9/10
A consequência de sermos humanos
27 December 2009
Warning: Spoilers
Um filme complexo e intemporal sobre a consequência de sermos humanos. Ingmar Bergman vagueia em Det sjunde inseglet sobre os dogmas e as crenças que os humanos criam, e põe-nas em causa, ao mesmo tempo que consegue criar personagens carismáticas e interessantes.

Bergman transporta questões actuais, produzidas pelas duvidas existenciais, enfrentando assim os dogmas e as crenças desenvolvidas pelo ser humano, para a Idade Média.

Este facto torna o filme intemporal, dando-lhe assim um maior impacto, Bergman fica deste modo com maior margem para explorar e aprofundar os seus conceitos.

Não haja dúvida que Det sjunde inseglet é um filme filosófico e que consegue conjugar o seu conteúdo com o seu pano de fundo, que é exactamente a análise à Idade Média. Um período cru, negro e cruel, onde o mais básico do ser humano é exposto.

Assistimos à crueldade onde Bergman mistura três períodos medievais, a guerra, neste caso, a guerra dos Cem anos, a peste negra e a perseguição ao ateísmo e paganismo, ou seja, tudo o que não fosse cristão.

As personagens que Bergman desenvolve são deveras desenvolvidas e preponderantes, cada uma é atingida por sabedoria que lhes dá uma maior agilidade verbal e consciência. Nomeadamente o cavaleiro e o escudeiro.

O filme também é fatalista, pois partimos da premissa que todos morremos, mas que todos tentamos fintar a morte.

Bergman metaforiza isto na perfeição, ao colocar a sua personagem principal a jogar xadrez com a personificação da morte, cada jogada torna-se um adiamento à morte do cavaleiro, e apesar de ele saber que irá morrer, tenta cada vez mais adiar a sua morte de modo a descobrir mais sobre a vida. Ele procura o Conhecimento, o conhecimento de que Deus existe, de modo a poder ir para outra vida mais tranquilo, e assim deste modo questiona as ideias básicas da vida, apesar de nunca obter respostas concretas, todas as respostas que obtém são vagas ou então formuladas com novas perguntas. Talvez a resposta mais concreta que recebe será a resposta do seu escudeiro ao analisar o olhar de uma jovem que está prestes a ser queimada. Este momento é único e para mim uma das cenas mais marcantes da história do cinema, o escudeiro observa que ela começa a tomar consciência de que irá para o vazio, não há nada após a morte. Absolutamente genial.

Mas o filme não é só uma análise à essência da vida, não se trata só de Filosofia, mas também temos uma característica interessante no ferreiro e na sua mulher. Bergman tenta explicar com este casal, o poder da mulher, nomeadamente o seu poder persuasivo, e como a mulher age na consciência do homem. O filme também dá um sinal de esperança.

Ao longo do filme, sob todo o seu negrume, esconde-se uma mensagem que não se revela à primeira vista. Um casal de actores, viaja com uma criança e apesar de andar colado à morte, consegue escapar-lhe, dando assim vida à alegria e à criança.

Bergman também nos desvenda o lado fatalista da vida, quando a Morte diz, literalmente, que ninguém lhe escapa. A própria personagem da Morte é intrigante o suficiente para se tornar um ícone, a maneira como é caracterizada é soberba e interpretada de um modo frio que lhe acentua na perfeição.

Bergman consegue com este filme, criar um clássico do cinema, um filme genial que consegue imagens únicas, originais, inigualáveis e que transformam Bergman num mestre cinematográfico. Quem se esquece da imagem do cavaleiro, brilhantemente representado por Max von Sydow a jogar xadrez com a morte à beira mar? Uma imagem única, das melhores da história do cinema, algo que mesmo passado cem anos irá continuar a marcar.
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