: Não existe almoço grátis. E não existe mesmo. John terá que em muitos momentos separar a angústia de um pai e mostrar que é um negociador frio. Nem que para isto ele tenha que fazer ações que irão contra as idéias de Stonehill. Vale aqui o registro da atuação de Brendar Fraser, que sempre se fez notar por papéis idiotas, consegue, se não, sua melhor atuação. Tem crédito para tentar fazer outros que fujam do segmento Múmia e afins. Harisson Ford também consegue mostrar o lado frio e só da ciência, como uma pessoa que tem dificuldade em lidar com as demais. O filme saiu direto em DVD e por isto corra atrás para assistir este drama que mostra que embora pareça impossível, sempre podemos correr atrás de novos objetivos, e que enquanto há esperança, vale a pena lutar. Este filme deveria ser visto por todas da cadeia farmacêutica (médicos, indústria, acionistas, desenvolvimento, produção). Com certeza há muitos outros enfermos de outras doenças que gostariam de ter maior sorte, com o desenvolvimento de novas drogas que possa lhe causar bem estar e melhoria, sem somente isto ser decidido pelo sistema capitalista do lucro. Mas infelizmente, o mundo roda desta forma! Que possamos crescer um pouco mais da escala evolucionária e usarmos nossas capacidade em busca de soluções que ajudem mais as pessoas, sem ter como resposta pretendida o interesse." (TotalCine)

CBS Films Double Feature Films

Diretor: Tom Vaughan

13.052 users / 2.838 face

Soundtrack Rock = Deep Purple + Eric Clapton + James Gang + The Band + The Grateful Dead

Check-Ins 428

Date 25/12/2013 Poster - ##

32. Since You Went Away (1944)

Approved | 177 min | Drama, Romance, War

With her husband away to fight in World War II, a housewife must care for their two daughters alone.

Directors: John Cromwell, Edward F. Cline, Tay Garnett, David O. Selznick | Stars: Claudette Colbert, Jennifer Jones, Joseph Cotten, Shirley Temple

Votes: 5,096

[Mov 06 IMDB 7,6/10 {Video}

DESDE QUE PARTISTE

(Since You Went Away, 1944)


''Segunda Guerra Mundial. Depois que o marido parte para o front, Anne Hilton decide alugar um cômodo de sua casa para o coronel Smollett. Além de todas as privações típicas de um período de guerra, ela tem de enfrentar as inconveniências de um caso de amor entre sua filha Jane e o neto do coronel." (Filmow)

17*1945 Oscar

Vanguard Films (III) Selznick International Pictures

Diretor: John Cromwell

2.818 users / 298 face

Check-Ins 430

Date 26/12/2013 Poster - #

33. Sweet November (2001)

PG-13 | 119 min | Drama, Romance

27 Metascore

A workaholic executive, and an unconventional woman agree to a personal relationship for a short period. In this short period she changes his life.

Director: Pat O'Connor | Stars: Keanu Reeves, Charlize Theron, Jason Isaacs, Greg Germann

Votes: 94,559 | Gross: $25.29M

[Mov 07 IMDB 6,5/10 {Video/@@} M/27

DOCE NOVEMBRO

(Sweet November, 2001)


Refilmagem de um clássico que mantém a bela mensagem de amor, mesmo que fuja dos padrões rentáveis normais de um romance.

''Por que um mês? Porque é pouco tempo para se apaixonar, mas o suficiente para acontecer algo legal. Existem alguns filmes de romance que são inverossímeis, moralistas e tem uma história linear. Aliás, todo ano surgem um monte de filmes assim. Só que alguns deles conseguem se destacar por uma perfeita química entre o casal principal e o clima mágico que qualquer um gostaria viver na vida real. E é exatamente nesse escalão em que ''Doce Novembro'' se encaixa. É um filme com pequenos detalhes que o tornam tão especial, mesmo não tendo nada demais logo de cara. Gostoso de acompanhar, faz rir, faz chorar e faz pensar - mesmo com o moralismo claramente forçado - logo depois que a projeção termina. É um dos melhores romances da atualidade, mesmo com todos os defeitos que o acompanham. A história pode ser um pouco forçada, mas revive um pouco da inocência da época em que o filme original (Por Toda a Minha Vida, Sweet November, de 1968) foi produzido. Nelson Moss (Keanu Reeves) é um publicitário que não faz mais nada na vida além de trabalhar arduamente em uma empresa junto com seu fiel companheiro de trabalho Vince (Greg Germann), chato e que se acha o tal. Nas vésperas de uma grande apresentação, ele deixa sua namorada Angélica (Lauren Graham, em uma ponta apenas no filme) e tudo o que for relacionado a vida pessoal em segundo plano, menos a renovação da licença de motorista, obrigatório para qualquer cidadão - mesmo os mais ocupados e importantes, como Nelson. Durante essa prova Nelson conhece da forma mais inusitada Sara Deever (Charlize Theron), bela loira de ações meio loucas. Ela o convida para morar um mês com ele, obviamente Novembro, e usa como argumento sua vontade de ajudá-lo a sentir a vida, e não somente o trabalho. A relação entre os dois é o ponto que o filme trabalha, pois Sara é exatamente tudo o que Nelson havia esquecido em sua vida. O filme a usa como artefato para trabalhar todos os sentimentos que assombram muitas pessoas nos dias de hoje (o que mantém o filme original atual), o amor, uma razão para viver, essas coisas piegas, mas que continuam funcionando. E são esses sentimentos que cativam o público de modo a pensar em suas próprias vidas, o que é certo ou errado, o que está faltando ou não - o ponto moralista que pode desagradar alguns que citei no início. Até por ser meio inocente, como falei anteriormente, e por em xeque algumas ações dos personagens do dia de hoje (o famoso pensamento ‘dinheiro não é tudo’). Só que esse relacionamento é todo marcado por belíssimas situações, como quando Nelson vê Sara passear com os cachorros pela praia, livre, feliz, com as pequenas coisas da vida. Ou então quando ele pára Sara no meio da rua, de surpresa, e começa a entregar as rosas, com a mais perfeita trilha sonora para a cena ao fundo. São de cenas como essas que um romance se faz de verdade, e Doce Novembro é muito feliz nesse sentido. As situações não são bobas como muitas comédias românticas, mas mesmo assim encantam com sua simplicidade. Alguns acusam ser uma cópia descarada de Outono em Nova York, porém... Esqueceram que eu falei que ''Doce Novembro'' é um remake de um filme de 1968? Ou seja, se alguém copiou alguém por aqui, foi Joan Chen e seu Outono. Lógico que Doce Novembro também não é um poço de originalidade, pois tudo o que tem mais de clichê em termos de personificação está aqui. O personagem de Reeves é chato no início e serve como um espelho para o que o público deve sentir dele com o desenvolvimento do filme, aos poucos vai ficando amável e se redescobrindo. Pena que ele não seja um bom ator, pouco expressivo, de voz muito grossa e pouco convincente (incomoda menos do que o tradicional neste filme, pelo menos). Talvez ele seja perfeito para o início do filme, mas na parte final já, por exemplo, sentimos mais o que está rolando pela personagem de Theron, que recentemente esteve em Uma Saída de Mestre. Ela encarna muito bem a doida impulsiva que quer dominar e curar Nelson por um mês. Óbvio que a química entre o casal foi reaproveitada de O Advogado do Diabo, primeiro filme em que o casal contracenou junto. Linda, com o charme necessário para a ‘riponga’, como Nelson mesmo a chama em certo momento. Mesmo tendo destacado vários defeitos do filme, é possível perceber que o diretor (Pat O’Connor, de A Dança das Paixões e Adeus à Inocência) utilizou todos esses defeitos a seu favor, pois o filme funciona, e muito bem. Nada é exagerado e as três doses - romance, comédia e drama - estão muito bem distribuídas, de modo que nunca fica cansativo. Os personagens secundários também, Vince, Abner e, principalmente, Edgar Price (em ótima ponta de Frank Langella) servem como confirmadores de toda a mudança psicológica que Sara está fazendo em Nelson no decorrer da história. O roteiro balanceia bem o uso dos personagens e dá ótimas participações para cada um, além de frases bem marcantes para alguns dos principais (como a que eu abri esta matéria, pena que na tradução do DVD tenha saído algo tão menor, uma frase tão menos impactante...). Lógico que um bom romance precisa de uma boa trilha sonora para funcionar. O tema de Doce Novembro não foge à regra e, mesmo somente com o trailer, você já fica encantado com o clima que a música te apresenta, em uma linda interpretação de Enya para ‘Only Time’. O bom é que Pat também não a usou de maneira exaustiva, como acontece com o belo tema no clássico Dr. Jivago, por exemplo, que de cinco em cinco minutos é tocado, desgastando-o. Ele entra exatamente nos momentos certos, colocando a emoção pra trabalhar. Na trilha existem outras excelentes músicas, é um dos CD´s de trilha que valem realmente a pena se ter na estante da sala ou na prateleira do quarto. Uma das coisas que eu mais gostei é que o filme não nega a realidade que ele contextualizou durante sua duração para ser mais comercial. Termina do modo que deveria terminar, mesmo que desagrade a muitos que assistirem, mas como a própria Sara diz a Nelson certo momento do filme, o mês é dele, e não dela, portanto fica totalmente plausível os acontecimentos finais. E, mais uma vez, competente direção de Pat, que nunca deixa que o drama ou o romance roubem a fatia de bolo do outro, dosando, e emocionando, de uma maneira que poucos filmes do gênero conseguem fazer atualmente. Deu para perceber que eu tenho um carinho todo especial pelo filme, pois gosto desse tipo de mensagem, de valor a vida, de filmes que nos façam sentir vontade de viver, mesmo que exagere em certo moralismo e tenha tanto clichê. Meus amigos mesmo aqui de CinePlayers não gostam tanto assim do filme, e eu respeito a opinião deles, só estou dizendo isso para provar que não é todo mundo que vai se apaixonar (e engolir, hehe) ''Doce Novembro'' como eu. Mas fica a dica para ser visto naquele final de semana junto da pessoa que gostamos, pois o filme pede esse tipo de atenção. Se você é daqueles que vê filme sozinho, de difícil empatia, com certeza não irá gostar, pois ele tem seus defeitos muito expostos sim, como já comentei antes. Não é uma obra prima, mas assim como Cidade dos Anjos, Um Homem de Família e Moulin Rouge - O Amor em Vermelho, por exemplo, está muito acima da média de todos esses romances que são lançados por aí.'' (Rodrigo Cunha)

"É muito difícil assistir a ''Doce Novembro'' sem pensar, por um momento que seja: Podia acontecer comigo.... Essa é a graça do filme: fazer gente normal imaginar que pode encontrar um sujeito bonitão como Keanu Reeves ou uma deusa como Charlize Theron assim, de repente... e se apaixonar! Não é cara de pau, é Hollywood mesmo. Comédia romântica com um roteiro meio capenga, mas com a promessa de um final feliz, percebe&qt& A fórmula, que faz a glória de filmes como Harry e Sally - Feitos um para o outro, pode desandar e virar uma chateação só. Por pouco não acontece com Doce Novembro. Keanu Reeves como um publicitário sem coração é duro de engolir. Qualquer mulher de bom senso já teria dado um chute no fulano - a não ser que estivesse só interessada na sua conta bancária. Sua namorada parece apaixonada, ainda que sem muita esperança. E como é de esperança que ele precisa para olhar a vida de um modo diferente, o destino o atira nos braços da doidivana Charlize Theron. Linda e apaixonada pela vida, pelos animais, pelas flores, pelo mundo inteiro, Charlize é uma miragem. Sua missão é adotar um homem cheio de defeitinhos por um mês e liberá-lo ao final da temporada inteiro e cheio de confiança. Que mal há nisso&qt& Tem tanta gente que adoraria entrar em um arranjo desses... compromisso&qt& Só por um mês. Amor incondicional&qt& Só por um mês. E hasta la vista, baby. Com uma história interessante nas mãos, adaptação de um filme dos anos 60, ''Doce Novembro'' derrapa porque não consegue fazer o espectador sonhar - apenas desejar um pouco. Aquela vontade de encontrar alguém especial e deixar de lado os preconceitos, o trabalho, os amigos interesseiros. Mas sonhar... não chega para tanto. Charlize é maravilhosa, Keanu continua bonito, a química entre eles até funciona. Mas fica faltando algo... Essa impressão não vai embora nem quando as luzes do cinema se acendem. A culpa é em parte do roteiro, que adapta uma idéia da época do flower power sem conseguir o mesmo efeito. O roteiro original, escrito por Herman Raucher (o mesmo do maravilhoso Verão de 42, também conhecido por aqui como Houve uma vez um verão) fala de um herdeiro de uma fábrica de caixas de papelão que é chamado a assumir a direção por pressão da família. Keanu, por sua vez, ganha muito mais dinheiro fazendo anúncios. Estaria perfeito para um personagem do escritor Brett Easton-Ellis, se não perdesse a cabeça por uma bobagem. Quando ele explode, não dá para acreditar. Muito menos que ele ficaria desempregado com o currículo que tem... Enfim, são esses detalhes que pesam contra o filme. Tudo bem, passa. Você nem vai notar, especialmente se passar depois na locadora e escolher uma comédia romântica nota 10. Aí, então, você vai ficar de bem com a vida e talvez até comece a achar que Doce Novembro é bonitinho... Notinha de rodapé: Frank Langella, que já fez papel de vampiro no cinema, faz um papel menor. Seu vilão é tão bem feito que você sai do cinema procurando alho e uma cruz de prata para se proteger contra um chefe assim!' (Soraia Yoshida)

''Nelson Moss (Keanu Reeves) é um publicitário que só pensa em trabalhar. Sem diversão, destina sua vida à empresa onde trabalha e vê as pessoas como simples objetos de enfeite do cenário do seu cotidiano. Em um belo dia, ele conhece Sara Deever (Charlize Theron), uma moça estranha e engraçada, com um jeito diferente de encarar a vida. Depois de ter seus destinos cruzados, Sara o convida para morar um mês com ela para que possa mudar seu jeito de ser. Sem saber o motivo pelo qual Sara se dispôs a ajudá-lo, o publicitário passa o mês de novembro com a moça e vai se apaixonando à medida que o tempo passa. Dispondo de um roteiro simples, ''Doce Novembro'' é mais do que uma história de amor comum entre dois personagens atrativos e carismáticos. Por mais que eles partam do pressuposto dos clichês, não chegam a irritar ou a abusar do melodrama amoroso para enfim chegar a um final feliz, já que consegue se desvirtuar de muitas características que sempre encontramos em produções do gênero. Durante a primeira metade da trama, o casal passa por situações engraçadas para conquistar de vez o público. É impossível não torcer para que aquele relacionamento dê certo e ultrapasse novembro, se eternizando. Por mais que eles não procurem demonstrar tanto seus sentimentos em algumas partes do filme, dá para perceber que os personagens se amam e que dentro deles esse sentimento está prestes a explodir, e, quando explode, tem um desfecho que foge do convencional e mesmo assim apaixona e arranca boas lágrimas dos mais sensíveis. A harmonia de Reeves e Theron foi um fator fundamental para o bom desenvolvimento da trama. Apesar da dupla ter sido indicada ao Framboesa de Ouro por tais atuações, eles desenvolveram muito bem seus personagens e conseguiram atingir uma sintonia bastante interessante. O elenco secundário também não deixou a desejar e só cresceu a competência da atuação no longa. A direção foi peculiar tanto quanto a trilha sonora. Sem exageros e sem ser marcante, a parte técnica passa meio despercebida, o que não atrapalha a produção, mas que poderia ter sido mais forte para que a fotografia e angulação da câmera fossem melhor trabalhadas. Com toques de comédia e o uso da dramaticidade nos momentos decisivos, ''Doce Novembro'' permite a reflexão sobre o que estamos fazendo da nossa vida, sobre como estamos lidando com ela e com as pessoas ao nosso redor e, acima de tudo, transmite uma grande lição de amor. Confesso que o filme acabou e me deixou um vazio, mas um vazio que me fez passar o dia pensando como é bom ter alguém por perto que podemos contar em todas as ocasiões e despertou em mim a vontade de construir uma grande história. Quando nos envolvemos com a trama, não temos porque desgostar do filme nem do seu final ousado, pois muitos conseguem se identificar nas simples cenas que nos são mostradas e a sensibilidade fica à flor da pele. Por mais que a parte técnica não se destaque tanto, ''Doce Novembro'' consegue emocionar e fazer com que os clichês sejam esquecidos, brincando com nossos sentimentos e dando margem para que façamos uma auto-análise sobre nossas emoções. Uma história de amor simples, porém marcante, que desperta vontade de viver um amor verdadeiro ou manter um." (Diego Benevides)

Warner Bros. Bel Air Entertainment 3 Art Entertainment

Diretor: Pat O'Connor

61.539 users / 7.455 face

Soundtrack Rock = k.d. Lang + Stevie Nicks + Amanda Ghost + Enya

Check-Ins 443

Date 08/01/2014 Poster - ###

34. In the House (2012)

R | 105 min | Drama, Mystery, Thriller

72 Metascore

A high school French teacher is drawn into a precocious student's increasingly transgressive story about his relationship with a friend's family.

Director: François Ozon | Stars: Fabrice Luchini, Vincent Schmitt, Ernst Umhauer, Kristin Scott Thomas

Votes: 34,293 | Gross: $0.35M

[Mov 07 IMDB 7,4/10 {Video/@@@@} M/72

DENTRO DE CASA

(Dans la maison, 2012)


"Quem admira os filmes do diretor francês François Ozon aprendeu que, em meio aos muitos trabalhos irregulares de sua abundante filmografia, alguns integram a lista dos memoráveis. Depois dos medianos O Refúgio (2009) e Potiche - Esposa Troféu (2010), "Dentro da Casa" divide com O Tempo que Resta (2005) um lugar de destaque numa obra que equilibra, como poucas, ambição autoral e comunicabilidade comercial. Mais uma vez, a família e um personagem de escritor servem para Ozon brincar de subverter expectativas e criar uma trama movida a mistério e sexualidade, de fato iscas para o diretor retratar certas manias contemporâneas. Enquanto não emplaca um segundo livro, Germain (Fabrice Luchini) se vira como professor num colégio. Nas redações de Claude, aluno incomum, a falta de graça de uma família de classe média ganha contornos do suspense das séries e dos folhetins. A estrutura em abismo, da história dentro da história, serve para construir uma trama labiríntica na qual narradores, personagens e situações se espelham. O artifício, no entanto, não se esgota nesse tipo de prazer conceitual dirigido a um público mais intelectualizado. Ozon zomba inclusive desse esnobismo exportado pela França, ao transformar o fascínio do escritor-professor pelo texto em motivo de ingenuidade. Muito mais feroz é a ironia com que o filme representa o consumo da vida dos outros, a elevação do banal a espetáculo, a onisciência do Big Brother. Do conforto do sofá, acompanhar a intriga alheia pode parecer entretenimento, um lazer sem maiores compromissos. "Dentro da Casa" mostra que não. Na dinâmica entre o leitor e a história, o voyeur e seu objeto, nós e o filme, algo sempre se transfere, contamina, corrompe, sai do controle. Se não fosse assim, não teria nenhuma graça." (Cassio Starling Carlos)

"O diretor francês François Ozon é normalmente associado ao chamado cinema do corpo, que disseca as ambiguidades e as motivações sexuais de seus personagens. Em "Dentro da Casa", de 2012, a exploração dessa intimidade resvala no voyeurismo. Germain (Fabrice Luchini) é um professor que vê notável dom literário nas redações de seu aluno adolescente Claude (Ernst Umhauer). O jovem é instigado pelo mestre a conquistar a confiança de um colega para assim invadir e descrever a privacidade de sua típica família de classe média. Com livre acesso à casa do amigo, o exercício escolar vira transgressão. Claude entra no jogo do professor, mas começa a dar suas cartas. A partir daí, manipulação e invenção se embaralham nesse filme bastante irônico sobre o circo em torno da bisbilhotice da vida alheia.'' (Guilherme Genestreti)

"O trunfo do filme é misturar ficção e realidade e nos mostrar como até mesmo a verdade é relativa. Uma brincadeira divertidíssima e uma sátira da classe média cruel." (Alexandre Koball)

"Exercício de observação, criação e narração bem interessante. Mas deixa a sensação de que um grande filme estava o tempo todo à espreita, logo ali ao lado, num local não desvendado pela imaginação de Ozon." (Daniel Dalpizzolo)

"O Teorema de Ozon." (Régis Trigo)

"A arte como agente transformador. A ficção que, de tão bem narrada, confunde-se com a realidade. Ou vice-versa. A realidade e a criação entrelaçadas. As diversas visões possíveis sobre um único acontecimento. A ética, o talento e a casa por fim adentrada." (Emilio Franco Jr)

"O estudante com as habilidades de uma Sherazade prende tanto professor quanto espectador em uma teia cada vez mais perigosa, e faz desta a melhor obra de Ozon. Uma história, quando bem contada, pode viciar mais do que droga, e até se sobrepor à realidade." (Heitor Romero)

Interstícios da metalinguagem.

"O fazer literário é o mote sobre o qual se debruça ''Dentro da Casa'' (Dans la maison, 2012), mais um exercício de estilo dirigido por François Ozon. Seu habitual interesse por diálogos com premissas desgastadas e gêneros cinematográficos é regido pela metalinguagem. O protagonista é Germain (Fabrice Luchini), um professor de Literatura do Ensino Médio que, há muito, perdeu a fé em seus alunos. Ao corrigir redações, percebe que lhes faltam ingredientes básicos para a construção de uma narrativa, e se frustra com a disparidade entre seus ensinamentos e os resultados. Jeanne (Kristin Scott Thomas) é testemunha de seu desencanto e procura fazê-lo reencontrar a motivação dentro de sua rotina. Entretanto, o estado das coisas só se altera quando entra em cena Claude (Ernst Umhauer), um garoto de 16 anos que faz parte de uma de suas turmas e lhe desperta o interesse por sua maneira peculiar de escrever. A partir de então, Germain quer saber mais sobre o rapaz e decide lhe dar lições extras, incentivando o seu prazer pela escrita e pela elaboração de ficções. O problema está no ponto de partida que Claude adota para desenvolver suas tramas. Ele age como um voyeur da intimidade de um dos seus amigos, examinando de perto o cotidiano de uma família comum de classe média pela qual desenvolve um misto de fascínio com obsessão. Está iniciado um jogo de contornos psicanalíticos que, em vez de frear o entusiasmo de Germain, acende-o ainda mais. A cada nova aula, o menino traz mais detalhes sobre aquela casa, cuja mãe, Esther (Emmanuelle Seigner, enfim competente), responde pela curva oscilatória de desejo e repulsão no interior do adolescente. Esse sentimento perpassa a sua narrativa, deixando-a ambígua e fazendo seu mestre perplexo trecho após trecho. E a cisão de Germain, a certa altura, é entre seguir nutrindo o interesse do garoto pela família ou acionar seu arcabouço moral para fazê-lo interromper aquela observação invasiva. O grande achado do filme é a forma irônica com a qual lida com seu argumento. Ozon dá a trama ares de suspense cômico, rejeitando a opção pela obviedade, no sentido de puxar o tapete do espectador quando ele começa a acreditar que os sentimentos e as ações dos personagens já foram devidamente identificados. Claude é um garoto bem mais complexo do que sua aparência leva a supor, e seu comportamento entrega apenas parte do que vai em sua mente. Por vezes, a relação de amizade que ele mantém com o filho único da família que é alvo de seu interesse sugere um desejo homoerótico, mas nunca chega a ser possível afirmar categoricamente que seja esse o seu caso. Mesmo porque, ele também lança olhares algo libidinosos para Esther, que, segundo ele, exala um cheiro de mulher de classe média, uma colocação que se abre a interpretações múltiplas, tanto laudatórias quanto pejorativas. Em outras palavras, a incerteza ronda Dentro da Casa, e o realizador parisiense não abre mão de imprimir um tom jocoso à obra, costume que cultiva desde sua estreia no Cinema e que, em certos trabalhos, é mais perceptível, como fora o caso de 8 Mulheres (8 femmes, 2002), ao mesmo tempo uma declaração de amor aos musicais e um deboche das tramas policialescas. O teor metalinguístico de que o longa está impregnado, por vezes, remete ao estilo de Pedro Almodóvar de conceber filmes e livros dentro de seus filmes, a exemplo que fez em Má Educação (La mala educación, 2004) e Abraços Partidos (Los abrazos rotos, 2009), só para mencionar casos recentes: cores fortes, tipos dúbios e fartas doses de passionalidade. Ozon está interessado em desnudar os interstícios da construção ficcional, abarcando o fascínio e a fadiga que coexistem nessa empresa com a habilidade de um narrador que atenta para as frestas. Através da curiosidade exacerbada de Claude, o cineasta demonstra que o cotidiano, em sua trivialidade, pode funcionar como um manancial de boas histórias quando se alia à narrativa uma preocupação com a dimensão estética. O garoto se apropria da estrutura familiar para redigir suas elucubrações, e exercita um lado um tanto cruel na lida com a matéria-prima vivente que se lhe apresenta diante dos olhos a cada nova visita e atividade em conjunto com aquelas três pessoas absolutamente comuns. O sobressalto decorre da dúvida constante sobre qual pode ser a próxima atitude do garoto, e Ozon acaba por se revelar ousado à medida que a trama avança, por não oferecer uma reviravolta que se ensaia mas nunca se concretiza. Nesse sentido, pode-se dizer que Dentro da Casa seja antihitchcockiano, porquanto privilegia a sugestão em lugar do desvendamento. Por outro lado, presta homenagem ao diretor na sequência final, um arremate e tanto para a história. Em meio ao enredo que brinca de justapor a escrita e o seu comentário, chama a atenção o desempenho de Luchini, em sua segunda colaboração consecutiva com Ozon. O ator, de semblante naturalmente engraçado, oferece um Germain de início desgostoso com o próprio ofício que recupera o entusiasmo a partir de um aluno que pode vir a se tornar o que ele não se tornou. Sem cair na armadilha das caras e bocas, ele forma uma adorável dupla com Thomas, inglesa que se sai tão bem atuando em francês que chega a causa dúvida sobre sua verdadeira nacionalidade. A entrada de Claude em suas vidas serve até mesmo para agitar um casamento que vinha incorrendo na monotonia, a despeito dos conselhos dela para que ele não continue atiçando a escrita do rapaz. Os diálogos do casal, por vezes, soam hilários, como ocorre na sequência em que ele visita a galeria de arte administrada pela esposa e constata, apoplético, o espaço que a pornografia adquiriu ali. Dentro da Casa é Ozon em grande forma, atraente e reflexivo sem hermetismos – o que, por sua vez, está longe de ser um demérito por si só. O longa ganhou a Concha de Ouro no Festival de San Sebastián e coroa o caminhar em curva ascendente do diretor, lapidado a cada novo exemplar de sua filmografia." (Patrick Corrêa)

''Poderia uma obra de ficção fazer alguém perder o senso da realidade? Até que ponto a arte destitui o artista de sua vida, apropriando-se dela? ''Dentro da Casa'' tenta responder essas questões por meio da história de um jovem com potencial para literatura, cuja vontade de escrever ultrapassa conceitos éticos e morais. No longa de François Ozon, Claude (Ernst Umhauer) precisa fazer uma redação por semana como exercício proposto por seu professor de literatura, Germain (Fabrice Luchini). O aluno começa a retratar a vida do colega de classe, Rapha, de maneira muito íntima, revelando pormenores de seu cotidiano com o pai (que também chama-se Rapha) e com a mãe Esther (Emmanuelle Seigner). Em termos literários, constrói uma obra. Em termos éticos, começa a destruir uma família. Esse é o grande dilema do filme e do professor Germain: o certo seria dar asas à imaginação de um adolescente com grande potencial, mesmo pressentindo consequências nefastas, ou restringir suas atitudes? Na medida em que aprende literatura, Claude começa a escrever sua ficção com primor e o longa ganha descrições poéticas sob seu ponto de vista. E com o estímulo de criar personagens mais convincentes, deixa todos em dúvida sobre a realidade das situações narradas. Apesar de não ser completamente original, o roteiro bem desenvolvido prende a atenção até o desenlace. O filme funciona bem com tomadas simples e diretas, prezando mais pelas palavras do que pela forma. O primeiro e dramático desfecho escrito para Rapha Jr. e a reação do professor mostram o nível de influência da ficção sob o leitor ou espectador em uma das melhores sequências do filme. Consequências reais começam a ficar em segundo plano em prol de uma boa história. Aqui surge outra questão, dessa vez sobre a arte: Ela deveria ter limites? Quem os define? Nessa trama, o jovem protagonista tem destaque absoluto. É bem provável que daqui a alguns anos muitos assistam Dentro da Casa para ver o início da carreira de Ernst Umhauer. Além disso, os personagens coadjuvantes são pertinentes e tem profundidade nas mãos de um ótimo elenco. As cenas da desanimada Esther em seu vazio de classe média e a interação com o amigo adolescente do filho criam grandes momentos da narrativa. O desfecho deixa a sensação de que Claude poderia muito bem ser uma metáfora, a idealização do futuro bem-sucedido na perspectiva de um professor frustrado. Vários filmes já usaram a metalinguagem para expressar o dilema entre real e ilusão na era da imagem, das verdades editadas. O Show de Truman e o recente Holy Motors são exemplos. ''Dentro da Casa'' entra discretamente para essa lista criando uma infinidade de perguntas do melhor tipo - aquelas que pairam no ar por tempos, até o próprio espectador encontrar (ou não) alguma resposta.'' (Cristina Tavelin)

O Jovem voyeur e sua tara por buracos da fechadura de corpos femininos, de uma classe média francesa

''Baseado na obra de Juan Mayorga, “Dentro de Casa”, é uma fita inteligente com uma visão privilegiado sobre a vida alheia. Com uma introdução pedagógica, o espectador é levado a uma história muito próxima, como se olhasse pelo buraco da fechadura, que vai de críticas sociais até reflexões de grandes autores como Tchekhov, Dickens e Flaubert. O grande achado do roteiro é elevar a qualidade da discussão em busca de um conflito para alimentar sua história, partindo do princípio que uma vida sem história na vale de nada. Na trama conhecemos Claude (papel de Ernst Umhauer), um menino incomum de 16 anos que durante um exercício em sala de aula resolve começar a contar uma história de suas idas e vindas da casa de um amigo de classe e o seu contido desejo que sente pela mãe desse menino. O único que lê a história é o seu professor (que de quebra mostra tudo para mulher, uma elegante gerente de galeria de arte ) que faz de tudo para que ele não pare de contar essa história. O professor de literatura fica fascinado pelo esforço e escrita do brilhante aluno e resolve ajudá-lo a não parar de escrever aquela história. É um ato obsessivo desse acadêmico que tem sua vida bastante modificada ao longo da trama. Esse personagem se desconstrói brilhantemente pelas lentes do sempre excelente diretor.Todos vão virando personagens na história de Claude. Os ditadores em forma de bonecas infláveis, o corpo de classe média, as peculiares discussões entre o casal sobre o comportamento irônico (pelo menos no papel, do jovem estudante) são elementos detalhadamente aproveitados pelo filme. A relação aluno x professor vai se formando de maneira inusitada levando-os a uma série de consequências. O filme tenta manter esse ritmo (com sucesso) do começo ao fim. O professor (interpretado pelo excelente Fabrice Luchini) se envolve tanto que o público volta a se perguntar de quem é mesmo aquela história. Quando quadros e literatura se encontram, um olhar sobre a vida alheia ganha contornos dramáticos. A agradável fita francesa gerou simpáticos aplausos após uma de suas sessão no último Festival do Rio de cinema. Será que olhar pelo buraco da fechadura, remontar histórias é sempre uma grande diversão? Não deixem de conferir esse ótimo trabalho de François Ozon." (Raphael Camacho)

2013 César

Mandarin Films Mars Distribution France 2 Cinéma FOZ Canal+ Ciné+ France Télévision La Banque Postale Images 5 Cofimage 23 Palatine Étoile 9 Région Ile-de-France

Diretor: François Ozon

17.558 users / 6.159 face

Check-Ins 452

Date 06/03/2014 [Green]Poster - ######

35. Django Unchained (2012)

R | 165 min | Drama, Western

81 Metascore

With the help of a German bounty-hunter, a freed slave sets out to rescue his wife from a brutal plantation owner in Mississippi.

Director: Quentin Tarantino | Stars: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington

Votes: 1,693,769 | Gross: $162.81M

[Mov 03 IMDB 8,5/10 {Video/@@} M/81

DJANGO LIVRE

(Django Unchained, 2012)


''Desde sua primeira cena, "Django Livre" é um filme carregado de situações em que o protagonista luta para se livrar da sujeição. Na trama, seguimos os vários passos da jornada de um herói, negro e escravo no Sul dos Estados Unidos, pouco tempo antes da abolição da escravatura em meio à Guerra de Secessão que contrapôs dois grupos, interesses e concepções de como deveria ser a América. Na companhia do branco King Schultz, o emancipado Django vai encarnar o ideal de libertação, representado pela busca de sua amada escravizada numa fazenda nas entranhas do Mississipi. Ao longo da jornada, a improvável dupla acumula peripécias como caçadora de recompensas, usando a astúcia para eliminar malfeitores e reparar injustiças. Até se deparar com uma situação que só se resolverá pela força bruta. Descrito com esse esqueleto narrativo, o oitavo longa de Tarantino pode parecer igual a milhares de histórias movidas à superação de obstáculos. Porém, é inevitável esperar de um filme de Tarantino no mínimo uma assinatura, uma marca que se reconhece e se consome com prazer. Para os fãs, continua garantido o coquetel surpreendente de referências culturais, diálogos inesperados e engraçados e explosões de violência além dos limites do bom gosto. O tempero musical, com uma trilha de clássicos obscuros, completa essa receita de cinema que preferimos indefinir chamando de pop. Mas "Django Livre" demonstra também que Tarantino prossegue seu esforço para se libertar dos grilhões que mantiveram seu trabalho na categoria de divertimento cult, de uma estética sem ética, obra de um artista autista. Desde o malfadado À Prova de Morte, o diretor vem se confrontando com arquétipos convertidos em tabus e expondo-os a um tipo calculado de provocação. Naquele, foram as mulheres, depois, em Bastardos Inglórios, os judeus, e agora, os negros são recuperados às avessas, invertendo seu lugar-comum de personagens-vítimas e lançando-os no fogo da imaginação. Aqui, ao contrário da ditadura dos filmes "baseados em fatos reais", a ficção permite tudo, libertando seu cinema das convenções. Por isso, "Django Livre" confunde. Para uns soa racista e, para outros, subversivo. Alguns se divertem vendo-o como uma farsa cheia de risadas, enquanto outros enxergam um épico com figurinos de faroeste. Em meio à discussão, Tarantino sorri como um bandido que tem numa mão as algemas e na outra as chaves.'' (Cassio Starling Carlos)

''Sim, Quentin Tarantino é o cineasta mais próximo do que foi um antigo cinema-arte-popular. E "Django Livre" é uma espécie de demonstração desse partido. Trata-se de retomar não só o faroeste, como o faroeste italiano, já uma espécie de delírio de cinéfilos. Aqui, como no filme anterior dedicado à Segunda Guerra, Tarantino acrescenta algumas complexidades narrativas, sobretudo por atribuir à imaginação liberdade plena. Se é de ficção que se trata, Tarantino cuida de afirmá-la. A verdade histórica do oeste, que a rigor nunca existiu, foi uma construção cuidadosa do cinema, é mandada às favas e pode-se juntar escravos pistoleiros com... bem, com quase tudo: Django embaralha o jogo." (* Inácio Araujo *)

"Dada a nossa carência de filmes populares e talento, aceitamos com complacência os excessos de Quentin Tarantino. Pois talento não lhe falta, nem conhecimento da linguagem popular. Quanto à verdade, isso é discutível. Sabemos que o cinema é lugar de fantasia e o mundo desconfia da ficção, assimilando-a à mentira. Mas há um ponto de equilíbrio entre as duas coisas. Se "Jackie Brown" é o melhor filme de Tarantino, é porque não trapaceia com a ficção nem com a verdade. Se "Bastardos Inglórios" se aguenta, é por algumas boas cenas, não por adulterar fatos históricos. "Django Livre" é ficcional, mas nem Django nem seu mestre nem o senhor de escravos nos convencem de sua existência a ponto de se tornarem interessantes. Mas, como sempre, há boas cenas.'' (** Inácio Araujo **)

***** ''Talvez não seja o faroeste que morreu. Talvez seja, apenas, a imaginação em crise. É quase impossível deixar de chegar a esta conclusão após ver "Django Livre". Talvez não seja bem um faroeste. Estamos no Mississipi, na era da escravidão, entre caçadores de recompensa, escravos, senhores cruéis. Mas a ideia é essa mesmo: a partir de aspectos da história americana produzir uma saga de luta. A evocação do nome Django, clássico herói do western spaghetti traz duas decorrências imediatas ao filme de Quentin Tarantino: a completa absorção da história (acontecida) pela ficção e a supremacia da imagem sobre o real. De todo modo, eis um cineasta que foge enormemente à média. E que consegue chegar ao universo supostamente esgotado do faroeste pela força da imaginação.'' (*** Inácio Araujo ***)

''Com apenas poucos filmes, Quentin Tarantino conseguiu criar um estilo próprio e inconfundível, apesar das imitações. Como aconteceu com Hitchcock e Fellini, suas obras têm tanto a sua cara que os fãs ardorosos perdoam deslizes e consideram todos geniais. Mais do que gostar, eles torcem por Tarantino. Assim, será difícil alguém concordar que "Django Livre", sua simulação esmerada dos faroestes italianos dos anos 1960 e 1970, merece críticas. O longa teima em não acabar, insistindo numa última e cansativa cena de tiroteio totalmente dispensável. Leonardo DiCaprio quer ser o vilão mais cruel do cinema e exagera no tom. Mas o filme tem aqueles sensacionais diálogos que precedem banhos de sangue e o sempre ótimo Christoph Waltz como espécie de mentor do herói Django (Jamie Foxx). Já basta." (Thales de Menezes)

"Todo esse blá-blá-blá interminável, exagerado e fanático sobre Tarantino ser Cinema, quando ele acaba de entregar outro filme superestilizado (o excesso de zooms extremos, particularmente, é ridículo), gratuito, redundante e vazio, faz pouco sentido." (Alexandre Koball)

"Pela primeira vez Tarantino se repete: basicamente, Django é Basterds sem a mesma intensidade na trama de vingança e menos ainda na proposta de vingar os oprimidos históricos através do cinema. Filme vale pela diversão e por alguns grandes momentos." (Daniel Dalpizzolo)

"É um prazer ver Tarantino em tela. É o tipo de cineasta que, no futuro, faremos inveja às novas gerações de cinéfilos dizendo que o vimos no cinema, em tela grande. Só lamento por quem não consegue curtir o seu estilo, pois perde um filmão atrás do outro." (Rodrigo Cunha)

"Não é de hoje que o apego de Tarantino pelo próprio texto prejudica seus trabalhos, tonando-os longos e barrigudos. Essa sensação se repete em "Django", cuja segunda metade desequilibra o resultado final. Ainda assim, um filme que se vê com enorme prazer." (Régis Trigo)

"Revisão histórica engraçada em que o diretor, achando-se gênio, alonga demais as cenas. Interpretações sensacionais de Samuel L. Jackson e Christoph Waltz. Tarantino como ator chegou num nível de canastrice só comparado à Madonna." (Demetrius Caesar)

"A nova viagem de QT é uma delícia do início ao fim. Sim, longo, mas quem reclama quando o tempo é preenchido com diálogos afiados, atores no auge da forma, uma violência absurda, muito humor negro e cenas incríveis? Mais do mesmo, e sempre espetacular." (Silvio Pilau)

"Por um tempo, Tarantino teve minha curiosidade. Depois, passou a ter a minha atenção. Hoje, para além das palavras de Calvin Candie, Tarantino tem, também, o meu pleno respeito. Palmas para ele, para o elenco, mas em especial para Christoph Waltz." (Emilio Franco Jr)

"Emociona já nos créditos, diverte, com grande senso de autenticidade em se tratando de western, longo mas envolvente, ainda que um pouco disperso com gratuidades em sua segunda metade que se evitadas deixariam o espetáculo mais enxuto. Belo artefato pop." (Vlademir Lazo)

"A impressão que fica é que talentos individuais não souberam fazer um todo a altura. Ai fica o excelente elenco a mercê de um Tarantino bem requentado e mal montado, ainda que superior ao resto da produção americana atual. Pra ele, é pouco." (Francisco Carbone)

"Pela primeira vez Tarantino demonstra cansaço. Ainda que Django Livre esteja acima da média para o cinema americano, sua maior limitação vem no momento em que o cineasta tenta competir com seu próprio ego e acaba por não conseguir se superar." (Heitor Romero)

A história reescrita com sangue.

"Django Livre" (Django Unchained, 2012), de Quentin Tarantino, é mais um ato de rebeldia de seu diretor. Responsável por uma série de filmes icônicos das últimas décadas, Quentin consagrou-se pelos longos diálogos entremados de explosão de violência, retratando um mundo amoral onde párias alienadas por sexo, tédio, drogas e violência foram uma alegoria para a geração slacker dos anos 90 e que, ao chegar nos anos 2000, implodiu o próprio cinema de crime para, a partir de Kill Bill Vol 1. (idem, 2003), radicalizar e explorar todos os modelos narrativos possíveis. O caráter de homenagem apaixonado dessas obras acabou por esconder outro caráter tão importante quanto – o da intertextualidade entre os filmes exploitation sensacionalistas e os filmes criados sob o pensamento autoral. Tudo isso habitando o universo violento e controverso do diretor. Tarantino já namorava o western de longa data – não apenas por cenas como a sequência envolvendo o duelo entre Beatrix Kiddo e Elle Driver em Kill Bill Vol. 2 (idem, 2004) mas também por conta do uso do tipo de película e dos filtros que utilizava, que criavam pastiches paródicos de seus filmes favoritos, e da grande proporção de quadro, onde a dança que relaciona posição de personagens, profundidade de campo e proporções exageradas tão explorada por nomes como Leone e Corbucci nos anos sessenta e setenta; isso para não dizer o reaproveitamento de nomes como Ennio Morricone em novos contextos em suas características trilhas sonoras. Todo esse caminho percorrido acabou desaguando em "Django Livre", que por ser um faroeste de Tarantino, passa longe de ser, exatamente, um faroeste. É um filme de gênero sobre o cinema de gênero. O diretor sempre prezou pela metalinguística em seus filmes – longe de ser uma visita a um museu de imagem, é uma percepção aberrante, tanto na história quanto na maneira de se dirigir um filme do gênero; um compêndio de muitas ferramentas narrativas e linguagens estéticas do audiovisual que se consolidaram ao longo do século vinte; Django Livre é errôneo em sua própria concepção – não se passa no Oeste selvagem, mas no Sul escravista, invocando todo um passado de ódio racial encenados com constante humor negro pelo diretor. A relação antagônica brutal não envolve mais a expansão da fronteira,mas a destruição e reescritura de uma história escrita com sangue. Assim como em Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009), a história só pode ser reconstruída da mesma forma. Em um filme que exagera na violência e na condução do direcionamento do olhar, Tarantino não hesita tanto em mostrar os maus-tratos cruéis que eram conferidos aos escravos quanto ridicularizar o racismo e ações coletivas discriminatórias. Sequências como as que Django chega na cidade ou uma KKK desorganizada dão o tom cartunesco que retrata a consolidação dos valores WASP (branco, anglo-saxão e protestante) de maneira pervertida, com os responsáveis pela moralização do país sendo os verdadeiros degenerados. Descrito pelo diretor como uma história que só poderia ser feita em seu país por ser profundamente ligado à sua história, "Django Livre" é um western consciente do gênero onde é encenado ser muitas vezes o conto sobre a formação de uma nação, que constituiriam os Estados Unidos como ele é hoje – mas como se inspira mais no spaghetti, não esconde a visão da formação de tal sociedade de uma forma brutal, se enquadrando dentro do tema preferido de Tarantino, seguido pelo mesmo principalmente na última década: a vingança. O eco dessa temática se encontra na escolha de um protagonista negro – e a presença de rap e funk na trilha sonora do filme só ajuda a reforçar a influência da blaxploitation no filme, onde mesmo quando dirigidos por diretores brancos, como Jack Hill, que revelou a musa Pam Grier, serviram para retratar o negro por eles mesmos, onde em filmes frenéticos e muitas vezes caricaturais a afirmação do social no cinema revelou inúmeros artistas presentes na indústria até hoje. "Django Livre" é a visão do sul aos olhos de um negro, o escravo Django, que ao longo filme de quase três horas, irá tornar-se o homem liberto que reescreve a história; a longa extensão do filme o separa praticamente em duas obras diferentes. O primeiro bloco do filme aborda o nascimento e a criação do mito e suas primeiras provações; o segundo é sua grande provação, a grande vingança do herói contra aqueles que o escravizaram e o separaram da sua amada. Django talvez possa parecer um dos mais narrativos filmes do diretor – um único protagonista, uma única narrativa linear desenrolada por pontos de virada – mas tal cartilha é seguida com outro olhar, um olhar sobretudo irônico – se seus filmes sempre fracassam como mímese, é porque apostam em um terreno potencialmente mais interessante, o da recriação. Para tanto, o mundo sem moral nem valores nobres de Tarantino cai como uma luva nessa outra visão sobre o racismo presente à época. O heroísmo declarado se dá através na deslocada combinação entre a utilização do pathos numa história que recusa a moral – a paixão e o excesso do obstinado protagonista não intenta enobrecimento ou engradecimento moral, mas sim resgatar sua esposa, da qual foi separado à força e exigir à retratação. "Django Livre" reparte espaço entre comédia e suspense através, principalmente, de Dr. King Schulz, personagem interpretado por Christoph Waltz – o mesmo articulado violento que havíamos visto em Hans Landa agora é uma espécie de mentor pervertido de Django, com um código de ética próprio e que molda o protagonista para a violência. Exagerado como nunca em seu alargamento dos tempos diegéticos e dos diálogos que podem descambar para a explosão de violência gráfica a qualquer instante, a nova obra de Tarantino é tal como o seu coadjuvante – a aliança entre conhecimento e brutalidade, entre agonia e explosão. É não só na sensação constante de ameaça injetada na estrutura rítmica dos cômicos diálogos e no heroísmo amoral que reside esse distanciamento, essa sensação de estranhamento em Django Livre, mas também no casamento entre variadas técnicas estético-narrativas, seja a utilização da consagrada zenital (câmera no topo) de Scorsese na cena mais explosiva Taxi Driver (idem, 1976), utilizada com um substituto sem norte de olhar ao plano geral, o zoom veloz e introdutório típico dos spaghettis quando queriam ressaltar uma expressão dentro de quadro e, narrativamente, a estrutura indefinida com o conflito principal estendido ao infinito típica dos blaxploitations: filho ilegítimo dos anos 70, o exagero estilístico de Tarantino provoca um distanciamento do olhar, não apenas por fazer referência ao cinema – mas também por falar sobre o cinema. A trilogia iniciada com Bastardos Inglórios são filmes sobre o cinema, obras que só poderiam existir nesse meio de expressão. Outra razão do distanciamento é a trilha sonora, jogando para trás o rap e o funk para sonorizarem um faroeste, conceito parecido utilizado por Sofia Coppola em Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006): a criatividade de Tarantino não consiste na criação, mas na recriação, como o próprio rap – que se utiliza dos samples de músicas anteriores para criar novos ritmos e novas estéticas. O remix de Tarantino é resultado da fascinação do próprio da diversidade de olhares que um período histórico razoavelmente curto inspirou – e Django Livre atira para todos lados em sua imperfeição frenética, conjungando mais de um século de história sobre um mesmo teto. Mais do que um olhar diferenciado, a obra de Tarantino é sobre o olhar. Existe por causa dele, e em nome dele. Esse olhar bizarro de Tarantino desobedece a história pela segunda vez em nome da fabulação: documentar e catalogar o tempo não é tão importante quando construir o próprio tempo, espaço e universo diegético. Seus filmes não são vingança apenas em seus motes – mas são vingança também na desobediência, no embaralhamento de cartilhas, na esquizofrenia de gênero. Os judeus vingativos e o escravo livre à base da pólvora pertencem antes ao cinema do que qualquer registro historiográfico. A história do mundo de Quentin Tarantino é bastarda – antes prefere reescrevê-la do que permitir ser escrito por ela. No segundo bloco do filme, Django enfrenta figuras típicas consagradas do cinema americano: encarna-se na figura de Calvin Candie, interpretado por Leonardo Di Caprio, um senhor de terras branco, psicótico, incestuoso e ingênuo, um self-made men que intimida a todos com a sua figura ao mesmo tempo elegante e rústica, caricatural e ignorante – a figura repulsiva que Tarantino condena, pois sua violência é desgovernada, fetichista e entediada, ao contrário de Schulz, seu espelho, a figura da diplomacia e da estratégia. Seu braço-direito, interpretado por Samuel L. Jackson, é o maior opositor de Django: o mordomo Stephen, um cômico e subserviente escravo-mordomo, o negro domesticado da velha Hollywood, de quem os brancos não teriam medo; sua caracterização rabugenta e abusada é o contraponto ideal para o Django de Jamie Foxx, um herói sério, sisudo e revoltado, disposto a encarar o mundo de forma suicida. Em "Django Livre", a senzala entra em guerra com Casa grande, os tiroteios se dão dentro de casa, o subserviente não é poupado: a violência invade a esfera privada, cobrando os senhores por sua brutalidade impensada e a opulência megalômana não é nada contra a vingança desgovernada. Se o original de Corbucci deflagrava um mundo podre e fantasmagórico através do pistoleiro de luto de Franco Nero, o pistoleiro de Tarantino deflagra o nascimento da sociedade WASP – e a sua imagética destruição. A política dos autores é para Tarantino não apenas uma oportunidade de explorar fetiches e aspirações estéticas: é antes sua grande oportunidade de dizer não. De rabiscar, riscar e escrever de novo. Django Livre é um filme da pós-modernidade, um filme que recusa qualquer pregação ideológica para assumir sua condição camaleônica e de identidade fluída. Tarantino trata o faroeste como ferramenta, não como muleta; como horizonte de expectativas, não como linha de chegada. É essa profunda compreensão dos mecanismos narrativos que faz a volta ao tempo de Tarantino ser um filme tão poderoso para as discussões estéticas que tomam o cinema mainstream atualmente. É justamente o classicismo fragmentado e virado de cabeça pra baixo que torna seu filme tão singular. No século XXI, o projeto estético de Tarantino criou um novo artista – se antes versava sobre as idiossincrasias e atribulações da vida de gângster, sua ambição estética não coube em só lugar. Bastardos Inglórios e "Django Livre" são o resultado do surto demencial e da falta de freios que acometeu o diretor ao tornar seu cinema, a partir de Kill Bill, uma viagem por diferentes estéticas e suas distorções sensoriais, sutis e explícitas que agora se firmam como uma consolidação baseada na dissolvição, na não-compactuação. É na perversão que Tarantino encontra sua expressão – em uma época que todos estamos cínicos e bem informados demais para ficarmos impressionados, ainda é um dos poucos que ainda tenta, filme após filme, puxar nosso tapete, acabar com nossas expectativas. Django Livre, afinal de contas, é a nota zero em conduta de um eterno desobediente. Afinal de contas, em um mundo amoral, nada é mais coerente e delicioso do que desobedecer." (Bernardo D.I. Brum)

"Quentin Tarantino é um artesão da contextura cinematográfica, que deixa sua inconfundível digital em tudo o que faz. Seu novo longa é ambientado na América do Norte escravocrata do século 19, quatro anos antes da Guerra da Secessão. É um western spaghetti, campo em que o cineasta se aventura pela primeira vez. Pano de fundo e gênero, no entanto, pouco importam. "Django Livre" é uma típica obra de Tarantino, com todas as peculiaridades que perfazem o estilo do diretor: diálogos improváveis, humor desconcertante, esguichos de sangue exagerados e trilha sonora de primeira. Seu personagem principal chama-se Django (Jamie Foxx), homenagem ao icônico pistoleiro do longa italiano de Sergio Corbucci, lançado em 1966 e estrelado por Franco Nero, que faz uma ponta aqui. O Django de Tarantino é negro, um escravo cuja liberdade é comprada pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Depois de ajudar este a eliminar um bando de criminosos, Django vai em busca da mulher (Kerry Washington), vendida para o desumano fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). Com é comum ao cinema de Tarantino, Django Livre é pontuado de momentos-surpresa e sequências criativas que brilham independentes dentro do filme. Num desses momentos inspirados, um fazendeiro racista, interpretado por Don Johnson, reúne uma espécie de embrião da Ku Klux Klan para atacar Django e Schultz. Uma discussão impagável sobre o uso dos sacos brancos na cabeça diverte e, ao mesmo tempo, consegue expor a idiotice irracional do racismo, numa crítica, mesmo que bem humorada, contundente à estupidez daqueles que massacraram outros simplesmente por causa da cor de sua pele. A habilidade de Tarantino em dar solidez narrativa a seus filmes passa também pela direção dos atores. O desempenho do elenco em "Django Livre" é elogiável e os personagens muito bem desenvolvidos. Christoph Waltz, que brilhou em Bastardos Inglórios como o sarcástico coronel Hans Landa, arrebata mais uma vez como o tagarela, cínico e divertido Dr. Schultz, um tipo pragmático que despreza a escravidão. É um prazer ver o ator dando vida ao personagem, como também é um deleite para o espectador acompanhar o desenvolvimento de Django, que cresce gradualmente na tela passando de um apático escravo acorrentado para um herói confiante. Tarantino consegue extrair o melhor de Waltz, Foxx e de Leonardo DiCaprio, ótimo como o poderoso e indigesto latifundiário Calvin Candie. Merece também ser destacada a participação de Samuel L. Jackson. Caracterizado como um velho escravo de Candie – num trabalho de maquiagem elogiável - o ator toma conta do filme quando entra em cena. Seu personagem é divertido e o mesmo tempo execrável. Por sinal, foi classificado pelo próprio diretor como o preto mais desprezível da história do cinema. E é. O longa perde um pouco de ritmo e criatividade em seu final, principalmente considerando-se que estamos falando de Tarantino, que costuma apresentar desfechos refinados e iventivos para seus filmes. Não é o que acontece aqui, fato perdoável em roteiristas menos inspirados, mas iconcebível em se tratando do autor de Pulp Fiction - Tempo de Violência. A breve derrapada, todavia, não compromete mais este competente trabalho do cineasta, que fez em Django Livre uma sangrenta homenagem aos spaghetti westerns e também uma divertida, porém contudente, crônica de um capítulo lamentável da história americana." (Roberto Guerra)

Quentin Tarantino não economiza munição, em um dos seus filmes mais instáveis e, ao mesmo tempo, mais prazerosos.

"Entre as participações especiais em "Django Livre" (Django Unchained), aparece, com uma bandana no rosto, a dublê Zoë Bell. Ela olha por um daqueles binóculos de plástico com fotografias dentro, vê uma foto (bastante improvável...) do que parecem ser caubóis diante do Partenon. Quentin Tarantino sabe que o faroeste hollywoodiano é responsável por criar toda a mítica americana, mas o diretor não se contenta: ele cita até a Grécia Antiga. É como se a formação de toda a nossa civilização passasse pelo cinema do século 20. É de formação, afinal, que trata o conjunto da obra de Tarantino, cuja dedicação cinefílica muita gente ainda confunde com pastiche. Se o cineasta diz em entrevistas que não quer envelhecer fazendo cinema, é porque essa sua dedicação é essencialmente uma vocação de jovens e sonhadores: investigar os gêneros, vê-los como os formadores do mundo à nossa volta, seja num filme de Segunda Guerra, de artes marciais ou, como agora, em um faroeste revisionista mezzo Sérgio Leone mezzo blaxploitation. Se Tarantino prefere histórias de vingança, talvez seja porque a vingança devolve ao mundo a sua forma, a sua ordem. É por amor, mas também por vingança, que o escravo liberto Django (Jamie Foxx) acompanha um caçador de recompensas alemão, Dr. Schultz (Christoph Waltz), pelo Texas e pelo Mississippi atrás da sua esposa (Kerry Williams), escrava do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). Em 1858, os Estados Unidos estão às vésperas da Guerra Civil, mas, de novo, Tarantino vai mais ao passado, a mitos mais antigos: o nome da esposa é Brunhilda, em homenagem à valquíria da mitologia nórdica do século 13 que é resgatada do fogo por seu amado Siegfried. A cena em que Schultz, ao lado da fogueira, conta a saga da valquíria para Django é emblemática. O alemão fica de pé diante de uma rocha (igual, não por acaso, àquelas que aparecem no plano inicial do filme) e move as mãos no ar como se estivesse prestes a registrar a história na pedra. Pronto. A regressão está completa. Django Livre nos lembra por um instante da alvorada da linguagem do homem (sombras projetadas? pinturas rupestres?) - e a partir dessa cena é que o destino de Django e Schultz se define. De todos os muitos prazeres catárticos de violência e humor que em 2 horas e 45 minutos este divertido filme proporciona - Django Livre já me ganhou logo no começo, na hora em que Waltz bota o pezinho na frente para executar um bandido como se fosse um duelista da corte francesa - nenhum é maior do que ver Tarantino e seu ótimo elenco tentando, sem medo, entre altos e baixos, encontrar uma linguagem visual e verbal que dê conta da recriação desse complexo mundo. A câmera é ora contemplativa (pastos, montanhas, pôr-do-sol), ora "spaghettiana" (os zooms forçados), dois extremos do western. A trilha vai de Delta blues a soul e hip hop, por vezes apressadamente, porque esses são os gêneros formadores da cultura negra. Os diálogos não economizam nos sotaques e nos palavrões porque são, também, um esforço de linguagem - e, como todo esforço, estão passíveis a excessos. Com isso, no fim, "Django Livre" está longe de ser um filme preciso e perfeitamente estruturado como Bastardos Inglórios, mas sua disposição de arriscar tudo na ambiciosa criação de uma mítica que faça justiça ao faroeste, o maior de todos os gêneros, compensa qualquer tiro perdido." (Marcelo Hessel)

85*2013 Oscar / 70*2013 Globo

Top 250#51

Top 200#199 Cineplayers (Usuários)

Top Década 2010 #22 Top Faroeste #25

Weinstein Company, The Columbia Pictures

Diretor: Quentin Tarantino

702.206 users / 194.254 face

Soundtrack Rock = Richie Havens

Check-Ins 454

Date 03/03/2014 Poster - ###

36. After Earth (2013)

PG-13 | 100 min | Action, Adventure, Sci-Fi

33 Metascore

A crash landing leaves Kitai Raige and his father Cypher stranded on Earth, a millennium after events forced humanity's escape. With Cypher injured, Kitai must embark on a perilous journey to signal for help.

Director: M. Night Shyamalan | Stars: Jaden Smith, David Denman, Will Smith, Sophie Okonedo

Votes: 208,875 | Gross: $60.52M

[Mov 02 IMDB 5,1/10 {Video/@} M/33

DEPOIS DA TERRA

(After Earth, 2013)


''O novo filme de M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido) "Depois da Terra" propõe uma mistura de fábula de iniciação com aventura de sobrevivência e conceito de game. No futuro, a Terra se tornou inabitável e a humanidade colonizou outros planetas. Mas vive sob a ameaça constante das Ursas, monstrões cegos que farejam o medo e exterminam suas vítimas. Will Smith faz o pai herói imobilizado depois que sua aeronave cai na Terra, agora um planeta inóspito e com uma natureza pré-histórica. Jaden Smith, seu filho também na ficção, desempenha o avatar que enfrenta os maiores riscos para salvá-lo. A infância desprotegida diante do desconhecido e a representação da natureza como um campo de forças são elementos recorrentes no cinema de Shyamalan e também fonte de boa parte de seu encanto. Em "Depois da Terra", porém, tais elementos não estão a serviço da fantasia do diretor, apenas servem de gatilho para um filme banal de aventura. Mesmo o conceito da relação jogador imóvel/mobilidade da ação apenas repete, sem tantos recursos, o que James Cameron explorou com maestria em Avatar. Apesar de o filme às vezes parecer engrenar nos momentos de ação e quando se impõe a concepção visual de uma Terra pós-apocalíptica, nem nós, fãs mais insistentes do cinema de Shyamalan, encontraremos motivos para defendê-lo.'' (Cassio Starling Carlos)

"Como o espaço é curto, o negócio é achar algo para falar bem. A história? Hmm, não. Os personagens? Também não. Atuações? Longe disso. Os efeitos especiais? Não me faça rir. A curta duração? Isso! Taí! É o que o filme tem de melhor. Pobre Shyamalan." (Silvio Pilau)

"Com Depois da Terra, é impossível continuar defendendo a "nova fase" de Shyamalan. Seus filmes viraram peças extremamente comerciais e superficiais. Depois da Terra tem boas ideias, mas execução medíocre." (Alexandre Koball)

"Bela aventura de ficção cientifica que prioriza mais a fábula do que a adrenalina e tecnologia, e uma extensão natural de The Last Airbender pelo seu lado espiritualista e rito de passagem na transformação pessoal de um menino frente a um grande desafio." (Vlademir Lazo)

"Um filme sobre o medo e sobre o isolamento, que poderia ter ido bem mais longe, mas sofrível na prática, passando toda sua duração correndo atrás do próprio rabo e afundando o nome de Shyamalan na lama." (Heitor Romero)

A decadência de um diretor, um fracasso em família.

"A temática de "Depois da Terra" (After Earth, 2013), por uma curiosidade, se acentua no momento em que os créditos finais descem: na tela, os nomes dos protagonistas Jaden e Will Smith, este também creditado como produtor, ao lado da esposa Jada Pinkett Smith, e autor da história, baseada na... família. Nesse contexto, o cineasta M. Night Shyamalan surge como convidado indesejado, uma vez que sua contribuição em direção e roteiro se resume a clichês típicos dos filmes de gênero mais melodramáticos do Cinema. Midas às avessas, o realizador indiano desperdiça uma premissa que, se não espetacular ou revolucionária, se revela muito adequada para uma aventura cinematográfica bem-sucedida - como não acontece. Conflitos armados e toneladas de lixo tóxico despejadas no ar tornaram a Terra inabitável. A humanidade encontrou abrigo no espaço, num planeta batizado New Prime. Esse novo começo é ameaçado por outras criaturas que habitam o local, as ursas, cegas, porém hábeis caçadoras de humanos por se guiarem pelo odor dos feromônios liberados por sua caça. Nesse contexto, o general Cypher Raige (Will Smith) é o único invisível às ursas; um homem sem medo, considerado um fantasma. Raige é mais que um general, uma lenda em New Prime. Essa espécie de mitologia é apresentada de maneira ágil e hábil, porém malbaratada e transformada em mero pano de fundo. Isso porque, como dito no primeiro parágrafo, a suposta aventura transporta uma declaração de amor de Will Smith à família em seu cerne. Portanto, entra em cena Kitai Raige (Jaden Smith), um cadete reprovado na escola de formação de rangers que tem o conturbado relacionamento com o pai maximizado por um evento traumático. É então que Will Smith derruba a nave da qual seu personagem é comandante, o coloca à beira da morte e alça o filho Jaden à condição de herói de ação no perigoso (ou perigoso) planeta Terra. Essa trama é ensejo para M. Night Shyamalan e Gary Whitta (O Livro de Eli [The Book of Eli, 2010]) desenvolverem uma aventura morosa, que destoa do ritmo frenético da redundante cena inicial. A dupla ainda sugere uma lição filosófica semelhante à proposta no clássico Moby Dick, sobre o Homem, ambicioso e predador, que perde o que tem de mais valioso, seu lar. A ideia não incomoda, mas fica no terreno da pretensão, uma vez que não proporciona a profundidade imaginada. O foco é mesmo a temática imposta por Smith, e, assim, Kitai, experimenta o signo da maternidade em sua forma mais primitiva, com animais selvagens defendendo e guiando suas crias. Embora a exposição do protagonista a esse universo proporcione um exemplo bonito de deus ex machina, é tudo muito óbvio, muito brega, e condizente com a trilha sonora pouco inspirada do homem de confiança de Shyamalan, James Newton Howard. Infelizmente, a enxurrada de clichês comandada por M. Night Shyamalan não se restringe ao melodrama exacerbado. O cineasta virtuoso conhecido em O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) desde o roteiro previa atmosfera e artifícios de manipulação de um público que, nesse novo longa-metragem, tem todos os motivos para permanecer impassível. Se as preocupações ecológicas de uma trama pós-apocalíptica compõem, por aparente coincidência, um enredo semelhante ao de Oblivion (idem, 2013), duas das três únicas cenas de ação do filme (escassez que, certamente, irá desagradar à maioria dos espectadores) são cópias baratas de passagens conhecidas de Avatar (idem, 2009) e Star Trek (idem, 2009), tanto pela intensidade das cenas como pela (inferior) qualidade do CGI empregado. E é por se tratar do trabalho mais sem personalidade da carreira do diretor, outrora comparado ao mestre do suspense Alfred Hitchcock (um exagero que o tempo tratou de evidenciar), que Depois da Terra se configura um marco da decadência de M. Night Shyamalan - hoje incapaz de emplacar um sucesso comercial, seja em projetos autorais, seja em superproduções de terceiros. Com tudo isso, provavelmente a maior falha de Shyamalan é a direção de atores. Ainda que fosse desejo de Will Smith permanecer canastrão durante toda projeção, caberia ao cineasta indiano cumprir sua função e dirigi-lo numa composição menos óbvia ou, desde o roteiro, pensar um personagem mais interessante, complexo. E se a omissão ou incompetência do diretor-roteirista é prejudicial à atuação do experiente Will, torna desastrosa a presença de Jaden, que, ao manter uma insistente expressão de medo durante 90 minutos, para, no finalzinho, assumir o mesmo rosto impávido (sinônimo de coragem) do pai, compõe um dos protagonistas de blockbusters mais irritantes de todos os tempos. Ao menos, nessa conta, nem o espectador incomodado com o mal aproveitamento de um jovem ator – que demonstrou certo valor e versatilidade em À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happiness, 2006) e Karatê Kid (The Karate Kid, 2010) – tem mais motivos para sair do cinema frustrado do que a própria família Smith, que fracassa na tentativa evidente de transformar seu primogênito em astro de filmes de ação. Que, da próxima vez, Will e Jada escolham um realizador mais confiável para dirigir sua cria." (Rodrigo Torres de Souza)

Will Smith encontra no cinema ultrassensível de M. Night Shyamalan um canal para articular suas crenças.

''O prólogo didático que abre ''Depois da Terra'' (After Earth) explica que, no futuro, a humanidade vive num outro planeta, caçada por uma raça alienígena bestial que fareja o medo dos terráqueos. O lendário general Cypher Raige (Will Smith) aprendeu a não ter medo - o que o torna invisível aos aliens - mas seu filho de 13 anos, Kitai (Jaden Smith), não tem o mesmo autocontrole. Quando a nave dos dois cai na Terra, à mercê de mudanças climáticas extremas e espécies predadoras, cabe a Kitai aprender a dominar seu medo. Treinar a mente para se impor sobre o mundo físico é o preceito de frente da Cientologia - aquele que, por se confundir com a auto-ajuda, mais serve para atrair novos adeptos - e Depois da Terra transpira a religião do começo (a hierarquia em rankings, as entrevistas do pai com o filho) ao fim (o vulcão, que simboliza as tempestuosidades do mundo, era uma imagem cara ao criador da Cientologia, L. Ron Hubbard). Mas com exceção de uma cena específica - o pai, inutilizado com as duas pernas quebradas, se recusa a tomar um analgésico, pois os efeitos colaterais o impediriam de guiar seu filho - que ecoa a perigosa oposição da Cientologia à farmacologia estabelecida do século 20, não há nada em Depois da Terra que seja acintosamente dogmático. Mesmo porque as duas premissas do filme - dominar o medo e alcançar o pai - estão aí se repetindo na ficção há séculos, muito antes de Hubbard ter nascido. Em entrevistas, Will Smith, cientologista inconfesso, diz que fez Depois da Terra (seu primeiro crédito como argumentista no cinema) para ensinar seu filho Jaden a sobreviver sozinho em Hollywood. Cada um com suas egomanias... A questão é que o filme se ressente desse peso dado ao filho; Jaden tem lampejos de atuação, em alguns momentos convence mas em outros sua falta de treinamento de ator fica visível. Já Will Smith, que encontra um tom de interpretação ideal para o seu personagem, entre a frieza e a quase emotividade, tem uma das melhores atuações de sua carreira - o que acaba evidenciando mais as deficiências do filho. E então começa a ficar claro que há uma dissonância, nos filmes do diretor M. Night Shyamalan desde Fim dos Tempos, entre o que o cineasta propõe, em termos de experiência sensorial, e o que seus atores conseguem ver e transmitir. Com o tempo, os longas de Shyamalan não têm perdido apenas o senso de humor - eles têm jogado sobre os ombros dos atores, cada vez mais, o fardo de conduzir o espectador por universos ultrassensíveis (sentir o invisível no ar que mata em Fim dos Tempos, achar a paz do zenbudismo em O Último Mestre do Ar, dominar os sentidos em Depois da Terra). É um projeto ambicioso de cinema, embora não pareça, e que infelizmente resulta incompleto, filme após filme. Desses três últimos longas, ''Depois da Terra'' (que ironicamente é o que tem mais o perfil de projeto de encomenda) talvez seja o mais satisfatório, porque as inseguranças de Jaden, ressaltadas pelos close-ups constantes, combinam com o arco do personagem. Além disso, as ameaças do mundo ultrassensível fluem melhor num contexto de suspense spielberguiano de um filme como Depois da Terra (Shyamalan sempre soube jogar bem com o nosso medo do que pode haver no extracampo, e desta vez, numa Terra selvagem, ameaças não faltam) do que numa aventura supostamente infantil como a adaptação de Avatar. Agora, identificar o que torna esses filmes incompletos é o verdadeiro desafio. Sem dúvida, Shyamalan tem tateado um novo caminho, um tipo de cinema mais arrojado, que pode ser frustrante porque não aceita meios termos, meios sucessos. Convencionou-se dizer na mídia que os filmes do cineasta deixaram de funcionar quando a fórmula da reviravolta final se esgotou. Talvez seja o caso de reexaminar nossos conceitos do que significa funcionar." (Marcelo Hessel)

Columbia Pictures Overbrook Entertainment Blinding Edge Pictures

Diretor: M. Night Shyamalan

137.819 users / 35.947 face

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Date 13/04/2014 Poster - #

37. Day of the Fight (1951)

Approved | 16 min | Documentary, Short, Sport

After a short study of boxing's history, narrated by newscaster Douglas Edwards, we follow a day in the life of a middleweight Irish boxer named Walter Cartier.

Director: Stanley Kubrick | Stars: Douglas Edwards, Nat Fleischer, Walter Cartier, Vincent Cartier

Votes: 5,134

[Mov 09 IMDB 6,4/10] {Video}

DIA DA LUTA

(Day of the Fight, 1951)


''O curta documenta Walter Cartier, um boxeador irlandês-americano, durante o auge de sua carreira, no dia da luta com o negro peso-médio Bobby James, que teve lugar em 17 de abril de 1950. Este é o primeiro trabalho de Kubrick como cineasta.'' (Filmow)

Family kubrick

Diretor: Stanley Kubrick

2.262 users / 45 face

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Date 06/04/2014 Poster -

38. Divergent (2014)

PG-13 | 139 min | Action, Adventure, Mystery

48 Metascore

In a world divided by factions based on virtues, Tris learns she's Divergent and won't fit in. When she discovers a plot to destroy Divergents, Tris and the mysterious Four must find out what makes Divergents dangerous before it's too late.

Director: Neil Burger | Stars: Shailene Woodley, Theo James, Kate Winslet, Jai Courtney

Votes: 488,763 | Gross: $150.95M

{Video/@} M/48

DIVERGENTE

(Divergent, 2014)


"A vontade de ser um pouco de cada cinessérie de sucesso para pré-adolescentes dos últimos anos transforma o filme em uma massa sem personalidade própria alguma. Uma bagunça sem vida e sem emoção." (Alexandre Koball)

"Foca nos adolescentes e age como eles: ingênuo, cheio de boas intenções, mas de atitudes ideologicamente questionáveis. Shailene Woodley já é a minha nova queridinha dessa geração que está despontando." (Rodrigo Cunha)

"Foge da mediocridade e consegue crescer narrativamente sem comprometer seu ritmo que é sempre ascendente." (Marcelo Leme)

"Na visão de "Divergente", a busca do mundo perfeito só pode produzir o imperfeito. O ponto de partida é assumidamente pouco original. Pode ser descrito também como: o excesso de cuidados leva ao totalitarismo. Assim, a divisão entre grupos de jovens, conforme suas tendências, parece uma solução irretocável ao pessoal do futuro, que vive num mundo tão artificial que parece resultar não de uma concepção futurística, mas de efeitos de segunda classe. Passemos. A esse mundo de perfeita acomodação responde uma jovem que decide trocar o grupo ao qual sua família dedicou a vida por um outro, que promete mais ação. Daí virá muito quebra-pau. Talvez o sucesso do filme se deva ao sentimento que qualquer pessoa experimenta hoje: o de viver numa sociedade do controle absoluto, dos atos e das palavras, sem alternativa visível. O filme em si é bem frouxo." (* Inácio Araujo *)

''Divergente" não é um grande filme, mas está longe de ser um produto sem sentido. Ali, vivemos numa sociedade futura e perfeita. Como sempre, o perfeito do futuro é de imperfeição exemplar. Ali, grupos de jovens devem escolher, ainda na adolescência, o grupo a que farão parte pelo resto da vida. Há os pacíficos, os aventureiros, os cientistas etc. e tal. Aqui, uma moça sai da barra da família para ligar-se a outro grupo. Daí virão as decorrências. O essencial, porém, está nessa escolha, tão similar à de qualquer jovem que, hoje, aos 16 ou 17 anos, tem de enfrentar o dilema de escolher uma profissão. Ou seja, seu futuro. "Divergente" responde a essa angústia.'' (** Inácio Araujo **)

''É com um misto de inconformismo e conservadorismo que chega aos cinemas Divergente, a adaptação ao cinema do primeiro romance da trilogia infanto-juvenil de Veronica Roth. Inconformismo porque a premissa incentiva a desobediência civil, como outro sucesso de ficção científica adolescente, Jogos Vorazes. E conservadorismo porque o recado implícito na aventura de Beatrice Prior (Shailene Woodley) lembra a mensagem do FBI nos videogames dos anos 90: Vencedores não usam drogas. Evan Daugherty, novato que escreveu o roteiro de Branca de Neve e o Caçador, adaptou com Vanessa Taylor a trama futurista, sobre uma Chicago distópica na qual a sociedade é dividida entre cinco facções - Candor (os honestos), Abnegation (os altruístas), Dauntless (os corajosos), Amity (os pacíficos) e Erudite (os inteligentes). Ao completar 16 anos, jovens têm que decidir para qual das facções dedicarão os restos de suas vidas - e chegou a hora de Beatrice escolher. Acontece que ela descobre ser um tipo outro, raro, inclassificável e portanto perigoso: ela é uma Divergente. Em resumo, Beatrice carrega consigo características de facções distintas, e o seu destino é um mundo de possibilidades - o que no futuro totalitarista do filme é visto como uma ameaça. Veronica Roth adapta para a fantasia, portanto, o mundo de escolhas que a maioria dos adolescentes enfrenta na realidade ao passar à vida adulta, e Divergente transcorre, em boa medida, como uma história de colegial americano, envernizando a obrigatória divisão de grupinhos no refeitório (nerds, atletas, patricinhas etc. aqui só mudam de nome), com direito a flertes entre um hamburguer e outro. A desobediência não deixa de ser, então, algo que se espera de adolescentes, como qualquer rito de passagem. Best-seller entre os jovens, Divergente abraça de forma indolor e comportada (a única ruptura de fato na vida de Beatrice é também esperada e obrigatória, o adeus aos pais) a ideia de que o mundo é um lugar a ser fisicamente desbravado. Esportes radicais e jogos estão no centro dessa experiência no filme, e embora haja um senso mínimo de ameaça - mortes são consideravelmente mais chocantes em Jogos Vorazes - é inevitável ver a jornada da heroína neste filme como um passeio por um parque de diversões. E dentro dessa leitura, mais perigosas do que a corporação que serve de vilão aqui - as fileiras inimigas estão cheias de escritórios clean e gente engravatada, esse pesadelo do "mundo dos adultos" - são as drogas que inibem o julgamento. Então não faltam soros e seringas com drogas da obediência - os trintões vão lembrar do livro de 1984 de Pedro Bandeira - ao longo do filme para demarcar essa posição moral. Divergente quer que os jovens aproveitem a vida, que saltem, corram e se apaixonem, mas com responsabilidade." (Marcelo Hessel)

''Divergente'' parecia capaz de desafiar Jogos Vorazes como bom filme juvenil de tom político, mas era só impressão. O longa baseado no livro de Veronica Roth, por sua vez inspirado em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, prometia mostrar os perigos da engenharia social e do condicionamento psicológico da sociedade, mas na verdade se resume a uma história piegas entre facções rivais e romances proibidos. A simpática atriz Shailene Woodley é Beatrice Tris Prior, garota nascida na casta Abnegação, cuja função é governar e ajudar aos necessitados - vocação não compartilhada pela garota. Ela sonha em fazer parte da Audácia, espécie de polícia local e cujos membros aparentam ter maior liberdade. Quando chega a hora de decidir sob qual facção viverá o resto da vida, seu resultado a aponta como uma Divergente, pessoas que não pensam como o resto da sociedade e, por isso, ameaçam o sistema. Enquanto luta para esconder sua condição, ela muda de grupo e acaba envolvida romanticamente com Quatro, um dos treinadores do novo clã. No primeiro momento, ''Divergente'' parece mais sombrio até do que Jogos Vorazes, graças à sociedade reduzida a indivíduos com apenas um traço de personalidade. Entretanto, a semelhança com Harry Potter e Percy Jackson é mais forte, afinal a narrativa se concentra demais no treinamento de Tris e não nas questões políticas. A garota passa por provas, enfrenta desafios e tenta conseguir notas para seguir adiante. Por acaso, ela descobre praticamente sozinha uma terrível conspiração e precisa agir. Quando as coisas esquentam, já é tarde. O diretor passa tempo demais tentando explicar o mundo e esquece de criar algo interessante por si só. Como consequência, o filme não possui uma história coesa e a narrativa não funciona. Mesmo após a (monótona) batalha final, parece que estamos acompanhando um prólogo estendido e incapaz de divertir. Além disso, os personagens nunca estão em perigo real. A sociedade é pacífica e não parece à beira da guerra civil. Ameaças externas preocupam, porém nunca fica claro porque se deve temer o mundo exterior. Mesmo durante o treinamento, no qual os cadetes com pontuação baixa serão banidos, tudo parece amigável e relativamente tranquilo. Os roteiristas até tentam criar sequências interessantes, mas o diretor evita pesar a mão e deixa tudo sem graça. O visual também atrapalha. Diferente de Hogwarts ou dos distritos de Panem, Chicago de Divergente não possui características capazes de distingui-la de outros cenários pós-apocalípticos. Problema sério, afinal franquias adolescentes precisam criar identidade própria para cativar o público. O longa raramente tem cenas externas, e quando tem, a metrópole parece quase a mesma de hoje. Além disso, os ambientes internos não são criativos e parecem saídos de filmes de baixo orçamento. O mesmo vale para o figurino. Woodley segura bem a onda como protagonista e é capaz de realizar as cenas físicas e emocionais com competência. Entretanto, sua personagem é fraca e depende demais de coadjuvantes para seguir adiante, ao contrário de Katniss Everdeen e Harry Potter, os quais sempre estão no comando, mesmo quando ajudados por amigos. Essa apatia permeia todos os aspectos de Divergente e deveria incomodar até mesmo os fãs do livro. Afinal, boas ideias não faltam. Mas todas são mal aproveitadas na telona." (Daniel Reininger)

"Divergente" é mais uma daquelas narrativas distópicas vagamente influenciadas por mestres como George Orwell ou Aldous Huxley, em que um regime autoritário controla a sociedade de modo opressivo lançando mão de tecnologias sofisticadas. O longa adapta o primeiro romance de uma trilogia para adolescentes da norte-americana Veronica Roth. Na trama, em uma Chicago pós-apocalíptica, isolada do mundo por uma muralha, a sociedade foi dividida em cinco grupos, segundo as virtudes de seus membros. Temos os grupos da Amizade (pacifismo), Abnegação (altruísmo), Franqueza (sinceridade), Erudição (inteligência) e Audácia (coragem). A única explicação para a adoção desse modelo social arbitrário é a proteção da cidade de eventuais invasões. Em uma cerimônia anual, os jovens de 16 anos devem escolher um dos grupos, ao qual pertencerão pelo resto de suas vidas. Aqueles que não se enquadram nessa estrutura vivem como párias -os sem-virtudes - ou como divergentes - os que possuem mais de uma das cinco virtudes. Considerados perigosos para a coesão social, os divergentes são perseguidos pelo governo. Para piorar as coisas, há uma disputa pelo poder simplória e maniqueísta entre os ingênuos da Abnegação e os espertalhões da Erudição. Nesse ambiente carregado transita a jovem heroína Tris (Shailene Woodley), que se divide entre o amor por um rapaz e a luta entre as duas facções. Extravagante e demasiado codificada, essa história asséptica sobre uma ditadura não é minimamente crível e só deve interessar o público familiarizado com o romance." (Alexandre Agabiti Fernandez)

38 Metacritic

Date 23/03/2015 Poster - ###

39. Dogtooth (2009)

Not Rated | 97 min | Drama, Thriller

73 Metascore

A controlling, manipulative father locks his three adult offsprings in a state of perpetual childhood by keeping them prisoner within the sprawling family compound.

Director: Yorgos Lanthimos | Stars: Christos Stergioglou, Michele Valley, Angeliki Papoulia, Christos Passalis

Votes: 110,320 | Gross: $0.11M

[Mov 01 IMDB 7,2/10] {Video/@} M/73

DENTE CANINO

(Kynodontas, 2009)


''Dente Canino conta a história de uma família que tem três filhos e moram em uma casa isolada no subúrbio. Em volta dessa casa há uma cerca muito alta, que as crianças nunca passaram. Ou seja, os filhos do casal nunca tiveram nenhum contato com mundo exterior. Quem cria, educa e ensina todo para as crianças são os pais, porém, excluindo toda e qualquer influência do mundo lá fora. A situação piora quando as crianças começam a fazer questionamentos que não fazem mais sentido no mundo em eles vivem.'' (Filmow)

"Argumento original e interessantíssimo, melhor, muito melhor do que o filme em si, que não tem muito o que dizer, servindo como uma vitrine de personagens estranhos, não um estudo destes." (Alexandre Koball)

**** "Dá pra xingar o grego ''Dente Canino'' de tudo, menos de ser dissimulado. Eleito melhor filme da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes deste ano, o trabalho de estreia do diretor Yorgos Lanthimos não esconde que faz cinema para sadomasoquistas. Na verdade, deixa isso tão claro que uma cena até envolve uma surra com fita VHS. Metáfora fina. A trama é uma provocação contra quem acha que games, cinema, TV - o mundo, enfim - ajudam a corromper as pessoas. Três filhos adultos, um rapaz e duas mulheres, são mantidos em casa por seus pais como se fossem detentos. A ideia é lhes preservar a inocência. Na TV, só assistem aos filmes caseiros que a família faz. Na vitrola, o pai apresenta Sinatra como sendo o avô dos meninos, e traduz para o grego a letra de Fly me to the Moon como bem entende. E é isso, em resumo. Lanthimos passa o filme subindo ou diminuindo, com intentos de chocar ou fazer rir, o nível de absurdo dessas situações. Os filhos matam um gato porque nunca tinham visto um bicho daqueles, desejam que aviões caiam no jardim para colecioná-los, brincam com água como crianças de fato. E evidentemente a curiosidade inata dos filhos uma hora dá em merda... ''Dente Canino'' é uma versão acrítica de A Vila. Melhor dizendo, é uma versão escrachada de Dogville - a proximidade do cinema de Lanthimos com o de Lars von Trier é maior, e não está só na semelhança dos títulos. Os dentes caninos têm uma certa importância para a trama, mas sua imagem é inicialmente simbólica - dentes caninos são triangulares, pontudos, afiados, porque foram projetados há gerações para rasgar carne. O que o pai da família de Dente Canino está tentando fazer, de novo metaforicamente, é transformar sua gente carnívora em bebedores de leite. De novo, um simbolismo que só reafirma uma proposta inicial. Esse é o grande problema do filme: sua provocação, além de reiterativa, tem alcance curto (e passa por clichês do Estado repressor, como as roupas todas brancas). Como na cena em que o treinador de cachorros explica que eles são amestrados como queremos que eles se comportem. Ora, o filme já está batendo nessa tecla desde o começo... Não há uma evolução de ideias, mas uma reafirmação de premissa e uma graduação de tolerâncias. Sadismo puro e simples. No fim, o cinema, representado pelo citado VHS, interpreta um papel de catalisador da anarquia. É curioso que Lanthimos o enxerge assim, e é o tipo que cinema que ele almeja. Em ''Dente Canino'', filmes são tratados como dados pré-existentes, objetos fechados, que desde sempre foram uma marca de rebeldia. O erro do diretor é não entender que o cinema, para se tornar rebeldia, primeiro precisa passar por um processo de reflexão." (Marcelo Hessel)

83*2011 Oscar / 2009 Palma de Cannes

Boo Productions Greek Film Center Horsefly Productions

Diretor: Giorgos Lanthimos

33.288 users / 12.143 face

17 Metacritic

Date 06/04/2015 Poster - #####

40. Jodorowsky's Dune (2013)

PG-13 | 90 min | Documentary

79 Metascore

The story of cult film director Alejandro Jodorowsky's ambitious but ultimately doomed film adaptation of the seminal science fiction novel.

Director: Frank Pavich | Stars: Alejandro Jodorowsky, Michel Seydoux, H.R. Giger, Chris Foss

Votes: 27,536 | Gross: $0.65M

[Mov 01 IMDB 8,1/10] {Video/@@} M/79

DUNA DE JODOROWSKY

(Jodorowsky´s Dune, 2013)


TAG FRANK PAVICH

{esquecível}


Sinopse

''O documentário abrange o diretor de filmes cult Alejandro Jodorowsky e sua tentativa em 1974 de criar uma adaptação para o cinema do romance de ficção científica escrito por Frank Herbert, Duna. Enquanto a produção ambiciosa desabou depois de dois anos, a equipe de Jodorowsky formada por artistas relativamente desconhecidos continuaram a explorar os temas e estilos iniciados no projeto e acabaram mudando a ficção científica moderna para sempre: HR Giger criou Alien a obra-prima de Ridley Scott, Dan O'Bannon escreveu Total Recall e Alien, Jean Moebius Giraud criou os mundos futuristas para Star Wars: O Império Contra-Ataca, Tron, e O Quinto Elemento e Chris Foss iria passar a trabalhar no Alien e Superman. Jodorowsky está animado para compartilhar sua visão do que poderia ter sido Duna que passou a ser dirigido por David Lynch e posteriormente lançado, A falha simplesmente faz você mudar sua maneira. Eu espero que, neste documentário, o público veja o que eu fiz. É um mundo incrível."
''Um dos projetos cancelados pelos manda-chuvas em Hollywood que eu gostaria de ter visto é a versão que o Alejandro Jodorowsky imaginou para o clássico da literatura sci-fi Duna. O chileno Jodorowsky é uma espécie de místico e guru espiritual, que dirigiu cults como El Topo e The Holy Mountain, além da sua incrível parceria com o quadrinista francês Moebius. A visão de Jodorowsky pro universo criado pelo escritor Frank Herbert era bastante ambiciosa. Para ele, seu antigo projeto seria um filme que daria alucinações de LSD…sem tomar o LSD, capaz de mudar as jovens mentes de todo o mundo. O filme reuniria um grupo estelar de artistas e atores, incluindo H.R. Giger e Moebius nos designs, Pink Floyd na trilha sonora além de Mick Jagger, Orson Welles e Salvador Dali no elenco. O tamanho do projeto, as limitações técnicas e o nome das pessoas envolvidas acabou intimidando os investidores e produtores de Hollwood, que acabaram o cancelando. Embora possamos sonhar como seria o resultado final desse filme, diversos elementos imaginados por Jodorowsky foram aproveitados por outros futuros clássicos, além da própria adaptação de Duna por David Lynch em 1984, conceitos semelhantes foram reaproveitados por Ridley Scott em Alien e Blade Runner. Ano passado, o cineasta americano Frank Pavich viajou pela Europa para gravar o documentário Jodorowsky’s Dune, que, através de entrevistas e materiais da pré-produção, dá ao espectador um breve vislumbre do que seria um dos filmes mais lisérgicos da história do cinema. Pavich entrevistou diversas figuras envolvidas no projeto, incluindo o próprio Jorodowsky – que lembrou que o roteiro tinha o tamanho de uma lista telefônica – e o produtor Michel Seydoux. O documentário foi exibido no circuito dos festivais de cinema, tendo sua premiere no Cannes de 2013. A produção foi igualmente bem recebida pela crítica e fãs, além de reunir comentários dos envolvidos no projeto e diversos outros especialistas em literatura, cinema e cultura pop. Pavich usou uma série de recursos para animar diversos elementos do storyboard imaginado por Jodorowsky, Giger e Moebius, mostrando assim um breve noção do que seria a obra-prima perdida de Jodorowsky. No Brasil, o livro original e suas continuações imaginadas por Frank Herbert são publicados pela Editora Aleph. O terceiro livro, Filhos de Duna, será publicado nesse semestre. O documentário Jodorowsky’s Dune estreia nos cinemas americanos no dia 3 de Março." (Indiewire)

2013 Palma de Cannes

City Film (II) Camera One Endless Picnic Snowfort Pictures

Diretor: Frank Pavich

10.803 users / 19.319 face

31 Metacritic

Date 13/08/2015 Poster - #

41. The Earrings of Madame De... (1953)

Not Rated | 105 min | Drama, Romance

When an aristocratic woman known only as "Madame de . . ." sells a pair of earrings given to her by her husband in order to pay some debts, she sets off a chain reaction of financial and carnal consequences that can end only in despair.

Director: Max Ophüls | Stars: Charles Boyer, Danielle Darrieux, Vittorio De Sica, Jean Debucourt

Votes: 11,104

[Mov 09 IMDB 8,1/10] {Video}

DESEJOS PROIBIDOS

(Madame de..., 1953)


TAG MAX OPHÜLS

{inesquecível / nostálgico}


Sinopse

''No início do século 20, em Paris, Louise, mulher de general vende os brincos que ele lhe dera para pagar uma dívida de jogo. Quando o marido descobre, ele compra as jóias de volta e as dá para sua amante, Lola. Depois disso, Louise acaba descobrindo o amor e torna-se menos frívola.''
{Napoleão se equivocou duas vezes: em Waterloo e quando disse que no amor a única vitoria é a fuga} (ESKS)

''Madame de… é a protagonista de ''Desejos Proibidos'', Louise, à qual o filme também deve seu título original. É assim que a conhecemos, pois é o máximo de informação que Max Ophüls permite a nós, espectadores, encontrarmos sobre a origem dela em meio às referências visuais e aos diálogos do filme. O recurso, além de uma licença poética que se resolve brilhantemente em muitas cenas, também está ligado ao olhar com o qual o diretor observa o triângulo amoroso formado por ela e por seus dois homens, habitantes dos palácios, das carruagens e de outros ambientes da luxuosa aristocracia europeia do século XIX - um jogo de amor, de pertencimento, de vingança e outros sentimentos distintos, de mentiras, enganações, promessas, muita pompa burguesa, desilusões e abismos, com o qual Ophüls chega ao ápice da sua sofisticação e da virtuosidade narrativa e estética. A sequência de abertura, em que apresenta nossa protagonista, já diz muito sobre este olhar de Ophüls e sobre a superfície na qual pretende mergulhar com sua câmera inquieta e exploradora. A senhora, mulher do general André, do qual obviamente também não saberemos o sobrenome, procura um par de brincos de grande valor em seus pertences. A câmera de Ophüls ocupa o que seria um olhar subjetivo da senhora, percorrendo gavetas e portas de armários em busca dos objetos. Antes mesmo de conhecermos o rosto dela, sua identidade já nos é revelada através de seus bens, dos belíssimos casacos de pele, dos vestidos, das jóias e chapéus que a vestem para dar-lhe uma personalidade - e, neste vaidoso jogo de aparências, uma posição social. Mas somente após encontrar os brincos - e colocá-los - é que vamos descobrir quem de fato é esta mulher, quando as lentes de Ophüls se voltam a um espelho que emoldura a bela face de Danielle Darrieux em uma imagem que parece saída de um álbum de fotografias muito bem planejado. Porque a primeira imagem de Louise, é claro, tem que ter toda elegância que lhe é permitida. Isto para, na sequência seguinte, a finesse ser deliciosamente jogada num buraco. Por debaixo da pompa aristocrática de Louise e de seu marido, aquele casal admirado pela sociedade, estão as boas e velhas sacanagens. Endividada e desesperada, ela penhora os brincos para evitar que o marido descubra os problemas em que se meteu, mentindo a ele que os perdeu enquanto acompanhavam uma ópera junto de amigos. A venda dos brincos, para Ophüls, surge como uma irônica quebra do sossego, um ponto de partida para a tragédia que viria a acometer a vida do casal, como se ali, ao se desfazer deles, a Madame estivesse vendendo também parte de sua alma e de sua tranquilidade, que passarão de mãos em mãos até se dividirem entre dois homens: o marido, que compra os brincos de volta e dá para uma amante, e o futuro amor de sua vida, o Barão Fabrício Donati, que coloca as mãos nos brincos para, mais tarde, devolvê-los (sem saber) como presente a Louise, com quem terá um caso. O insano conflito narrativo de Desejos Proibidos se constrói em pouco mais de 30 minutos de filme, nos quais Ophüls torce e distorce uma alucinante narrativa cíclica (que traria de A Ronda, um de seus filmes anteriores) percorrendo todos os caminhos feitos pelos brincos até eles retornarem, com um novo significado, às mãos da Madame – agora símbolos do verdadeiro amor e do desejo. Nestes 30 minutos, vemos a habilidade narrativa e visual do diretor evidente em cada plano, cada sequência e movimento elaborado de câmera, utilizando os requintados ambientes em que a história se desenvolve para compor alguns dos mais belos quadros de sua obra, seja pela pura plasticidade visual ou pela profundidade que podem atribuir aos sentimentos trabalhados através dos personagens — chegando ao ápice na colagem das valsas dançadas por Louise e Fabrício durante diferentes bailes, quando no uso da elipse Ophüls acompanha a progressão da paixão que nasce entre ambos em uma longa sequência de colagens que merece ser vista em pé. Mas a visão do diretor sobre o amor, já discutida no texto de Liebelei, surge aqui ainda mais trágica e negativista, mostrando um cineasta cada vez mais amargurado e desesperançoso com a possibilidade da vitória deste sentimento tão puro diante de um mundo tão desprezível, sugado pela superficialidade das aparências e pela baixeza humana. Nos poucos momentos em que Louise e Fabrício têm para mostrarem um ao outro o seu amor, jamais nos aproximamos da doçura e da inocência das representações românticas de Liebelei. As cenas de amor em Desejos Proibidos surgem sob uma atmosfera estranha, opressiva e desoladora, que vai tomando conta do filme à medida que se fortalece a consciência de Louise sobre a impossibilidade de viver por aquilo que sente — como que estando ciente de que sua existência estará indefectivelmente presa à posição social que ocupa ao lado do marido. Ophüls trabalha em ''Desejos Proibidos'' um processo gradativo de letargia. Conforme os conflitos se estreitam, as existências de Louise e dos brincos vão se equilibrando até chegarem a uma relevância quase equivalente na história - dois objetos de posse para um marido de orgulho ferido. Se o controle sobre a esposa é impossível por conta de suas pulsões voluntárias, o general apreende os brincos e, consequentemente, sua alma, e o significado romântico que eles passaram a ter depois de reconquistados por ela é arremessado contra ela própria, que neles projeta a tragédia incontornável e se depara com uma relação de poder e de dominação que só seria destruída pela própria tragédia. A resolução do conflito não poderia ser mais devastadora: disso tudo, resta apenas o corpo de uma Madame que, embora siga no mundo, praticamente faz uma opção pela não-existência, pela própria anulação. Por mais trágica que seja sua história, porém, não é possível sair de Desejos Proibidos sem estar completamente encantado e maravilhado com o filme. Porque aqui a chave de tudo está naquela palavrinha maldita, hoje em dia presente em 50% dos textos escritos sobre cinema. Sim, é de mise en scène que vive Desejos Proibidos, e por mais que toda obra de Ophüls possa ser vista como um dos mais perfeitas representações do poder e do significado da mise en scène, é aqui que o diretor atinge um patamar sublime de expressividade quase sobre-humana, um requinte visual que não existe em praticamente nenhum outro filme que eu me lembre de ter visto até então. Ao final, naquele lindo quadro de encerramento, não dá pra não pensar em Desejos Proibidos como uma obra-prima máxima, que em toda sua beleza, dor e poesia serve, acima de tudo, como uma recompensa para qualquer amante do cinema." (Daniel Dalpizzolo)

27*1954 Oscar

Top Década 1950 #46 Top França #45 Top Itália #26

Franco London Films Indusfilms Rizzoli Film

Diretor: Max Ophüls

5.633 users / 390 face

Date 29/08/2015 Poster - ##########

42. I'm Dancing as Fast as I Can (1982)

R | 107 min | Biography, Drama

A true story about Emmy-winning documentary filmmaker Barbara Gordon's Valium addiction and her desperate attempts to kick the habit.

Director: Jack Hofsiss | Stars: Jill Clayburgh, Nicol Williamson, Dianne Wiest, Joe Pesci

Votes: 571

[Mov 07 IMDB 6,4/10] {Video}

DANÇANDO COMO LOUCOS

(I'm Dancing as Fast as I Can, 1982)


TAG JACK HOFSISS

{interessante}


Sinopse ''Barbara Gordon parece ter tudo na vida. Mas por trás de todo o sucesso, ela esconde um vicio em remédios como anti-depressivos para reduzir o estresse e a ansiedade. Quando Barbara finalmente admite ter problemas com as drogas, ela vai lutar para se livrar do vício.''
Paramount Pictures

Diretor: Jack Hofsiss

383 users / 54 face


Soundtrack Rock

The Specials / Desmond Child and Rouge
Date 24/09/2015 Poster - #######

43. White God (2014)

R | 121 min | Adventure, Drama, Thriller

80 Metascore

Thirteen-year-old Lili fights to protect her dog Hagen. She is devastated when her father eventually sets Hagen free on the streets. Still innocently believing love can conquer any difficulty, Lili sets out to find her dog and save him.

Director: Kornél Mundruczó | Stars: Zsófia Psotta, Sándor Zsótér, Lili Horvát, Szabolcs Thuróczy

Votes: 17,069 | Gross: $0.28M

[Mov 10 Favorito IMDB 6,9/10] {Video/@@@@@} M/80

DEUS BRANCO

(Fehér isten, 2014)


TAG KORNÉL MUNDRUCZÓ

{intenso / violento}


Sinopse

''Um conto visionário entre uma espécie superior e os seus desgraçados inferiores… Privilegiando os cães de raça, uma nova lei impõe uma taxa pesada sobre as raças cruzadas. Os donos passam a abandonar seus cães e os refúgios ficam rapidamente superlotados. Lili, 13 anos, luta para proteger o seu cão, Hagen, mas seu pai acaba abandonando o animal nas ruas. Hagen e a sua dona procuram desesperadamente um ao outro, até que Lili perde as esperanças. Lutando para sobreviver, Hagen percebe depressa que nem todo mundo é o melhor amigo do cão. Ele junta-se a um bando de cães errantes, mas é capturado e enviado para um canil. Mesmo sem esperança de sobrevivência, os cães aproveitam as oportunidades para escapar e se revoltarem contra a humanidade. A sua vingança será implacável. Nesse cenário, Lili pode ser a única pessoa que pode pôr fim a esta guerra inesperada entre o homem e o cão.''
''Num ano em que nenhum filme da competição provocou barulho de verdade, os cachorros tomaram conta. Tendo o labrador Hagen como estrela, o filme húngaro "Deus Branco" foi o filme mais comentado desta edição e conseguiu levar prêmios tão diferentes como o de melhor filme da mostra Un Certain Regard e a divertida Palm Dog, para o melhor cão atuando num filme do festival. "Deus Branco" já abre com uma cena impressionante: uma menina anda de bicicleta por uma Budapeste deserta, quando uns 200 cães dobram a esquina e começam a correr atrás dela. A história então volta no tempo, e descobrimos que Hagen, o chefe da matilha, vive com sua dona, a menina Lili. O pai da garota não surporta o cachorro e decide deixá-lo num canil. Hagen foge e começa toda uma jornada difícil: vai parar nas mãos de um mendigo, que o vende para um treinador de cães de briga, que faz dele uma máquina de matar. Quando consegue escapar, Hagen monta uma gangue gigantesca de "parceiros". Furiosos, os 200 cães armam uma fuga em massa do canil e saem às ruas para buscar vingança de todos os que maltrataram Hagen, promovendo um verdadeiro arrastão por Budapeste. O diretor húngaro Kornel Mundruczó usou dois labradores gêmeos, Luke e Body, para o papel de Hagen. Dezenas de treinadores de animais ajudaram a ensaiar as cenas supercomplicadas. "Foi uma experiência terapêutica. O filme é uma bela prova da cooperação singular entre duas espécies. E o mais extraordinário é que todos os cachorros usados vieram da Sociedade Protetora dos Animais, e no final do filme todos foram adotados conta o diretor. A menina Lili, claro, será a única que poderá deter os cães, tocando o seu trompete numa versão moderna de O Flautista de Hamelin. O último plano, com Lili deitada na rua ao lado dos 200 cães depois de acalmá-los com sua música, é um dos mais fortes vistos no festival. "Deus Branco" - cujo deus branco do título é uma reverência ao homem - remete a um clássico de Samuel Fuller, Cão Branco, que também contava a história de um cão treinado para matar. Mas Mundruczó confirma o que é fácil ver na tela: o filme não é uma simples diversão e embute uma forte crítica social e política. A história foi muito inspirada nas relações sociais inverossímeis e cada vez mais hostis dos dias de hoje. O senso de superioridade tornou-se um privilégio da civilização ocidental do qual é impossível não abusar. Em vez das minorias, escolhi os animais como tema do filme", explicou. (Thiago Stivaletti)

***** ''A dedicatória a Miklós Jancsó, personalidade tutelar do cinema húngaro, e uma bela epígrafe – Tudo que é terrível precisa do nosso amor –, extraída de Rilke, amplificam a expectativa na abertura de "Deus Branco". As imagens de uma cidade esvaziada e de uma garota com olhar atônito introduzem uma dimensão fantástica logo substituída por situações mais realistas. São contrastes que o diretor húngaro Kornel Mundruczó insere para preparar o espírito para as oposições brutais que seu filme exibirá adiante. A doçura de Lili (Zsófia Psotta), a menina quase adolescente vista de relance, aparece oposta à secura de Dániel (Sándor Zsótér), o pai com quem ela tem de morar quando a mãe parte numa viagem com o novo marido. Entre pai e filha, entre o mundo adulto e o infantil, a figura maciça do cão Hagen se impõe como representação da natureza e da liberdade, simboliza os que não se submetem. Quando Dániel proíbe que Lili mantenha o cachorro dentro de casa, "Deus Branco" deixa de ser apenas o retrato de uma relação falhada. O sacrifício de Hagen passa a ser tratado como metáfora para todas as formas de exclusão, o que torna o filme tão ambicioso como indigesto. A longa série de ameaças, fugas, prisões, abusos e exploração a que o cão é submetido logo faz de "Deus Barnco" uma experiência insuportável para o espectador sensível aos animais, mesmo sabendo que tudo o que o filme mostra é somente encenação. A intensidade do martírio, por sua vez, seria justificável pelo vigor da denúncia que se pretende fazer à coerção e aos danos do poder disciplinar. Apesar de confirmar o talento de Mundruczó para construir cenas de impacto e arrancar o público da contemplação passiva, "White God" não introduz nada de novo na representação de opressores versus oprimidos. A referência a Jancsó, realizador que inventou formas deslumbrantes para expor o conflito entre o poder e os que resistem a ele, esgota-se na evocação do nome. E não deixa de ser contraditório "Deus Branco" fazer uso exacerbado da violência para pregar que devemos nos tornar criaturas mais sensíveis." (Cassio Starling Carlos)

{Tudo que é terrível precisa do nosso amor } (ESKS)

"Você já viu isso antes: alguém, pertencente a uma minoria, sofre preconceitos ao tentar morar em um lugar dividido pelo racismo e pela xenofobia e assim é obrigado a ir morar na rua, onde descobre o submundo cruel das cidades. Em "Deus Branco", aclamado longa do húngaro Kornél Mundruczó, a história é exatamente essa, porém, com um pequeno detalhe: o alguém é um simpático vira-lata chamado Hagen. Brevemente inspirado no romance Desonra – que Mundruczó levou para os teatros em 2012 -, do sul-africano J. M. Coetzee, o roteiro do longa narra acompanha um momento na vida da jovem Lili (Zsófia Psotta), uma estudante que é obrigada a passar alguns meses com seu devoto cão na companhia de Dániel (Sándor Zsótér), seu ausente pai. Preso em uma posição muito frágil com a filha e pressionado por uma vizinha que obriga o sujeito a colocar Hagen na rua, Dániel abandona o simpático animal próximo a uma movimentada avenida de Budapeste enquanto tenta retomar o controle da situação com a rebenta. Completamente filmado nas ruas da capital da Hungria, White God passa longe de ser um daqueles filmes de cachorro da Sessão da Tarde. Recheado de cenas chocantes – o treinamento que o protagonista de quatro patas recebe para se tornar um vencedor em uma rinha de cães é extremamente brutal – o longa não poupa esforços e estômagos para mostrar a realidade que alguns habitantes tido como “indesejados” por uma pequena parte da população recebem de uma parte abusiva da sociedade. Vide a situação não apenas dos animais, mas principalmente dos ciganos e judeus do Leste Europeu que lidam hoje em dia com uma espécie de apartheid institucionalizado por aquelas bandas. Divido em três atos com pegadas diferentes entre si – o primeiro é mais calmo e leve, enquanto o segundo é mais dramático e o último poderia ser considerado uma mistura de Os Pássaros com Cujo – White God é um belo trabalho de edição e direção. Com um ritmo bastante eficiente, o longa chamou uma boa parte da atenção em Cannes por conta de suas cenas de ação envolvendo mais de 300 cães de rua. Totalmente filmadas sem ajuda de computação gráfica, estas cenas (que abrem, fecham e fazem parte do pôster do filme) emanam uma realidade impossível de ser mostrada em tela mesmo com a tecnologia que temos hoje no cinema. Não por acaso as reações de pânico dos figurantes são tão reais e assustadoras. Ganhador do prêmio Un Certain Regard no festival de Cannes, White God é um melancólico e violento retrato do lado menos glamoroso da Europa que, além de renovar o estilo filme-de-cachorro, aparece – juntamente com Mad Max: Estrada da Fúria – como uma das provas de que o cinema precisa de mais coragem e menos computação. E talvez este seja o começo de uma nova revolução." (Kelson Douglas)

''O vencedor do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes 2014 não é fácil de assistir: a narrativa, violenta e gráfica como boa parte dos filmes oriundos do leste europeu, traz às ruas a briga entre opressores e oprimidos em uma sociedade em que aqueles exploram, marginalizam e aprisionam estes. Mas existe mais nesta versão de Os Pássaros com cães diante de nós: um Romeu e Julieta improvável entre uma garotinha e seu ora dócil cão vira-lata, um terror à la Cujo, um filme de vingança e uma crítica social. Às vezes até parece que o diretor Kornél Mundruczó perderá a mão, mas a impressão desaparece quando vemos a coragem e o controle em cenas que envolvem dezenas e até centenas de cães - o quê, em seu filme convencional de Hollywood, seria um efeito especial. Um trabalho poético, crítico e ambicioso." (Cinema com Crítica)

2014 Palma de Cannes / 2014 Sundance / 2014 Palma Dog

Proton Cinema Pola Pandora Filmproduktions Filmpartners Chimney Pot, The Film i Väst Hungarian National Film Fund ZDF/Arte

Diretor: Kornél Mundruczó

6.608 users / 6.208 face

29 Metacritic

Date 07/10/2015 Poster - ##########

44. Training Day (2001)

R | 122 min | Crime, Drama, Thriller

71 Metascore

A rookie cop spends his first day as a Los Angeles narcotics officer with a rogue detective who isn't what he appears to be.

Director: Antoine Fuqua | Stars: Denzel Washington, Ethan Hawke, Scott Glenn, Tom Berenger

Votes: 472,551 | Gross: $76.63M

[Mov 07 IMDB 7,7/10] {Video/@@@@} M/70

DIA DE TREINAMENTO

(Training Day, 2001)


TAG ANTOINE FUQUA

{violento}


Sinopse

''O policial Jake Hoyt tem apenas 24 horas para decidir até onde pretende ir para "servir e proteger". Quando ele recebe uma proposta de teste para se juntar à equipe de Alonzo Harris, veterano agente da divisão de narcóticos da polícia de Los Angeles, ninguém duvida que ele tenha tirado a sorte grande. Ser um investigador sempre foi seu sonho. Hoyt, terá apenas um dia para lançar mão de todos os seus recursos e provar para o truculento Harris que é homem certo para seu time.''
''Bastante próximo e conhecido dos brasileiros, o tema da corrupção policial ganha uma vigorosa produção norte-americana: Dia de Treinamento, drama escrito por David Ayer, aqui em seu primeiro roteiro solo para o cinema (ele já havia co-escrito U-571 e Velozes e Furiosos). Como o título do filme já adianta, tudo se passa num único dia em que o policial veterano Alonzo analisará se o novato Jake tem ou não capacidade para se engajar na divisão de narcóticos da polícia. Todo o treinamento será feito não numa sala de aula nem numa repartição policial, mas sim diretamente nas violentas ruas de Los Angeles. Em poucas horas, o jovem Jake vai perceber que ele está nas mãos de uma personalidade perigosa, perturbada e polêmica. Apesar de retratar a realidade de um país distante do nosso, é impossível deixar de relacionar Dia de Treinamento com o atual momento brasileiro. A corrupção corre solta, a violência é a linguagem mais poderosa das ruas e a criminalidade parece ter atingido proporções totalmente desmesuradas. Se nas favelas cariocas a presença da polícia é anunciada por fogos de artifício, nos bairros barra-pesada de Los Angeles os criminosos soltam pombos para alertar seus colegas. As diferenças são sutis. “Somos a polícia: nós podemos tudo” é um dos lemas de Alonzo. O diretor Antoine Fuqua, especializado em videoclipes de músicos negros, utiliza grandes closes e muita câmera na mão para dar um tom mais realista ao seu filme. Quase documental. O estilo de Fuqua praticamente coloca o espectador no banco traseiro do carro de Alonzo e Jake, fazendo-o participar vividamente da ação. Suja e escura, a fotografia é coerente com o tema. O resultado é envolvente. Com as devidas ressalvas moralistas – afinal, é um filme hollywoodiano –, ''Dia de Treinamento'' veicula a lógica toda própria de Alonzo: “Para proteger o carneiro é necessário vigiar o lobo. E para isso é preciso ser igual ao próprio lobo”, ensina o corrupto. A verdadeira lei - ou pelo menos o que se espera dela - não tem lugar no filme. Não há mocinhos contra bandidos. E se algum criminoso for punido, ele o será pelas mãos de seus iguais, nunca pela chamada autoridade constituída. Dia de Treinamento deixa no ar a terrível sensação de que, quando o assunto é justiça, cada um cuide de si. Denzel Washington e Ethan Hawke concorrem respectivamente aos prêmios Oscar de Ator e Ator Coadjuvante por este filme." (Celso Sabadin)

''A polícia é um ente de que duvidamos sempre e tão intensamente que a única maneira de salvar um filme sobre o assunto, hoje, é escalar um grande ator no papel principal. Foi o que aconteceu em "Dia de Treinamento". Denzem Washington já devia ter ganhado o Oscar uma duas ou três vezes. Este não é certamente o seu melhor papel - não é nada perto do Malcolmm X feito para Spike Lee -, mas lhe deu o prêmio e pronto. Ninguém dirá que havia méritos na caracterização do tira que leva um novato para um dia de treinamento. É reverenciado por seus feitos, mas, a partir de dado momento, insinua-se a sombra da dúvida: será esse heróico policial tão heróico e tão integro assim? Quem quizer originalidade procure A Marca da Maldade, de Orson Welles, em que o assunto é basicamente o mesmo - e mais bem desenvolvido. Mas o recém chegado Antoine Fuqua não se sai mal na experiencia. Existe um aspecto físico interessante no filme que transcende a atuação de Denzel ou dos atores em geral." (* Inácio Araujo *)

''Em "Dia de Treinamento", de Antoine Fuqua, Denzel Washington é um policial talentoso que se dedica a treinar, por um dia, um novato (Ethan Hawke). Mas, descobriremos aos poucos, o velho tira não é bem quem nós pensamos. Não há muito a mais que se possa dizer sobre isso. A saga de policiais com poucos escrúpulos no cinema é vasta e, não raro, mais estimulante. Seria melhor para o espectador estar vendo O Outro Lado da Lei, de Pablo Trapero, ou A Marca da Maldade, de Orson Welles, ou ainda Los Angeles Cidade Proibida, de Curtis Hanson. Mas é bom ver "Dia de Treinamento" justamente para comparar a esses outros filmes. Mesmo com Denzel Washington, fica fácil ver o quanto Fuqua tem pouco a nos dar." (** Inácio Araujo **)

***** ''Têm alguma razão os negros, quando se queixam do Oscar. Se não fosse negro, quantos Oscars teria ganho Denzel Washington? De ator principal, ao menos uns três merecia. Mas quem premiaria um negro por fazer, digamos, Malcolm X? Nem a pau. Bem, ''Dia de Treinamento'' não vale Malcolm X, nem O Diabo Veste Azul, ou mesmo Fildadélfia. Mas o filme que deu a Denzel o seu Oscar está longe de ser indigno. Verdade que aqui ele é meio vilão. Ou, pelo menos, um tira com métodos pouco ortodoxos de lidar com a criminalidade. Pouco ortodoxos no sentido em que, entre outras, a honestidade não é seu forte. Quem o segue, durante um dia de treinamento, é o novato Ethan Hawke, que ficará meio alarmado com tais métodos. Não um grande filme, mas um digno entretenimento, esse de Antoine Fuqua.'' (* Inácio Araujo *)

Denzel Washington fatura a estatueta de Melhor Ator por sua interpretação do policial corrupto.

''Gostei muito desse filme. Bem, a história é básica, porém cheia de idas e vindas, tudo isso em apenas um dia de trabalho, o que transforma o filme em um thriller intenso. Ele conta a história do policial Hoyt, que quer entrar para o departamento de narcóticos da LAPD (polícia de Los Angeles) e tem que passar por um "dia de treinamento", avaliação nas mãos de um "famoso" policial do departamento de narcóticos, personagem interpretado por Denzel Washington. A atuação de Denzel Washignton é exímia, excelente! O cara a cada papel que escolhe desenvolve melhor seu potencial. Nesse filme ele consegue fazer ainda mais bonito do que em Hurricane. Sua indicação a Melhor ator do Oscar 2002 é mais do que justificável, e apesar de ter concorrido com outros grandes nomes, Denzel acabou levando a estatueta. As características de seu personagem e o rumo que ele tomará durante o filme são um tanto quanto previsíveis, mas Denzel consegue controlar isso muito bem e da aquele ar de ambigüidade ao seu personagem (horas a platéia apóia suas ações e horas depois queremos que ele lá vá para o inferno). Ele alterna muito bem sua ambição em combater o crime com seu lado sujo e jeito de criminoso. Para Ethan Hawk as coisas são bem mais fáceis, uma vez que seu personagem não tem muitos traços marcantes, além da grande vontade de ser um policial do departamento de narcóticos e fazer justiça como as leis mandam (da forma mais limpa possível). Mas Ethan consegue dar equilíbrio ao seu personagem e o controla até nas partes mais difíceis do filme (no final) onde as coisas começam a pesar pro lado dele. Uma atuação digna de uma indicação ao Oscar (embora muitos críticos discordem disso). Agora, só uma observação: em relação à categoria em que o Ethan Hawk foi indicado ao Oscar de 2002, Melhor Ator Coadjuvante. Contudo, analisando bem o filme, houve um erro quanto a isso. Em momento algum o personagem de Ethan passa a figurar como um mero coadjuvante no filme. Muito pelo contrário, sua participação na trama e em tempo na tela é tão grande quanto a de Denzel Washigton. Não sei, achei a atuação de Denzel melhor, entretanto, Hoyt (Ethan Hawk) não é nenhum coadjuvante nesse filme. Trilha Sonora, figurino e Maquiagem foram coisas que com certeza não deram problemas a produção. Muito Rap, muita música boa, negões pra todo lado (sem preconceitos), e muita droga. Não achei o filme assim tão pra lá de violento para obter um censura 18 anos, mas com certeza as cenas, unidas com os palavrões que lá constam, certamente pesaram na hora de se avaliar o filme. Gostei Muito e recomendo a todos." (Tony Pugliese)

74*2002 Oscar / 59*2002 Globo

Top Austrália #11

Warner Bros. Village Roadshow Pictures NPV Entertainment Outlaw Productions (I) WV Films II

Diretor: Antoine Fuqua

303.125 users / 4.961 face


Soundtrack Rock

Cypress Hill
34 Metacritic 972 Up 320)

Date 27/06/2016 Poster - ######

45. Cartesius (1974 TV Movie)

150 min | Biography, History

This made for television film chronicles the illustrious life of French philosopher René Descartes (1596-1650)

Director: Roberto Rossellini | Stars: Ugo Cardea, Anne Pouchie, Claude Berthy, Gabriele Banchero

Votes: 470

[Mov 08 IMDB 7,1/10] {Video}

DESCARTES

(Cartesius, 1974)


TAG ROBERTO ROSSELLINI

{inteligente}


Sinopse

''Descartes (1974), filósofo antecessor de Blaise Pascal na afirmação da racionalidade e do método científico. Rossellini extrai trechos inteiros de algumas das obras fundamentais do pensador, como O Discurso do Método (1637) e as Meditações Metafísicas (1641), para compor as ações dramáticas do personagem. São procedimentos teóricos de Descartes, cuja função seria fundar a autonomia do pensamento racional diante da fé. Vale dizer que, naquela época, toda démarche racionalista tinha de ser, também, uma negociação com a autoridade religiosa. Donde, nas Meditações, Descartes precisar, primeiro, ocupar-se das provas da existência de Deus, para apenas depois afirmar que o Cogito (a Razão) se sustenta por si só. “Eu sou, eu existo”, deduz, pelo simples fato de pensar. A conclusão entrou para a história do conhecimento como a frase famosa Penso, logo existo.''
{Penso, logo existo} (ESKS)

''Para os entusiastas de sua obra, o matemático francês René "Descartes" praticamente mudou os rumos do pensamento. O título de pai da filosofia moderna não parece exagerado quando se contempla suas reflexões sobre ciência e comportamento. "Descartes", produção italiana de 1974, pode ser uma porta de entrada para a jornada filosófica do francês. O filme está no volume nove da Coleção Folha Grandes Biografias no Cinema, que chega às bancas no próximo domingo (25). Monstro sagrado do cinema italiano nos anos 1940 e 1950, quando ajudou a criar o chamado neorrealismo, o diretor Roberto Rossellini escolheu Ugo Gardea para o papel por sua semelhança física com os registros de imagens do filósofo. Talento dramático não importava muito, porque Rossellini construía suas cinebiografias com textos complexos, quase enciclopédicos, que os atores declamavam de forma nada natural. Um tom professoral marca o filme que tenta mostrar como a jornada de Descartes por países da Europa forja sua diretriz de encontrar explicações para o mundo com a razão se sobrepondo à fé. Não se deve esperar de "Descartes" a estrutura de um filme de entretenimento. Rossellini defende ali a educação difundida pelo cinema. Coisa que ele fez como poucos." (Thales de Menezes)

Orizzonte 2000 RAI Radiotelevisione Italiana Office de Radiodiffusion Télévision Française (ORTF)

Diretor: Roberto Rosselli

250 users / 47 face



Date 20/10/2016 Poster - #######

46. Dheepan (2015)

R | 115 min | Crime, Drama

76 Metascore

Dheepan is a Sri Lankan Tamil warrior who flees to France and ends up working as a caretaker outside Paris.

Director: Jacques Audiard | Stars: Jesuthasan Antonythasan, Kalieaswari Srinivasan, Claudine Vinasithamby, Vincent Rottiers

Votes: 16,814 | Gross: $0.25M

[Mov 04 IMDB 7,2/10] {Video/@@@@} M/76

DHEEPAN - O REFÚGIO

(Dheepan, 2015)


TAG JACQUES AUDIARD

{esquecível}


Sinopse

''Dheepan, Yalini e a pequena Illayaal assumem identidades falsas para fugir do Sri Lanka, seu país natal, que está em guerra. Eles não se conhecem e, diante da iniciativa, precisam conviver como se fossem uma família verdadeira ao chegar na França. Sem conhecer a língua local, Dheepan consegue emprego como zelador em um condomínio de classe baixa, enquanto que Yalini passa a trabalhar como empregada doméstica de um idoso com problemas de saúde. Palma de Ouro no Festival de Cannes 2015.''
"É uma pena que Audiard se renda a convenções de gênero, especialmente no equivocado final, tirando a força de uma obra que discutia de maneira sóbria a questão dos refugiados na Europa. Filme bom e relevante, mas que poderia ter alcançado muito mais." (Silvio Pilau)

"Audiard se contém mais que o necessário e não confere o peso ideal para seu filme, mas é notável sua visão pessoal sobre a necessidade de adaptação e convivência, saindo da temática básica de choque entre culturas. Belo filme." (Rafael W. Oliveira)

"Não é de espantar tudo que acontece com Dheepan. Ele é guerreiro de uma facção em luta no Sri Lanka. Para escapar para a Europa, depois de uma derrota, precisa adotar mulher e criança, como se fossem sua família. Com documentos forjados, vão para a França. Lá, Dheepan se torna guardião em um conjunto habitacional dominado por gangues que disputam o tráfico. Dheepan tem de se equilibrar ali, enquanto a mulher (ou falsa mulher) tenta se mandar para Londres, onde tem alguns parentes. Temos então o drama da emigração asiática, ao qual se soma o drama da periferia e das drogas, que diz respeito, sobretudo nesse último aspecto, aos árabes. Cena do filme ''Dheepan - O Refúgio'' (Jacques Audiard - França) Sobre um cara que escapa do Sri Lanka e vive nos subúrbios violentos de Paris. O longa está na lista de competidores do festival de Cannes 2015. O que espanta no filme: ele ganhou um festival como Cannes, o que iguala essa premiação ao Oscar recente em matéria de nulidade. Como no Oscar, não se trata de um filme incompetente. Tem inclusive alguns momentos felizes, e não sem humor – como quando a mulher de Dheepan conhece o traficante em cuja casa vai trabalhar como doméstica e acha interessante a tornozeleira eletrônica que o rapaz carrega. Não é isso, infelizmente, o que dá o tom do filme. É, a bem dizer, o despertar de uma velha França, aquela que julga que os imigrantes (em particular os árabes e os pardos) existem para conspurcar sua terra. Daí para matanças –e das matanças para a transformação do filme numa espécie de "Rambo"– é um pulo. Um tanto de repulsa ao estrangeiro, um tanto de cinema espetáculo", eis em suma um filme fácil de assistir, mas de que a Palma de Ouro poderá se envergonhar.'' (* Inácio Araujo *)

Entre (guerras) mundos.

''A guerra civil assola o Sri Lanka e arruína vidas. Um soldado que perdera toda a família une-se a uma mulher e a uma garota a fim de simular uma família e fugir para a França, atrás de asilamento. Essa é a nova história do cineasta Jacques Audiard, que baseia-se numa jornada progressiva de uma família devastada num país desconhecido. A língua e a cultura são desafios cotidianos. Sobre os olhos deturpados de outros, encontram algum conforto num desconfortável cenário de violência, numa lógica de danos reduzidos. Além de tudo isso, me parece que ''Dheepan - O Refúgio'' é, em seu íntimo, uma singela história de amor e altruísmo. Me fez lembrar o último filme de seu realizador, o romântico dramático Ferrugem e Osso, devido à completude descoberta por estranhos desconhecidos através de uma intersecção sentimental e emocional. Perceba que ambos os filmes trazem mutilações: no drama com Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts, uma mutilação física; aqui, uma mutilação social. Ambas impulsionaram mudanças e readequações, sem nunca cair na risível convenção de soar como lição ao espectador. É bem mais como um empurrão, a racionalização da desventura projetada. Sobre um filme de gênero, alinha-se um drama familiar. Vai além da imigração, vai da história por trás de cada um de seus imigrantes. A família de Dheepan vai morar em um bairro violento de Paris. Nesse universo nuclear abarrotado de imigrantes, diferenças culturais coexistem demarcando desafetos. Baseado no direcionamento de seus personagens, vi um pouco do que havia visto em A Pequena Jerusalé – esse longa traz imigrantes com diferentes religiões dividindo espaço num subúrbio da capital francesa. A mudança de local alterna contextos e guerras. Há uma outra guerra sendo conflitada ali. Audiard, ciente disso, absorve com a câmera ambas definindo diferenças. Conseguimos identificá-las e compará-las. A abordagem de Audiard não me parece visar unicamente a compreensão da expectativa por mudanças, baseada na vivência traumática de um passado recente de seus personagens. Os diálogos bem trabalhados levam a uma espécie de encruzilhada pessoal sobre amargura, algo visível nos comportamentos. É como se a adaptação de cada um deles no cenário diferente significasse uma reinterpretação da existência, o que implicaria numa nova concepção do filme, mais de ordem filosófica, a qual não cabe discutir nesse texto. Assim, não se trata somente de um filme de imigração, mas de solidão e, sobretudo, de abandono. A um passo do melodrama, a obra é contida e bem sustentada. Reconhecemos o peso dos personagens e admiramos as interpretações contidas e operativas. Nenhum ator está a cima do outro. A estrutura do roteiro poderia facilmente pender sobre a emoção fácil, fazendo do progresso familiar um símbolo de superação ingênuo. É a precisão da situação filmada que chama a atenção, sua coerência dramática. A direção é o que torna o filme diferenciado, esquivando-se de didatismos. Eis um exemplo do quão um diretor é capaz de fazer diferença. Frente ao que vemos diariamente na mídia, poderia julgar o contexto atual para exaltar a relevância do filme, já que fora lançado em uma época bastante apropriada, devido aos conflitos aparentemente intermináveis no oriente médio. A arte conta a história de seu tempo. Em 2015, dentro do cinema francês particularmente, ''Dheepan - O Refúgio'' não foi o único a tratar de imigração. Samba (idem, 2014) rodou pelos cinemas trazendo o assunto através de uma leitura mais amistosa, digamos assim. É possível fazer uma lista de filmes motivados pelo tema. Jacques Audiard, reconhecidamente como um dos nomes mais atraentes do cinema na França, consagrou-se definitivamente levando a Palma de Ouro nesse ano. O homem já vem namorando o festival de Cannes há algum tempo com o impetuoso O Profeta (Un Prophète, 2009), tendo conquistado o prêmio do Júri; e com Ferrugem e Osso. Experimentemos, então, um pouco da jornada da família de Dheepan – é oportuno frisar a palavra família nessa sentença – sobrevivendo além da malevolência vergonhosamente humana. Há uma belíssima cena similar a cena conclusiva realizada por Pablo Trapero em seu Abutres (Carancho, 2010). O apogeu da jornada." (Marcelo Leme)

''Os refugiados do Oriente Médio, principalmente da Síria, devastada por uma guerra que já dura mais de cinco anos, estão comovendo a maior parte da população mundial. Eles atravessam o Mediterrâneo e o Mar Egeu para alcançar os países do Leste Europeu e assim chegar aos países centrais europeus: Alemanha e França. Mas este movimento não começou neste ano de 2015 e não acontece apenas com cidadãos de países do Oriente Médio. Mas quando chegam à Europa, como é o dia a dia desses refugiados? Como fazem para se estabelecerem? Como conseguem um local para morar? Como conseguem emprego? ''Dheepan: O Refúgio'' é uma história ficcional, porém, tenta mostrar as dificuldades de uma família recém-chegada na França de um grupo específico de imigrantes. Dheepan (Jesuthasan Antonythasan), um guerrilheiro tâmil, desiste da luta contra o governo do Sri-Lanka, dominado pela etnia cingalesa. Yalini (Kalieaswari Srinivasan) procura desesperadamente uma criança que não tenha família e encontra Illayaal (Claudine Vinasithamby). Os três, juntos, conseguem ir para a França. Em território francês, eles terão que sobreviver e para isso terão que agir como uma família. Aprender a língua, conseguir um emprego, um local para morar, seguir as regras sociais diferentes das do seu país e outras coisas que não faziam parte do seu cotidiano no Sri-Lanka são alguns dos desafios que Dheepan, Yalini e Illayaal terão que enfrentar agora. Mas, com o tempo, alguns aspectos de um bairro de subúrbio francês no qual eles foram viver, às vezes, se parecem com situações de seu país de origem. Este filme de Jacques Audiard (Ferrugem e Ossos) equilibra drama, tensão, humor e ação. Ele tentou mesclar estes gêneros de uma forma suave e, de certa forma, ele conseguiu. Porém, ao introduzir a ação, ela ficou um pouco fora do tom geral do filme. Apesar de ser até explicável por causa do histórico do personagem de Jesusthasan, ficou parecendo que, de repente, começara um filme do Charles Bronson. Mas, como um todo, a direção de Jacques foi boa. Tanto que o longa levou a Palma de Ouro em Cannes este ano. A história do filme também foi escrita por Jacques Audiard em conjunto com Thomas Bidegain e Noé Debré. Thomas e Jacques já tinham feito o roteiro do Ferrugem e Ossos juntos. Noé se junta à dupla agora. O roteiro escrito pelos três consegue mostrar todos os passos pelos quais um refugiado ou uma família de refugiados possivelmente tem que passar até realmente se estabelecer em seu novo país. Com exceção de Jesusthasan Antonythasan, Kalieaswari Srinivasan e Clauidine Vinasithamby são marinheiras de primeira viagem. Este é o primeiro longa das duas. E a história do protagonista masculino é muito parecida com a do ator que o interpreta. Eles entendem perfeitamente pelo que passa os personagens. Muito do que está ali, eles devem ter vivido ou souberam de pessoas que viveram. Para retratar estas diferentes passagens desta verdadeira via crucis, a diretora de fotografia – em seu primeiro longa-metragem – Éponine Momenceau conseguiu dar aos diferentes momentos todo sentimento que era necessário. Seja durante a fuga do Sri-Lanka, seja já na França em suas diversas situações, a luz e o enquadramento eram exatos. A edição realizada por Juliette Welfling (Jogos Vorazes) também dá este clima de transformação à vida dos personagens. Não só. Reforça os momentos de lembranças e dores vividas na terra natal. O jovem músico norte-americano Nicolas Jaar ficou responsável pela trilha sonora. Ele realizou uma ótima composição que não fica excessiva em relação ao filme. Soube fazer muito em seu primeiro longa." (Roberto Bruno)

2015 Palma de Cannes

Why Not Productions Page 114 France 2 Cinéma Canal+ (participation) Ciné+ (participation) France Télévisions Région Ile-de-France Cinémage 9 A Plus Image 5 Palatine Étoile 12 Indéfilms 3 La Banque Postale Image 8 Cofinova 11 SofiTVciné 2 Soficinéma 11

Diretor: Jacques Audiard

7.293 users / 2.312 face


Soundtrack Rock

The Brian Jonestown Massacre
29 Metacritic 4.590 Down 529

Date 27/10/2016 Poster - ##

47. Deadpool (2016)

R | 108 min | Action, Comedy

65 Metascore

A wisecracking mercenary gets experimented on and becomes immortal yet hideously scarred, and sets out to track down the man who ruined his looks.

Director: Tim Miller | Stars: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, T.J. Miller, Ed Skrein

Votes: 1,124,719 | Gross: $363.07M

[Mov 07 IMDB 8,1/10] {Video/@@@@} M/65

DEADPOOL

(Deadpool, 2016)


TAG TIM MILLER

{divertido}


Sinopse ''Ex-militar e mercenário, Wade Wilson (Ryan Reynolds) é diagnosticado com câncer em estado terminal, porém encontra uma possibilidade de cura em uma sinistra experiência científica. Recuperado, com poderes e um incomum senso de humor, ele torna-se Deadpool e busca vingança contra o homem que destruiu sua vida.''


"Por trás de todas as citações, referências e, principalmente, piadinhas engraçadas, há um filme de estrutura frágil e absolutamente medíocre. Deadpool não engana." (Alexandre Koball)

"A Marvel liga o foda-se, abandona a escala épica e as lições de moral que travam seus filmes, e faz a adaptação de HQ mais porralouca e hilária da franquia. Tudo está no lugar: as cenas de ação, a metalinguagem, e a autoironia. Pra ver mais de uma vez." (Régis Trigo)

"Finalmente algo de novo no mundo dos super-heróis. Está longe de ser um grande filme e nem todas as piadas funcionam, mas tem irreverência e uma interminável capacidade de brincar consigo mesmo, garantindo ótima diversão. Nada mais que isso, mas já vale." (Silvio Pilau)

"A cacofonia visual marveliana é ainda pior do que a de Homem Formiga e seu herói é ainda mais detestável. O humor insistentemente colocado na história deve incomodar inclusive os fãs de toda essa franquia maluca e desastrosa que a Marvel anda fazendo." (Guilherme Bakunin)

"Nem todas as piadas funcionam, mas 'Deadpool' pouco se importa com isso. A gozação descaradíssima com tudo e com todos não se sustenta o tempobtodo,mas certamente garante momentos de diversão grandiosos e risadas realmente espontâneas." (Rafael W. Oliveira)

"Deadpool é um baita personagem! Destaque para os diálogos irônicos e sacadas sarcásticas do protagonista, em especial as referências ao Universo X-Men. Tem lá aqueles clichês de filmes do gênero, mas é dinâmico e diverte. Um bom entretenimento." (Léo Félix)

**** ''O dicionário Houaiss define anti-herói como personagem de ficção a quem faltam atributos físicos e/ou morais característicos do herói clássico. "Deadpool'' é isso, o improvável tipo da Marvel que rendeu um filme espetacular. O personagem (ótima atuação de Ryan Reynolds) tem o poder de se curar em instantes, treinamento de soldado e capacidade inesgotável de fazer uma piada grosseira a cada 30 segundos. Simplesmente o mais divertido filme baseado em quadrinhos" (Thales de Menezes)

"Deadpool" é divertido até para quem não conhece o personagem. E irresistível para aqueles que acompanham de perto os heróis da Marvel e por isso conseguem entender todas as referências aos quadrinhos. Esses fanáticos podem deixar o cinema com a barriga doendo de tanto rir. É um filme de ação, claro, com tiros explodindo cabeças e mãos poderosas quebrando pessoas ao meio –do lado dos heróis e também dos vilões. Mas o sangue e os nacos de carne voando nem recebem tanta atenção. Porque ninguém consegue tirar o foco do discurso falastrão de Deadpool, o herói (?) que dispara mais de uma piada irônica por minuto. Numa cena, o vilão ameaça costurar a boca dele. Impossível não se solidarizar com o bandido estressado. Deadpool inferniza mesmo. O personagem foi considerado por muito tempo como impossível de ser adaptado para o cinema. Como encaixar tanta falação grosseira em cenas de ação? A solução não foi enxugar as piadas dos balões. Pelo contrário. O filme ficou empanturrado delas. Ryan Reynolds disse que nunca decorou tanto texto. A arrebatadora performance do ator é uma redenção. Para fazer o público perdoar seu fiasco em Lanterna Verde e a versão sem sal e comportada que ele fez do próprio Deadpool como coadjuvante em X-Men Origens: Wolverine. Nos gibis, Deadpool se dirige aos leitores. No filme, também conversa com o espectador. Faz o que é chamado no teatro de "derrubar a quarta parede", ou seja, interagir com quem assiste e escancarar o tempo todo que tudo ali é representação. Após contracenar em várias cenas com os mutantes Colossus e Míssil Adolescente Megassônico no QG dos X-Men, Deadpool pergunta: Por que só vejo vocês dois? A produção do filme não tinha dinheiro para pagar mais X-Men?. Reynolds achou o papel de sua vida como o ex-mercenário que conquista superpoderes ao aceitar um tratamento misterioso para tentar se curar de um câncer terminal. Ganha força descomunal e um fator de cura que o deixa invulnerável, mas também o rosto e o corpo repugnantemente deformados –o que provoca seu afastamento da amada, a prostituta Vanessa. Em um filme de herói com cenas quentíssimas de sexo, é irresistível a presença de Morena Baccarin, da série Homeland. A brasileira radicada nos Estados Unidos cria uma Vanessa para pulverizar libidos de leitores de HQ. Numa das inúmeras brincadeiras com a produção do filme, os roteiristas são chamados de os verdadeiros heróis desse negócio. Verdade. Souberam adaptar o inadaptável Deadpool para criar um cult movie instantâneo. Que venha logo Deadpool 2." (Thales de Menezes)

O tagarela chegou para renovar.

''Em um primeiro momento, peço que sejamos simplistas ao tirar aquilo que há de melhor em Deadpool (idem, 2016): seu humor. O que sobra é a história de um homem que vive de pequenas tarefas mercenárias, em um mundo caótico e cercado de pessoas de índoles duvidosas; ele mesmo diz não ser um herói. Ao se apaixonar por uma prostituta, vê sua vida começar a ter um lado positivo, até que recebe a triste notícia que está com câncer terminal (alguns). A partir daí, aceita a oferta de um tratamento alternativo que o deforma, mas também o cura e, pelos métodos adotados, faz com que ele decida ir atrás do homem que fez o procedimento. Meio simples, né?

Mas com Deadpool nada é tão simples assim.

''Ele é o que é justamente porque, se o esqueleto é igual, todo o tecido, a carne e a pele que completam o seu corpo são totalmente alienígenas perto dos demais filmes da Marvel. Uma autópsia completa o separa dos tradicionais por 3 fatores: 1, sua irreverência e um cinismo delicioso, já que é impossível ignorar esse humor; 2, suas cenas de ação são sólidas e eficientes, além de possíveis de se acompanhar, reduzindo os cortes e até usando com bom gosto a câmera lenta, tão renegada no atual gênero; e 3, usa da violência esdrúxula para ser divertido pra caralho, abrindo todo um novo leque de possibilidades a heróis que, agora, soam ultrapassados para uma geração de jovens sedentos por violência gráfica. Ainda que sua estrutura denuncie ser apenas mais um filme de herói – o final é até meio patético -, toda essa abordagem diferenciada o torna obrigatório para quem gosta de um filme do tipo; convenhamos, quem vai assistir a um trabalho da Marvel não está esperando algo que mude a sua vida, que faça reflexões profundas ou que traga uma experiência metafísica. O papel de Deadpool é puramente divertir e isso ele faz com uma excelência ímpar, seja no estilo imprudente, no tom de auto-paródia que adota (sobra pra todo mundo, sem o menor filtro, até para quem tá assinando os cheques da produção) ou nas piadas de humor negro totalmente duvidosas para a época politicamente correta em que vivemos - será detestado por alguns por isso. Esqueça aquela personificação sem sal e quase amadora vista na participação do terrível X-Men Origens: Wolverine: o filme ganhou corpo e tem personalidade, tudo isso graças ao esforço de Ryan Reynolds, que além de ter feito o papel de Deadpool naquela ocasião, trabalhou duro para que o personagem ganhasse um filme próprio e com a abordagem que merece (censura 18 anos). Com total liberdade para improvisação – o diretor é o estreante Tim Miller, provavelmente apenas um funcionário seguindo regras –, até mesmo personagens anteriores de Reynolds são ridicularizados pelos diálogos bem escritos e precisos; “desde que eu não use uniforme verde” é dito em certo momento, uma clara referência à tragédia que foi Lanterna Verde. Acredite, será feito piada com absolutamente tudo e todas elas funcionam muitíssimo bem dentro do contexto em que são proferidas.Se há um defeito muito grave, este pode ser dito da turma de vilões. Batman - O Cavaleiro das Trevas ensinou que um vilão bem construído, com uma interpretação marcante e cenas inesquecíveis pode tornar o seu filme um sucesso porque coloca em prova o personagem título; a dificuldade o engrandece, o desafio atrai o público para o seu lado, mesmo que de forma inconsciente. No caso de Deadpool, não há ninguém que se salve em um elenco totalmente sem sal, estereotipado ao máximo e descartável para a mitologia Marvel como um todo. Pelo menos as participações especiais são legais para caramba e adicionam ao universo de maneira significativa, principalmente para quem não imagina o que irá encontrar pela frente. Adotando um estilo mais moderno também na sua narrativa não linear e na forma com que o herói quebra a quarta parede ao falar diretamente com o público (fidelidade máxima à HQ), eleva os padrões e dá um novo gás aos já cansados e saturados filmes da Marvel, seguindo os passos do também excelente - e diferente! - Guardiões da Galáxia. Tentei me ausentar de informações externas a fim de evitar que elas estragassem a experiência final; colegas dizem que quem viu os trailers pouco tem a ver na obra final. Uma pena. A divulgação foi pesada mesmo, dos mais diversos tipos e tons – até uma mensagem para o Brasil foi gravada, para a Comic Con Experience. Reynolds realmente apostou no personagem e ele é bom mesmo, vai dar certo. Agora é colher os frutos e esperar por um já anunciado Deadpool 2, mesmo que esse filme não tenha muito para onde ir. É torcer para que seja tão sem pé no freio quanto este filme introdutório ao personagem. Ps: há uma cena divertidíssima nos pós créditos, principalmente para quem conhece o cinema dos anos 80. Vale a pena esperar." (Rodrigo Cunha)

74*2017 Globo

Twentieth Century Fox Film Corporation Marvel Entertainment Kinberg Genre Donners' Company TSG Entertainment

Diretor: Tim Miller

594.729 users / 125861 face


Soundtrack Rock

George Michael / Chicago / DMX / The Black Keys
49 Metacritic 65 Up 20

Date 05/02/2017 Poster - #######

48. The Neon Demon (2016)

R | 117 min | Horror, Thriller

51 Metascore

An aspiring model, Jesse, is new to Los Angeles. However, her beauty and youth, which generate intense fascination and jealousy within the fashion industry, may prove themselves sinister.

Director: Nicolas Winding Refn | Stars: Elle Fanning, Christina Hendricks, Keanu Reeves, Karl Glusman

Votes: 103,887 | Gross: $1.33M

[Mov 01 IMDB 6,3/10] {Video/@} M/1

DEMÔNIO DE NEON

(The Neon Demon, 2016)


TAG NICOLAS WINDING RERFN

{esquecível}


Sinopse ''Jesse (Elle Fannng) é uma jovem de 18 anos que acaba de chegar a Los Angeles. Dona de uma beleza natural impressionante, ela tenta a sorte como modelo profissional. Após tirar algumas fotos mórbidas para um jovem fotógrafo, é contratada por uma conceituada agência de modelos. Bastante ingênua, ela passa a lidar com o ego sempre inflado das demais modelos e também com a maquiadora Ruby (Jena Malone), que possui intenções ocultas com a jovem.''


"Alguma coisa não fecha: todos parecem ficar fascinados com a beleza ordinária de Jesse (Fanning) e acham que tudo o que ela faz é extraordinário. Faltou uma atriz de peso para um papel onde a atriz faria toda a diferença." (Alexandre Koball)

"Refn continua um hábil manipulador de vento. Depois que descobriu sobre a existência da luz fluorescente e de como ela fica estilosa quando usada de filtro, seu cinema acabou se resumindo apenas a isso. " (Heitor Romero)

"Ao menos as imagens e cores de Refn servem pra ótimos descansos de tela." (Rafael W. Oliveira)

"Refn continua perdido tentando emular alguns de seus mestres (Argento, em especial), abrindo mão do roteiro para criar, atráves do uso de cores e sons, uma atmosfera sufocante e aterradora. Falha em tudo que se propõe, inclusive na escolha do elenco." (Francisco Bandeira)

"Refn se perdeu totalmente na estética, esquecendo que um filme tem algo a mais do que isto. Imaturo e mal executado, em momentos consegue entregar linhas concisas de diálogo, mas não as transforma em um andamento funcional para o roteiro." (Felipe Ishac)

A quimera de NWR.

''Introduz-se o filme e logo abaixo de seus letreiros informativos, antes mesmo que apareça seu próprio título, como que colocadas ali para cristalizar uma autoria longeva, estão as iniciais 'NWR', abreviatura do nome do diretor – tambores: ninguém menos que – Nicolas Winding Ref, mas que na realidade servem mais aos propósitos da assinatura sob a qual aquela obra fora concebida, ou mesmo a impressão na imagem de uma marca, um nome que carrega todo um sistema estilístico, temático e de produção. Por trás da imagem que a assinatura toma, independente disso e em ambos os casos, fica a aparente confirmação de que o nome vem antes da obra, e não só num sentido literal, de que a celeuma antecipa a coisa em si; enfim, de que, no pior dos sentidos, Nicolas, em nome e em carga de autoria, é assumidamente primevo, antecipatório do filme que ele mesmo realizou. Curiosamente, seu ''Demônio de Neon'' se espacializa num universo que sobrevive de imagens. A proposta de abordagem para seu filme é uma de enxugamento. Se pudéssemos raspar todo o corpo vivo que é o filme, todo procedimento estilístico ou narrativo, e reduzi-lo a um âmago de plot, de trama, a operação teria como resultado um corpo tão minúsculo e inofensivo a ponto de não sustentar meia hora de história, e ainda assim esse corpúsculo seria uma aberrante tentativa de elevar Jesse, sua protagonista, a um Olimpo de beleza e frescor para qual todos os outros personagens são acessórios cuja função se resumiria a dois polos opostos e simplórios: ou suspirar ou borbulhar de inveja. Como se a indústria da moda realmente ainda sobrevivesse de modelos carniceiras e superficiais para as quais o maior ato de vontade consiste numa dieta despirocada. E ainda que o fizesse – não se nega que parte dela não assuma os moldes do clichê, o que de forma alguma caracteriza uma totalidade, mas apenas um índice -, diante do território amostral explorável que é a indústria das aparências, o único caldo que Refn se põe a extrair é um já desgastado pelo próprio mundo de que ele fala? Na objetificação de uma menina como ponto de partida, ele aponta para uma transformação que pressupõe a ela que assuma a imagem mesma que dela fazem, quando o que acontece é a retirada, sabe-se lá de que passado sustentável, de uma maldade que devia estar o tempo inteiro intrínseca e óbvia. 'Minha mãe me chamava de perigosa', dirá em algum momento do filme, aliás no tempo atrasado do grande momento-chave, como que para coroar uma passagem desde sempre imperceptível. Mas o que possivelmente assinalaria isso que, para a apreciação do filme esquizofrênico de Ref, não é tanto uma transformação quanto uma recobrança ou ativação do estado natural desse reino encantado em que Jesse sempre reconheceu a estonteante beleza, é esse torpor formalista que não só povoa do o filme, como tenta sê-lo por inteiro e mais uma vez lança mão da espiral colorida e vazia que é o cinema de Refn. A presença das suspensões formais aqui parece ter atingido um grau máximo de pureza que asfixia qualquer outra intenção diante da imagem e restringe a relação observador-mundo à exclusividade do ingresso para a viagem: ou se dá a mão a Refn ou não há fruição. Mas a verdade detrás da sua redoma de aparências saturadas é que o diretor ultrapassou até mesmo a publicidade, e de forma a criar uma quimera sinestésica cega – os floreios não apontam para lugar nenhum, sequer chegam a florear -, oca – não há produção de sentido ou elevação de valor – e que gira em torno do próprio eixo – tudo se repete para cobrir os rombos de progressão para uma história que só tem solturas e não diz, não faz, não provoca nada. E para auxiliar o devaneio da cor e do banho de artificialismos luminosos, há toda a estruturação de sustentáculos e alimentos: é crucial que todos que circundam Jesse queiram-na tanto a ponto de desejar sua carne e beber do seu sangue como elixir absoluto da beleza, fotografem-na para cobrir seu corpo de apetrechos que o façam reluzir. Tudo acontece em função de, sob o pretexto espectral de que a forma se insira e dê significado à cobiça pela imagem da garota, criando outras imagens tão superficiais que esvanecem imediatamente no fino ar da memória da qual o filme sobrevive. De parte significativa da obra de NWF muito provavelmente dirão que seu único erro foi nunca ter sido o Suspiria (1977) de Dario Argento, obra esta, sim, que nunca precisou dizer nada e ser um império de sensações ao mesmo tempo." (Felipe Leal)

Signos e símbolos na apoteose da vagabundagem.

''Na virada dos anos 70 para os 80, a violência avassaladora começa a corroer os EUA, chegando na sociedade americana de maneira indiscriminada até fazer quase parte da cultura. No início do novo século, o dinheiro e a sede de poder ditam as regras e corrompem qualquer tipo de relação, sejam elas sexuais, amorosas ou profissionais. Nos dias de hoje, é a imagem enquanto obsessão um dos principais tópicos de esfacelamento; tudo é imagem, tudo é obsessão, tudo é plástico. Jesse é uma jovem do interior que chegou no centro do mundo para quem quer vender beleza: Los Angeles, a cidade dos anjos... e dos sonhos. Para Jesse, eles se realizarão quando conseguir explorar a imagem inocente e pura que é intrínseca a ela, e é alvo de inúmeros sentimentos conflitantes e negativos em espiral cada vez mais acelerada. Jesse irá esbarrar em um jovem fotógrafo, um gerente de hotel, duas modelos experientes, uma caça-talentos, um estilista e uma maquiadora, todos sedentos por algo mais, algo novo, algo definitivo; Jesse irá esbarrar neles. E eles, irão esbarrar em algo? Nos créditos de abertura, algo parecido com uma marca d'agua parece indelével na tela: um conjunto de iniciais, NWR. É uma forma de demarcar terreno como os caronas "do visionário diretor de ...", ou de um pretensioso 'Nicolas Winding Refn's', que tantos autores já usaram. Então isso quer dizer que o tal Nicolas Winding Refn aboliu de vez a pretensão? Não, e tirando por esse diabo iluminado a impressão que se tem é que dificilmente o fará. Mas a pretensão é um substantivo que pode ser usado a favor ou contra de quem o tem; NWR será mais ou menos respeitado tal qual for a compra do espectador para com a sua obra, se for identificado até que ponto essa pretensão inerente a ele é positiva ou negativa. Não faz qualquer sentido amores ou ódios em relação a opinião de quem quer que seja a respeito da qualidade desse produto em particular, já que a experiência Demônio de Neon é uma das mais subjetivas e pessoais que recentemente presenciei na sala escura. Com infinito potencial feminista, o dinamarquês mais americano da atualidade propõe tantas discussões quanto poderiam caber em 1h e 50 de duração. Na primeira sequência, pra mim, todo mistério já é revelado, mas o filme pode ser apreciado como escapismo B, como alegoria sobre a força e a forma do 'girl power', como um suspense surreal de desdobramento sensorial, ou você pode olhar mais perto... (ATENÇÃO: descreverei minha compreensão do filme, no que possivelmente não terei intenção de preocupação anti-spoiler; conta e risco) Ora bolas, tal qual Anton Chiguhr e Eric Packer, Jesse é um instrumento metafórico e desprovido de motivações humanas; eles se movem para comprovar suas teses. Embora os irmãos Coen e David Cronenberg tenham recheado seus libelos de vida, atmosfera e algum senso de cumprimento de ações, as obras de Cormac McCarthy e Tom DeLillo já identifica seus personagens como metáforas. A obra de Nicolas Winding Refn não é adaptada de coisa alguma que não a própria cabeça, e a ele tb interessa essa encenação nas raias do abstrato, aqui em radicalismo ultra. Mas talvez NWR vá mesmo além na proposta narrativa: Jesse não necessariamente existe. Como colocar essa teoria sem promover um debate incompreensível e eterno? Vejam bem: Jesse é uma busca, é o inatingível, é o sonho, a imagem, a ideia de tranquilidade e perenidade. Sua não-existência é explicitada em algumas passagens, a começar na primeira onde o jovem fotógrafo a clica com afinco; num frame, o vazio do espaço. Em outro momento, o quarto do hotel é invadido por algo desconhecido, e ao confrontar o gerente a um guepardo, fica claro quem estava enfim utilizando o quarto semi intacto do estabelecimento. Outra questão: seus eventuais desaparecimentos não são sentidos e/ou questionados por nenhum outro personagem. Atenção: isso é só uma teoria que não tem qualquer intenção de provar versão, apenas uma forma de observar os simbolismos propostos por NWR sob uma ótica onírica. É lógico que há uma representação física como nas outras obras citadas. Elle Faning empresta sua singeleza angelical para a personagem, e ela passeia em cena com segurança crescente e atitude gradativa. Mas todos que cercam Jesse buscam um arquétipo pra viver. Segurança afetiva, segurança material, juventude, essência, prestígio, sucesso, e muitas tantas outras coisas que vêm personificadas em Jesse, no qual sua representação gráfica precisa ser delineada; ela é o arquétipo, um ou todos. Por isso temos Elle, da mesma forma que tivemos Javier Bardem e Robert Pattinson. O mais curioso dessa jornada particular e única é notar que apenas uma visão não é suficiente para dar conta da quantidade de camadas que o conto de NWR pretende caminhar. Ou seja, é particular, é único e paradoxalmente tb é coletivo e necessita de elementos externos para nova observação. Para, numa curva surpreendente, falar de algo tão particular e únicos quanto a imagem de cada um, e como esse conceito pode ser diferente se analisado em conjunto. É o cúmulo da proposital traição da proposta inicial, que como num círculo, volta ao início desse jogo que mistura sofisticação e vagabundagem em todos os quesitos.'' (Francisco Carbone)

"Em seus dois trabalhos com o ator Ryan Gosling, Drive e Só Deus Perdoa, o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, 46, colecionou elogios. Principalmente no primeiro, quase um drama existencialista sobre quatro rodas e com o pé fundo no acelerador. Só Deus Perdoa, mergulho no submundo do tráfico em Bancoc, não empolgou tanto, mas manteve Refn no rumo do reconhecimento como um cineasta inventivo. "Demônio de Neon", seu novo longa, contudo, é um grande equívoco, para dizer o mínimo. Mesmo com toda a boa vontade do mundo fica difícil encontrar nele alguma coisa digna de elogios. A trama parte de uma premissa requentada: jovem ingênua chega a uma metrópole para tentar a sorte como modelo e encontra ambiente barra-pesada que transforma sua vida num inferno. No caso deste filme, a mocinha é Elle Fanning, 18, de Malévola e Trumbo, a cidade grande é Los Angeles, e o tal inferno é quase literal. A novata Jesse conhece a maquiadora Ruby, que a leva a baladas e a coloca em contato com gente poderosa no mundo da moda. Poderosa e esquisita. O clima sinistro que o filme tenta transmitir faz com que todos os personagens pareçam suspeitos de não serem realmente o que aparentam. Às vezes, o espectador poderá fazer alguma associação com Advogado do Diabo, com Keanu Reeves e Al Pacino, que tem o mesmo registro soturno – impressão reforçada pela presença de Reeves num papel menor em Demônio de Neon. O problema maior é que o longa de Refn se perde em uma estética vazia. Tudo é exibido em cenários minimalistas, festas "doidonas", luzes frias e sexo lesbian chic. Parece um extenso comercial de perfume de grife famosa do tipo que costuma passar em canais por assinatura. Aí a lembrança vai para outro filme, este mais antigo e famoso, 9 e 1/2 Semanas de Amor, com Mickey Rourke e Kim Basinger, que trazia a mesma embalagem, mas tinha um roteiro que caminhava para a frente. "Demônio de Neon" patina e não sai do lugar. Sem bons diálogos, atores que já são ruins ficam péssimos, notadamente a bonitinha Elle. Alguém poderá dizer que o filme, pelo menos, é um desfile de rostos lindos. Verdade, mas ver um desfile da Victoria's Secret provoca o mesmo efeito e não dura quase duas longas horas. Mais um desses e Nicolas Winding Refn já era." (Thales de Menezes)

2016 Palma de Cannes

Space Rocket Nation Vendian Entertainment Bold Films

Diretor: Nicolas Winding Refn

44.832 users / 14.119 face

45 Metacritic 205 Down 33

Date 06/02/2017 Poster - #

49. Doctor Strange (2016)

PG-13 | 115 min | Action, Adventure, Fantasy

72 Metascore

While on a journey of physical and spiritual healing, a brilliant neurosurgeon is drawn into the world of the mystic arts.

Director: Scott Derrickson | Stars: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Benedict Wong

Votes: 804,382 | Gross: $232.64M

[Mov 05 IMDB 7,7/10] {Video/@@@} M/72

DOUTOR ESTRANHO

(Doctor Strange, 2016)


TAG SCOTT DERRICKSON

{divertido}


Sinopse ''Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) leva uma vida bem sucedida como neurocirurgião. Sua vida muda completamente quando sofre um acidente de carro e fica com as mãos debilitadas. Devido a falhas da medicina tradicional, ele parte para um lugar inesperado em busca de cura e esperança, um misterioso enclave chamado Kamar-Taj, localizado em Katmandu. Lá descobre que o local não é apenas um centro medicinal, mas também a linha de frente contra forças malignas místicas que desejam destruir nossa realidade. Ele passa a treinar e adquire poderes mágicos, mas precisa decidir se vai voltar para sua vida comum ou defender o mundo.''


"Brinca demais, mas tem momentos bem interessantes. É um filme bem diferente dos demais da Marvel." (Rodrigo Cunha)

"Tudo é megalomaníaco demais, o estofo exotérico da trama por vezes cansa, e o desperdício de alguns atores, irrita, mas a autoironia do roteiro, a tridimensionalidade do herói, e a originalidade dos efeitos visuais, equilibram a balança. Veredito: bacana." (Régis Trigo)

"Traz todos os vícios dos outros filmes da Marvel (como o 3o ato exagerado e o excesso de exposição), mas é uma boa apresentação do novo personagem, defendido com personalidade por Cumberbatch. E pelo menos o CGI é utilizado de forma criativa. Divertido." (Silvio Pilau)

"Têm algumas das 'piadinhas' mais infelizes em uma produção da Marvel, o que não é pouco. Fora que a trama já cansada, o andamento cambaleante dos acontecimentos e falta de empatia dos personagens não ajudam em nada esse entretenimento pouco tragável." (Rafael W. Oliveira)

"Todo o incrível pano de fundo filosófico à mercê dela, essa entidade que quer enfiar gracejos a todo custo, que é previsível, didática, forçosa e tem personagens que funcionam escancaradamente ao sabor das resoluções. Quem? A gramática americana." (Felipe Leal)

"Doutor Estranho" não era dos heróis mais populares nos gibis da Marvel. Mas, graças a um filme espetacular, subiu ao primeiro time da editora - e estúdio de cinema. O ator inglês Benedict Cumberbatch, sempre ótimo, deita e rola no papel do cirurgião de prestígio que perde suas habilidades para operar e vai buscar ajuda mítica no Himalaia. Consegue mais do que esperava, ao ganhar poderes e status de super-herói. O filme é visualmente deslumbrante, quase lisérgico, uma experiência de impacto poucas vezes obitido na tela. Além de Cumberbatch o elenco tem nomes destacados de Tilda Swinton, Chiwetel Ejiofor e Rachel McAdams. Traz ação, humor e um protagonista só comparáveis ao primeiro Homem de Ferro." (Thales de Menezes)

''Os fãs de Robert Downey Jr. no papel do Homem de Ferro podem chiar, mas está claro que o inglês Benedict Cumberbatch é o melhor ator escalado até agora como um super-herói da Marvel. "Doutor Estranho" é um filme espetacular, e boa parte do crédito vai para ele.Não é exatamente um personagem famoso. Embora apareça nos gibis desde 1963, nunca teve a popularidade nem a repercussão de um Hulk ou de um Homem-Aranha. Assim, só os fãs mais ardorosos de HQ já teriam uma concepção prévia de como deveria ser o personagem no cinema. Para a maioria do público, o filme é praticamente uma apresentação do herói. Cumberbatch não ficou refém de um tipo esquemático e teve liberdade para criar sua versão do ''Doutor Estranho''. Na pele do ator, o neurocirurgião de prestígio que cai em desgraça ao perder as habilidades para operar e busca ajuda mística no Himalaia exibe doses equilibradas de força de caráter, charme, humor e uma certa perplexidade diante do mundo místico no qual mergulha. Muitas vezes, Cumberbatch brilha até em filmes que não o ajudam, como Star Trek: Além da Escuridão, mas aqui a Marvel caprichou para não deixar seu mágico favorito ficar devendo aos colegas superpoderosos de produções milionárias. "Doutor Estranho" é visualmente deslumbrante. E precisava realmente ser assim, porque os desenhos delirantes que definem o personagem desde seus primeiros gibis são considerados uma prévia da arte lisérgica que marcaria a contracultura nos anos 1960. Esse espetáculo de luz e cor poderia não ir a lugar nenhum sem o bom ritmo que o diretor Scott Derrickson imprime à narrativa. "Doutor Estranho" corre o risco de não ganhar aprovação de fãs que, antes mesmo de ver o filme, execram a escalação de Tilda Swinton. Nos gibis, quem ensina o médico Stephen Strange a se desenvolver na magia é o Ancião (no original, The Ancient One), um homem nascido no Himalaia. Bem, por mais que Tilda seja associada a personagens andróginos, a distância entre a figura pálida da atriz inglesa e um asiático oriundo da cordilheira do Himalaia é imensa e injustificável. Mas é só um detalhe perdoável em um ótimo filme de aventura e fantasia. "Doutor Estranho" vale uma franquia." (Thales de Menezes)

Uma surpresa um tanto familiar.

"A Marvel Studios já não surpreende. O histórico recente da produtora fundada a partir da revolucionária editora de quadrinhos tornou-se, a partir de filmes como Homem de Ferro a situação da indústria. Sob sua batuta estão alguns dos melhores atores, diretores e técnicos do cinema mainstream atual; outros filões precisam suar caso queiram demonstrar concorrência nas bilheterias. Tal galinha dos ovos de ouro de um panorama entre a crise e a transição baseia-se em atender os anseios do grande fandom do mundo através de uma fórmula requentada filme a filme: a fidelidade à mídia original como principal mandamento, escalação de um elenco conceituado que dignifique os papéis arquetípicos sem grandes ousadias e uma linguagem que equilibre drama, ação e humor, funcionando muitas das vezes como um videoclipe: longas sequências coreografadas de dublês, sacadas cômicas nos diálogos e ganchos dramáticos que poucas vezes funcionam além de algo como pretexto para a ação. Enquanto não sabemos o quanto esse reinado vai durar (Disney passou anos sem ousar em suas fórmulas muito talvez por falta de concorrentes óbvios, por exemplo), acompanhamos filmes com diferentes resultados. Doutor Estranho é um desses casos que, apesar de não fazer muito para mudar qualquer paradigma, sabe trabalhar de forma funcional com o que tem em mãos: traduzir a história de Stephen Strange para o cinema, mantendo o espírito original mas com a roupagem que introduza para o público que pouco o conhecem - e nisso, cabe o humor, as referências culturais e a trilha sonora pop e familiar. Strange é novo, razoavelmente desconhecido, mas nada que faça doer a cabeça de quem assiste. Como o êxito anterior obtido em Guardiões da Galáxia. A história do bando de anti-heróis malandros e egocêntricos se repete aqui; a tônica da Marvel em seu início e em seu período mais revolucionário era trazer heróis mais complexos, mais falhos e que tomassem atitudes até questionáveis, mas ainda assim tremendamente simples e acessíveis. E nesse quesito, o protagonista interpretado por Benedict Cumberbatch é um prato cheio. Stephen Strange, como Tony Stark, é um protagonista no limite do detestável quando o conhecemos: um cirurgião ácido, arrogante e grosseiro que tem a vida transformada quando sofre um acidente que destrói os nervos de sua mão e que desenvolve uma obsessão em se curar. A busca o levará até o longínquo templo de Kamar-Taj, onde se torna discípulo de Anciã, uma mestre espiritual com séculos de vida e poderes além da compreensão humana. No Kamar-Taj, Stephen renasce ao abraçar uma nova vida: enquanto aprende a manipular energias místicas que usará para conter ameaças extradimensionais, passa a se importar com os outros, reata laços e empreende campanhas para salvar outras vidas que não a sua. Não é a primeira vez que a Marvel conta essa história, mas essa nova roupagem é destacada por ser bem mais character driven, baseando sua narrativa muito mais na personalidade do protagonista e os dilemas que enfrenta, com o vilão de Mads Mikkelsen, um antigo discípulo da ordem que rebelou-se e planeja invocar a entidade devoradora de mundos Dormamu, surgindo como nada mais que um reflexo da personalidade que o protagonista tenta abandonar: o calculismo frio e arrogante encantado por promessas de imortalidade lembram o Doutor antes de conseguir seus poderes. A forma que o filme trata a questão fantástica/sobrenatural não é apenas como artifício; ela também ganha importância dentro da trama, com duas utilizações suas sendo centrais para se desenvolver a narrativa: a primeira, quando a Anciã manda a alma de Stephen em uma viagem astral pelo Multiverso, momento essencial para arrancá-lo do mundo cotidiano e jogá-lo no mundo fantástico, construído em cima da dicotomia fé versus razão. Tornar-se um crente não só em poderes e universos sobrenaturais mas também transcender a bolha de egoísmo nesse primeiro momento, impelido por fatores externos, nos leva ao próprio final, quando a arma de Strange se torna a própria manipulação do impossível. O recurso do leit-motiv (recurso da repetição cômica), introduzido quando o protagonista manipula o tempo intervém no filme de maneira pouco realista. E isso é um acerto. À sua própria maneira, o personagem quebra sua própria temporalidade, sem desviar da personalidade original. O filme continua pop, narcisista e engraçadinho como seu personagem, mas se permite desprender do convencionalismo espaço-temporal habitual por breves momentos, gerando uma das sequências de embate menos tradicionais da Marvel - quantas vezes vimos seus filmes desenhar embates mentais e não físicos? Ou jogos de cansaço? Ou brincadeiras com os próprios dispositivos narrativos? Nada de novo sob o sol, é verdade, nem mesmo no cinema mainstream. É um filme ainda longe do que chamamos de ousado, porém é bem mais sóbrio e menos afetado do que se tornou padrão da Marvel - as lutas de herói e vilão se dão desde o primeiro encontro, geram consequências para ambos os lados e o afunilamento de tensão psicológica é breve e às vezes até mesmo acelerado. Portanto, subtramas como o aprofundamento da personagem Anciã, apesar de dar maior destaque ao talento de Tilda Swinton acabam atrasando o filme dado o tempo destacado; tira os holofotes e até mesmo o peso de Stephen Strange durante o desenrolar do filme. O humor cheio de referências culturais são um corpo estranho na sobriedade do filme, que merecia um tratamento mais sério. Strange não é um personagem tão engraçado quanto o Homem de Ferro e os Guardiões da Galáxia, e tentar torná-lo um mostra que a Marvel adora cair no erro de xerocar os heróis, tentando desconfortavelmente enfiar todos eles na mesma fôrma. Quando tenta ser um filme mais “de ação”, distribuindo acrobacias, socos e empurrões, também cai de maneira repetitiva no terreno do genérico. Se temos um herói que prefere resolver os problemas com o intelecto, não usá-lo recai novamente no terreno de não transgredir a própria fórmula que fez o estúdio lucrar tanto. Mas o tempo dirá. ''Doutor Estranho'', mais sóbrio e mais problemático, com algumas set pieces mais elaboradas, não foi recebido com a mesma dose de clamor e entusiasmo com o filme dos grandes heróis da Marvel, que agora procura seus heróis mais desconhecidos para continuar em voga, alavancar vendas e quem sabe, tentar algo de diferente aqui e ali. Se Doutor Estranho será lembrado como só mais um entre dezenas ou se marca uma transição arranhando a superfície de algo novo, ainda é cedo para saber. Mas no todo, fica a impressão de surpresa - pero no mucho." (Bernardo D.I. Brum)

89*2017 Oscar

Marvel Studios Walt Disney Studios Motion Pictures

Diretor: Scott Derrickson

229.884 users / 61875 face


Soundtrack Rock

Earth Wind & Fire / Pink Floyd
49 Metacritic 23 Down 4

Date 07/02/2017 Poster - ####

50. Demolition (2015)

R | 101 min | Comedy, Drama

49 Metascore

A successful investment banker struggles after losing his wife in a tragic car crash. With the help of a customer service rep and her young son, he starts to rebuild, beginning with the demolition of the life he once knew.

Director: Jean-Marc Vallée | Stars: Jake Gyllenhaal, Naomi Watts, Chris Cooper, Judah Lewis

Votes: 112,054 | Gross: $1.98M

[Mov 06 IMDB 7,1/10] {Video/@@@} M49

DEMOLIÇÃO

(Demolition, 2015)


TAG JEAN-MARC VALLÉE

{agressivo}


Sinopse ''Um banqueiro de investimento luta para entender sua desconexão emocional após a trágica morte de sua esposa. Ele começa a repensar sua vida em um esforço para ver onde errou, quando finalmente é resgatado por uma mulher que ele conhece em um encontro casual.''


''Há uma cena em que Phil, pai da falecida esposa de Davis, confronta-o dizendo que quem deveria ter morrido no acidente era ele. E supreendentemente o espectador pode ver isso como uma verdade a princípio. Uma das grandes chaves para entender e até gostar mais de “Demolição” é reparar algo que nunca é comentado no filme, então não considero um spoiler, e que fica nítido pra quem tem um pouco de compreensão sobre psicologia: o protagonista Davis interpretado pelo sempre competente Jake Gyllenhaal de Nocaute é portador de TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade). Mesmo um bem-sucedido profissional, ao perder a sua esposa num acidente de carro, ele se vê vazio de emoções, apegando-se a pequenas coisas, enquanto a família de sua esposa, principalmente seu sogro Phil (Chris Cooper de Álbum de Família), o qual é também seu chefe. Davis por acaso começa a ter contato com a atendente de um SAC Karen (Naomi Watts de Marcas da Vida) cujos problemas parecem complementar e amenizar a dor do recém viúvo. A grandiosidade do filme de Jean-Marc Vallée (“Clube de Compras Dallas”, indicado ao Oscar) é justamente mostrar o contraponto da saudade de um ente querido, no caso a busca por um sentimento que se descobre não existir, revisitando todo um passado e se aprofundando em pequenos segredos com grandes impactos para todos os envolvidos. A própria trama paralela envolvendo Karen e seu filho que se considera diferente leva a narrativa a outros rumos sem se desvirtuar da sua essência. Apesar de uma produção que lida basicamente com emoções, seu roteiro é tão bem escrito que Jake Gyllenhaal e Naomi Watts ficam a vontade para ótimos improvisos dramáticos, enquanto Chris Cooper desempenha muito bem a dor de um pai, mesmo em seu pouco tempo de cena. Com um desfecho que consegue ser edificante e até realista, “Demolição” é um drama diferenciado que explora um tema batido com originalidade e emociona sem apelar para clichês. Recomendado!" (CineCríticas)

*** ''Depois de dirigir o ótimo Clube de Compras Dallas, que deu o Oscar a Matthew MaConaughey e Jared Leto. Jean- Marc Vallée reuniu Jake Gyllennhaal e Naomi Watts em um drama original, para público adulto. Eles estão ótimos como um casal improvável. Ele. um investigador em depressão com a a morte da mulher. Ela, uma atendente reclamações de uma empresa. Uma carta cruza as vidas dos dois e a garota pode ser (ou não) a chance que ele precisa para se reconstruir emocionalmente." (Thales de Menezes)

''A abertura do 40º Festival de Cinema de Toronto, nesta quinta-feira, tinha tudo para ser uma festa completa. Um diretor renomado da casa (o canadense Jean-Marc Vallée, de Clube de Compras Dallas), um ator que tenta de todas as maneiras se desafiar em busca de um Oscar (Jake Gyllenhaal) e um público receptivo que aplaudia todos os discursos nos 40 minutos de cerimônia. Só faltou um detalhe: o filme ser bom. "Demolição" gira em torno de Davis Mitchell (Gyllenhaal), um especulador financeiro de Wall Street que perde a mulher (Heather Lind) em um acidente de carro, mas não consegue sair do torpor da sua vida vazia. No hospital, ele tem problemas com uma máquina automática de doces e começa a enviar cartas de reclamações para a empresa responsável, detalhando também seus sentimentos (ou a falta deles) nos textos. Uma funcionária da companhia (Naomi Watts) começa a se corresponder com o viúvo ao mesmo tempo em que lida com o filho (Judah Lewis) em formação sexual confusa. No início, a situação rende bons momentos de humor negro com a tentativa de Mitchell de alguma tristeza pela morte da mulher. Meu personagem começa de modo convencional e termina aprendendo como deve se sentir e não como a sociedade espera que ele se comporte no luto pela mulher", explicou Gyllenhaal, que fez algo parecido quando criança. Decidi escrever para o KFC porque interromperam um prato de frango frito que gostava", brincou o ator em entrevista à imprensa mundial. "Mas faz anos que não escrevo cartas. Acho importante manter essa tradição, porque não é um e-mail, é alguém tentando se expressar de forma primordial. Mas a relação intensa de Mitchell com a personagem de Watts é difícil de ser comprada de tão implausível e, apesar das boas atuações do elenco, o roteiro tende para um lado mais familiar e de moral mais tradicional - menos "Clube da Luta" e mais "Um Santo Vizinho". Apesar disso, Vallée, antes da première, disse que é seu filme mais rock n' roll: "É um filme com espírito e energia, que faz barulho e provoca"." (Rodrigo Salem)

Black Label Media Mr. Mudd Right of Way Films Sidney Kimmel Entertainment

Diretor: Jean-Marc Vallée

53.556 users / 10/112 face


Soundtrack Rock

The Chocolate Watchband / Dusted / The Animals / Cave / Heart / My Morning Jacket / Free
42 Metacritic 504 Down 51

Date 08/02/2017 Poster - ########

51. About a Girl (2014)

104 min | Comedy, Drama

Charleen, 15, quick-witted and sassy, is Kurt Cobain's biggest fan and wonders why 'growing up' has to be so complicated. One day, feeling especially melodramatic and rebellious, she ... See full summary »

Director: Mark Monheim | Stars: Jasna Fritzi Bauer, Heike Makatsch, Aurel Manthei, Simon Schwarz

Votes: 902

[Mov 10 Favorito IMDB 6.6/10] {Video/@@@@@}

DESLIGANDO CHARLEEN

(About a Girl, 2014)


TAG MARK MONHEIM

{inesquecível}


Sinopse ''Aos 15 anos, Charleen acha que crescer é muito complicado e se sente entediada. Na sua opinião, a família é confusa e os colegas da escola são um tédio, com exceção da sua melhor amiga, Isa. A música é o seu único interesse, mas seus grandes ídolos são os finados Kurt Cobain e Jimmy Hendrix. Nas horas vagas, Charleen faz estágio em uma funerária. Em um dia especialmente melodramático, ela entra na banheira com o secador de cabelo, encenando um suicídio, mas sofre um acidente ao tentar atender o celular. E, a partir daí, Charleen começa a ver a vida de outra maneira.''




{Se morrer jovem, você ficará jovem para sempre, mas também, morto para sempre} (ESKS)

***** "Mark Monheim traz, em seu primeiro longa metragem, uma linguagem narrativa destinada ao público infanto-juvenil. Fugindo dos clichês do modelo, o filme não lida temas como drogas, sexo ou amor na adolescência. Conta a história de Charleen, uma menina que, aos seus 15 anos, possui conflitos tão relacionados a essa etapa da vida, onde os pequenos problemas tornam-se grandes, e de fato são, até que um dia tenta se suicidar. O filme tem uma pegada cômica bastante interessante ao assunto. Com uma trilha sonora que complementa a construção da principal, Charleen tem na música seu único interesse, curiosamente seus ídolos (Kurt Cobain, Amy Winehouse, Jimmy Hendrix) estão todos mortos. Ousado, o roteiro apresenta seu primeiro ponto de virada logo ao inicio, no momento da tentativa do suicídio. São aproximadamente dez minutos até o acontecimento. Mais, durante esse período não há desenvolvimento nos conflitos vividos pela adolescente, positivo, uma vez que dialoga com o não aprofundamento dos problemas juvenis, sem diminuí-los. Há o desenvolvimento de um relacionamento amoroso que muda o rumo e o humor de Charleen mas, como dito anteriormente, a película não trata dos temas clichês com tanta profundidade, o amor é secundário à história. Contudo, em alguns momentos há exageros nos alívios cômicos utilizados pelo diretor, a maioria deles ligados a imaginação da personagem. Discutindo um tema importante dessa fase da vida e, pouco explorado no cinema, a vontade pelo suicídio, o filme apresenta-se maduro apesar de seu público alvo." (Philippe Torres)

Imbissfilm Bayerischer Rundfunk (BR) die Film GmbH

Diretor: Mark Monheim

549 users / 23 face



Date 02/07/2017 Poster - ########

52. Difret (2014)

Unrated | 99 min | Biography, Crime, Drama

61 Metascore

A young lawyer travels to an Ethiopian village to represent Hirut, a 14-year-old girl who shot her would-be husband as he and others were practicing one of the nation's oldest traditions: abduction into marriage.

Director: Zeresenay Mehari | Stars: Meron Getnet, Tizita Hagere, Abel Abebe, Shitaye Abraha

Votes: 1,377 | Gross: $0.04M

[Mov 08 IMDB 6,8/10] {Video/@@@@} M/61

DIFRET - A MENINA HIRUT (unofficial ESKS)

(Difret, 2014)


TAG ZERESENAY MEHARI

{inteligente}


Sinopse ''Hirut Assefa, uma garota de 14 anos, é raptada e estuprada por Tadele Kedebe, um rapaz que planeja se casar com ela. Hirut não deseja esse casamento e foge de seu cativeiro, matando Tadele durante a fuga. Capturada pela polícia, seu julgamento é marcado e tanto a justiça como a população em geral exigem a pena de morte, pois o rapto para casamento é uma tradição comum nas vilas rurais etíopes. Mas Meaza Ashenafi, uma moderna advogada, logo se posiciona , tentando todos os caminhos para livrar a garota e provar para toda uma nação que as mulheres merecem direitos iguais em qualquer ocasião.''


''Baseado em fatos reais, “Difret” acompanha o caso de Hirut (Tizita Hagere), menina de 14 anos que é raptada por homens ao sair da escola e logo em seguida estuprada e espancada. A questão é que o seqüestrador queria se tornar marido da jovem e o ocorrido faz parte de uma tradição oriunda de aldeias da Etiópia. Hirut, em legítima defesa, acaba roubando uma arma e matando seu pretendente e, a partir disso, a maioria da população da cidade de Adis Abeba quer a condenação e até a morte dela. Tendo como membro dos produtores Angelina Jolie, o filme prima pela escolha do tema e pelo competente tom naturalista da interpretação dos atores, o que faz do longa um retrato honesto de uma sociedade cujas polêmicas são muitas, porém pouco exploradas no cinema. Por vezes aterrorizante devido às discrepâncias culturais do país, “Difret” consegue cumprir seu papel de denunciador sem recorrer a cenas de violência apelativas e trata com delicadeza os desdobramentos da premissa. Tendo como principal condutor da narrativa o esforço da advogada Meaza (Meron Getnet), dona de uma organização gratuita que preza pelo bem estar de mulheres e crianças pobres e uma das poucas a defender a não condenação da menina, o filme serve como observatório de uma cultura tradicional preste a ser modificada. O foco, nitidamente, está no espaço que aos poucos vem sendo conquistado pelas mulheres em nações como a Etiópia, que, paralelo ao estilo thriller que é adotado pelo diretor Zeresenai Berhane Mehari, bate na tela como um grito desesperado pela liberdade. O longa, vencedor dos prêmios do público nos festivais de Berlim e Sundance, preza pelo tom intimista e ao mesmo tempo globalizado, utilizando-se majoritariamente das nuances das personagens femininas para criticar o conformismo e qualquer tipo de intervenção machista na sociedade. O roteiro quase derrapa ao não aproveitar todas as oportunidades de subtramas, como a mulher que apanha do marido e a vida amorosa de Meaza e, às vezes, opta por um tom mais informativo que artístico, mas acerta ao expor um estudo antropológico sobre intolerância, organização de núcleos familiares, divergências territoriais e a chance de uma minoria ter sua voz ouvida e respeitada. Vale lembrar que o filme chegou a ser proibido numa exibição na Etiópia, depois de uma confusão envolvendo direitos autorais e preservação moral das pessoas que inspiraram o longa." (Victor Monteiro)

2014 Sundance / 2014 Urso de Ouro

Haile Addis Pictures Truth Aid

Diretor: Zeresenay Mehari

981 users / 720 face



Date 24/09/2017 Poster -#######

53. The Nice Guys (2016)

R | 116 min | Action, Comedy, Crime

70 Metascore

In 1970s Los Angeles, a mismatched pair of private eyes investigate a missing girl and the mysterious death of a porn star.

Director: Shane Black | Stars: Russell Crowe, Ryan Gosling, Angourie Rice, Matt Bomer

Votes: 372,956 | Gross: $36.26M

[Mov 09 IMDB 7,4/10] {Video/@@@@@} M/70

DOIS CARAS LEGAIS

(Nice Guys, The, 2016)


TAG SHANE BLACK

{hilário}


Sinopse ''À medida que um trabalho para achar Amelia, uma garota desaparecida, fica cada vez mais complicado, Jackson Healy decide dividir a investigação com o atrapalhado Holland March. Ambos descobrem que o caso de Amelia e a morte de uma estrela pornô estão, de alguma maneira, relacionados. Eles então se deparam com uma conspiração chocante que atinge até os mais altos círculos do poder.''


"A clássica estrutura de filmes de detetive com dois bons atores da atual geração e uma dosagem sadia entre mistério e comédia. Está tudo lá, porém jamais consegue ser especialmente divertido ou excitante." (Alexandre Koball)

"Nostalgia é o tema da semana, mas pela obra errada. Ao contrário da colcha de retalhos genericona da Netflix, Nice Guys propõe um semelhante revival do revival (ver os 70's pelo olhar dos 90's), mas com timing, humor, texto e subtextos bem explorados." (Daniel Dalpizzolo)

"Por filmes como esse que Shane Black é talvez o nome de ação mais injustamente esquecido e subestimado do cinema. O diretor e roteirista funde drama, tensão e riso com uma fluidez que grande parte da indústria esqueceu." (Bernardo D.I. Brum)

"Se a trama não faz muito sentido (e talvez nem pretenda fazer), o filme se sustenta graças à ótima dinâmica entre Gosling e Crowe, aos bons diálogos e ao absurdo das situações criadas por Shane Black. Divertido, ágil e até um pouco subversivo." (Silvio Pilau)

"Ryan Gosling descobrindo o cadáver na árvore atrás de si é um verdadeiro achado da comicidade. 'Dois Caras Legais' é realmente legal pra caramba." (Rafael W. Oliveira)

"A trama demora a engrenar e, quando o faz, não se apresenta tão interessante quanto aparentaria ser. Se sustenta no bom entrosamento entre Crowe e Gosling (em especial nas trapalhadas do personagem deste último). A menina Angourie Rice é a grata surpresa." (Léo Félix)

"Tiração de sarro que preza pela nostalgia, misturando elementos de filmes policiais das décadas de 1970 e 1980, encontrando em Ryan Gosling e Russell Crowe uma dupla pra lá de inspirada." (Francisco Bandeira)

"Logo que surge o título na tipografia Dreamland e começa a tocar a climática abertura de Papa Was a Rollin Stone", a reação imediata é: estamos nos anos 1970. As camisas de estampas havaianas que o personagem brucutu de Russell Crowe veste e o bigode no estilo cafajeste de Ryan Gosling tiram qualquer dúvida. Sim, "Dois Caras Legais" é uma máquina do tempo embalada por hits de Earth, Wind & Fire, Kool & The Gang e America. O diretor e roteirista Shane Black reúsa a velha e boa fórmula do buddy movie – o filme que junta dois tipos que têm tudo para dar errado, mas se completam – numa intriga-colagem que mistura mundo pornô, ricos corruptos e o que, láááá atrás, era chamado de festa de embalo. A trama, como as letras de dance music, é do tipo para prestar nenhuma atenção. O prazer vem do ritmo, dos climas e das piadas cifradas que o roteirista-diretor espalha para o público de sua geração de tiozões entender e dar risadas. Mas nem precisa saber quem era John-Boy para gostar de "Dois Caras Legais". Shane Black escreve com o treino de quem estreou no cinema com o roteiro de Máquina Mortífera. Quando passou a dirigir, com Tiros e Beijos, demonstrou estar ainda mais atento a cada linha de diálogo do que à eficácia do conjunto. O que ele oferece em "Dois Caras Legais" é uma paródia, uma comédia que retorna à década de 1970 para dizer como tudo aquilo, visto de hoje, pode parecer incrível, sem deixar também de mostrar como era falso e cafona. Ao contrário dos pastiches do cinema americano dos anos 1970 com que cineastas como James Gray e Paul Thomas Anderson ganharam aura de autores, "Dois Caras Legais" não vai ao passado para reivindicá-lo, mas para rir dele. Afinal, Shane Black já não era criança quando viveu aquilo e sabe que a tal profundidade é ilusão de óptica." (Cassio Starling Carlos)

Reviver os anos 70 e delinear o contemporâneo.

''O que o mais novo revival saudoso setentista Dois Caras Legais (The Nice Guys, 2016) e aquele que imortalizou, no contemporâneo, a década, Boogie Nights (1997), têm em comum? Algo se faz necessário responder primeiro: o que é mesmo a noção de contemporâneo senão esse tempo presente e esquizofrênico que decidimos eleger como amálgama de todos os outros tempos, era absoluta da reprodutibilidade alterada de tudo o que já foi, que dita o que está in ou out, mas sempre baseada no passado, sempre reformulando-o para encontrar, aqui (e lá também, por sinal), um novo ângulo, um novo furo, a mesma coisa dita de outra maneira, seja ela o que for. E se esquecemos que esse passado também olhava, ele mesmo, para o seu passado, e que a visão que temos do primeiro já pode ser essa criatura multiplamente fusionada, para não falar nas outras espirais da qual isso que chamamos de contemporâneo, feliz ou infelizmente, não tem noção, qual é a resultante? Uma caralhada de círculos? Seriam eles concêntricos? Há uma resposta possível, e ela é semelhante ao que Holland March (Gosling) e Jackson Healy (Crowe) parecem estar dizendo o tempo inteiro um ao outro: foda-se. A liberdade existe. Maneirista cujo fascínio imagético se dá, encontra ritmo e emprega dinamismo através do filme de ação noventista, e alicerçando os mais descabidos tiroteios e porradas com o tom humorístico típico do pastelão Chapliniano, a dupla dirigida e roteirizada pelo mesmo Shane Black dos Máquina Mortífera 1, 2, 3 e quase 4 é simbólica dessa nostalgia e constante reciclagem pelo cinema americano das suas próprias duplas cômicas, ou comedy duos (Cheech & Chong, Laurel & Hardy, Martin & Lewis etc), famosas, obviamente, por disparar com o riso pelo mau gosto, pela violência nonsense e pela trapalhada sucessiva, mas também (e especialmente), se colocado diante de uma dezena de filmes americanos recentes, filmes que, aliás, uma certa tendência da comédia francesa ensaia copiar de maneira pífia, e cujo apelo ao humor se encarna pelas vias do vexatório e das humilhações desritmadas, como se em algum lugar do mundo ou do cinema o constrangimento por si só fosse o depósito de todas as gargalhadas possíveis. Não, o ritmo de Black é quase milagrosamente Hawksiano: Holland, braço quebrado e em cima de um mostruário de carros giratório, combate o bandido (há realmente bandidos neste filme?) psicopático enquanto seu parceiro Healy atira descontroladamente para todas as direções. Cinco ou seis andares acima, sua filha de não mais que dezesseis anos salva o rolo de filme - a grande relíquia que todos, afinal, procuram – lançando-o num aparente escorrego de ventilação, acima do qual sua arqui-inimiga à la Jackie Brown ou Pam Grier, molhada de café frio do pescoço para baixo por um erro de golpe, bate a cabeça num ferro qualquer e desmaia novamente. O rolo, que àquela altura parecia mais a reencarnação do bebê de Ninguém Segura Esse Bebê (Baby's Day Out, 1994), sai voando descontrolado e reformula as prioridades de todos os detetives, agentes, seguranças e assassinos. Curiosamente, a grande pérola da cena criada por Black é que o inimigo não está ali: ele é a grande máquina industrial automobilística americana, e foram os próprios anos 70, com a literatura e o cinema, que provocaram todo o feeling que o filme mascara com grandioso humor: há um inimigo maior, intocável, disperso em corporações, dispositivos, meios de controle e rastreamento, produção de consumo e estímulo velado à destruição do próprio planeta; ou melhor, como acreditavam à época, da sociedade ocidental. E a possível reposta para a pergunta feita ainda mais acima, a que questiona e concomitantemente lança este filme numa aliás tríade nostálgica com Boogie Nights e Vício Inerente (Inherent Vice, 2014) pode muito bem ser a seguinte: é que há um maravilhamento, um encanto quase feiticeiro nos anos setenta e que se desmembra no que a década guarda de festivo, de fortuito e informal, de groovy e despirocado, que se ramifica nas dezenas de plots, subtextos, personagens diversos, estes sempre submetidos a outras dezenas de variáveis, mas paradoxalmente agradecidos e embalados nas ondas de prazer consequentes dessa multiplicidade precisamente pela loucura febril que esse conjunto de anos representou. Representou, na verdade, para nós, que consumimos o produto, o amálgama, a referência. Para eles, que ao mesmo tempo são e não são aqueles personagens (melhor chamá-los de ícones), como é possível dizer? É para isso que o cinema existe." (Felipe Leal)

''O cinema do século XXI não é necessariamente um período fascinante para os filmes de policial. Graças aos tempos mais sombrios, em sua maioria caucados em um realismo visceral, o gênero rende aqui e ali alguns frutos (como o ótimo Marcados para Morrer), mas parece ter se esquecido da glória e da diversão do buddy cop movie, o que justifica o fato de Shane Black ter precisado voltar aos anos 70 com Dois Caras Legais para nos entregar um trabalho digno do criador de Máquina Mortífera. A trama parte de uma ideia original de Black e o novato Anthony Bagarozzi, nos apresentando ao investigador particular Holland March (Ryan Gosling) e ao detetive Jackson Healy (Russell Crowe), que acabam precisando unir suas forças para resolver um caso bizarro que envolve o aparente suicídio da estrela pornô Misty Mountains (Murielle Telio) e um complô que eventualmente vai se desdobrando em porporções maiores. É uma história cabeluda que se desenvolve com impressionante precisão e elegância, na medida dos bons thrillers noir da época: acaba em um espaço onde não mergulha de cabeça nas complexidades como Chinatown e a segunda temporada de True Detective, mas também não adota o surreal doper de Vício Inerente, gerando um eficiente quebra-cabeças que vai perfeitamente se construindo no decorrer de seu ótimo ritmo. O enfoque na indústria pornô rende não apenas um amontoado de ótimas piadas (incluindo a resolução geral da história, que remete bastante a Boogie Nights), mas também pelo contexto artístico. Logo nos segundos iniciais, a câmera de Black aparece por de trás do letreiro quebrado de Hollywood, nos situando não apenas na década em questão, mas no lado mais torto da indústria, em um incrivelmente eficiente recurso. E falando em piadas, a prosa de Black e Bagarozzi é sublime, com frases de efeito que acabam repetidas em momentos-chave e situações absurdas que jamais esperaríamos em um longa protagonizado por policiais. Mas nada disso daria certo não fosse o talento monumental de Russell Crowe e Ryan Gosling, que formam uma dupla cômica divertida e original, com o mesmo espírito de Mel Gibson e Danny Glover na quadrilogia que é a base para todo buddy cop. Crowe faz o estilo mais sóbrio, racional e eficiente, enquanto Gosling é um sujeito totalmente desequilibrado e sacana; mas são justamente os momentos em que os papéis se invertem que temos algo realmente especial, com March revelando um instinto inteligente e Healy mostrando que almeja por uma satisfação emocional complexa – algo que funciona de forma muito sutil também com uma certa tatuagem que March carrega ao longo da projeção. Mas por mais eficientes e divertidos que sejam os detetives, quem toma para si os holofotes é a jovem Angourie Rice, que interpreta a filha de March, Holly. Rice se sobressai como uma criança de 13 anos que é inteligente e sarcástica, a personagem mirim mais marcante desde a Hit-Girl de Chloe Grace Moretz no primeiro Kick-Ass, sendo perfeitamente capaz de obter pistas e informações de formas mais maduras do que os protagonistas; mas sem nunca transformar-se em uma espécie de robô caricata, jamais deixando de lado o fato de que é uma criança. "Dois Caras Legais" é um ótimo retorno à forma para Shane Black, que entrega um dos melhores e mais divertidos filmes de 2016 até o momento, contando com o incrível charme cômico de Russell Crowe e Ryan Gosling, que devem conquistar qualquer um." (Lucas Nascimento)

Misty Mountains Bloom Lipsync Productions Nice Guys Silver Pictures Waypoint Entertainment

Diretor: Shane Black

202.021 users / 22.175 face


Soundtrack Rock The Temptations / KISS / Climax Blues Band / Earth Wind & Fire / The Bee Gees / Kool & The Gang / The Band / America / Al Green / A Taste of Honey


51 Metacritic 602 Up 39

Date 28/09/2017 Poster - ########

54. Dunkirk (2017)

PG-13 | 106 min | Action, Drama, History

94 Metascore

Allied soldiers from Belgium, the British Commonwealth and Empire, and France are surrounded by the German Army and evacuated during a fierce battle in World War II.

Director: Christopher Nolan | Stars: Fionn Whitehead, Barry Keoghan, Mark Rylance, Tom Hardy

Votes: 739,561 | Gross: $188.37M

[Mov 08 IMDB 8,1/10] {Video/@@@@@} M/94

DUNKIRK

[(Dunkirk, 2017)/i]

TAG CHRISTOPHER NOLAN

{divertido}


Sinopse ''Na Operação Dínamo, mais conhecida como a Evacuação de Dunquerque, soldados aliados da Bélgica, do Império Britânico e da França são rodeados pelo exército alemão e devem ser resgatados durante uma feroz batalha no início da Segunda Guerra Mundial. A história acompanha três momentos distintos: uma hora de confronto no céu, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo, um dia inteiro em alto mar, onde o civil britânico Dawson (Mark Rylance) leva seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país, e uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço.''


"As diferentes linhas do tempo são uma distração, e o filme realmente carece de identificação com os personagens (difícil diferenciar os soldados), mas é uma realização impressionante, com tensão constante, ritmo invejável e belíssimos planos. Ótimo filme." (Silvio Pilau)

"A capacidade técnica de Nolan e sua equipe é não menor do que extraordinária. A Dunquerque, falta um pouco de substância - os diversos ângulos da mesma batalha acabam soando redundantes - mas não falta beleza plástica e terror palpável." (Alexandre Koball)

"...podem insultar-me e supostamente "zoarem-me" o quanto quiserem, para mim é o mesmo que nada." Matheus Johan Darswik Rodrigues Barbosa" (Daniel Dalpizzolo)

4"A estrutura tripartida (céu, terra e mar) trava a construção dos personagens e a tensão constante dá ao filme um ar de climax alongado. Mas a dilatação do tempo extrai o máximo de suspense de cada frente, e o impacto geral da obra é inegável. Bom filme." (Régis Trigo)

"Nolan (ainda) é um visionário de alcance pequeno demais para o tamanho de suas abordagens, e faz de Dunkirk o seu 'O Regresso' de 2017 ao diluir qualquer vertente de seu filme em experimentos técnicos/narrativos vazios e personagens que quase não existem." (Rafael W. Oliveira)

"Qualidade técnica impecável, porém, o enredo passa longe de empolgar." (Léo Félix)

Os heróis anônimos.

''A situação sentencia um destino inevitável. De um lado, o litoral do canal da macha sendo bombardeado por pilotos de Messerschmitts e Heinkels em períodos de tempo aleatórios. Em terra, o exército nazista em massa tomando conta da cidade de Dunquerque e obrigando os Aliados a se refugiarem na praia, onde inevitavelmente acabam expostos ao bombardeio antes de poderem ser resgatados pelos destroiers enviados de Londres. Quem entra em cena para livrar os 400.000 soldados ingleses, belgas e franceses encurralados são os próprios civis da Inglaterra, munidos apenas de coragem e de seus barcos domésticos cheios de voluntários patriotas. A Batalha de Dunquerque, que durou entre 25 de maio e 4 de junho de 1940, é um dos episódios mais incomuns ocorridos na Segunda Guerra Mundial, visto se tratar da maior operação de resgate já registrada, e impressiona que toda a ação tenha sido comandada por civis em salvação de militares. Não é surpresa que essa passagem notável tenha sido pouco resgatada por Hollywood (com a exceção do filme de Leslie Norman em 1958), que tanto ama um filme sobre a Segunda Guerra, mas que aqui não tem o exército americano (de preferência como herói) atuando no relato. No ímpeto de continuar a sedimentar para a mídia a sua imagem de revolucionário diretor contemporâneo e diferenciado, o inglês Christopher Nolan escolheu justamente Dunkirk como exemplar de filme de guerra obrigatório no currículo de qualquer cineasta grandiloquente que se preze. E fez bem. Filmado em 70 milímetros e com tecnologia Imax, ''Dunkirk'' é puro som e imagem na maior nitidez que o cinema hoje pode proporcionar, inclusive parte crucial da experiência é poder assisti-lo num cinema que reproduza a película em seu formato idealizado por Nolan. Curiosamente, é um dos trabalhos mais enxutos do diretor, tendo menos de duas horas de duração, o que é impressionante diante de sua ambição de fragmentar a narrativa em três histórias paralelas ocorrendo em tempos diferentes. De certa forma, parece que a grande maioria dos filmes que ele dirigiu até então não passaram de tentativas ou degraus para que ele adquirisse a experiência e maturidade necessárias para filmar Dunkirk. Nolan apresenta aqui um senso de síntese muito maior e livra o filme da barriga e da autoexplicação que tanto prejudicaram seus ambiciosos A Origem, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge e Interestelar. Também foram tentativas dele em expandir o tempo em vários níveis de velocidade em narrativas simultâneas e desenvolver um clímax ininterrupto com mais de uma hora de duração – nem todas bem sucedidas. Pegando esses conceitos de tempo e ápice, que já começam a formar sua almejada marca de autor, Nolan vai na contramão de qualquer narrativa convencional para um filme de guerra e já começa tudo pelo clímax. Mais ainda: ele dirige um filme composto apenas de clímaxes. Nas três histórias ele parte já do meio de uma situação-limite e estica cada uma delas o máximo possível de acordo com o tempo em que cada uma ocorre (uma semana, um dia e uma hora), equilibrando todas até um momento de convergência em que elas se chocam em um único e grandiloquente ato final. A iminência da inevitável morte para os soldados que se acreditam esquecidos ao longo de uma semana em Dunquerque, a corrida de um homem comum e na companhia de seus filhos em atravessar em um único dia o canal da Mancha em um barco doméstico na tentativa de ajuda aos militares encurralados na França e o desespero de dois pilotos ingleses enfrentando em apenas uma hora vários ases nazistas que pretendem impedir a operação de resgate no molhe da praia – essas três vertentes caminham numa desesperadora rota de colisão, e a habilidade do diretor está em acelerar ou retardar o tempo de cada uma delas para que o momento de encontro seja exato. Estando sempre no limite da emoção, o filme não tem muito tempo para diálogos ou esclarecimentos, o que é um alívio enorme para quem se traumatizou com as intermináveis explicações didáticas que Nolan adotou em trabalhos anteriores. A história partida em três também não permite a nenhum personagem tempo o suficiente em cena para tomar o posto de protagonista, o que acaba por expandir o quadro de um conflito sem heróis, sendo que nem mesmo os nazistas dão as caras. A ideia de Dunkirk é muito mais imagética e por conta disso Nolan pinta longos planos abertos e mostra um cuidado quase perfeccionista na maneira como dispõe os atores em cada enquadramento, o que resulta em lindas tomadas na praia fria e pontilhada pelos soldados avistados de longe. O pânico crescente de cada uma dessas narrativas é quase todo amparado no trabalho de som, que de tão nítido e potente acaba provocando mais jump scares que qualquer filme de terror recente e frisa a sensação de total pavor daqueles homens à mercê dos ataques-surpresa nazistas, ainda que a trilha de modo geral seja bastante invasiva e incômoda. ''Dunkirk'' foi apontado com certo exagero pela crítica internacional como um Nolan à altura de mestres como Stanley Kubrick. Obviamente não se encontra nesse patamar, mas ainda assim a empolgação em torno dele é válida, pois se trata do filme em que mais se nota o amadurecimento de Nolan, que equilibrou melhor do que nunca suas ideias grandiosas, dominou os elementos e conceitos trabalhados anteriormente com mais segurança e enxugou os excessos que lhe prejudicaram outras vezes. É uma pena que se conclua num tom meloso já desgastado pelo cinema americano e se veja na obrigação de apelar a um discurso motivacional sobre os efeitos da guerra sobre o homem, não se permitindo adentrar no sentimento de impotência, vergonha e derrota dos soldados resgatados e sim tentando levantar a moral deles com considerações edificantes que simplesmente não se encaixam com a situação. Não era necessário – depois de quase duas horas ininterruptas de ação sufocante, todos já ficaram bem convencidos sobre a conclusão de que a guerra é um veneno que atinge até mesmo os cidadãos comuns e que, da adversidade causada por ela, às vezes se contrapõe o mais inesperado sentimento de união e solidariedade." (Heitor Romero)

''Um filme de guerra em que quase não há sangue. Tampouco vísceras expostas, braços e pernas despedaçados ou o clássico último suspiro do soldado nos braços de um colega de inferno. Christopher Nolan depurou esses ingredientes tradicionais do gênero para alcançar a meta de ter o mundo a seus pés. O diretor britânico vem, há quase duas décadas, conquistando uma legião. Uma parcela menor e menos entusiasmada manteve-se reticente, detectando ali mais malabarismos do que revolução. Fãs e críticos, porém, concordam num ponto: os filmes de Nolan têm uma ambição cinematográfica, o que é estimulante num momento em que muitos só enxergam o futuro na tela da TV. "Dunkirk" reitera o prazer do cineasta em testar sua originalidade confrontando-se com os códigos estabelecidos do cinema de gênero. Depois de inverter o policial, bagunçar o heroísmo de um ícone das HQs e rejuntar física e metafísica na ficção científica, Nolan aborda um gênero pouco maleável e que acumulou um histórico de grandezas –graças a Renoir, Hawks e Kubrick, para abreviar um longuíssimo name-dropping. Em busca de um encaixe nesse panteão, Nolan propõe outros pontos de vista. Sua guerra deixa de ser uma situação-limite na qual a moral aparece exposta e estraçalhada como os corpos. "Dunkirk" também não contrapõe o discurso antibelicista ao voyeurismo sádico. Nem insiste na mitologia do heroísmo militar, preferindo conduzir nossa empatia na direção do homem desarmado. Essa ideia de perspectiva é essencial ao filme, que não a associa a um protagonista, mas a alterna conforme o ângulo da ação: no centro, acompanhando um jovem soldado, do alto, com um piloto audaz, e à distância, junto ao pai que ruma com os filhos num pequeno barco. Não só um filme de guerra, mas muitos. À oscilação espacial corresponde a variação temporal, com pedaços narrativos que dão ao espectador o prazer de montar um quebra-cabeças. Essas soluções se completam com uma construção sônica e musical que desorienta sensorialmente e potencializa a proposta de imersão. Os nostálgicos vão se perguntar onde estará o cinema em meio a tanta saturação. Resposta: no espetáculo. Nolan junta o século 19 no 21 demonstrando que o cinema – ainda – tem poderes para expandir nossa percepção. Não só alegoria pró ou anti-brexit, "Dunkirk" é também uma máquina de guerra contra a qual nem Netflix nem PlayStation têm – ainda – arsenal para derrotar." (Cassio Starling Carlos)

Assim como seus personagens, diretor sobrevive por pouco.

''Uma história curiosa vista dos primórdios do cinema: enquanto dirigia o média-metragem Enoch Arden em 1915, D.W. Griffith sugeriu que uma cena em que a protagonista Annie Lee espera pela volta do marido fosse continuada pela cena do personagem-título Enoch naufragando. Foi uma polêmica entre a equipe: como contar uma história assim, em alternância de pontos de vista, “indo e vindo”? “Bem, não é o jeito que Dickens escreve?, perguntou Griffith. Sim, mas isso é Dickens, é a maneira de escrever um romance; é diferente. Oh, nem tanto, respondeu o influente diretor. Escrevemos romances com imagens, não é tão diferente!. Nolan é um romancista de imagens, não só por herança cultural e industrial mas também por vocação; a separação dos personagens elencados em núcleos, o coral alternado de sua percepção de um ou mais fenômenos e conflitos; enquanto o escritor britânico do século 19 usava racionalmente a técnica de trocar perspectivas e temporalidades para segurar a “emoção” da história publicada de maneira periódica, os cineastas praticantes da narrativa clássica souberam cooptar a seu favor para compor uma obra cuja sensação de temporalidade retraísse e dilatasse à favor da catarse do efeito dramático. É bem verdade que o cinema de guerra é composto por filmes que comportam um pequeno microcosmo de drama, horror, suspense e esperança. A dobradinha de Clint Eastwood composta por A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima ou a ultraviolenta via crucis de um objetor de consciência de Mel Gibson em Até o Último Homem são episódios verídicos que compuseram um panorama minúsculo do evento limítrofe do século que foi a Segunda Guerra Mundial; seja na resiliência do santo mortal Desmond Dodds, a farsa de Iwo Jima orquestrada na faceta americana do filme Eastwood espelhada nas sufocantes profundezas das linhas japonesas, há todo um coro de perspectivas de homens que basicamente “foram ao inferno e voltaram”, como afirma frequentemente a tônica desses filmes. É o mote que também move ''Dunkirk'', a sufocante jornada de sobrevivência baseada na trágica Batalha de Dunquerque ocorrida em 1940. Quando um batalhão de soldados ingleses e franceses se encontrou cercados por tropas alemãs na costa francesa, sua única esperança residiu nos barcos de civis britânicos que heroicamente evacuaram mais de trezentos mil soldados. Em seu primeiro filme baseado em fatos reais, Nolan não se interessa pela macro-escala, das histórias pré-Guerra, dos interesses políticos e militares; praticamente nenhum personagem tem passado além do momento que encontrou-se em Dunkirk. Não é muito diferente na frequentemente encurralada Gotham em sua trilogia dedicada ao herói das HQs Batman ou de toda a aventura de imersão dos sonhos vista em Batman - A Origem. Como fã de diretores que encontram-se no limite entre a narrativa e o efeito puramente sensorial - entre seus filmes favoritos incluem-se Um Corpo que Cai e Doze Homens e Uma Sentença - não soa estranho que seus filmes antes de serem documentos sejam jornadas psicológicas exteriorizadas - são seus personagens e suas ideias que compõem o ambiente, suas ações o influenciando e deformando. Nesse sentido, importa menos o efeito do que o Batman de O Cavaleiro das Trevas tenha vivido antes do filme - importa como naquele filme ele responderá à provação do Coringa, ao assassinato de pessoas queridas, à corrupção de íntegros homens de confiança - os protagonistas de Nolan são moldados sobretudo pela ação que está sendo filmada. É o caso dos três núcleos de ''Dunkirk'', separados entre um soldado que aguarda resgate na praia, os pilotos ingleses no céu que combatem os caças nazistas que bobardeiam os grandes navios de resgate e uma pequena família que veleja a bordo de um iate para resgatar o maior número de soldados possíveis. Em seu filme mais enxuto, a montagem alternada usada em exaustão em A Origem é novamente utilizada em larga escala; todos os esforços enquanto a evacuação acontece desdobram-se em muitos pequenos conflitos. Dunkirk impõe-se quase como uma colcha de retalhos onde episódios acontecem cada um em um espaço-tempo diferentes de maneira irregular. Os diferentes níveis de sonho que renderam as duas horas e meia de A Origem nem sempre transmitiam a sensação de estar apresentando um conflito em si em toda a sua emoção e suspense, esticando-se e voltando da calculada maneira do diretor de explicar estamos aqui, vamos por aqui, por meio dos diálogos e acabando por compor um filme que mostrou o habitual calcanhar de Aquiles de Nolan: o didatismo. E ''Dunkirk'' sofre em boa parte do mesmo mal. Está nas legendas da abertura e que situam cada cena no seu tempo e lugar, está nos diálogos antinaturais que parecem mais explicações do que uma conversa, no uso óbvio da música que utilizam o básico da linguagem audiovisual para criar prenúncios de esperança ou terror. Nunca se está sozinho nos filmes de Nolan - nem na guerra. O que é puramente dramático (combater um caça nazista, escapar de uma embarcação afundando, sobreviver a um bombardeio, resgatar pessoas em perigo) frequentemente é vítima de diálogos explicar porque devo desempenhar tal missão ou o ataque agudo de violinos em seus crescendos e diminuendos que informam que a situação iniciou, desenvolveu-se e terminou. A misé-en-scene de Nolan é previsível até dizer chega - se o personagem destaca-se em um plano por ser o único sobrevivente de um tiroteio, será então testemunha de toda a sorte de intempéries e sobreviverá por simples composição de quadro (está em primeiro plano, as vítimas em segundo); se um personagem encontra-se em perigo, o paralelismo da proximidade de outro nos confirma que por mais prolongado que seja o nosso sofrimento, o investimento terá recompensa. Para o rei do blockbuster inteligente, o uso da linguagem e a composição da narrativa não são lá muito criativos, mas derivativos; esquecíveis, até. Sua ambição de romance de imagens perde frequentemente na exploração de potencialidades dramáticas ao querer mais contar do que mostrar. Não basta mostrar um personagem perturbado pela guerra, sua condição tem de ser enunciada em voz alta; quando uma escolha moral difícil é apresentada, a ação dilata-se para que princípios sejam discutidos. E como nenhum inimigo é efetivamente mostrado no filme, eles são como o mar, um naufrágio ou uma queda de avião: mais uma força da natureza impessoal do que qualquer outra coisa. O inimigo parece atirar e bombardear pela mesma razão que a maré sobe. Então tudo o que resta aos núcleos de perspectivas é catalogar o desfile progressivamente repetitivo e redundante; os pequenos sacrifícios e salvamentos são preparação para grandes sacrifícios e salvamentos. Testemunhe e acontecerá. E os chavões da filmografia de Nolan estão todos lá: a cena muito lembrada dos barcos de detentos e do barco de civis que vivem o drama de explodir ou não um ao outro de O Cavaleiro das Trevas encontra velhos novos ecos aqui (ir à costa e correr o risco de morrer para salvar soldados ou dar meia volta? Expulsar um para aliviar o peso ou sacrificar a todos?). O dilema é exposto mais de uma vez em variados contextos, mas de maneira geral, todos correm riscos e sacrificam-se. Os filmes do inglês são uma vitória da moral, por assim dizer. Enquanto a narrativa clássica dos cineastas reforçava os valores em seu discurso e usavam-no como catalisador da catarse dramática, pós-classicistas como Nolan são todos pela ação dramática e a superação humana não é um elemento dialético, um conflito a ser resolvido, mas uma justificativa para a tour-de-force, para as enormes set-pieces que decantam o único problema do ser resolvido e esticam a sua duração. Quem está em ''Dunkirk'' deve sobreviver - e pulará da sobrevivência na praia para uma sobrevivência em um barco afundando para a sobrevivência em alto mar. Quando seus vilões existem, são tudo que um homem não deve ser para contrastar com seus heróis que representam tudo o que um homem deve ser. O Coringa é o caos e a anarquia, o Batman é a ordem e a justiça. Quem ganha a luta, ganha Gotham e a modela como mais social ou mais impiedosa. Quando filma Dunkirk, um filme de antagonistas sem rosto (forças naturais, soldados inimigos de quem nunca vemos o rosto ou ouvimos a voz), o que acontece? Bem, a justificativa já está posta desde o início, poucos tem dúvidas do dever e logo são motivados ou vencidos pela voz da razão. Restam as set-pieces, as pequenas sequências estilizadas que acabam sendo o melhor do filme, já que a dramaturgia inexiste, surge sem razão alguma e que pretensamente é inteligente, mas que não dialoga em momento algum e responde de prontidão. Curioso que o cineasta, que pisa firme para exibir seu filme em 70mm, o que faz com que poucas salas sejam realmente aptas de mostrar o filme em sua visão de janela original e que critica a Netflix por lançar seus filmes imediatamente em streaming na televisão, alegando que Dunkirk “é um filme que carrega você por uma situação de suspense, que faz você sentir que está lá, e que por isso exige uma distribuição em salas de cinema”. A bitola é maior do que nunca, o som é cristalino, ensurdecedor e cheio de camadas; mas para o filme anunciado como o filme do diretor que tem menos diálogos e menos caraterização e mais foco em eventos - como anuncia a resenha na Morgan Magazine e a entrevista do mesmo para a EW (que teria se inspirado em filmes feitos nos últimos anos como Mad Max: Estrada da Fúria de George Miller e Gravidade de Alfonso Cuarón) - ainda imprime uma necessidade alarmante de não deixar o espectador perdido no ambiente, em dilema sobre o que fazer, em deixar a superproduzida malha sonora também ser narradora e não apenas uma ditadora de tons. A mão pesada perde em sofisticação e subjetividade na hora de expressar estados e feitos. Para quem se pretende imersivo, não há a ambição hitchcokiana de ver sem ouvir e ainda entender ou a mescla da justaposição de planos-detalhe ou a paisagem sonora construindo o filme a conta-gotas como na abertura de Era Uma Vez no Oeste. Em um parque de diversões com possibilidades infinitas, como resumia Orson Welles, há apenas a quase primária repetição da técnica Griffith-Dickensiana: ação com base moral, escopos de perspectiva com base puramente retórica, puro exercício de estilo que não transcende o lugar comum. Não estranhe a absoluta falta de efeitos gráficos: todo o resto de ''Dunkirk'' é tão clean como esse aspecto. Filme de guerra redondo e calculado, que não dá chance ao azar, sem momentos de maior ousadia estética e amparando-se em seus valores para dignificar a própria importância, com tantas similitudes e tão pouco revisionista em relação à histórias heróicas vistas na tela há 70 que já parece nascer datado e sem frescor nenhum. Um lugar comum na filmografia de Christopher Nolan, que apesar do reconhecimento como renovador não parece muito esforço para fazer algo além do óbvio." (Bernardo D.I. Brum)

"Seis soldados caminham em uma rua deserta. Do céu, começam a cair centenas de folhetos com a frase "nós cercamos vocês". É assim que começa o filme "Dunkirk", épico de guerra dirigido por Christopher Nolan (de Interestelar, A Origem e a trilogia Batman - O Cavaleiro das Trevas). A trama é inspirada no resgate das tropas dos Aliados em Dunquerque (grafia em português), cidade no norte da França, ocupada pelos nazistas, em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Encurralados na praia pelos inimigos, centenas de milhares de soldados aguardam o salvamento. No entanto, os destróieres não conseguem se aproximar da costa para o resgate por conta dos bombardeios (aéreos e marítimos) incessantes dos alemães. Diante da dificuldade, embarcações civis são convocadas a atravessar o Canal da Mancha e ajuda r na missão. Desta forma, a história é contada com personagens fictícios e sob três perspectivas: a dos soldados, que aguardam o resgate pelo mar na praia de Dunquerque, a de voluntários britânicos numa embarcação de que cruza o Canal da Mancha, e a de pilotos da Força Aérea Britânica. No elenco estão Kenneth Branagh, Tom Hardy, Mark Rylance e o ex-One Direction Harry Styles, que faz sua estreia nas telonas. Filmado em locações na França, Holanda, Reino Unido e Los Angeles, o filme tem direção de fotografia do holandês Hoyte van Hoytema e foi rodado utilizando uma combinação de tecnologia Imax e filme 65 mm. O longa, que já é apontado como forte candidato a indicações ao Oscar, encabeçou as bilheterias americanas no último fim de semana e arrecadou US$ 55,4 milhões na sua estreia em 46 países." (Victoria Azevedo)

''O primeiro-ministro britânico em 1940 estava certo: "Guerras não são ganhas com evacuações, disse Winston Churchill. Mas se não fosse a retirada de boa parte da Força Expedicionária Britânica da cidade de Dunquerque, norte da França, o Reino Unido teria perdido a guerra contra a Alemanha nazista. Não haveria um cadre de tropas regulares para proteger o país e formar novos soldados. E o mundo também perderia. A civilização ocidental teria perecido nas mãos de bárbaros modernos equipados com tanques e bombardeiros liderados por Adolf Hitler, líder supremo do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. O filme "Dunkirk" mostra como isso quase aconteceu. É uma obra magnífica, e com o devido respeito pela história. A primeira frase que se ouve é cadê a Força Aérea? Os soldados britânicos estavam espremidos na praia, esperando pela evacuação. Os bombardeiros de mergulho Junkers-87 Stuka jogavam bombas a granel. Bombardeiros médios Heinkel-111 atacavam os navios tentando evacuar as tropas. Cadê a Força Aérea? Estava lá, mas as tropas na praia não conseguiam ver. Os combates eram em altitudes ou distâncias longe da vista. Parecia que a RAF (Royal Air Force) tinha esquecido de fazer seu trabalho. Esse é um dos resgates históricos mais bem-vindos do filme. Para muitos soldados, os caças Hurricanes e Spitfires não estavam lá, mas estavam. E como. O melhor livro até agora sobre a retirada de Dunquerque é o do historiador Hugh Sebag-Montefiori – Dunkirk - Fight to the Last Man (luta até o último homem). Ele conta que a RAF perdeu 931 aviões, incluindo 477 caças, sobre a França e a Bélgica. E a Marinha Real (RN, Royal Navy) teve 25 destróieres perdidos ou danificados em Dunquerque. Foram perdidos ou danificados cerca de 170 navios de tamanhos variados na evacuação. Alguns personagens têm base em pessoais reais, como o ator Kenneth Branagh no papel de Bolton, que cuidou da evacuação no píer, baseado no comandante James Campbell Clouston. Morreram cerca de 11 mil soldados britânicos e 90 mil franceses nas campanhas de 1940. Este filme é uma bela homenagem, respeitando a história, a todos eles. E, a leitura no final, de um dos mais brilhantes discursos de Churchill – nós jamais nos renderemos – é uma maneira espetacular de terminar um filme idem." (Ricardo Bonalume Neto)

“Dunkirk” é cinema em estado puro. Uma história de personagens menores, contada com fotografia espetacular, trilha sonora angustiante, diálogos mínimos e approach singular: é um filme de guerra sem sangue nem batalhas. Sua força está na alternância do tempo, um tema recorrente em outros filmes do diretor, como Amnésia, Interestelar e A Origem. Christopher Nolan costura horizontes imensos e espaços claustrofóbicos, com enquadramentos acachapantes e uma enorme compaixão pelas pequenas misérias humanas. Raridade nesses tempos, seu filme é uma grande produção que não mira o público adolescente nem a agenda política segmentada por grupos de interesse. É uma ode ao cinema e à sua capacidade de contar uma história usando com virtuosismo o tripé mais básico: imagem, montagem e som.'' (Vera Guimarães)

75*2018 Globo

Top 250#51

Top Holanda #32

Syncopy Warner Bros. Dombey Street Productions Kaap Holland Film Canal+ Ciné+ RatPac-Dune Entertainment

Diretor: Christopher Nolan

301.254 users / 82.552 face

52 Metacritic 9 Up 1

Date 12/12/2017 Poster - ##########

55. Going in Style (2017)

PG-13 | 96 min | Comedy, Crime

50 Metascore

Desperate to pay the bills and come through for their loved ones, three lifelong pals risk it all by embarking on a daring bid to knock off the very bank that absconded with their money.

Director: Zach Braff | Stars: Michael Caine, Alan Arkin, Ann-Margret, Matt Dillon

Votes: 91,525 | Gross: $45.02M

[Mov 06 IMDB 6,6/10] {Video/@@@@} M/50

DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO

(Going in Style, 2017)


TAG ZACH BRAFF

{simpático}


Soundtrack Rock ''Refilmagem da comédia Despedida em Grande Estilo, clássico de Martin Brest premiado no Festival de Veneza. Willie (Morgan Freeman), Joe (Michael Caine) e Albert (Alan Arkin) são amigos há décadas. Eles levam uma vida pacata, mas sofrem com problemas financeiros. Quando Willie testemunha o assalto milionário a um banco, decide chamar Joe e Albert para elaborarem o seu próprio assalto.Três amigos idosos, que vivem de doações e, para sair da pobreza, decidem tramar o roubo de um banco.''


"Esses velhinhos têm muita perícia e bom humor para dar. É um filme bem engenhoso, bem movimentado e divertido, certamente." (Alexandre Koball)

"Eis um exemplar da mistura de dois subgêneros do cinema: as tramas mirabolantes de assaltos e os filmes de velhinhos simpáticos. No caso, simpáticos e muito bons atores: Morgan Freeman, 80, Michael Caine, 84, e Alan Arkin. 83, todos com estatuetas do Oscar em casa. Ex-colegas de trabalho, os três perderam suas aposentadorias por irregularidades na empresa em que deram duro por décadas. Sem dinheiro, resolveram armar um plano para roubar um banco. No caminho deles , um policial (o sumido Matt Dillon). Arkin dá o tom de humor com seu namoro com sua fogosa vizinha, papel da também veteraníssima Ann-Margret. Uma Sessão da Tarde irresistível que foge do habitual dessas histórias com conclusão bem inteligente." (Thales de Menezes)

''Ouça este conteúdo 0:0007:23Audima A comédia é construída a partir de situações que fogem do esperado, que surgem para romper uma lógica comum a fim de gerar risos. Assim, o humor está residido ou nas pequenas quebras de expectativas, ou nas grandes situações improváveis, e, no melhor dos casos, na combinação de ambos. Esses são princípios básicos da piada, da gag e da comédia, fundamentalmente. Explicando, isso pode parecer bem simples, mas construir um filme todo a partir desse conceito básico é algo que poucos conseguiram com excelência (Chaplin, Keaton, Marxs e Lewis), mas, embora seja difícil, esse parece ser um dos caminhos mais agradáveis ao humor. ''Despedida em Grande Estilo'' segue exatamente esse percurso, tentando atrelar essas pequenas quebras de situações para finalmente colocar seus personagens numa situação totalmente extrema e inusitada. O filme acompanha a vida de três senhores de idade que vivem em Nova Iorque, Joe (Michael Caine), Willie (Morgan Freeman) e Albert (Alan Arkin). Todos eles estão cercados da dívida e nada indica um futuro melhor, tudo que os três amigos querem é ter uma condição melhor e farão de tudo para que isso seja possível, nem que seja necessário assaltar um banco. Baseado num longa de mesmo ano de 1979, que continha o grande instrutor de atuação Lee Strasberg em seu elenco, o filme segue por uma tentativa de tirar o idoso do senso comum, tanto nas ações triviais quanto nessa grande jornada. É justamente esse deslocamento dos personagens que causam o humor, como eles reagem a melhor idade e quais são seus planos. Evidente que esse tipo de discurso pode muito bem cair numa filosofia óbvia a respeito da vida, surgindo no filme pensamentos como “aproveitar todos os instantes até seu último momento” e coisas do tipo. Todavia, os grandes méritos de Despedida em Grande Estilo está justamente nessa comédia simples, trivial, mas sempre muito bem vinda. O filme dirigido por Zach Braff começa com uma sequência em que o personagem de Caine vai ao banco tirar uma dúvida sobre sua hipoteca, nesse momento inicial há um resumo de tudo que se verá ao longo da projeção. O carisma de Caine, tiradas cômicas no texto, piadas físicas com os atores, e até mesmo o plot e a grande motivação do filme. Ali já há toda explanação acerca da péssima situação financeira do protagonista e logo em seguida surge um grande assalto a banco, no qual os únicos atingidos são realmente os bancários e a instituição que representam. Essa primeira cena é extremamente bem estruturada, seguindo um padrão que será presente no resto do longa. Naqueles poucos minutos o que se vê é Joe sofrendo na mão da burocracia, o gerente apresenta todos os argumentos que comprovam a culpa do idoso, sempre com muita arrogância e sarcasmo. Com pouco tempo de tela, o espectador realmente sente raiva daquele homem, representando muito mais a instituição do que uma pessoa realmente. O público já está do lado de Joe, querendo que, no mínimo, algo ridículo aconteça com aquele gerente. Logo vem o assalto e aquilo que foi incitado em pouco tempo tem sua recompensa, num roubo à lá Robin Hood, os assaltantes tiram tudo do banco sem ferir ninguém e, ainda por cima, acabam ridicularizando aquele personagem que já é desprezado pela audiência. Em pouco tempo já se tem toda a dinâmica do filme, e já se sabe que aquele prazer vingativo só será completo quando o protagonista partir para seu próprio assalto. O mais interessante de ''Despedida em Grande Estilo'' é essa relação entre o sistema bancário americano e o trio protagonista do longa. Aqui não é a velhice que priva aqueles homens de algo, mas sim a crise financeira que atinge principalmente os mais velhos. Aqueles homens são personagens que nadam contra a correnteza de alguma forma, que resistem para não só permanecerem vivos, como, também, aproveitarem o tempo que lhes resta. Dessa forma, se Joe, Willie e Albert vivem tomando golpes do sistema, eles tomam uma atitude, a fim de continuarem no seu percurso normal.Com essa proposta, o longa segue esses três amigos planejando e executando o crime que lhes dará o conforto que está sendo privado. Não há como não torcer para esses personagens: senhores esmagados por forças externas muito maiores que eles, sendo o único objetivo dos protagonistas uma vida um pouco mais cômoda. É justamente por isso que ''Despedida em Grande'' Estilo dedica boa parte de seu segundo ato na preparação do grande assalto, numa tentativa de mostrar mais sobre aquelas três figuras, perceber o quão inusitado são aquelas situações. Essa espécie de treino para o grande roubo é o ápice da premissa de fazer humor através de muito pouco, essa importante parte do desenvolvimento é construída a partir de pequenas situações que tiram seus protagonistas de um lugar esperado, gerando o momento mais engraçado de ''Despedida em Grande Estilo''. Apesar do trabalho de Zach Braff e do roteirista Theodore Melfi alcançar boa parte de seus objetivos e risos, há alguns problemas no filme, principalmente em seu terceiro ato, arrastado, mas principalmente pouco cômico em relação às outras partes. Esse problema de ritmo faz com que pareça haver um esgotamento da comédia presente no longa. É como se os realizadores também não soubessem que o humor é a quebra da expectativa até no que já é inesperado, sendo impossível manter por mais de 90 minutos um mesmo tipo de piada, sem variação alguma de repertório. Muito disso se deve ao fato de Despedida em Grande Estilo conter um roteiro que deseja seguir à risca os grandes manuais, algo que pode dar muito certo, mas que aqui só reforça a obviedade do projeto. É como se a todo momento o filme deixasse claro qual assunto será retomado mais adiante, escancarando para o espectador o que deve exigir uma atenção maior – a tatuagem dos assaltantes, as frases dos policiais -, ações que parecem linhas sublinhadas de um roteiro que assume a incompreensão do público frente as suas rimas narrativas. Mais uma vez, a comédia é baseada na surpresa, mas o longa teima em acreditar que seu espectador não é inteligente o bastante para compreender suas piadas – isso quando não há a inserção de um flashback de uma cena do início do filme para explicar uma frase no final do longa, subestimação total. E mesmo que ''Despedida em Grande Estilo'' tenha seus defeitos é inestimável a presença desses três atores. Mesmo que as piadas nem sempre funcionem, mesmo que Braff não tenha o melhor timing cômico, esses três senhores contornam todas as situações com a pura e simples experiência. É até interessante perceber como atuação dos protagonistas não chega ao brilhantismo – há momentos que ninguém se salva como as cenas melodramáticas de Willie no hospital -, porém todos eles carregam uma simplicidade, alguém que com muito pouco faz muito. O rabugento Albert interpretado por Arkin é sem dúvida a prova disso, uma persona extremamente engraçada realizada com muitos poucos recursos, apenas a consciência de um ator. Parece, então, que são esses três atores que entendem perfeitamente a essência de Despedida em Grande Estilo (mais até que os próprios realizadores). São eles que conseguem empregar esse humor desprovido de grandes pretensões, onde a comédia resiste na pura e simples surpresa, na aparição de um elemento inusitado. Espera-se que não seja a despedida de filmes como esse." (Giovanni Rizzo)

''Filmes de assalto a banco são praticamente um pequeno filão em Hollywood desde os anos 1970. Sucessos como O Golpe de John Anderson, com Sean Connery, e Os Quatro Picaretas, com Robert Redford, provaram que esse crime compensa no cinema. Filmes com velhinhos simpáticos também formam uma categoria especial. Podem ser tragicômicos, como Dois Velhos Rabugentos, ou até mesmo ficção científica, caso do divertido Cocoon. Daí é possível dizer que "Despedida em Grande Estilo" é um feliz cruzamento desses subgêneros. Um filme que não muda a vida de ninguém, mas é uma diversão esperta, com reviravoltas e soluções engenhosas no roteiro. E um elenco charmoso. Michael Caine, 84, é o líder da gangue. Interpreta Joe, aposentado que perde sua pensão por uma falcatrua bancária e está ameaçado de ser despejado da casa onde mora com a filha e a neta. Outros ex-colegas estão na mesma situação: Willie, papel de Morgan Freeman, 79, e Albert, personagem que Alan Arkin, 83, constrói com muito humor. Joe está na agência do banco, pedindo ajuda para sua situação, quando o lugar é invadido por assaltantes mascarados. O bando se sai bem e foge dali com malas cheias de dinheiro. Para o aposentado em apuros, fazer a mesma coisa se torna uma opção. E convencer os amigos é o próximo passo. Não é tão fácil. Temos experiência, esperteza, inteligência, diz Joe. E também artrite, gota e reumatismo, rebate Albert. O diálogo resume bem o miolo da história, com a preparação do trio para o assalto, orientado por um ladrão experiente, um tutor de roubos. O roteiro tira humor das péssimas condições físicas do bando e do jogo de gato e rato entre os velhinhos e o policial encarregado do caso, uma participação coadjuvante simpática de Matt Dillon. É lógico que os três não irão apodrecer na cadeia, mas o enredo consegue segurar bem até o final a dúvida sobre o resultado da iniciativa criminosa. A torcida para que eles sejam bem-sucedidos é inevitável. Enquanto os espectadores esperam pela conclusão, todos assistem a boas piadas em um filme despretensioso, com cara de Sessão da Tarde." (Thales de Menezes)

De Line Pictures Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) New Line Cinema RatPac Entertainment Village Roadshow Pictures Warner Bros.

Diretor: Zach Braff

51.265 users / 6.230 face


Soundtrack Rock A Tribe Called Quest / Lou Reed / Otis Redding


31 Metacritic 405 Down 55

Date 10/02/2018 Poster - ######

56. Salt and Fire (2016)

98 min | Thriller

44 Metascore

A scientist blames the head of a large company for an ecological disaster in South America. But when a volcano begins to show signs of erupting, they must unite to avoid a disaster.

Director: Werner Herzog | Stars: Veronica Ferres, Michael Shannon, Gael García Bernal, Volker Zack

Votes: 2,990

[Mov 04 IMDB 4,1/10] {Video/@@@} M/44

DESERTO EM FOGO

(Salt and Fire, 2016)


TAG WERNER HERZOG

{intrigante}


Sinopse ''Ambientado na América do Sul o filme foca em uma cientista que entra em conflito com o chefe de uma corporação responsável por um desastre ecológico. Quando um vulcão do local começa a apresentar sinais de erupção, a cientista precisa se unir ao desafeto para prevenir mais uma catástrofe.''


{Às vezes, a redenção está fora de alcance} (ESKS)

Benaroya Pictures Construction Film Arte France Cinéma Canana Films Skellig Rock

Diretor: Werner Herzog

1.609 users / 413 face

16 Metacritic

Date 06/04/2018 Poster - ##

57. Drone (I) (2017)

TV-MA | 91 min | Thriller

49 Metascore

Ideologies collide with fatal results when a military drone contractor meets an enigmatic Pakistani businessman.

Director: Jason Bourque | Stars: Sean Bean, Patrick Sabongui, Mary McCormack, Maxwell Haynes

Votes: 6,761

[Mov 05 IMDB 5,3/10] {Video/@@@@} M/49

DRONE (unofficial)

(Drone, 2017)


TAG JASON BOURNE

{simpático}


Sinopse ''Neil (Sean Bean) passa seus dias de trabalho em missões sigilosas com seus drones e depois retorna a uma medíocre vida familiar suburbana. Nem mesmo a mulher de Neil ou seu filho sabem sobre sua vida secreta. Mas esse malabarismo de Neil chega a um ponto crítico quando um site denúncia o expõe a uma ameaça mortal. Neil acredita que o responsável pelos acontecimentos é um enigmático empresário paquistanês (Patrick Sabongui).''


''O cineasta canadense Jason Bourque ( Classified: The Edward Snowden Story ) quer que você saiba que os ataques de drones são, você sabe, muito mal. Infelizmente, ele faz isso com um drama de família disfuncional bem-intencionado, mas em última análise injurioso, no qual ele inventou algumas coisas sobre drones. Em vez de se concentrar nas vidas que foram destruídas pelos milhares de ataques com drones no Paquistão, Bourque volta nossa atenção para uma família de Estados Unidos, liderada por um cara de TI (um manso como o inferno Sean Bean) que é realmente um on-the- empreiteiro baixo-baixo para a CIA, alvejando terroristas de seu espaço de trabalho seguro. Ele não é o único membro da família que guarda segredos. Sua esposa (Mary McCormack) está tendo um caso, enquanto seu filho (Maxwell Haynes) ficou distante após a morte de seu avô. Seu mundo acaba sendo abalado quando um gentil paquistanês (Patrick Sabongui) aparece na porta deles, procurando comprar o barco do falecido avô. Mas você já sabe que ele está lá para que todos saibam como o pai traz para casa o bacon. Bourque e seus escritores decidiram que o melhor caminho para as audiências do quadril diante das incontáveis ​​mortes de civis no exterior é que o horror e a tragédia apareçam em nossas terras. No entanto, Bourque, que filma mal este filme como se os subúrbios fossem mais assustadores do que o Oriente Médio, parece mais interessado em retratar os americanos como assaltantes egoístas e ignorantes, preocupados demais em ver o inferno que estão colocando pessoas em um mundo distante. E enquanto isso é verdade, como isso é mais significativo do que nos mostrar as famílias que devastamos? Este filme é basicamente pessoas comuns se Donald Sutherland matou os paquistaneses para viver." (Craig D. Lindsey)

Look to the Sky Films Gold Star Productions Interlock Capital

Diretor: Jason Bourque

4.810 users / 1.889 face



Date 01/09/2018 Poster - ######

58. Pay Day (I) (1922)

TV-G | 21 min | Comedy, Short

After a difficult day at work, a bricklayer tries to enjoy his pay day without his wife knowing.

Director: Charles Chaplin | Stars: Charles Chaplin, Phyllis Allen, Mack Swain, Edna Purviance

Votes: 4,853 | Gross: $0.13M

[Mov 05 IMDB 7,6/10] {Video}

DIA DE PAGAMENTO (unofficial)

(Pay Day, 1922)


TAG CHARLES CHAPLIN

{hilário}


Sinopse ''Chaplin é um operário que se diverte nos salões, mas ele acaba tendo dificuldades quando sua esposa descobre que em seu chapéu, há todo o dinheiro de seu pagamento que ainda ele não o tinha feito.''


''Um curta de Chaplin feito durante uma calmaria na produção do ex-cineasta prolífico, ''Dia de Pagamento" é um filme acima da média e inteligente que encontra Charlie Chaplin como um especialista em pedreiro no dia do pagamento. Após as travessuras do local de construção, Chaplin descobre que seu pagamento é curto e que sua esposa autoritária quer mais do que a sua parte. Depois de conseguir esconder alguns dela, ele sai para uma noite na cidade. Chaplin uma vez descreveu ''Dia de Pagamento'' como o favorito de seus curtas-metragens, que é uma afirmação ousada como ele fez mais de setenta deles. Este não é o meu curta favorito de Chaplin e está longe de ser o mais engraçado, mas é um filme muito inteligente que apresenta alguns processos intrigantes de câmera e edição e uma boa história, além de piadas suficientes para manter o público rindo. O filme abre com a câmera colocada em um canteiro de obras. Todo mundo está trabalhando duro, mas falta alguém. A Tramp (Chaplin) chega tarde e fica flertando com seu chefe para sair de encrencas e chega a oferecer-lhe uma flor. Pouco depois, há uma seqüência maravilhosa em que Chaplin pega tijolos em um pórtico que são jogados para ele de baixo. Esta é uma técnica muito comum no canteiro de obras, mas Chaplin injeta humor inteligente na cena invertendo o filme. Isso permite que ele aparentemente faça todos os tipos de acrobacias inteligentes e impossíveis com os tijolos de pegá-los com as costas viradas para pegar vários tijolos uns sobre os outros e equilibrá-los bem. O efeito é apenas ligeiramente divertido, mas a técnica é brilhante e o esforço totalmente justificado. Há outros bons momentos no dia do pagamento, mas nenhum corresponde à cena de captura de tijolos em meus olhos. Gostei da sequência do almoço em que Chaplin faz bom uso de um elevador para confundir seus colegas de trabalho cujo almoço ele gosta. A relação com sua esposa mesquinha e assustadora (Phyllis Allen) foi muito divertida e é algo que se repetiu nos oitenta anos desde então. Charlie pega algumas gags boas por estar bêbado, como acontece muitas vezes, mas a sequência do bonde foi um pouco parecida até ser salva por uma grande piada em que ele bêbado confunde um carrinho de salsicha (visto pela última vez em A Dog's Life ) por um bonde e agarra-se a uma salsicha como se fosse um trilho de suporte. Há também uma aparição tardia de um dos primeiros exemplos de um cenário pintado que é algo que não me lembro de ter visto em qualquer curta anterior de Chaplin. Chaplin mostra algumas ótimas habilidades de atuação e, neste ponto (1922), realmente pregou seu caráter e performance. Eu posso pensar em poucos atores da época que poderiam dominá-lo. É uma pena, então, que seu elenco de apoio revele e assalte a câmera. Há muito tempo a atriz Edna Purviance, uma rara exceção à má atuação, só recebe um papel muito pequeno, já que Phyllis Allen interpreta a esposa do The Tramp. Allen é um dos melhores artistas, mas não faz nada de especial. O resto do elenco é geralmente pobre e inclui os regulares de Chaplin, Mack Swain, Albert Austin, John Rand, Loyal Underwood, Henry Bergman e o irmão mais velho de Charlie, Syd. No final, há muita coisa boa no Dia de Pagamento, mas não o suficiente para levá-lo ao melhor de seus shorts. Raramente há um momento ruim de mordaça ou de tédio, mas a taxa de mordaça é lenta. Um monte de piadas funcionam bem e há algumas cenas inteligentes e revelações escondidas (incluindo uma grande mordaça de banho) e eu certamente ficaria feliz em assistir ao filme novamente. Com apenas 22 minutos, é também um dos curtos períodos mais curtos, mas tem uma história bem desenvolvida e realizada.'' (NYT)

Top Década 1920 #45

Charles Chaplin Productions

Diretor: Charles Chaplin

3.023 users / 175 face



Date 12/10/2018 Poster - #####

59. Night Crossing (1982)

PG | 107 min | Drama, Family, History

True tale about two men planing to escape from communist East Germany in a hot air balloon, but only if they can take their families with them.

Director: Delbert Mann | Stars: John Hurt, Jane Alexander, Doug McKeon, Keith McKeon

Votes: 1,587 | Gross: $8.00M

[Mov 06 IMDB 6,5/10] {Video/}

DRAMÁTICA TRAVESSIA

(Night Crossing, 1982)


TAG DELBERT MANN

{interessante}


Sinopse ''Em 1979, em pleno outono, aconteceu uma das mais corajosas e sensacionais fugas registradas pela História. Naquele ano, as famílias Streizyk e Wetzel construíram um balão caseiro e atravessaram o Muro de Berlim.''


''Delbert Mann, o mesmo de Águias em alerta (1963) e Crepúsculo de uma paixão (1959) nos oferece uma ótima visão dos acontecimentos durante a separação das duas Alemanhas na segunda metade do século passado. Dramática travessia é baseada em fatos verídicos da história de duas famílias que viveram naquele dramático período. Outono, 1979 – A história é verídica, portanto, não chega a ser spoiler se eu contar o final do filme mas, se alguem, como eu, não conhecer a história, se ler o que escrevi vai perder a oportunidade de assistir ao filme vivenciando seu suspense como eu pude fazê-lo, sendo este um dos pontos altos deste longa. Não vou dizer, portanto, como termina esta história e, se você não souber, só se você investigar, ou assistir ao filme, ficará sabendo. Em agosto de 1961, a Alemanha passa por um processo de divisão. Muitas pessoas, desesperadas com a iminência de uma situação caótica na parte oriental da Alemanha, tentam cruzar de leste para oeste para escapar do regime comunista que estava sendo implantado na parte oriental Alemanha. Era uma média de três mil pessoas por dia que cruzavam a fronteira. A Alemanha Oriental reagiu a esta fuga em massa do seu povo, construindo uma barreira ao redor de toda a fronteira. Era uma enorme barreira que se tornou mundialmente conhecida como o Muro de Berlim. A barricada era de concreto e arames e atravessava vilas, campos e terras cercando completamente a Alemanha Oriental. O seu objetivo não era proteger-se dos inimigos mas, impedir que o povo saísse da sua pátria. As fronteiras eram equipadas com alarmes e metralhadoras automáticas que disparavam impiedosamente contra quem tentasse ousar atravessá-las. Na época em que se passa esse filme, só os alemães muito desesperados tentam ainda cruzar a fronteira. Mesmo assim, muitos alemães orientais irão tentar. Alguns vão conseguir. Não se sabe quantos vão falhar. Esta é a história de uma das tentativas. Após o fuzilamento de um garoto de cerca de 15 ou 16 anos que tentou cruzar a fronteira, um dos amigos do pai do garoto, decide que era preciso tentar, a qualquer custo, fugir dali o mais rápido possível. E aqui começa a história desta tentativa. Duas famílias que viviam na Alemanha Oriental, tentam escapar do regime comunista, usando como meio de transporte, um balão que constroem às escondidas. Peter Strelzyk (John Hurt) é um homem com cerca de 35 anos, casado e com 2 filhos que se junta com Gunter Wetzel (Beau Bridges), cerca de 10 anos mais novo, também casado e tambem com 2 filhos, que entendia muito de mecânica. Eles constroem o balão procurando serem o mais discretos possível pois, sabiam, que se fosse descoberta a tentativa, todos morreriam. Compram a fazenda para o artefato (1200 metros quadrados). Inventam engenhos para encher o balão de ar, um maçarico gigante para aquecer o ar do balão, um altímetro e, finalmente, chega o dia da tentativa. A esposa de Gunter convence o marido a desistir e, apenas Peter, a esposa e os dois filhos, vão fazer a tentativa. Uma das cenas mais bonitas do filme é quando Peter e a esposa estão no campo, reconhecendo o terreno que terão que enfrentar e até onde precisam ir, quando Gunter já tinha desisitido de participar e Peter diz a ela que os quatro podem dar conta do recado. Ela então diz que, meninos pouco mais velhos que Frank, o filho velho deles, estavam prontos para matá-los caso descobrissem e pergunta se o marido já tinha falado com Frank. Ele lhe responde: “Você precisava concordar primeiro.” Ela pede então para ele conversar com o filho. Ele indaga se ela tem certeza, mesmo não confiando no balão. Ela então lhe responde: Eu confio em você. Achei isso lindo! Apesar de toda aquela tensão, de toda aquela ameaça, o amor dos dois ainda era alimentado pela dedicação e confiança que um tinha no outro. Quer saber o que acontece? Assista ao filme. Não vou lhe contar pois, como disse, perderia grande parte da graça deste filme. Mas posso garantir, que é muito suspense, muita torcida, e uma ótima história. O desempenho de John Hurt é primoroso. A direção de Delbert Mann é segura e bem conduzida. A forte crítica aos regimes totalitários com suas arbitrariedades e fanatismo, às custas de forte lavagem cerebral feita pela mídia na população é marcante. Mereceu quatro estrelinhas.'' (Alberto Valença)

Walt Disney Productions Bavaria Film

Diretor: Delbert Mann

1.188 users / 987 face



Date 22/03/2020 Poster - ####

60. Lady for a Day (1933)

Passed | 96 min | Comedy, Drama

A gangster tries to make Apple Annie, the Times Square apple seller, a lady for a day.

Director: Frank Capra | Stars: Warren William, May Robson, Guy Kibbee, Glenda Farrell

Votes: 4,656

[Mov 06 IMDB 7,5/10] {Video}

DAMA POR UM DIA

(Lady for a Day, 1933)


''Apple Annie é uma vendedora de rua que precisa se fazer passar por dama da sociedade quando recebe a visita da filha, a quem não via há tempos, porque ela está noiva de um rico rapaz. O amigo Dave (Warren William), um homem refinado e bem sucedido, faz de tudo para ajudar Apple. O próprio Capra refilmou a história em 1961, sendo este seu último trabalho na direção." (Filmow)

"Não é para enjoar, mas eu vou falar mais sobre Frank Capra. É um vício excelente. Bem, vamos lá. A história de "Dama por um Dia" foi levada a cabo por ele duas vezes, uma em 1933 e outra em 1961 (sobre a qual já escrevi aqui). Por acaso, essa segunda versão foi o seu último filme. As duas produções têm realmente, de um modo geral, a mesma história, com diferenças fortes em relação aos elencos, como seria de se esperar. Além disso, a película mais nova é mais longa, a cores e o título é diferente, Pocketful of Miracles. As duas versões, como não poderiam deixar de ser, são muito boas, sendo ambas comédias repletas de bons personagens que arrancam boas gargalhadas. A maior parte da crítica considera que a primeira versão é superior, sendo colocada como um dos primeiros grandes clássicos de Capra. Todavia, minha opinião vai de encontro a isso. Considero a segunda versão, com a incrível Bette Davis no elenco, em termos de diversão, bem melhor. Eu digo isso pelo fato da película de 1961 ter sido um dos filmes mais engraçados que já vi, mas de tirar boas gargalhadas mesmo! Principalmente, pelas expressões de espanto que o principal capanga de Dave, the Dude, (Glenn Ford) fazia durante o processo para transformar Apple Annie (Bette Davis) em uma dama da alta sociedade. Talvez, isso seja causado pelo fato do filme ser mais longo que o de 1933. Capra era um diretor capaz de manter a mesma qualidade, pelo tempo que fosse necessário, dentro de uma história." (Sétimo Cinema)

06*1934 Oscar

Top Década 1930 #37

Columbia Pictures Corporation

Diretor: Frank Capra

2.286 users / 262 face

Check-Ins 23 Movies {D/3}

Date 09/07/2012 Poster - ####

61. Dead Like Me: Life After Death (2009 Video)

R | 87 min | Comedy, Drama, Fantasy

George's been dead and working as grim reaper 5 years. She and her 3 colleagues get a new, chaotic boss. George looks different to the living e.g. her mom and sister.

Director: Stephen Herek | Stars: Ellen Muth, Callum Blue, Sarah Wynter, Jasmine Guy

Votes: 13,846

[Mov 03 IMDB 5,9/10 {Video/@}

A MORTE LHE CAI BEM - O FILME

(Dead Like Me: A Morte Lhe Cai Bem - O Filme, 2009)


George e seus colegas estão de chefe novo e a ordem agora é mover as almas rapidamente e curtir a vida sem se preocupar com as consequências. Esse novo foco leva a equipe a quebrar as rígidas regras dos ceifeiros. Enquanto seus amigos sucumbem aos desejos de dinheiro, sucesso e fama, George viola uma outra regra revelando sua verdadeira identidade à sua família de vivos. À medida que os ceifeiros lutam para desempenhar seus papéis na Terra, cada um deles acaba descobrindo que a morte pode ser tão complicada quanto a vida." (Cine Menu)

Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) DLM Productions

Diretor: Stephen Herek

8.516 users / 819 face

Check-Ins 142

Date 21/03/2013 Poster - ###



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